e o seu coração está contra o meu peito. escrita por zênite


Capítulo 1
é como se apaixonar.




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É como se apaixonar, nós estamos nos apaixonando.

X


Eu me lembro, sabe, perfeitamente, mas não é aquele lembrar de quem se lembra alguns borrões e talvez algumas cores embaçadas por de trás de um vidro molhado pelas pequenas gotas de chuva que até presente momento nem havia notado, não, é aquele lembrar de quem sabe recitar até as falar daquele dia, é um lembrar de quem guarda aquele momento como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. E talvez fosse, só pra mim. Só pra nós. Mais ninguém. Porque eu lembro, lembro mesmo, lembro de como você estava lindo com aquele cachecol azul safira, porque você sempre amou azul safira, e de como nem todos os deuses juntos em toda sua grandeza conseguiriam desenhar algo similar ou mais belo do que você naquele momento. Porque você não é exatamente o tipo de pessoa não-atraente, oh, pelo contrário, você é bem o tipo de pessoa que faz garotinhas suspirarem.


Sabe, Malfoy, aquele dia estava sendo um saco, um saco mesmo, porque eu tinha acabado de perder o emprego, e isso não é exatamente o tipo de coisa que faz alguém ficar de bom humor, muito pelo contrário, na verdade. Mas você apareceu, não de um modo legal, com uma capa de super herói e trocinhos legais em um cinto que não deveria caber nem metade dessas coisas, não, você apareceu de modo bem simples, com um cachecol azul safira, um uniforme escroto de colegial, e um chapéu preto não muito chamativo, bem, não tão chamativo assim considerando os seus padrões. E eu me lembro de pensar que você era o garoto mais bonito que eu já havia visto em toda a minha vida. E eu penso isso até hoje, sabe.


Mal- Draco, você nunca ouviu nossa história pelo meu ponto de vista, porque eu sempre mudava de assunto quando você perguntava, mas eu já ouvi a nossa história pelo seu ponto de vista tantas vezes que eu nem sei mais o que é o meu ponto de vista, talvez porque o seu ponto de vista me pareça mais interessante, ou talvez eu só goste de ouvir que você gostou tanto de mim quanto eu de você, ou talvez nem goste tanto assim quando você começa a rir contando e lembrando o quanto foi patético, porque foi patético mesmo. Mas ela é tão bela, tão risível, que vale a pena tentar lembrar. Porque aquele café parecia pequeno, e eu te encarava não tão discretamente assim, e tudo parecia conspirar para que eu não falasse com você. Bem, não de modo normal. Foi tão... Escroto, que até hoje eu penso que os deuses armaram aquilo sabe, eles armaram porque estavam sem nada para fazer e queriam rir um pouco da desgraça que era a minha vida, porque é humanamente impossível que haja alguém mais azarado que eu. E talvez isso seja contagioso, porque hoje não há ninguém mais azarado que nós. Mas o nosso nós é azarado de um jeito tão nosso que é impossível ser ruim, sabe, ruim por completo.


E era tão ridículo como o garçom tinha que resolver passar por ali no exato momento em que eu havia criado coragem o suficiente para ir lá só... Dar um oi sabe, dizer que você era lindo e bem, não é como se eu houvesse realmente planejado o que eu iria falar depois disso. Eu queria me enterrar no primeiro buraco que eu encontrasse pela rua, não que isso fosse muito difícil de encontrar, e não é como se eu pudesse reclamar da rua miserável em que eu morava. Mas foi tão ruim que eu pensei que tudo sempre dava tão errado na minha vida que eu não poderia simplesmente levantar e achar que de repente tudo ia mudar e nós iriamos ter uma história fofa, ter filhinhos e tudo mais sabe, e isso parece tão babaca sendo contado assim, mas um babaca fofo. E você riu colocando a mão sobre os lábios para esconder isso, você riu porque eu havia justamente trombado contra aquele garçom, -aquele citado lá em cima, lembra?- e agora eu praticamente me ajoelhava no chão murmurando um milhão de desculpas. E eu queria morrer, eu queria morrer de vergonha e queria morrer de indignação por você ousar rir de mim.


Eu estava pronto, sabe, estava pronto mesmo para levantar e lhe dirigir o meu enorme vocabulário de palavras nem um pouco amigáveis, mas você era tão mais absurdamente lindo de perto. Você ainda é tão absurdamente lindo, Draco, que não é como se isso fosse uma surpresa. E tudo sempre deu tão errado pra gente, e nós achávamos que o problema era porque era nosso primeiro encontro, mas não era. O problema sempre foi a gente, mas isso nunca pareceu ruim. Nunca pareceu ruim porque nós já havíamos ignorado tanto coisa para se deixar abater agora.


Ignorávamos quando no nosso segundo encontro tudo sismava em conspirar contra nós, como resolvera chover justamente porque havíamos resolvido montar um piquenique e estávamos completamente sujos de barro porque você sempre foi orgulhoso de mais para admitir que um piquenique não era uma boa ideia e resolveu que nós ficaríamos naquele parque mesmo chovendo. E nós ficamos, ficamos até você sismar em cair em uma poça de lama e me levar junto. E nós rimos, rimos porque sabíamos que teríamos que pegar um ônibus lotado depois, e que aquela lama já teria secado até lá, e isso seria tão ruim, mas naquele momento não era, e nós queríamos aproveitar aquilo.


E sorrimos, deuses, sorrimos tanto juntos que eu achei que ficaríamos com a cara paralisada com aqueles sorrisos retardados que dávamos, e eu realmente achei que isso fosse aconteceu comigo naquela madrugada de dezembro. Realmente achei porque você havia me beijado, e isso parecia tão incrível porque era o meu primeiro beijo, era o meu primeiro beijo com dezessete anos, mas eu estava feliz dele ser com você. Bem, era você você bêbado, semi nu, e molhado por ter se tacado no meio do pequeno lago que ficava naquele parque, naquele mesmo parque em que tivemos nosso segundo encontro desastroso, mas era você. E era eu. E eramos nós. E era os seus lábios contra o meu. E eu sabia que você nunca tinha beijado ninguém também, porque se tivesse nossos dentes não teriam se chocado tantas vezes. E era lindo, e era bizarro, e era um nós que eu queria que durasse para sempre.


Eu sempre pensei que quando eu fosse contar nossa história ela começaria com um era uma vez, porque as histórias mais belas sempre começam com isso, com um era uma vez, e nossa história é com certeza bela, um belo cômico, um belo risível, mas mesmo assim belo. E, ironicamente, eu sempre quis terminar nossa história com um era uma vez, porque assim nós não precisaríamos de um fim, nem mesmo aqueles que você diz ser necessário, porque para você o final é algo belo, mas o começo também é belo. E eu gosto dele. Gosto dele porque ele sempre é perfeito e o final tão triste, e eu não gosto de coisas tristes. Mas eu gosto de você, e você sempre diz que tristeza é necessário. E nós somos tão ingênuos, ingênuos quando nos beijamos escondidos, com sorrisos trocados de quem apronta, com mãos dadas dentro da blusa de frio para ninguém ver, porque esse amor é só nosso. Nosso. E não é como se quiséssemos dividi-lo. E é como se apaixonar mil vezes, nós estamos nos apaixonando.


E tudo é tão belo, começos, finais, amores, lamas, lagos, beijos, e tudo sempre será tão belo. Será belo contanto que seja eu. Contanto que seja você. Contanto que seja nós. Contanto que seja para sempre.


Era uma vez...


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