Fora a algum tempo, mas ainda lembrava-se bem de quado tocou pela última vez o rosto de sua esposa. Suspirou. Era difícil dizer adeus, ainda mais para a pessoa que o apoiara tanto, compartilhando seus bons e maus momentos, até mesmo quando juntos descobriram aquela doença.

Uma lembrança dentro de outra, agora lhe vinha à cabeça, á aproximadamente quinzel anos atrás, o dia em que recebera a notícia de que contraíra AIDS.

Ela havia tomado suas mãos e dito que enfrentariam isso juntos. “Como sempre fizemos...” – Acrescentou, sorrindo. Mas depois de um exame ao qual ela se submetera, veio à notícia de que também contraíra. E o pior de tudo: a culpa era toda dele.

Aquela lembrança se desfez, e foi tomado pela pior de todas.

Naquele dia bonito. Tinha tudo para ser ótimo, e para ele, naquela época, havia sido. Uma garota, que ele nem sabia o nome, ofereceu-se por algumas horas, cobrando determinada quantia em dinheiro e ele, fraco, aceitara. Havia cometido um crime, saído com uma garota de programa menor de idade e ainda sem tomar os devidos cuidados.

Sem dúvida, a culpa pela morte de sua esposa era toda sua.

O enfermeiro abriu a porta de seu quarto, tirando-o dos devaneios que tanto o assombravam, trazendo mais uma embalagem de soro. O trocou e saiu, aparentando pressa.

Ali, naquele quarto brando, no segundo andar do hospital, apenas o retrato de sua falecida esposa lhe fazia companhia.

Ele só podia esperar. Esperar que a morte viesse logo e o levasse para um lugar onde realmente estaria em paz, onde finalmente poderia escapar do passado e presente, mesmo que julgasse não merece-lo.