Como qualquer mulher comum à passeio em Nova Iorque, Carolina aproveitou o dia para fazer compras nas milhares de lojas espalhadas por toda cidade. A jovem sentia-se em uma terapia aonde passar o cartão era a cura para o seu estresse constante dos últimos meses.

– E então, qual prefere? - A simpática vendedora questionou ao estender duas bolsas, uma roxa beterraba e outra bordô, modelo boyfriend da grife Chanel.

– Hum… - Carolina intercalava o olhar entre as duas peças sem saber qual escolheria. As duas cores eram muito similares e maravilhosas. - Levarei ambas! - Afirmou então com um belo sorriso no rosto.

– Ótima escolha! - A vendedora afirmou satisfeita. Aquele com certeza era seu dia de sorte, pois a comissão que ganharia daquela venda seria mais do que gorda e generosa.

– Obrigada! - Carolina continuava sorrindo. Fora as duas bolsas a jovem princesa também havia comprado três sapatilhas, uma rasteirinha de Camélia preta e branca, uma clutch e algumas maquiagens.

Carolina pagou a altíssima conta e logo saiu da elegante loja escoltada pelos mesmos dois seguranças que haviam vindo do hotel com ela. Para sua surpresa o número de paparazzi que a seguia aumentou drasticamente e agora eles gritavam coisas como "Vossa Alteza, o príncipe não veio porque não queria que você tostasse o dinheiro dele?!" ou " Porquê Henry Caldwell não esta com você, princesa? Por um acaso já cansou desse namorico!?". Com muita classe e elegância ela ignorou as cutucas e apenas afirmava "Henry está descansando no hotel"…

A tarde que se seguiu tornou-se mais cansativa do que o esperado por conta desses malditos paparazzi. Eles pareciam se multiplicar a cada vez que Carolina saia de uma loja fazendo-a se sentir em Llyoal novamente. " Vou mandar você e Henry para um lugar onde as pessoas não saibam quem vocês são... Quer dizer, que as pessoas não liguem para quem vocês são! Uma O-V-A! Humpft", pensou irônica ao se lembrar das palavras que seu pai havia dito antes de manda-la para Nova Iorque…

Muitos curiosos também começaram a se aglomerar ao redor de Carolina, mesmo que alguns não soubessem quem ela era. Apenas aquela confusão de câmeras e alguns fãs já foi o suficiente para atrair inúmeras pessoas para perto da princesa. "Acho que é alguma cantora famosa" alguns cogitavam. " Parece mais alguma socialite daquelas bem dondocas, isso sim!" as más línguas também opinavam. "Ela é a princesa de Llyoal! Carolina Lamont!" Uma jovem bradou puxando gritos de espantos daqueles que a ouviram. "O namorado dela é um gato e também é da realeza! Ouvi dizer que ele também está na cidade!" Uma outra adolescente afirmou.

Ao descobrirem a identidade de Carolina e sua origem real, todos ali começaram à pedir fotos e autógrafos. Por conta disso a terapia de compras da princesa fora cancelada e ao invés da próxima parada ser a Balenciaga o Four Seasons é que foi…

Já do corredor Carolina pode sentir um forte cheiro de bebida misturado com maconha e cigarro. Contudo haviam tantos quartos naquele corredor que ela forçou-se à acreditar que aquele odor não provinha do seu.

– Meu Jesus, por favor, diga que eu estou errada! - Ela mumurou antes de abrir a porta. Àquela altura o cheiro estava mais forte do que nunca…

Infelizmente as suspeitas da princesa foram comprovadas assim que ela adentrou o quarto. Uma leve névoa esbranquiçada e sufocante pairava no ar, o chão estava estranhamente ensopado assim como todos os móveis e objetos da sala. Caminhando um pouco mais ela observou que haviam duas garrafas vazias de vodka caídas atrás da mesinha de centro enquanto em cima dela haviam alguns cinzeiros preenchidos com inúmeras bitucas de cigarro. Contudo o mais estranho no local não era o estado deplorável ao qual se encontrava e sim o silêncio pesado que o dominava. Henry parecia ter sumido sem deixar vestígios. Carolina parada olhando ao redor ainda estava decidindo se iria ou não se preocupar com o príncipe desaparecido…

Dando de ombros ela resolveu não ganhar rugas à toa, mas ao adentrar seu quarto a jovem princesa deparou-se com a última coisa que ela desejava encontrar. Henry estava deitado de bruços em sua cama, trajando o que um dia foi um elegantíssimo terno Saville Row e agora era apenas uma calça amassada e uma camisa rasgada. Ao seu lado duas mulheres também estavam deitadas, ambas tinham os cabelos ensopados e usavam uma forte maquiagem completamente borrada. A primeira mulher, deitada mais perto de Henry, trajava um vestido vermelho Valentino enquanto a outra trajava um caríssimo Dolce & Gabbana dourado, ambos pertencentes a Carolina. Isso a deixou mais do que enfurecida. A princesa soltava tanta fumaça pelos ouvidos que era capaz de deixar o ambiente mais enevoado ainda.

– EU NÃO ESTOU A-CRE-DI-TAN-DO NO QUE ESTOU VENDO! - Ela berrou então sentindo que iria explodir. As duas mulheres levantaram imediatamente, assustadas com o timbre finíssimo que aquele gritou alcançou. Henry, porém, não mexeu um dedo sequer.

– Princesa! - A primeira mulher, que trajava o Valentino, exclamou surpresa. Seu nome era Beatrice Cooper, conhecida por ser uma angel da Victoria Secrets. - Chegou cedo. - Disse sem graça.

– Ah, me desculpe por chegar cedo no meu próprio quarto! - Carolina não se importava em falar sem elegância. Pouco ligava para o que aquelas duas mulheres achariam a seu respeito.

– Não foi isso que eu quis dizer! - Beatrice parecia envergonhada. A outra mulher, também angel e chamada Kendra Humpfell, fitava Carolina com um certo ar de superioridade. Parecia estar gostando daquela situação.

– Escuta aqui! - Carolina deu um passo à diante de forma ameaçadora. - Estou a um triz de chamar os seguranças e acusa-las de roubo. - Beatrice arregalou os olhos assustada. A jovem tinha acabado de fazer 18 anos e, embora não parecesse, era muito inocente e manipulável.

– Vá, chame-os! - Kendra falou então. Sua voz era tão grossa que dava facilmente para confundi-la com a de um travesti. - Imagine só o escândalo… - Riu irônica, fazendo a princesa abaixar o dedo indicador que até então havia passeado pelo ar.

– Não me desafie! - Carolina cruzou os braços enquanto encarava a ousada modelo.

– Oops, tarde demais! - Kendra riu irônica.

– Meu Deus, isso não pode estar acontecendo! - Carolina exclamou levando as mãos a cabeça.

– Pois isso está acontecendo! - Kendra logo rebateu.

– Tire o meu vestido, sua piranha! - Carolina ordenou ao cerrar o punho. Sem pensar duas vezes Beatrice tirou o elegante Valentino vermelho e o colocou ao lado de Henry, ainda deitado na cama. - Anda! Faça igual a sua amiguinha antes que eu chame os seguranças… - Os míseros 1,65 de Carolina pareciam ainda menores à frente dos 1,83 de Kendra, mesmo assim ela não se sentia intimidada. - Vamos, sua prostituta, não ouse me desafiar. - Percebendo que Carolina falava sério Kendra tirou o vestido. Suas roupas ensopadas estavam na sala juntamente com as de Beatrice e outras sociais de Henry.

As duas angels se vestiram surpreendentemente rápido para quem estava pondo roupas molhadas. Sem dizer mais nada as duas deixaram a suíte parecendo que estavam deixando um campo de guerra. Carolina voltou ao quarto e encontrou Henry ainda no mesmo estado petrificado. Temendo que algo de errado estivesse acontecendo com o rapaz, a princesa se aproximou e concluiu que ele estava apenas em um sono profundo.

– O que vou fazer com você, Henry? - Ela questionou em um tom de decepção enquanto o encarava naquela cama. Subitamente o príncipe se mexeu, dando sinais de que iria acordar. Carolina continuou a fitá-lo.

– Kendra? - Ele exclamou então, ainda com os olhos fechados. Suas mãos passeavam pela cama, como se procurasse pelas modelos. - Beatrice?

– Suas amiguinhas foram embora! - A voz firme de Carolina fez com que Henry abrisse os olhos. - Surpreso em ouvir minha voz, Henry? - A jovem princesa soava ameaçadora.

– Surpreso, não! Decepcionado, sim! - Ele afirmou com a voz entrecortada. Sua cabeça estava explodindo e o quarto parecia estar girando. - O que fez com as duas? - Henry questionou com dificuldade.

– Bom… - Notando que o rapaz estava com uma forte dor de cabeça Carolina aumentou seu tom de voz. - Simplesmente as expulsei! - Sorriu vitoriosa.

– Fale mais baixo! - Ele implorou. Em seguida sentou na cama mantendo sua cabeça baixa frente ao corpo. - Você não podia tê-las expulsado daqui!

– Henry, você estava dormindo! Que diferença a presença delas faria? - Carolina, agora, falava mais baixo.

– Prefiro a presença delas à sua! - Afirmou de maneira infantil.

– Não tenho dúvidas disso! - Carolina não havia se ofendido. Sentindo a cabeça latejar Henry pousou as pontas de seus dedos em suas têmporas, em seguida encarou a jovem princesa com um sorriso debochado delineado nos lábios secos. - Não vejo graça alguma nessa situação! Você transformou isso daqui em um quarto de motel, Henry!

– Não fale bobagens, Carolina! - Henry levantou, ficando frente à princesa. - Eu estava apenas me divertindo. - Afirmou.

– Se divertindo? - Ela parecia inconformada. - Olhe para o estado desta suite! Tem bebida para todos os lados e tudo esta ensopado, Henry! O que houve aqui?

– Coisas que você nunca irá entender! - Riu debochado.

– Não me subestime. - Falou séria. - Quero que me conte tudo o que aconteceu aqui! Quero saber agora! Fui clara? - Carolina sabia ser rígida quando necessário e por incrível que parecesse aquilo excitava Henry.

– Não foi nada demais, Carolzinha, apenas uma festinha íntima para uma velha amiga e uma nova amiga. - Afirmou. - Da próxima vez juro que te convido. - Carolina respirou fundo procurando manter a calma.

– Vou fingir que não ouvi isso, Henry! - Ele continuou com o sorriso de deboche estampado no rosto. Parecia até que não estava mais com a cabeça explodindo.

Henry caminhou alguns passos na direção da sala, enquanto se livrava de sua camisa rasgada. A cada passo o barulho de água quebrava o breve silêncio que havia se formado entre ele e Carolina. Ela estava pensativa, analisava cada canto da suíte como se tentasse entender o que havia ocorrido ali. E ele corria os olhos pelo chão como se procurasse por algo...