Carolina ria com deboche, deixando Henry levemente constrangido. Para qualquer um que olhasse o casal de longe acharia que os dois estavam apenas se divertindo e curtindo o momento juntos, mas se alguém os pudesse ouvir saberia que naquela cena havia tudo menos diversão.

– Henry, por favor... - Carolina conseguiu dizer após uma longa série de risadas. - Você não pode estar falando sério!

– Mas é claro que estou! - O jovem rebateu irritado. Não entendia o motivo de tantas risadas exageradas. - Nenhuma mulher consegue resistir à mim!

– Sinto lhe dizer que eu não estou apaixonada, Henry! - A princesa disse encarando-o bem dentro dos olhos. - Eu apenas estava tentando levantar informações o suficiente para garantir que você não saia contando por ai as coisas que sabe ao meu respeito! - Henry tentou não se demonstrar surpreso.

– E que informações você levantou dessa conversa? - Ele parecia indiferente.

– Você, sinceramente, não está pensando que eu sou idiota, está? - Carolina cruzou os braços e arregalou as sobrancelhas enquanto esperava que Henry lhe respondesse, ao invés disso ele continuou encarando-a.

– Eu sempre achei isso de você, e não será hoje que você me fará mudar de idéia. - Ele declarou após um tempo de silêncio.

– Pois então, watch me! - Carolina provocou-o. - Você tem um caso com Ivy e como ela é sua prima os pais dela ficaram irritados e então à mandaram para a Espanha! - Henry gargalhou.

– Aonde você estava há um ano atrás? - Ele indagou, então, fazendo Carolina ficar confusa.

– Em Llyoal do Sul, aonde mais? - Ela respondeu ainda desentendida.

– Nossa! Eu sei que Llyoal do Sul é atrasado mas eu achei que lá tinha ao menos uma televisão! - Henry gargalhou.

– Aonde você está querendo chegar? - Carolina indagou nervosa.

– Carolzinha, o que eu estou querendo dizer é que isso ai que você falou sobre o meu relacionamento com Ivy não é novidade, entendeu? - Henry disse de forma sarcástica. - Se você pegar qualquer revista de um ano atrás verá que isso já foi polêmica... Minha mãe ficou quase um mês sem olhar na minha cara! - O príncipe encarava Carolina, que por alguma razão, não parecia surpresa e sim parecia esconder alguma carta na manga.

– Hum, e o que sua mãe faria agora se ela descobrisse que o seu relacionamento com Ivy ainda continua? Será que ela ficaria um mês sem falar com você de novo ou será que ela tiraria a coroa de Llyoal de você? - Carolina parecia ameaçadora.

– Carolzinha, por favor, não fale coisas que você não sabe! - Henry sorriu tentando esconder o nervosismo que sentia.

– Henry, por favor, como você mesmo diz "não precisa ser muito inteligente" para perceber que vocês ainda tem um caso... - Carolina afirmou sentindo-se superior. - Além disso é mais do que óbvio que aquele dia no Provence Fields você estava com ela! - A jovem completou.

– Lógico que não! - Henry riu abafado. - Pare de falar besteiras...

– Henry, você pensa que me engana, mas não engana! - Carolina aproximou-se dois passos do príncipe, que parecia congelado e perplexo. - Ivy chegou ao país exatamente no dia em que nós dois estávamos no hotel! É óbvio que você foi se encontrar com sua "priminha" lá... - Carolina fez um sinal de aspas com os dedos ao falar "priminha". - Você pode negar o quanto quiser, eu sei que essa é a verdade.

– Bom, se eu estava com Ivy no Provence Fields você estava com Edward! - Henry afirmou ao cruzar os braços visando reverter a situação ao seu favor.

– Henry, isso você nunca irá saber! - Carolina usou um tom de voz mais baixo porém misterioso. Isso, estranhamente deixou Henry excitado.

– Não me subestime! - O rapaz se aproximou ainda mais de Carolina, fazendo com que ela pudesse sentir sua respiração contra a pele arrepiada da bochecha dela.

– Você que faz com que eu te subestime! - Ela afrontou-o permitindo que seus hálitos se chocassem. Do outro lado do salão Albert, Luzia e Victória assistiam à Henry e Carolina como se os dois estivessem encenando uma cena em algum filme de comédia romântica.

– Além de ousada você é mentirosa! - Henry exclamou instigando Carolina à continuar com as provocações.

– Eu te odeio! - Carolina rebateu ainda com um ar de superioridade na voz. - Viu? Eu não minto! - Completou vitoriosa.

– Pois acho que você mentiu! Além de me amar você está com ciúmes de Ivy! Acho também, que essa história de "levantar informações sobre mim para garantir que eu não espalhe seu segredinho por ai" é tudo desculpa esfarrapada! - Henry encostou sua testa na testa de Carolina e pode sentir que a respiração dela ficou mais pesada. Ela estava excitada e ele também. - Estou certo, não estou?

– Não está! - Carolina rebateu usando o tom de voz mais firme que conseguiu.

– Estou sim! - O hálito de Henry tinha cheiro de Champagne.

– Henry, por favor, você sabe que não está! - Ela soltou uma pequena risada de deboche.

– Carolzinha, não vamos discutir, principalmente por que quem está certo sou eu! - Ele não estava disposto à parar.

– Não está mesmo! - Carolina afirmou irritada.

– Ah é? Então eu vou te provar! - Henry encarou Carolina bem dentro dos olhos e então, em um ato de impulso, ele a beijou.

A principio Carolina tentou se afastar, mas os braços de Henry a puxavam para mais perto fazendo com que ela cedesse àquele momento. Os lábios do príncipe eram macios com gostinho de Chandon enquanto os dela eram volumosos e tinham gosto do gloss de morango que usava por cima de um batom nude da YSL. Henry então colocou sua língua na boca da jovem explorando cada canto dela, Carolina fez o mesmo permitindo-se passar as mãos pelos cabelos, agora, desalinhados do príncipe. Luzia, Albert e Victória assistiam tudo de longe orgulhosos e satisfeitos.

– Viu? - Henry disse ao se afastar lentamente de Carolina. - Você não consegue resistir ao meu charme. - Gabou-se.

– Henry, por favor! - Carolina sentia-se envergonhada e usada, porém resolveu dançar conforme a música dele. - Você estava com vontade de me beijar novamente e simplesmente não consegue admitir, ao invés disso, você inventou uma desculpa qualquer... - Henry encarava a princesa com um olhar sarcástico e firme. Queria mostrar-se o mais superior possível.

– Não posso dizer algo que não é verdade, você não acha?

– Acho que você sempre diz algo que não é a verdade e agora que está com medo de dizer algo que é a verdade! - Carolina gargalhou visando intimidar o rapaz.

Nesse exato segundo Albert se aproximou dos dois e pode observar um clima pesado que os rondava.

– O que está havendo aqui? - O rei do antigo reino do sul questionou.

– Nada demais, pai! - Carolina sorriu.

– Estamos apenas curtindo a festa, Albert! - Henry completou.

– Eu vi, Henry! - Ele respondeu animado ao arregalar as sobrancelhas de uma forma divertida e simpática. - Podem continuar com o bom trabalho, se é que me entendem... - Piscou. Carolina e Henry se entreolharam sem esboçar nenhuma expressão. - Ah, mais uma coisa... - Disse antes de se afastar. - Vão dançar, remexer o esqueleto, como um casal! - Ele ordenou com empolgação. - Isso é uma ordem... - Alertou e então se afastou na direção de sua esposa.

– Eu não vou dançar com você! - Henry afirmou decidido ao cruzar os braços.

– Não estou surpresa com isso! - Carolina deu de ombros.

– Porque? - Ele pareceu ofendido.

– Você não faz o tipo de homem que tem habilidades em dança de salão!

– Pois eu tenho, sim! - Rebateu ainda mais ofendido. - E vou te provar... - Afirmou puxando-a pelo pulso até a pista de dança! "E lá vamos nós de novo!" Carolina pensou sem muita animação.

Por incrível que parecesse Henry era um verdadeiro cavalheiro e pé de valsa. Ele conduzia Carolina pela pista fazendo-a parecer mais leve do que uma pluma e mais elegante do que uma rainha. A barra dourada do vestido da princesa praticamente flutuava de uma forma esvoaçante pelo salão revelando seus saltos, também dourados, da Chanel.

– Então ainda acha que eu danço mal? - Henry indagou depois de um tempo.

– Até que da para o gasto... - Carolina respondeu indiferentemente. Henry sorriu percebendo a falsidade na resposta da princesa.

Os dois continuaram dançando em silêncio enquanto arrancavam suspiros de quase todos os presentes. Os fotógrafos oficiais da festa concentraram todas as suas atenções no casal assim como Luzia, Albert e Victória. Logo depois um jantar tipicamente llyonense fora servido com todos os tipos de carnes, peixes e acompanhamentos possíveis e como sempre elogios não lhe faltaram. "Este é o lombo mais macio que já comi!" Albert comentou com deleite. "Que molho!" James Scott, um antigo parlamentar nortista, afirmou ao lamber com muita empolgação sua colher repleta de molho cremoso de cogumelos. "Estou pasma com tantas delícias!" Carolina declarou ao encarar a mãe que completou: "Acho que engordei alguns quilinhos hoje".

Aos poucos todos iam raspando os pratos e lambendo os beiços. As bandejas do bifê estavam completamente vazias mostrando que realmente haviam gostado do jantar servido. A banda continuava tocando e alguns casais ou amigos começavam à voltar para a pista.

– Para onde foram os Lamont? - Victória perguntou ao se aproximar de Henry, que estava em sua mesa sozinho.

– Falando com alguns parentes. - Henry parecia pensativo. Ele brincava com sua taça de Champagne rodando-a com cuidado sobre a mesa.

– O que está achando da noite, querido? - A rainha sentou-se ao lado do filho e com delicadeza pousou sua mão sobre o braço esticado dele.

– Normal. - Deu de ombros.

– Eu vi o beijo entre você e Carolina. - Ela comentou cheia de comoção na voz.

– Todos viram, esse era o propósito dele. - Ele falou como se fosse algo sem importância, mas sua mãe sabia que não era bem assim...

– Confesso que eu não estava esperando ver aquilo! - Victória insistia. Parecia querer falar sobre o assunto.

– Bom, mas você viu! - Henry irritou-se. - Victória, ouça, eu sei que em algum lugar dentro do seu coração você deseja que Carolina e eu sejamos um casal de verdade. Mas nós jamais seremos isso... - Victória analisou o filho com um olhar frio e distante.

– Henry, eu posso até acreditar no que você está falando, mas sei que você jamais irá! - Ela sorriu e então levantou-se e se afastou deixando Henry com a lembrança de suas palavras anteriores.

O rapaz encarou a mãe até ela sumir no meio das pessoas que cobriam a pista de dança. Em seguida os olhos azuis e concentrados dele foram correndo pelo salão até encontrarem Carolina, sorridente fofocando com Denise. Por um segundo ele a analisou.

– Nunca seremos um casal de verdade. - Disse pra si mesmo por entre seus lábios alinhados e enrijecidos. - Isso eu garanto... - Acrescentou por deboche.

– Falando sozinho? - Ivy indagou ao sentar-se. Henry rodou os olhos sem muita paciência.

– Apenas pensando. - Respondeu ríspido.

– Em mim, aposto. - Sorriu com malicia.

– Ivy, eu penso em você apenas por um motivo e acredite que hoje isso não é algo que me venha na cabeça... - Henry disse grosseiramente. A jovem apagou seu sorriso imediatamente.

– Acredite, esse é o único motivo que me faz pensar em você também. - Ivy mentiu e Henry sabia disso. Era óbvio o amor intenso que ela sentia pelo rapaz.

– Cadê o Phillip? - Henry questionou com sarcasmo.

– Não me interessa... - Ela deu de ombros. - Ele acha que vai me comer! - Riu debochada.

– Tenho certeza de que ele vai. - Rebateu de forma desafiadora.

– Nossa, alguém não está de bom humor.

– Estou cansado, Ivy! - A voz de Henry parecia sem vida.

– Cansado do que? Você está sentado ai desde que o jantar começou... - Ela cruzou os braços após muito os gesticular pelo ar.

– Eu estou cansado dessa festa sem graça e desse seu papo desnecessário. - Henry respondeu ainda de forma grosseira.

– Henry, acredite em mim, meu papo não é desnecessário. - Ivy tinha os lábios torcidos de uma forma sensual. - Vim aqui te fazer uma proposta...

– Diga. - Ele disse apenas para livrar-se logo daquela mulher tagarela.

– Bem, em exatos 30 minutos o leilão começará e então as atenções de todos estarão voltadas à ele. O que você acha de nós fugirmos e você sabe... - Ivy sugeriu então fazendo Henry encará-la surpreso.

– Você está surda por um acaso? - Indagou então. Estava nervoso. - Você não ouviu quando eu falei que não estou com cabeça para isso hoje?

– Henry, você está falando feito uma mulherzinha, sabia? - Ivy não entendia o que estava acontecendo. Essa era a primeira vez que o rapaz recusava alguma proposta sua. - Acho que você está passando tanto tempo com aquela princesinha que está virando uma cópia perfeita dela...

– Ela é minha namorada, Ivy! É normal que eu passe muito tempo com ela, não acha? - Henry questionou-a.

– Acontece, Henry, que nenhuma namorada sua nos impediu de ter um caso... - Ivy argumentava desesperada.

– Ivy, estou dizendo "não" para você apenas hoje... - Henry afirmou irritado. - Não estou com cabeça para fugir, não deu para entender ainda?

– Pelo visto vou acabar a noite com Phillip! - Ela revirou os olhos impaciente.

– Pelo visto ele vai te comer então... - Henry debochou e então deu um longo gole em sua Champagne...