Crônicas da meia noite. escrita por JeeffLemos


Capítulo 25
O Sol Nascente do Oeste Selvagem




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Fort Summer, Novo México, 13 de Julho de 1881.

O Homem Sem Mestre

Os sons animados do piano mecânico preenchiam o ar com uma melodia alegre e contagiante. As engrenagens funcionavam a todo vapor, alternando as teclas que tocavam sozinhas. Gritos e barulhos de copos completavam a harmonia típica daquele tipo de lugar. Uma tavernaabarrotada de homens sujos, com mentes deturpadas em busca de mulheres e bebidas. Desde trabalhadores das minas, com rostos pretos da fuligem do dia e roupas gastas, até senhores de terras e gados, que se vestiam de forma mais vistosa.

A massa que se divertia no local não percebeu quando as portas se escancaram e uma figura inusitada adentrou o salão. Trajava uma espécie de quimono, com um peitoral que parecia uma proteção de couro e cota de malha. O chapéu pontudo de palha mascarava seus olhos. Trazia umakatana em cada lado da cintura.

Em uma mesa afastada, três homens mantinham seus olhares centrados na movimentação dentro do bar. O grupo logo notou o estrangeiro, e percebeu quando ele virou a cabeça em sua direção. Mexeram-se desconfortáveis, levando as mãos aos seus cintos.

Aos poucos, todos foram percebendo o forasteiro, e os altos barulhos diminuíram-se a ruídos, até o som evaporar, restando apenas o melódico e compassado ritmo do piano.

– Uma cerveja, por favor. – tinha uma voz sombria com um sotaque puxado.

O taberneiro o olhou com um ar desconfiado enquanto resolvia se era seguro ou não. Depois de um tempo de hesitação, pegou uma caneca e começou a encher enquanto falava.

– Dia quente hoje, hein? Você não é das redondezas, certo? – O lugar todo parou para observar o estranho no bar. Olhos desconfiados o fitavam com apreensão.

– Sim e não. – o homem colocou a cerveja no balcão e ele a pegou, tragando tudo em um único gole.

Devolveu a caneca e retirou uma moeda da algibeira que trazia presa a cintura. Nesse momento, foi possível ver sua prótese. Uma mão de metal e aço, com fios de cobre saltando de seu pulso.

– Isso paga a cerveja e o aluguel. – mantinha os olhos baixos e obscuros por trás do chapéu de palha.

– A cerveja paga, mas não sei de que aluguel você está falando. – o homem pegou a moeda e mordeu, comprovando sua veracidade. – Não alugo quartos aqui.

– Não preciso de quartos, apenas de seu bar, por um instante.

Retirou o chapéu e colocou no balcão. Seu cabelo era longo e negro. Os olhos frios e calculistas penetravam nas almas que fitavam. E o homem atrás do balcão sentiu isso no momento em que os olhou. Deu um passo involuntário para trás enquanto colocava a mão em uma espingarda em baixo do balcão.

– Se eu fosse você, não faria isso. – disse o estranho, virando-se e pronunciando em alto e bom tom. – Saiam daqui!

Recebeu olhares carrancudos e ameaçadores como resposta. As mulheres do salão se dispersaram, correndo escada acima, deixando homens furiosos para trás. O taberneiro apertou um pequeno botão e o som do piano foi se desfazendo até morrer, deixando apenas a tensão no ar. Ele puxou rapidamente a Winchester 73 debaixo do balcão e apontou para o estrangeiro, quando um veloz brilho passou diante de seus olhos e o cano da arma caiu ao chão, partido.

– Eu te avisei para não fazer isso. – segurava a espada com a mão direita enquanto descansava a esquerda sobre a guarda da outra. Com um gesto rápido, o cabo da katana girou em sua mão e lamina se alinhou ao seu braço. Os homens começavam a se dispersar mais rápido do que suas pernas embriagadas permitiam. Saíram tumultuando e abalroando com a pequena porta “vai-e-vem”, derrubando uns e pisoteando muitos outros. Apenas o trio que estava afastado permaneceu no local. Seguravam o cabo de seus revólveres e olhavam predatoriamente para o homem, que os retribuía de forma indiferente.

– Tom Peckett, – apontou para o do canto – Billy Wilson – mudou para o do meio – e Dave Rudabaugh – completou parando o dedo no último.

O taberneiro jogou o pedaço inútil da arma no chão, e correu para a porta dos fundos, assustado.

– E essa belezinha aqui? – Dave segurou a Colt 1860 Army em riste e apontou em direção ao espadachim. – Você conhece?

Disparou ligeiramente. A bala saiu do cano rasgando o ar, e a lâmina afiada separou-a no meio mais rápido do que fora disparada. Os três se assustaram. Os outros dois sacaram suas armas e fizeram menção de atirar, quando de repente, o espadachim correu em sua direção.

Três tiros foram disparados em uníssono. A outra espada foi sacada e ambas katanas fizeram um arco de baixo para cima, retendo duas das balas, enquanto a terceira resvalava no braço, ricocheteando de leve e propagando um curto som metálico. As sombras de seus movimentos eram perceptíveis, enquanto de forma brusca, ele rodopiava em um giro lateral, cortando as mãos de Dave. O sangue jorrou em esguichos e seus gritos percorreram a garganta, explodindo pela boca.

Os outros dois atiravam e gritavam. O pavor tornou-se o fio condutor de suas miras, fazendo-os desperdiçar balas por todo salão.

– Morre seu desgraçado! – Billy gritou enquanto tentava acertá-lo, mas errava e furava o corpo de seu amigo, enquanto ele caia com o rubro descendo em torrente por seus pulsos.

Mal viu a lâmina afiada atravessando o meio de seu crânio, ao mesmo tempo em que a outra deslizava pelo seu pescoço. O sangue espirrou e ele caiu de joelhos, com a vida se esvaindo.

Tom desistiu e gritou desesperado, jogando a arma para o alto.

– Eu me rendo! Eu me rendo! – pânico e medo exalavam junto do suor, e um líquido escuro molhava sua calça. – Não me mate!

O espadachim parou de frente para ele. Balançou as lâminas e as gotas de sangue respingaram no chão.

– Perguntarei uma única vez. – as palavras deslizavam por sua boca de forma sutil e mortal. – Willian Henry Bonney?

– Está no rancho de Peter Maxwell! – tremia enquanto falava – Por favor, não me–

O fio de prata passou por sua barriga despercebido, rasgando couro, pano, músculos e órgãos. O corpo caiu lentamente, enquanto o homem virava as costas e caminhava até o balcão. Encontrou um pano em cima dele, limpou as lâminas e embainhou as espadas.

Colocou o chapéu de volta e se dirigiu até os corpos caídos. Jogou Dave no ombro e segurou os outros pelos cintos. As tripas de Tom espalhavam-se pelo chão conforme o estrangeiro saia da taverna. Do lado de fora, o sol queimava de forma constante, a leve brisa levantava a poeira e seus cavalos esperavam impacientes. Jogou os corpos na carroça, subiu nela e saiu pela estrada.

O povo da cidade que se reunia em volta do lugar, apenas se afastou, observando enquanto ele ia embora.

O Homem Sem Lei

Os cascos do cavalo levantavam uma nuvem de poeira enquanto galopava pesadamente, respirando de forma brusca e exibindo seus dentes amarelos. Seus olhos estavam arregalados e os músculos trabalhavam de forma incessante.

O crepúsculo tingia o orbe de rosa, e o tempo começava a se tornar ameno e agradável. Riscos de nuvem corriam pelo céu de forma vagarosa, dançando com a brisa.

Willian adentrava no casarão quando ouviu o barulho do cavaleiro e olhou para trás. Passou a mão no revólver e esperou. Viu que o homem aparentava certo desespero.

– Senhor Billy! – quando o cavaleiro se aproximou, mostrou ser um garoto magricela. O cabelo preto, transpassado por um par de óculos de aviador, escorria por cima dos olhos. Deu um pulo do cavalo ainda em movimento, tropeçou e quase caiu.

– Morreram todos! – respirava pesadamente e tossia devido ao esforço e ao susto.

– Do que você está falando? – convenceu-se de que não havia perigo e guardou o revólver. Era um automático ornamentado com sândalo e marfim.

– Dave, Billy e Tom! – colocou as mãos no joelho e se curvou, para recuperar o fôlego. – Um homem entrou no bar e os matou.

– E que homem é esse? – seu rosto começou a ficar vermelho, enfatizando as espinhas que cravejavam toda a pele da face.

– Eu não sei senhor. Dizem que ele usa espadas e é estrangeiro.

– Maldito! – Virou-se de costas e chutou uma das cadeiras do jogo de mesa. Para sua infelicidade, as cadeiras eram feitas com sobras de metal e arabescos de madeira. A dor atravessou seu corpo e ele caiu, com pontadas violentas perfurando seus dedos.

– Senhor! – o garoto correu para socorrê-lo. Tentou levantá-lo, mas deu de cara com o cano da arma.

– Já deu sua noticia, agora some daqui! – segurava o pé com uma mão, e com a outra o revólver, mirando o rapaz que correu assustado, montando no cavalo e disparando estrada afora.

Willian ficou jogado ao chão durante um bom tempo, esfregando os dedos por cima da bota. Após alguns minutos, a dor se amenizou e ele então levantou. Entrou na casa e correu o máximo que podia, mancando.

Encontrou Peter Maxwell sentado no escritório, bebendo uísque soturnamente.

– O maldito me achou! Mandou Shigeki atrás de mim! – Levou as mãos à cabeça e correu os dedos pelo cabelo, em forma de desespero. As manchas de suor começavam a brotar embaixo de seus braços, demonstrando o nervosismo.

– O que? – respondeu Peter, se engasgando com a fumaça do charuto e tendo um acesso de tosse. Demorou-se por um tempo até recuperar o fôlego e então se recompôs e concluiu. – Você já era, e tá me levando junto! Mas eu não vou ficar de jeito nenhum! – Levantou-se rapidamente e os rolamentos expostos nas juntas da cadeira estalaram, fazendo o recosto ficar em posição vertical.

– Aonde você vai? – perguntou Willian, com o desespero latente em sua voz.

– Embora, oras! Você não acha que irei ficar aqui, acha?

– Eu vou com você! – Aproximou-se e foi empurrado para trás.

– Se você vier, ele vem atrás de mim, e eu não o quero atrás de mim. – jogou o charuto no chão e saiu pela porta, com Willian o seguindo, gesticulando desesperadamente.

– Mas ele vai me matar seu eu ficar aqui! – seus olhos começaram a lacrimejar. – Por favor, Pete! Me leva com você!

– Já falei que não! – passavam agora pela cozinha, em direção à porta de saída. Os criados olhavam de forma curiosa, enquanto eles caminhavam a passos largos, deixando apenas os ecos de seus sapatos batendo no piso de madeira.

– Por favor! – agora, tinham saído pelos fundos e se encontravam em um vasto quintal. Willian correu precipitando-se à frente de Peter e se ajoelhou, com as mãos fechadas em forma de oração. – Eu prometo que não te peço mais ajuda!

– Saia da minha frente! – deu um chute em cheio no peito de Willian, que caiu de desajeitadamente no chão. – Deixo meus homens e todo o equipamento disponível pra você usar. Se vire com isso! Se você mata-lo, eu volto. E se ele te matar, volto do mesmo jeito. Está por sua conta.

Passou pelo garoto caído ao chão e caminhou em direção a um enorme dirigível estacionado ao lado da cerca. Branco e magnífico, contrastando com o rosado, quase escuro, e os últimos abutres que passeavam com a brisa. Havia um homem parado ao lado dele, e em uma árvore próxima, que possuía uma casa em seu topo, duas figuras observavam a movimentação no local.

– Houve uma emergência! Está pronto para partir? – perguntou ao homem quando se aproximou dele.

– Está sim, senhor. Para onde vamos? – vestia calças de couro, uma blusa branca e um colete preto. Seu rosto metálico, com apenas um olho em forma ocular, reluzia de forma tênue. A voz era ríspida e artificial.

– Qualquer lugar, só me tire daqui!

– Como o senhor desejar. – fez um sinal com a mão em direção a porta do dirigível e caminhou atrás de Peter, enquanto ele seguia para a entrada.

Willian observou os dois entrando no dirigível, e alguns minutos depois, ele decolou. Subiu lentamente e se afastou vagaroso, tornando-se um ponto branco em um firmamento escuro, que começava a despontar as pequenas estrelas. Com o medo corrompendo crescente, e o desespero batendo cada vez mais forte, Willian acordou do transe. Correu em direção à árvore e subiu no pequeno elevador, que esperava na base. Era uma caixa de ferro gradeada. Suas engrenagens chiaram e começaram a rodar enquanto ele subia.

– Preciso de vocês agora! – falou para os dois homens que estavam na pequena varandinha, quando chegou ao topo. – O carvão está em carga máxima?

– Sim, senhor. – responderam em uníssono, soltando uma pequena nuvem de fumaça pela boca.

– O que deseja? – perguntou o da direita, uma plaquinha em seu colete mostrava o nome Tom. Era idêntico ao homem do dirigível, mas seu chapéu ao invés de marrom era preto.

– Quero proteção! – caminhava de um lado para o outro, mexendo as mãos de forma nervosa. – Desçam comigo e reúnam os homens, quero homens armados dentro e fora da casa.

– Entendido, senhor. – agora quem respondeu foi o outro, que parecia cópia de Tom, mas tinha o nome de Charlie na pequena placa.

Os dois desceram pelo elevador deixando Willian sentado ao chão da varanda, chorando timidamente, temendo por sua vida.

Fort Summer, Novo México, 14 de Julho de 1881.

Vermelho Como Sangue

Willian olhava o relógio de bolso e os ponteiros já passavam da meia noite. Guardou o objeto prata e mirou através da vidraça. A lua prateada iluminava o ambiente, e de sua janela, no topo da casa e de frente para a estrada, ele observava os búfalos andando a esmo pelo horizonte. Ouviu ao longe o uivo de um lobo. Viu uma pequena movimentação na manada que logo cessou.

O quarto em que se encontrava era um velho sótão, que fora transformado em seu dormitório. Uma cama e um velho guarda-roupa eram a única mobília do lugar. O que complementava a monótona decoração eram duas metralhadoras de oito canos, com balas de calibre 50, que se encontravam em ambos os lados da janela, em aberturas especiais para comportá-las. Tom e Charlie apoiavam-se cada um em um tripé, comandando as armas.

– Ele vai me matar. – Willian virou as costas para a paisagem monótona e começou a caminhar pelo quarto, nervoso. Havia parado com o choro algumas horas antes, e logo após reuniu os homens e os colocou espalhados ao redor do casarão, munindo-lhes de uma Winchester 73 e duas Colts 45 cada um.

– Por que ele está atrás do senhor, senhor Willian? – perguntou Charlie, com o chapéu obscurecendo o rosto de face lisa, provido de um único olho.

– Eu fazia parte de um bando que roubava gado, e nós matamos algumas pessoas. – falava como uma criança, com a conotação de medo explícita em sua voz. – Na verdade, eu nunca matei ninguém, sempre foi George, mas ele sempre dizia que era eu. Eu estufava o peito e me sentia um exímio pistoleiro. Sou conhecido como Billy The Kid, e minha fama corre por todo o Oeste Selvagem.

“Aquele George era um homem esperto. Jogava as mortes para cima de mim, e quando ficamos encurralados, ele simplesmente sumiu. Hoje deve estar vivendo com um homem livre. Enquanto eu vivo me escondendo como uma barata. Nunca matei ninguém, e não faço ideia da sensação… tenho medo de puxar o gatilho.

– E o senhor nunca pensou em se entregar? – perguntou Tom. Enquanto se virava, seu braço de metal roçou na metralhadora e um som oco foi audível.

– Está louco? Se eu me entregar vou ser enforcado! O único jeito de fugir dessa é matar esse caçador…

– E quem é esse homem? – quem falava agora era Charlie.

– Veio do oriente. – a espingarda de cano duplo de disparo contínuo, pesava em sua mão. Sentia-se cansado e com medo. E também sentia certa resignação. – Era um samurai respeitado por lá, mas fez o que não devia. Virou-se contra seu mestre e perdeu ambos os braços enquanto tentava fugir. Fiquei sabendo que ele conseguiu as próteses lá. As próteses japonesas são as melhores. Depois desses acontecimentos, veio para cá em um navio como clandestino. Encontrou emprego como caçador de recompensas e agora perambula pelo Oeste multiplicando suas mortes. Pior do que a minh-

Não terminou de falar, pois ouviu burburinhos vindos do lado de fora. Correu para a janela e olhou para baixo. Viu os homens apontando para o horizonte e seguiu com os olhos.

A manada gigantesca de búfalos que estava à distância, agora corria desvairadamente em direção ao casarão, disparando pela estrada e deixando uma nuvem colossal de poeira para trás.

Os animais se aproximaram rapidamente, correndo de forma constante. Ao chegarem a certa distância, a saraivada de tiros começou a ser distribuída. Os animais caiam e eram pisoteados pelos que vinham atrás. O cheiro de sangue os apavorou ainda mais, fazendo com que se dispersassem e se espalhassem ao redor da casa. A tempestade de areia que se formou continuou em frente, tapando a visão dos homens que começaram a atirar a esmo. O som só era interrompido quando paravam para recarregar.

– Devemos atirar senhor? – Tom segurava firme a braçadeira com o gatilho, pronto para apertá-lo.

Ele não conseguia ver o que acontecia. A poeira havia coberto toda a entrada da casa, e somente a tênue silhueta de alguns de seus homens eram visíveis. Decidiu atacar.

– Atirem! Matem esses malditos búfalos!

As metralhadoras começaram a girar e emitir um ruído agudo, enquanto o som de sua rotação mesclava-se com os barulhos das balas sendo expelidas. Um número incontável de cápsulas caia pelo chão. Os ouvidos de Willian começaram a latejar, mas ele suportou. Olhou para fora novamente e viu uma grande quantidade de animais abatidos. Onde a poeira havia baixado, era possível ver o banho de sangue deixando a terra vermelha. Reparava na matança feita quando de repente, de soslaio, viu uma sobra em meio à tormenta. Aproximou-se de um de seus homens como uma flecha, e então ele caiu.

– Ele está ali! – gritou apontando para baixo e olhando para Charlie. Virou a cabeça bruscamente e fitou Tom. – Atirem nele!

– Senhor – Charlie falava em um tom mais alto do que o barulho, enquanto seus braços de metal trepidavam com o solavanco da arma. – Não podemos mirar ali, está fora do alcance.

– Então parem de atirar! – o ruído agudo foi morrendo e se transformando uma baixa rotação, até parar.

Agora, o ambiente era preenchido pelos gritos de horror que vinham da entrada da casa. Uma grande quantidade de tiros era disparada, mas pela continuidade com que eram desperdiçados, não estavam surtindo efeito.

Tom e Charlie abandonaram seus postos e passaram a frente de Willian, ficando entre ele e a porta.

***

O gume da espada penetrou a carne como se fosse uma fina folha. A outra lâmina passou pelo pescoço, decepando-o e fazendo a cabeça voar para longe. O último homem havia tombado e seu caminho agora estava livre.

De seus braços, saiam espinhos de metal. Um tipo de mecanismo que se ouriçava e permitia uma maior possibilidade de ação. Suas próteses haviam se tornado rubras, e suas espadas estavam banhadas em sangue.

Corpos estavam espalhados em todos os cantos, mas ele não parou para apreciar sua obra. Correu escada acima e foi em direção ao quarto certo. Pôde visualizar Willian observando pela janela desde o momento em que chegara à entrada da casa.

Chutou a porta e se arremessou para dentro. Quatro tiros; Esse foi o número de balas que os autômatos conseguiram disparar. Desviou três com uma katana enquanto ricocheteava um projétil com a outra. Willian caiu atingido pelo ricochete, gritando e levando as mãos ao ferimento. Sua arma voou para longe.

O samurai atacou os “robôs” de forma bruta, pulando para cima de um e lançando a espada no outro. Saltou socando a cara de Tom enquanto Charlie caia para trás, com a lâmina atravessada em sua cabeça, que soltava fumaça e fazia ruídos estranhos. O dedo havia travado no gatilho e atirava em direção ao teto.

Os espinhos metálicos dos braços de ferro rasgavam o rosto de Tom, enquanto ele, inutilmente, tentava se desvencilhar. Um punho afundou no meio de seu rosto. Saiu arrancando a face, exibindo um número enorme de engrenagens, estalando e girando desordenadamente.

O demônio envolto em sangue levantou de cima da carcaça, caminhou até a outra e pegou sua katana. O “morto” já havia descarregado todas as balas no teto e agora permanecia com seu olho sintético vidrado, degustando sua “obra de arte”. Seu ferimento expelia uma nuvem de vapor.

– Willian “Billy The Kid” Henry Bonney, condenado pelos crimes de roubo e homicídio. – o espadachim caminhou à sua frente, mirando-o de forma indiferente. Segurando ambas as espadas e banhado pela luz do luar, parecia um Shinigami.

– Eu não ligo, pode me levar. – tirou a mão do ferimento e estendeu ambas juntas, para que fossem presas.

– Aqui diz vivo ou morto. – retirou um papel da cintura e mostrou para ele. – Isso quer dizer, que não preciso de suas mãos, – se precipitou e o brilho demoníaco de sua katana cortou o ar, enquanto ele concluía. – só de sua cabeça!

A lenda de Billy The Kid morria naquela noite, dando lugar para outra, que seria chamada de A lenda do Ronin Vermelho.


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