Crônicas Do Olimpo - A Maldição Do Titã escrita por Laís Bohrer


Capítulo 5
Choque e Depressão! Caindo aos Pedaços...




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Era a primeira vez que eu vira neve caindo na superfície dentro dos limites do acampamento meio-sangue, normalmente qualquer nevasca ou tempestade desviava do local por uma proteção mágica, mas dessa vez acho que o Sr. D estava no clima da estação - ou ele queria hibernar. - Vá entender esse coroa... (Não digam a ele que eu o chamei assim!)

Toda vez que Apolo oferecia ajuda para as caçadoras para descer do furgão ou carregar algo para elas, elas simplesmente olhavam furiosamente para ele e o xingavam em alguma língua antiga ou simplesmente passavam por ele como se ele não existisse. Quando todos saíram do furgão, Apolo suspirou.

- Bem, chegamos vivos. - disse ele rindo nervoso. - Você foi... Bem, Thalia. Um prazer conhece-la.

Thalia parecia já recuperada do choque não assumido, enquanto isso eu permanecia com expressão inelegível no rosto e olhava para meu lar. Estava tão diferente desde a última vez que eu o vi. A geada cobria a pista de bigas e os campos de morango. Os chalés estavam decorados com pequenas luzes cintilantes, como luzes de Natal, exceto que elas pareciam bolas de fogo de verdade.

Mais luzes brilhavam na floresta, e o mais estranho de tudo, um fogo tremeluziu na janela do sótão da Casa Grande, onde habitava o Oráculo, aprisionado em um velho corpo mumificado. Perguntei-me se o espírito de Delfos estava assando marshmallows lá em cima ou alguma coisa assim.

Nico prendeu a respiração, como se não acreditasse em tudo aquilo, mas acreditasse do mesmo jeito.

- Wow! - disse ele. - Isso é um muro de escalada?

- É. - respondi.

- E porque tem lava escorrendo dele? - perguntou.

- Ah... Um pequeno desafio extra. - falei. - Bom, vamos. Vou leva-lo até a Quiron. Zoë você já...

- Conheço Quiron. - disse Zoë. – Dizei a ele que nós estaremos no Chalé Oito. Caçadoras, sigam-me. 

Suspirei, acho que ela realmente me odiava. Mas eu não me incomodei tanto até porque não ia muito com a cara de Zoë, culpava ela por... Pensando bem, a morte de Jake não fora tanto culpa dela. Morte. Essa palavra me faz pensar em todas as mortes que já presenciei. Sentia meu sangue gelar junto com a neve que caíra no chão, era uma coisa linda de se ver. Mas nada deveria estar lindo... Jake estava morto. Eu não queria sorrir. Até porque tinha algo me incomodando por trás de tudo isso...

- Eu mostro o caminho! - Hansel interrompeu meus pensamentos paparicando as caçadoras.

– Nós sabemos o caminho. - disse Zoë rígida. 

- Ah, é fácil se perder por aqui! - exclamou Hansel. - Sabe... O Acampamento é muito grande, podem facilmente se perder na floresta ou coisa assim...

Hansel continuou falando e falando, estava até me dando nos nervos, e acho que as caçadoras não sentiram algo diferente disso. Zoë relou os olhos e disse:

- Se for conosco, vos calais a matraca? 

- C-Claro! - gaguejou ele com um sorriso bobo.

Sem dizer nada a caçadora seguiu sua rota e suas irmãs foram logo atrás e Hansel as seguiu, mas antes olhou para mim com um sorriso vitorioso. Fiz sinal de positivo com as mãos para ele, meio irônica, mas ele estava tão bobo de apaixonado que tropeçou enquanto andava de ré, se ergueu do chão e correu atrás das caçadoras de Ártemis.

Quando Bianca di Angelo estava saindo, ela se abaixou e sussurrou algo no ouvido de seu irmão. Ela olhou para ele esperando resposta, mas Nico apenas franziu as sobrancelhas e se afastou.

– Cuidem-se, queridas! – Apolo falou para as Caçadoras. Ele piscou para mim. - Aconselho que tome cuidado com essas profecias, Megan... 

- O... - comecei.

- Nos veremos de novo, Boa sorte. - disse ele.

- O que quer dizer com "Boa Sorte"? - perguntei.

Ele sorriu para mim e se voltou para Thalia em vez de responder.

– Até mais, Thalia – ele disse. – E, hum, fique bem!

Ele pulou para o furgão e sorriu cruelmente como se soubesse de algo que ela não sabia. Deve ser coisa de deus das profecias... Mas ele realmente me deixou atordoada com aquelas indiretas. 

Eu me virei de lado enquanto a carruagem solar partia numa explosão de calor. Quando olhei de volta, o lago estava evaporando. A Maserati vermelha subiu alto por cima da floresta, brilhando mais forte e escalando mais alto até que desapareceu em um raio de sol. Nico ainda parecia irritado. Eu imaginava o que sua irmã havia lhe dito.

- Quem raios é Quiron? - disse ele, estremeci com a pergunta. 

- Nosso diretor de atividades. Ele vai querer conhecer você. - disse eu. - Ele é um... Bem, você vai ver.

Ele aprecia tão confuso... Não o culpava, mesmo assim estava me controlando a beça para não ser grossa com ele. Sua falta de sabedoria sobre coisas que eu sabia e respondia-lhe me irritava, acho que o encontro com as caçadoras estava me deixando estressada.

Thalia olhava para mim discretamente, como se tivesse uma coruja rosa na minha cabeça, ou algo de estranho em mim enquanto andávamos na direção da Casa Grande.

- Que é?! - exclamei.

- O que? - perguntou calmamente ela.

Era estranho mas ela não se irritou quando eu comecei a andar mais rápido e bufei. A segunda coisa que me deixou surpreso sobre o acampamento foi o quanto ele estava vazio. Quero dizer, eu sabia que a maioria dos meio-sangues treinava somente durante o verão. Apenas aqueles que passam o ano inteiro estariam aqui – os que não tinham casas para ir, ou que seriam muito atacados por monstros se saíssem. Mas também não parecia haver muitos deles.

Avistei Kim do chalé de Hefesto,  alimentando a fornalha do lado de fora do depósito de armas. Os irmãos Stoll Travis e Connor, do chalé de Hermes, estavam tentando arrombar a tranca da loja do acampamento.  Avistei também Haley, um garotinho loiro de onze anos indeterminado conversando com um outro mais novo que parecia novato. Haley acenou para mim e eu acenei com a cabeça.

Algumas poucas crianças do chalé de Ares estavam fazendo uma guerra de neve com as Ninfas nos limites da floresta. Era só isso. Até senti falta de Clarisse, uma antiga inimiga, filha de Ares. Que não parecia estar por perto.

A Casa Grande estava decorada com fios amarelos e vermelhos de bolas de fogo que aqueciam a varanda, mas não ateavam fogo em nada. Lá dentro, chamas crepitavam na lareira. O ar cheirava a chocolate quente. Sr. D, o diretor do acampamento, e Quíron estavam jogando cartas calmamente na sala. Em pé lá estava o sátiro, Grover Underwood.

- Megan! Thalia! - exclamou ele com um sorriso.

- Oi, menino-bode. - cumprimentou Thalia. Grover fora o sátiro que resgatou Thalia, Sabem... Aquela velha história dos irmãos Chase, Luke e ela... 

- Grover. - falei simplesmente.

Quiron me deu um olhar sutil, algo como "Conversamos mais tarde sobre..." E o resto era algo que eu não conseguira descrever, mas era o mesmo olhar de Thalia. Eles me olhavam como se eu fosse outra pessoa.

- Vejo que cumpriram a missão. - disse ele. 

A barba marrom de Quíron estava mais desgrenhada no inverno. Seu cabelo enrolado tinha crescido um pouco mais. Ele não estava no cargo de professor este ano, então acho que estava permitido ficar um pouco mais à vontade. Ele vestia um suéter felpudo com o desenho de uma pegada de casco, e tinha um cobertor no seu colo que escondia quase completamente a cadeira de rodas.

- E esse rapazinho deve ser...

– Nico di Angelo – falei. – Ele e sua irmã são semideuses.

Suspirou aliviado.

- Então tudo ocorreu bem.

- É... - começou Thalia.

O sorriso dele derreteu.

- O que esta errado? Aonde esta Jake? - perguntava ele.

Minha cabeça começou a martelar e eu tinha a estranha sensação que as batidas do meu coração pudessem ser ouvidas lá de dentro do chalé das Caçadoras. Minhas mãos estavam fechadas em punhos, notei que elas sangravam por ter fincado as unhas nelas.

- Megan? - chamou o diretor cavalo.

- Oh, pobre... - disse o Sr. D finalmente, com uma voz triste claramente falsa. - Mais um perdido.

- Mais um? - repetiu Thalia.

Estava tentando não prestar atenção no Sr. D, mas era difícil ignorá-lo em seu agasalho laranja-neon de pele de leopardo e seus sapatos roxos de corrida. (Como se o Sr. D tivesse corrido ao menos um dia em sua vida imortal.) Uma coroa de louros dourada estava inclinada de lado em seu cabelo escuro e encaracolado, o que devia significar sua vitória na última rodada de cartas.

- Espere... O que quer dizer? - perguntou ela. - Quem se perdeu?

Uma tensão ocupou a sala em que estávamos.

- As Caçadoras. - falei finalmente. - Um maticore. Lutamos contra um e elas apareceram. Ártemis partiu em uma caçada sozinha, disse que tinha que capturar um monstro que tinha o poder de destruir os deuses e Jake... Jake... Ele...

Minha voz sumiu em meio ao resumo.

- Era de se esperar... - disse o Sr. D. - Os filhos de Ares são assim, orgulhosos demais tentando fazer tudo sozinhos. 

Ele bufou enquanto dava uma jogada. Mordi o lábio.

- Bom... - começou Quiron. - Vejo que temos muito o que conversar... Grover você poderia levar Nico para ver o filme de...

- Grover! Ei, Cara. Me explica uma coisa sobre... - uma voz interrompeu Quiron. A Voz vacilou. - ... Bigas.

Deveria ser um novo semideus, pois não o reconheci do acampamento de nenhum do tempo que passei até ali. Uma tensão maior atingiu aquele local. Hansel trotou para dentro da sala com um olho roxo e um corte na bochecha.

- Ei gente! As Caçadoras estão...

A Voz do mesmo vacilou, fiquei inicialmente confusa com tudo aquilo. Qual era o problema daquele garoto? Qual era o problema deles?  O Sorriso de Hansel derreteu, o garoto-jegue me encarava, Grover também olhava para mim... Todos faziam isso, exceto Sr. D que parecia indeciso em sua próxima jogada. Examinei o garoto com um olhar confuso... Cabelos negros, olhos verdes, uma lança na mão... Ele se parecia tanto com...

- É você? - ele me perguntou. - É você... Mesmo?

Então a ficha caiu. Me toquei de que eu... Eu conhecia ele.

Recuei um passo para trás, esbarrei em uma mesa de cabeceira deixando um vaso de vidro cair e se despedaçar no chão com um crak! Vacilei, senti-me tonta e enjoada ao mesmo tempo. O que deu em mim? Seria que eu estava em um pesadelo? Um sonho? Ou Percy estava mesmo ali? Na minha...

- O que... - começou ele ligeiramente confuso com minha reação.

Era o Percy... O mesmo garoto que não pude salvar das garras do deus da morte há alguns anos atrás na minha primeira missão. O Mesmo garoto dos meus sonhos e pesadelos... Era o Percy. O Josh... Não sei como ele queria ser chamado... Não importa isso, era ele.

- Não... - murmurei. 

- Megan, calma... - disse-me Quiron.

Esbarrei então em Hansel que cambaleou. Eu estava na porta agora, olhando para ele, andando de ré.

- Não, Não, Não... - murmurei de novo.

- Espera... - disse Percy.

Mas eu simplesmente tampei os ouvidos com as mãos e corri. Corri para o mais longe o possível dali. Quando eu estava fora de alcancei libertei meus ouvidos, meu coração agora poderia ser ouvido por Long Island inteira. Vi Beckedorf e Kim no caminho, esbarrei nos Stoll e cambaleei um pouco. 

- Megan? - disse Travis.

Meus olhos já estavam cheios de lagrimas, passei por ele e Connor e continuei correndo até o lago de canoagem. Cai de joelhos na beira da água, podia sentir o frio dela, não estava congelada, mas estava quase a ponto de transformar qualquer se humano em picolé. Minha cabeça explodia em dor, lembranças, fechei os olhos e as vi.

Tempestades. Minotauro. Sangue.

Era estranho para mim. Eu via duas crianças lutando com adagas. Era Jake e eu quando menores. Via eu mesma menor conversando com a deusa Héstia. Em um momento de loucura eu simplesmente me ergui do chão e pulei na água com um grito de horror em vez de "PARE!" como se pedisse para afastar todas aquelas lembranças. Me livrar delas...

A Corrente gelada me cercava naquela hora, eu desejava minha mortalidade na água, em outras palavras, eu desejava morrer, me afogar. Sabia que as pessoas me olhavam estranho porque eu simplesmente estava estranha. Diferente. Agia diferente. Depressiva por Jake e chocada por Percy... Percy... Seu nome me fazia estremecer, e os fragmentos da água congelada em volta de mim também, desejei me molhar e me molhei. Desejei me afogar, desejei bem do fundo do meu coração. 

Fechei meus olhos como se realmente fosse morrer, prendi a respiração não acreditando nos meus pensamentos anteriores. Eu queria morrer e me livrar daquela descendência depois de aceita-la de bom grado quero me livrar dela, queria ser normal.

Agora eu estava quase no fundo do lago. Senti braços ao redor de mim. Me senti sendo puxada, arrastada. Acabada... Era como eu me sentia. Caindo aos pedaços como o vaso de vidro que quebrei lá trás. Ouvi uma respiração pesada, me forcei a abrir os olhos, eu estava deitada na neve, flocos de neve caíam lentamente no meu rosto, eu estava encharcada, mas Percy não estava, mas eu sabia que ele me buscara.

- Eu não posso me afogar. - falei fechando os olhos de novo. - Mas eu gostaria...

- Qual é, não sou assim tão feio de morrer, sou? - perguntou ele.

Abri os olhos.

- Você é real. Você esta aqui. - falei.

Ele estava bem diferente da última vez que eu o vira no mundo inferior. Lá ele estava sujo e magro, aqui ele ganhara peso, não parecia mais um esqueleto sem vida. Agora seus olhos brilhavam, estava menos pálido, tinha a idade de Luke. Ele estava igual a antes, mas agora estava com mais vida. Sem ferimentos, sem correntes de fios luminosos. 

- Você é real. Você esta aqui. - ele repetiu o que eu disse me olhando do mesmo jeito que eu o olhava. - Você cresceu pirralha. Esta mais alta do que a última vez que eu a vi.

- Como? - perguntei.

- Você devolveu o elmo de Hades. - explicou. - Ele me libertou, mas... Passei por muito para chegar aqui. Quase morri.

Dei uma risada seca e curta.

- É... Sei como é.

Ficamos um bom tempo em silêncio, eu não o toquei e nem ele me tocou. Talvez com o mesmo motivo - o medo de que um de nos desaparecesse...

- Jake... - disse ele.

- Ele não esta morto. - falei tentando convencer mais a mim mesma do contrário do que os outros tentavam me fazer aceitar.

O Silêncio voltou. Percy/Josh tentava colocar as coisas em ordem em sua cabeça, como se ligasse os pontos.

- Acostume-se com "Percy". - disse ele como se lê-se meus pensamentos. - Não gosto do meu segundo nome.

- Você esta vivo... De verdade? 

- Acho que ambos estamos com dificuldades de aceitar isso. - disse ele com um sorriso triste.

Fechei os olhos.

- Não... - murmurei de novo.

- O que?

- Você vai sumir depois, eu vou acordar... E você vai embora... - murmurava. - ... De novo.

Abri os olhos. 

Me apoiei na neve apenas pelos cotovelos. Percy hesitava ao tocar meu rosto, como se eu fosse a mais bela construção feita de areia e ele tivesse medo que eu desmorona-se.

Seus dedos tocaram de leve meu cabelo.

- Não vou embora, pirralha. - disse ele. - Vamos encontrar Jake, seja vivo ou morto.

Não reagi com sua resposta ao que não era uma pergunta, mas eu sentia seu toque, era real. Ele continuava a acariciar meu cabelo e aquela sensação era tão gostosamente familiar que era difícil acreditar que eu acordaria, bateria a cabeça no beliche de cima e cairia da cama. 

Peguei sua mão que continuava a me acariciar, examinei ela como um quebra-cabeça - não tinha nem capacidade de entender um... 

- É... - me permiti a sorrir, ele falando aquilo me dava uma esperança desconhecida. Era tão fácil de acreditar naquelas palavras. - Vamos.

Mesmo que fosse um sonho, eu viveria ele. Como uma promessa, cumpriria o que ele disse. Seja ele real ou não.


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