Ah, como sinto inveja dessas delicadas flores de campo.

Invejo seus cabelos cheios de brilho, sempre soltos e tão livres...

Invejo seus corpos, magros, esbeltos, musculosos, cheios de carne. Com essa pele aveludada levemente corada...

Esses rostos. Sem marcas nem manchas, tudo tão perfeito.

Aquelas caminhadas até o parque, sentada na grama verde deliciando-se com um sorvete. 

Sua boca rosada, o queixo sujo com o chocolate. 

Dormidas tranquilas, sonhos magníficos, sorrisos luminosos...

Na medida que aumentam meus comprimidos, os longos cabelos castanhos caiem lentamente.

Dolorosamente.

Agoniante. 

A pele ressecada, ossos evidentes, olhos perdidos e apagados. 

Meu apetite desaparece quando vejo aqueles pontinhos azuis, amarelos e rosa perto de um copo d'água.

De novo me olho no espelho.

De novo procuro alguma emoção perdida em meus distantes pensamentos. 

Um longo fio castanho cai na pia do banheiro. 

Um pedaço de mim acabou de ir embora junto com as lagrimas que desceram pelo ralo. 

Talvez meus sentimentos foram também