Silent Hearts escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 5
Choro de um Desistente


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo saindo do forno! Espero que gostem tanto dele quanto eu gostei. Espero também que não se importem: Este saiu um pouco maior que o normal. Até às notas finais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/400622/chapter/5

A tarde caía na mansão. Mark estava no seu quarto, deitado na cama sem vontade de sequer se levantar. Havia sido um dia exaustivo.

Para começar, logo de manhã, Ira fizera questão de reunir todos na sala dos quadros a fim de discutir quem poderia ser o assassino de Combatente. À exceção de Desistente e Sombra (que continuava desaparecido durante todo aquele tempo), todos os hóspedes (vivos) apresentaram-se à mesa, cada um sentado no respetivo lugar. A ideia da ruiva era bastante inteligente: tendo em conta as informações que tinham do canal de investigação que abrira, poderiam tentar descobrir o assassino. Contudo, de nada resultou além de mais confusão e desentendimentos, e no final ninguém alcançou conclusão alguma. As informações eram poucas (na verdade, tudo o que davam era, basicamente, uma pequena autópsia da morte da Combatente), pelo que as desconfianças ainda se tornaram maiores e consequentemente destruindo as poucas amizades que ainda lá existiam. Porque é que tudo tinha de ser assim? Mark, sinceramente, não compreendia.

Mais tarde, fora arrastado por Voz para arranjar a janela. Mark queria protestar e dizer que não queria fazer aquilo, mas Voz estava bastante empenhado a mantê-lo ajudando. No final, o mais novo não conseguiu arranjar quaisquer argumentos para o silêncio do outro: Voz precisava de ajuda e seria rude da sua parte recusar-se a prestá-la.

Terminadas as “obras”, Mark regressou ao seu quarto, onde lá dentro permaneceu até que alguém bateu à porta.

– Está aberta. – Resmungou o homem, coçando ligeiramente os olhos e se obrigando a se levantar para ver quem estava a entrar. Para sua surpresa, quem acabara de aparecer ali não era mais que Bela.

– Oi. – Disse ela entre dentes, a frustração visível na sua face. Quando olhou para Mark, pareceu ainda mais irritada por ver que ele estava deitado sem fazer absolutamente nada. A rapariga de sublimes cabelos negros sentou-se então na mesa à frente da escrivaninha sem pedir, e ficou ali, observando o céu pela janela sem nada proferir.

– …Algum problema? – Perguntou Mark finalmente, com uma pontada de sarcasmo na sua voz. Em resposta, ela tirou um pequeno frasquinho de verniz e pôs-se a pintar as unhas.

– Nenhum. – Respondeu com simplicidade.

– Então… Porque está aqui, mesmo? Precisa de falar comigo?

– Não.

– Tem algo a fazer no meu quarto?

– Deveria?

– Não.

– Então aí tem a resposta.

Gerou-se um silêncio constrangedor entre os dois, o cheiro do esmalte vermelho que Bela usava enchendo o ar ali dentro.

– Então porque é que veio aqui, mulher?

– Eu preciso de um lugar para pintar as unhas.

– Que tal o seu quarto?

Ela olhou com choque para o garoto, como se ele dissesse uma coisa bastante horrível. Levou uma mão aos lábios com gloss, com metade das suas unhas já pintadas.

– Eu sabia que eras uma pessoa de má índole, mas nunca acreditei que fosses assim tão cruel…

– … O quê!? – Mark levantou-se, inspirando fundo para não ir em frente e simplesmente jogar a garota pela janela ou afogá-la na piscina da mansão. Não, ele tinha de se controlar, por isso limitou-se a lançar um olhar frustrado para a garota. Ela abanou uma mão no ar, como quem afugenta moscas. O homem não teve a certeza se ela estava mandando uma mensagem de “deixa para lá”, se estava só tentando secar as unhas mais depressa ou se ambos. Eventualmente, a rapariga falou.

– O meu quarto ia ficar com este cheiro. Ouvi dizer que não faz muito bem à saúde ficar respirando-o, por isso decidi que não ia pintar as unhas lá.

– Então você escolheu vir para o MEU quarto, em vez dos vários quartos existentes na mansão de três andares em que estamos presos.

– Fera – Começou a garota, as suas finas sobrancelhas se aproximando ligeiramente enquanto ela compunha uma expressão confusa – Eu também preciso da minha privacidade, sabia?

Mark estava indeciso entre arrancar os próprios cabelos ou os de Bela. Em vez disso, sentou-se na sua cama novamente, enterrando a cara nas mãos. Ele não era capaz de a obrigar a sair. Burro, fraco. Aquilo ainda geraria a sua própria morte, mais cedo ou mais tarde.

– Hey, Fera. – Chamou a outra, que agora já havia passado para a outra mão. Ela era rápida. – Você sabia que me lembra muito de alguém que eu conheço? Estranho, não?

– Hm – Respondeu Mark com desinteresse. Naquele momento, ele só queria ver a outra saindo dali.

– Ai que chato! – Resmungou Bela, suspirando. Mais uns momentos em silêncio se passaram enquanto ela continuava com o seu ofício – Bom, de qualquer forma, eu já acabei, agora só preciso de as deixar secar. Acho que posso fazer isso no meu quarto. Pode fazer o favor de me abrir a porta, fofo?

Mark prosseguiu a abrir a porta para Bela abandonar o seu quarto. Contudo, quando a outra pediu para que ele fosse abrir a porta do quarto dela, Mark simplesmente fechou a porta na cara dela e ignorou-a.

Mais tarde, outra pessoa veio importuná-lo.

Quando Mark abriu, foi surpreendido novamente ao ver o pequeno Sorriso entrando, a sua expressão risonha sempre presente na sua face. Sentou-se no mesmo lugar onde Bela estivera momentos antes, mas como era bem mais baixo que a mais velha, teve de se contentar com o facto de os pés não alcançarem o chão. Balançava as pernas para a frente e para trás, os olhos azuis e curiosos observando Mark com atenção. Era o tipo de criança que, numa situação normal, todos achariam particularmente adorável. Contudo, Mark só o achava digno de pena, vendo ao ponto que a sua inocência levara: Sorrindo mesmo após mais uma pessoa morrer. Talvez não fosse inocência. Mas Mark preferia iludir-se com essa ideia. Após se sentar novamente no seu lugar predileto – a cama –, sorriu para a criança.

– Olá, Sorriso. – Disse com calma – A que devo esta visita?

Sorriso balançou-se de um lado para o outro na cadeira, olhando em volta. Depois, respondeu.

– Vim falar com o Fera! – Disse com felicidade. A sua voz parecia entusiasmada, demais até – O tio pode falar comigo, certo?

– Uh, claro. – Respondeu Mark, esforçando-se para não demonstrar o cansaço e o desassossego na sua expressão. A criança provavelmente já tinha passado por maus momentos suficientes. – Sobre o que queres falar?

O garotinho levou a mão aos lábios para pensar um pouco. Quando chegou a uma conclusão, proferiu-a.

– Sobre o assassino! Podemos falar sobre ele, não é?

Mark engoliu em seco. Que tema estranho para uma criança puxar para uma conversa. Algo estava muito estranho ali. A forma como o mais novo balançava viciosamente as pernas, o sorriso no seu rosto que não alcançava os seus olhos, as mãos que se comprimiam contra a cadeira de uma forma forçada, o olhar… O olhar lembrava a Mark aquele de alguém que tinha perdido a sanidade há muito. Repelindo estes pensamentos bizarros que surgiam na sua mente, Mark acenou afirmativamente, continuando com a sua farsa.

– Porque não? – Começou, esforçando-se para não deixar a sua voz falhar. Havia várias razões para não falar sobre aquilo naquela hora, mas por alguma razão, ele continuou seguindo o ritmo da conversa. Sorriso acenou, aparentemente feliz com isso.

– Maior parte das pessoas se recusa a falar disso comigo. – A criança parecia desiludida com esse facto, mas a expressão sorridente deixava dúvidas – Eu acho que sei quem é o assassino.

– O quê!? – Sentindo o coração a parar, o homem logo se endireitou, muito assustado e exaltado, um misto de sensações tomando conta da sua mente. – E q-quem seria essa pessoa?

– Sou eu. – Murmurou Sorriso, levando a mão a um bolso que ele tinha no casaco que vestia. Mark levantou-se prontamente, correndo para cima da criança para evitar que ela fizesse alguma coisa. Em resposta, esta pulou da cadeira e correu para a televisão, soltando um risinho divertido. Perseguiu-a, acabando por derrubar um jarro que repousava em cima da escrivaninha, e uma pequena cena de perseguição se instalou no quarto. No final, felizmente, o mais novo foi apanhado e imobilizado.

– É você? É VOCÊ!? – Gritou Mark, o coração batendo muito depressa em resposta à adrenalina em excesso que percorria o seu sangue. Para seu espanto, Sorriso riu.

– Claro que não! Eu só queria brincar, isso foi muito divertido! Vamos fazê-lo outra vez!

– Oiça bem, criança. – Murmurou, pegando o outro pelo colarinho – Isso é uma brincadeira de MUITO mau gosto. Tem noção de que tem gente que já morreu por causa desse assassino? Tem noção que eu poderia ter-te matado por causa disso?

– Sim! Sim! Eu sei, eu sei. Mas olha, agora sério. Eu acho que encontrei uma mega pista!

– Mega pista?

– Para descobrir o assassino!

Ao ser solto, ele esticou outra vez a mão ao bolso do casaco e deste tirou um pedaço de papel, cuidadosamente dobrado de modo a mostrar apenas uma pequena frase.

“Páginas 2;3 - Diário de Louis”

– Me dá isso. – Mandou Mark, roubando o papel das mãos da criança com urgência. Desdobrando-o, começou a ler o que nele estava escrito.


Querida Mãe,



Hoje, finalmente, chegou o dia da adoção do Seth. Eu estou muito triste, mãe! Nós vamos nos separar, o Seth vai arranjar uma nova família. Será que ele vai ficar bem, sem mim? Eu não sei. Eu não gosto da senhora que veio buscá-lo. Ela falou que não podia me levar com ele, mas que queria garantir que mantínhamos contacto. Isso é bom, mãe, mas eu não quero que o Seth vá embora mesmo assim. Eu estou sozinho.


Contudo, ainda hoje um casal veio ter comigo. Eles falaram que queriam me adotar, também. Eles disseram que eram ricos. E que eu ia ter duas manas mais velhas. Eu estava muito nervoso, mãe, eu não queria sair deste orfanato. E se depois, quando tu me viesses procurar, achasses que eu tinha fugido? No final, acabei por aceitar. Desculpe, mãe. Mas aposto que se perguntar à freira ela vai dizer logo logo onde que eu estou, de certeza!


Te adoro muitão. Com amor, Louis.


–---


Querida Mãe,



Eu acho que estou me habituando a essa família nova. Eles são muito legais. Agora eu me chamo Louis McFlower, veja só que nome legal. A mana mais velha de todas, Beatrice, ela está estudando fora, por isso ainda não tive tempo de a conhecer. Mas a outra mana é legal, o nome dela é Martha. Ela tem 20 anos e acabou a faculdade mais cedo, ela deve ser muito inteligente! Ela é muito simpática, eu realmente gosto muito dela. Eu ainda tenho de conhecer o marido da Martha, só que ele está viajando para trabalho, aparentemente (Me contaram que ele tinha um trabalho super importante, mas não fala para ninguém, mãe!).


Também tenho uma nova “mãe”, mas você sempre será a mais importante para mim, não se preocupe! Ela se chama Nicole. Eu a trato pelo nome mesmo, é muito estranho chamá-la de mãe quando ela não o é. O mesmo com o meu novo “pai”, o senhor Hilbert. Ele é muito sério e às vezes me dá medo, mas ele é do bem, não se preocupe, mãe!

Eu tenho saudades do Seth. A família dele é a família Pauper, eles vivem bastante longe daqui, mas me disseram que às vezes podemos nos encontrar e matar as saudades. Mas eu não gosto deles, mãe. Eles me tiraram o Seth. Por causa deles, eu estou mais sozinho que nunca, numa família de gente simpática mas desconhecida.


Você é a melhor e a única mãe. Com amor, Louis.”



Terminado de ler, Mark suspirou.


– Posso ficar com isso? – Perguntou a Sorriso, que acenou afirmativamente. Contudo, manteve-se um pouco desconfortável.

– Você sabe, esse Louis… Ele… Ahh…

– O que tem ele?

– Eu… Bem… Deixe estar, esqueça! Não falei nada, nada mesmo! – Sorriso deu uns pulinhos – Porque não falamos de mim, em vez disso?

– Uh…

– Você sabe, eu tenho um segredo para sorrir sempre! Sempre, sempre, sempre! – A criança levantou os braços, os olhos azuis brilhando de entusiasmo – Quer saber qual é?

– Oh, claro, diga lá.

– Sempre que eu sinto que tudo está correndo mal, eu me lembro que tenho os meus amigos, pais e irmãos para me ajudar! Eu sei que eles vão evitar que eu sofra.

Mark nada disse, observando o discurso de Sorriso com paciência, um sorriso leve surgindo nos seus lábios. É, era inocência. Contudo, ainda sabia que nem tudo era assim. O olhar de Sorriso transmitia outra sensação além daquela que a criança queria demonstrar.

– Você sabe, teve uma vez em que eu estava jogando futebol com um amigo meu na escola, e então, e então, eu caí! Bum! Em cheio de cara numa pedra afiada. – A criança fazia gestos rápidos enquanto falava – Doeu muito, muito! Deu vontade de chorar, sabia? Mas aí eu vi meus amigos me ajudando a me levantar, chamando a professora. Minha mãe veio à escola, para ver como eu estava. Em resultado, ela perdeu o trabalho, mas eu fiquei feliz. Porque a mamãe se preocupa comigo! A partir daí, eu percebi que tinha tanta gente com quem eu podia contar. E por muito que as coisas ficassem feias, eu sorria! Um sorriso sempre muda as coisas, não é?

A criança suspirou, como se estivesse a falar demais.

– Até quando cheguei aqui, eu tinha confiança que tudo ia ficar bem. Só que não resultou. E agora, Fera? Aquela vovó morreu. Estou preso aqui, isolado de todos. Ninguém mais quer saber de mim, não é mesmo? Os meus amigos, a minha família… Nenhum deles tentou me salvar, ainda. Porquê?

Lágrimas começaram a cair dos olhos da criança à medida que ela falava. Contudo, o sorriso ainda não abandonara o seu rosto.

– É difícil sorrir! Toda a gente está triste! Toda a gente está assustada! Onde está a esperança? E depois, é como se… Uma parte de mim, uma metade minha estivesse faltando… Tão perto, mas tão longe… Onde vou arranjar a minha força!? Fera…

Ele soluçou, baixando a cara. A única coisa que Mark viu foram as lágrimas caindo nas suas pernas. Quando ele levantou o olhar, não sorria mais.

– Eu não consigo mais sorrir. Não consigo! Não consigo ser feliz, não consigo animar os outros!

Parou para soluçar um pouco. Agarrou-se à camisa de Mark, abanando-a como se suplicasse por algo. No final, outro sorriso apareceu na sua face, mas este era um sorriso de angústia, não de felicidade. Não havia nada de alegre no seu sorriso.

– Eu quero muito morrer, agora!

Ele tremia muito. Agora dava para perceber qual era o sentimento que esteve sempre no olhar da criança: Desespero. Profundo desespero. Mark não queria acreditar que uma criança tão nova assim poderia sofrer tanto em tão pouco tempo. Queria abraçá-lo dizer que estava tudo bem em não sorrir. Queria reconfortá-lo.

Mas tal nunca aconteceu.

A respiração de Sorriso foi subitamente cortada, os olhos se abrindo tanto que ameaçavam saltar das órbitas. Da frente do seu peito saía a ponta aguçada e ensanguentada de uma espada.

– Permitam-me realizar o desejo dessa criança. – Disse a pessoa que segurava a espada que trespassava Sorriso. A loira estranha sorria de uma forma calma, como se estivesse vendo algo divertido. Como sempre, o seu olhar era tapado pelo chapéu – Menino mau. Falhou no seu “objetivo” de nunca parar de sorrir.

– O QUE É QUE ESTÁ FAZENDO, MALUCA? – Mark estava paralisado. Na sua frente, Sorriso tremia, a dor espelhada na sua face, mas impossibilitado de gritar. A criança tossia, incapaz de fazer alguma coisa – ELA VAI MORRER, SUA PUTA DO CARALHO!

– Mas a ideia é ele morrer. São as regras, sabia? “Qualquer desrespeito às regras ou ao seu objetivo são punidos com a morte”, se não me engano. Nós estávamos falando sério, mas parece que ESSE MENINO não compreendeu.

– O quê… Pare… PARE! ELE NÃO MERECE ISSO!

– Descumprir as regras do jogo é uma coisa grave. Ainda por cima, ele ia te contar coisas sobre Louis, o que também era-lhe proibido. Não, não. Morra, moço.

Ela remexeu um pouco a espada dentro do corpo do rapaz. O som de órgãos sendo cortados e das costelas se partindo fez-se ouvir, Sorriso tremendo e tossindo sangue em grande quantidade. Depois, a loira retirou a espada do corpo, agitando-a para que o sangue se libertasse desta, respingando-o todo nos lençóis da cama de Mark.

– Tenha um bom dia, Fera.

Ela abandonou o quarto, mas Mark nada fez. Ele não conseguia se mexer, não conseguia dizer nada. Caiu de joelhos sobre o corpo de Sorriso, agora já sem vida.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

There, there. Acabou por agora. Poste uma review, isso sempre deixa a autora feliz ~
Beijinhos e até ao próximo capítulo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.