Silent Hearts escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 11
Louis


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! o/
Então, como prometi num dos reviews, eu postei esse capítulo mais cedo do que sairia normalmente. Eu realmente gostei desse, espero que sintam o mesmo!
Oh, e eu não reli. Na verdade, quando eu acabei o capítulo, fiquei com fortes dores de cabeça então fiquei sem paciência. Desculpem x_x

Bom, boa leitura ~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/400622/chapter/11

De algum jeito, aquilo tinha virado um hábito.

De algum jeito, e para grande horror de Mark, o corpo que se deitava no meio da cozinha já não lhe trazia emoções. Não se sentia chocado. Não se sentia triste. Não sentia medo. Encarava o cadáver de Voz com uma certa naturalidade, e ao se aperceber desse facto, sentiu um forte peso no coração. Um homem havia morrido! Como que ele não sentia nem pena do que aconteceu?

De certa forma, sentiu-se mais calmo ao notar que não era o único a reagir desse jeito. Todos os hóspedes exceto Desistente estavam ali presentes, todos com uma expressão pesada no rosto. Mas as reações que foram encontradas no primeiro dia, com o corpo de Combatente, já não se encontravam ali. Mãe não chorava, como sempre fizera. Dessa vez, ela encarava Voz franzindo a testa numa expressão preocupada – não como alguém que está diante um morto mas como alguém que vê uma criança prestes a fazer uma travessura e está pensando se deve ou não pará-la. Frágil, que também tinha o costume de cair ao chão e chorar desesperadamente até lhe faltar o ar, encarava a cena com um olhar vazio, segurando o seu coelhinho de pelúcia pela orelha e balançando-o para a frente e para trás num movimento contínuo. Ira limitou-se a cruzar os braços e a observar o local com um ar de superioridade, não parecendo minimamente importada com o que estava acontecendo. Finalmente, Joker – o que parecia estar mais nervoso de todos ali – tinha se dedicado a roer as unhas e preferiu desviar o olhar para o balcão vazio.

– Parece que chegou a vez do Voz. – Comentou Ira finalmente com casualidade, após alguns momentos de silêncio. Mark sentiu o seu estômago arder com raiva ao ouvi-la falar.

– “Chegou a vez do Voz”!? – Não conteve a exclamação, cerrando os punhos assim que a libertou. – Você pensa que isso é o quê? Uma brincadeirinha? Ele está morto!

– Sim, e? – Retrucou Ira, encarando as unhas – É a verdade. Chegou a vez dele. Em breve, chegará a vez de todos aqui – exceto o assassino, seja lá quem ele for. É a mais pura das verdades. Quem não aceita isso é simplesmente idiota.

– I-isso… Não pode ser verdade… – Soltou a voz trémula de Mãe – Tem de haver um jeit…

– Um jeito mais simples de morrer? Se mata. – Não era isso o que Mãe ia dizer, mas Ira foi rápida e concisa para calá-la. – Não é como se alguém fosse sentir a falta de uma mulher tão cobarde quanto você.

– H-Hey, Ira… – Apressou-se Joker a dizer, levando a mão à cabeça e dando uma risadinha nervosa quando sentiu as orbes azuladas da mulher se virarem na sua direção com firmeza. – N-não acha que isso é um pouco… Exagerado? Ela só estava falando por todos nós quando…

– Agora ela precisa de um adolescente para lhe proteger, é? Cala a boca e fica na sua.

– IRA! – Gritou Mark – Quem vai calar a boca aqui é VOCÊ. Ficar agindo dessa forma não nos vai ajudar em NADA!

– E ser positiva e fingir que sou amiga de todos vocês vai? Por favor, vocês alcançam o ridículo de vez em quando.

– Parem…

– Nós temos de confiar uns nos outros! Se não fizermos isso, aí sim vamos acabar morrendo!

– É, boa ideia. Vamos todos ser amiguinhos uns dos outros para depois um de nós nos dar uma facada quando viramos as costas! Muito inteligente, Fera. De facto, brilhante.

– Parem…

– É, e nos separar vai ajudar ainda mais! Notou como que o assassino mata as pessoas? Ele as pega em momento em que elas se separam! É isso que ele faz!

– Hah. Que bonitinho. E porque é que elas foram mortas? Talvez porque confiaram em quem não deviam, não? Olha o Voz! Ele morreu envenenado, e dá para perceber que não estava tomando um chá sozinho quando isso aconteceu. Quer ver, aposto que os outros casos foram coisas semelhantes que ocorreram!

– Isso é…

– PAREM! – Pela primeira vez, a voz de Frágil fez-se ouvir de uma forma estridente, o seu desesperado grito ecoando na enorme cozinha. Imediatamente, todos se calaram. A última criança da mansão estava agora chorando, as mãos na cabeça como se estivesse com dores fortes e o rosto expressando pânico. – P-PAREM, POR FAVOR!

Ela encarou os mais velhos, que instantaneamente param de discutir, só que tal não pareceu suficiente. As lágrimas não cessaram a sua queda, e eventualmente Frágil desistiu e saiu a correr da cozinha. Ira pareceu ter percebido o que estava fazendo, pelo que se acalmou um pouco.

– De qualquer forma, eu não mudo a minha opinião. – Comentou num tom baixo. Talvez ela estivesse falando para ela mesma, e não propriamente para um dos presentes. – Nós todos morreremos… Absolutamente, definitivamente, morreremos…

– Hmmm… – O esgar nervoso de Mãe chamou mais a atenção do que o monólogo de Ira. Não, na verdade, tanto Joker quanto Mark preferiam fingir que esse era o caso. – E-eu… Esqueci de falar uma coisa… Imp-portante…

– Uma coisa importante? O que seria isso, Mãe? – Incentivou Mark imediatamente para a loira. Não era o único interessado. Tanto Ira quanto Joker tinham todas as suas atenções voltadas para a nervosa mulher de roupas amarelas.

– É sobre… O V-Voz… Eu estava d-descendo quando notei q-que… Bem… A porta do quarto dele estava ab-berta…

– Sério? – Inquiriu Joker imediatamente – Eu tenho a certeza que quando desci, todas as portas estavam fechadas e...

– Isso é p-porque eu a fechei! Só que, hmm, eu meio que, é, eu decidi… Eu decidi entrar. – Ira parecia estar prestes a dizer alguma coisa, provavelmente alguma reclamação, mas Mãe não a deixou continuar – Então, eu, hmm… Eu encontrei uma pequena moldura na escrivaninha dele, e, bom, eu não queria acreditar que era ele, mas definitivamente era, só que ao mesmo tempo eu pensava que não era, e… O que interessa é que eles os três estavam, bem, sorrindo, e sendo amigos, e eu fiquei confusa, e…

– Mãe. Eu não estou entendendo nada. – Interrompeu Joker, com os braços cruzados e uma expressão confusa. – Tenta ser mais clara. O que você viu? Uma moldura?

– S-sim… E n-nela tinha uma foto de… T-três homens…

– É? E daí? O que tem isso? Eram amigos do Voz, provavelmente. – Resmungou Ira – Em que é que isso pode ser um pormenor importante?

– É-é que…! Um deles era… Anfitrião… – Mãe parecia estar quase a desabar de nervosismo. Por alguma razão, o que ela tinha presenciado era uma coisa muito, muito chocante para ela.

– Você quer dizer… O homem que se suicidou no primeiro dia? – Perguntou Mark. Mãe acenou afirmativamente, mas não parecia que essa era a única coisa que lhe estava dando nervoso.

– E o o-outro homem… E-Ele… Eu reconheci o r-rosto dele… Mas e-ele tinha sumido… Então eu não tinha a c-certeza… Até que peguei na moldura, t-tirei a foto para v-ver melhor e… Tinha algo escrito at-trás dela...

O rosto de Mãe pareceu perder toda a cor enquanto ela citava as palavras que, supostamente, tinha lido na parte de trás da fotografia.

– O q-que Voz escreveu… F-foi… “Para o meu filho, Louis.”

– Meu filho? MEU FILHO!? – Não pareceu que Ira estava alguma vez à espera disso. Semelhante a Mãe, o sangue pareceu abandonar o seu rosto quando ela percebeu o significado das palavras que acabara de ouvir – N-não pode ser… Ele era… O pai dele…?

– I-Isso é uma brincadeira, n-não é? U-uma brincadeira de muito mau g-gosto… Não tem forma de que o Voz s-seja… – A reação de Joker foi idêntica à das outras duas. Parecia que a palavra “Louis” tinha despertado puro terror no coração de todos os presentes.

– E-Eu estou dizendo a v-verdade! Olhem! A fotografia e-está aqui! – E dito isso, Mãe pegou na fotografia presente no seu bolso e jogou-o para a frente como se esta estivesse em fogo, como se fosse queimá-la. Ira apanhou-a, apertando-a entre os dedos com tamanha força que esta quase se rasgava. De facto, ali estavam eles: Três homens, dois deles cujo rosto já era bem conhecido para Mark, todos sorrindo. O do meio era o único desconhecido: Um jovem, mais ou menos da mesma idade que ele, de cabelos pretos e olhos castanhos. Apesar de sorrir, o seu olhar parecia desprovido de qualquer emoção, e encarar aquela foto por muito tempo estava lhe dando arrepios. Ira não esperou que os outros dois analisassem bem a fotografia antes de a virar ao contrário. E, tal como Mãe dissera, ali estava a mensagem. “Para o meu filho, Louis.”

– E PORQUE É QUE NÃO NOS MOSTROU ISSO ANTES? ESTÚPIDA! ESTÚPIDA! – Gritou Ira para a trémula Mãe, que baixou a cabeça em resposta.

– I-isso… Eu acho que vou… Vomitar… Como é possível, como é possível!? – Joker tinha as mãos na cabeça, puxando os cabelos com desespero. – Eu… E-Eu não acredito nisso…

– E-esperem! Vocês… Conhecem o Louis? Louis Nord?

– Claro que sim! Tinha como eu NÃO o conhecer? – Soltou Ira rispidamente. O seu tom era de irritado, mas a sua expressão era de medo.

– Como? Como vocês o conhecem? Qual é a vossa relação com ele? Porque é que reagiram assim quando o descobriram isso?

– N-NÃO FAÇA PERGUNTAS! POR FAVOR, NÃO AS FAÇA! – Guinchou Mãe, se encolhendo como se as palavras de Mark tivessem veneno.

– Fera. Louis é perigoso. – Disse Ira num tom sério. – Você NÃO quer descobrir mais sobre ele. Acredite. Algumas verdades ficam melhor sem ser descobertas.

– Mas…

– Mas nada. Acabou a discussão. Eu preciso de… Tomar um banho e descansar. Adeus.

Dito isso, Ira virou as costas e saiu da cozinha. Naquele momento, parecia que o corpo de Voz, ali presente o tempo todo, não passava mais do que uma pequena peça de decoração, algo de pouca importância. Joker suspirou, e seguiu Ira até á porta. Só ficaram Mark e Mãe na cozinha.

– E-Eu… Eu já não sei o que fazer… – Comentou Mãe, uma lágrima caindo do seu rosto enquanto ela encarava o chão. Não parecia estar falando para Mark. – Até recentemente, eu achava que conseguia protege-los… Mas…

Soltou um suspiro e virou o rosto para Voz. O homem ainda estava caído no chão, os vários fragmentos de duas xícaras de chá espalhados à sua volta. Tinha vomitado um pouco, provavelmente devido ao veneno.

– Acho que o melhor é… Desistir, não é? Afinal, se o Louis está no meio disso… O mais provável é que ninguém saia dessa mansão vivo… Não há motivos para remar contra a maré…

E abandonou a cozinha, deixando um Mark atônito para trás.

–x-

Já era quase noite. Mark dirigia-se para o seu quarto, pensativo quanto aos acontecimentos da manhã do mesmo dia. Fora um dia silencioso na mansão. Frágil ficara trancada no seu quarto, não abrindo a porta e não saindo para jantar ou almoçar. Joker limitara-se a ficar na sala, vendo televisão de uma forma absorta. Se falassem com ele, ele não respondia, e o mais provável é que não estivesse prestando real atenção ao conteúdo do canal que ele assistia. Mãe ficara maior parte do dia na sala de jantar, encarando os quadros dos falecidos com pesar. Ira fora para o jardim e só voltava para dentro nas horas de almoçar e jantar. Irritado com os acontecimentos recentes e pelo facto de não receber uma explicação para o porquê todos estarem daquele jeito naquele dia em particular, Desistente foi o que tomou o lugar de Voz a cozinhar para todos. Houveram algumas objeções (provavelmente devido à forma como Voz fora assassinado) e por isso Mark ficou a ajudar Desistente durante essas horas. Ao contrário de maior parte das pessoas, que tinham ficado mais distantes com os acontecimentos, o velho parecia ter ficado muito mais preocupado e sensato do que era antes. Talvez fosse porque ele não tinha mais nada a perder.

Quando Mark chegou ao terceiro andar, deteve-se ao passar na frente do quarto de Voz. Algo lhe dizia que ele devia lá entrar. Segundo Mãe, ela tinha fechado a porta depois de sair, mas não a trancou. Se Voz era realmente o pai de Louis, então talvez no quarto dele…

Olhando para os lados a fim de verificar que ninguém o observava, levou a mão à maçaneta. Girou-a lentamente, e tal como esperava, estava destrancada. Entrou no quarto e deixou a porta encostada. O seu primeiro impulso foi virar-se para a televisão e liga-la. No quarto onde ele estava dormindo – que era originalmente do Anfitrião – a televisão simplesmente fora atualizada e passara a mostrar as informações de Mark ao invés da do dono original. Contudo, quando a ligou, esta não mostrou o seu nome.

BERNARD COULTER:

A Voz

A Voz deverá apresentar-se usando única e exclusivamente este cognome, não podendo usar o seu nome real (Bernard Coulter). O seu ‘objetivo’ é obedecer cegamente a todas as ordens dos outros hóspedes, com a exceção de qualquer ordem que implique a própria morte (suicídio). As suas regras são:

– Não pode falar

– Não deve informar ninguém de qualquer facto da sua vida antes de entrar na mansão

– Não pode desrespeitar os outros habitantes da mansão

– Qualquer desrespeito às regras ou ao seu objetivo são punidos com a morte

Mais regras poderão ser acrescentadas com o tempo.

Eram regras de certa forma semelhantes com as que o próprio Mark tinha: estranhas e sem sentido. Deu a volta ao quarto à procura de mais pistas. Encontrou a moldura que Mãe tinha comentado em cima da escrivaninha, e abriu as gavetas apenas para encontra-las já completamente remexidas. Com certeza, ele não fora o único a visitar aquele lugar. Talvez Mãe tivesse espreitado em mais lugares do que admitira. Ou talvez alguém mais viera ali durante o dia. Contudo, se havia algo ali de interesse, não havia mais, pelo que Mark fechou a gaveta e continuou a investigar.

Deu mais umas voltas ao quarto. Não encontrou nada. Abriu o armário de Voz e espreitou para lá para dentro, encontrando alguns ternos e uma roupa casual no canto. Provavelmente ele chegara à mansão com aquela roupa, mas por causa do seu objetivo foi obrigado a vestir os ternos. O próprio Mark só tinha duas mudas de roupa, então sentiu alguma inveja quanto a isso. Contudo, naquela roupa casual, notou algo saindo de um bolso. Um papel vermelho.

Esticou a mão e puxou-o apenas para descobrir que, para seu horror, o papel não era vermelho. Estava seco e pelo que parecia já tinha muito tempo, mas aquilo era definitivamente sangue. Estava rasgado, mas tinha alguma coisa escrita. E ao lê-la sentiu mais uma vez o horror que sentira naquela manhã com todas as novas descobertas tomar o seu corpo.

Querida Mãe,

Hoje eu te matei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado das revelações! :) Até ao próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hearts" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.