POV Ally

Eu estava exausta, não tinha dormido nem uma horinha desde ontem à noite e não conseguia nem ficar em pé direito. Abri meu armário e guardei meus cadernos das aulas de depois do almoço para não ter que estar carregando tudo por ai e depois o fechei, deslizando até o chão onde fiquei sentada.

- Ally? - A Trish perguntou se aproximando de mim. - Você parece estar cansada.

- Na verdade estou esgotada.

- Percebi pelas suas olheiras que aparecem mesmo com este seus óculos.

- Você tem alguma maquiagem ai?

- Meu kit de sobrevivência sempre está na minha bolsa, agora vêm - Ela estendeu a mão para mim oferendo ajuda, o que eu aceitei rapidamente. - O que aconteceu?

- Só um trabalho que tive que acabar. - Menti para ela já que não pude falar o que aconteceu com meu pai. Por mais que ela fosse minha melhor amiga não tinha contado a ela os últimos acontecimentos de minha vida, só para o Elliot já que ele era meu vizinho e conhecia melhor minha família.

- Ah sim. - Ela concordou sabendo como sou esforçada em relação a escola e depois entramos no banheiro. Nós duas conseguimos cobrir bem as manchas pretas embaixo de meus olhos e agradeci aos céus pelo cara, ou mulher que criou a maquiagem.

- Obrigada.

- Sempre estou aqui, principalmente quando se trata de cobrir imperfeições na pele, o que eu não tenho claro.

- Já pensou em ser mais humilde?

- Sempre, mas sabe como é, sou muito incrível para isto. - Ri de seu comentário e depois fui procurar os garotos já que continuava como babá deles. No caminho fiquei conversando com a Trish que nem percebi quando esbarrei no Dallas e no Dez e acabei caindo.

- Desculpa Ally, literalmente não foi minha intenção. - O Dez falou me ajudando.

- Eu sei, é que já sou desastrada naturalmente.

- Oi garotos. - A latina ao meu lado os cumprimentou recebendo sorrisos do ruivo.

- Oi. - Os dois ficaram naquele contato visual esquisito e eu sai de perto deles com o Dallas.

- Ally, você viu a Cassidy?

- Provavelmente ela já deve estar chegando, então se você quiser... - Nem consegui acabar minha fala, pois o moreno começou a se distanciar possivelmente se movendo até a entrada.

Eu olhei meu relógio e vi que ainda tinha quinze minutos então me dirigi até o quarto andar.

Eu adoro aquele lugar, por que é um tipo de salão de dança om enormes espelhos e um tipo de barra onde você pode se apoiar. As janelas enormes sem cortina nos dão uma bela vista da escola e de um pedaço da cidade. As paredes rosas um pouco desbotadas nos dão a sensação de calma enquanto relaxamos.

Eu descobri o local enquanto caminhava pela escola a uns dois anos atrás. Não queria ter aula naquele dia, pois estava passando por alguns momentos difíceis e decidi subir ao terceiro andar mesmo sendo proibido. Aquele corredor me assustou, mas quando me deparei com o próximo andar me surpreendi tanto que consegui até esquecer momentaneamente o que estava acontecendo comigo.

Enfim, a medida que ia subindo escutei alguns passos e uma música de fundo vindo lá de cima, e me deparei com um loiro de uniforme dançando. Seu cabelo tinha uma tendencia a se adequar a seu rosto o deixando muito bonito e seu corpo, pelo que pude perceber hoje já que estava com a camisa da escola, era definido.

Quando ele me viu, parou a música rapidamente e me olhou assustado.

- O que está fazendo aqui?

- Eu estudo aqui.

- Não estava falando neste sentido.

- Decidi passear por ai.

- Você sabia daqui, não sabia?

- Sim. - Sorri e larguei minha mochila no chão, me sentando de costas para o espelho. Aquele lugar parecia mais intacto que qualquer outro e eu fiquei satisfeita em tê-lo descoberto novamente.

- Por que ninguém vem para cá?

- Como eu vou saber?

- E sabe como construíram ao menos?

- Eu li em alguns noticiários antigos que o fundador desta escola construiu este lugar para sua amada esposa que tinha uma paixão pela dança. Ele queria um lugar no alto, onde a iluminação fosse perfeita e ela pudesse ter bastante concentração longe dos barulhos que invadiam os andares de baixo.

- Mas não deveria estar empoeirado ou algo do tipo?

- Não, por que eu limpei este lugar direitinho e fiz daqui um lugar meu.

- Seu?

- Totalmente, mas vejo que terei que dividir. Não me importo ok?

- Posso perguntar uma coisa? - Acenei enquanto ele andava pelo chão. - Por que ninguém usa as salas do terceiro andar?

- Nos outros anos usavam sim, só que eram alguns tipos de aulas para delinquentes. Um dia um aluno foi morto ali e pensaram que ele viria para assombrar ou algo do tipo e o antigo diretor bloqueou totalmente o andar arrumando as turmas nos outros dois que tinham e expulsando os alunos que frequentavam estas aulas.

- Mas alguém sabe de que ele morreu?

- Ninguém sabe ao certo, mas dizem que foi algum amigo dele.

- Amigo? Nossa, quem tem amigos deste tipo não precisam de inimigos.

- Concordo. - Comecei a rir de sua observação.

- Valeu por ontem.

- Disponha. - Ele olhou para baixo e depois pegou as mochilas em mão, se dirigindo as escadas. - Aonde vai?

- Para as salas.

- Ainda faltam uns dez minutos, me mostre um passo de dança.

- Você por acaso sabe dançar?

- Eu não danço.

- Então por que quer ver passos meus?

- Parece que você dança bem, agora vai logo.

- Olha, não quero discutir com você tá bem? Você mesma me disse que eu precisava ir para as classes de hoje, então até mais tarde. - Pisquei surpresa com sua exclamação meio bipolar e depois o segui para o andar de baixo. Garoto estranho... Em um momento me pede perdão, no outro sai correndo. Alguém os entende?

- Já pensou em ser mais gentil?

- Para quê? Ser uma pessoa boa não dá em nada, só em outros seres pisando em você.

- Se acalma. Só te fiz uma pergunta.

- Eu estou calmo. - Continuamos andando pelo corredor e para não ficar naquele silêncio meio constrangedor comecei a tentar puxar assunto.

- Hoje você veio de uniforme?

- Mas não tem que usar uniforme?

- Sim, por isso fiquei surpresa.

- Como assim?

- Achei que com esse seu jeito meio de "estou nem ai para nada" - coloquei aspas na expressão - você certamente não iria vir uniformizado hoje.

- Creio que, se você ficou surpresa com um pequeno gesto ainda vai se surpreender muito comigo. - Chegamos na sala que já estava com a porta aberta e nos sentamos em duas mesas na parede. Ele começou a bocejar e apoiou a cabeça na mesa.

- Com sono?

- E você não? Está até com olheiras e seus olhos não parecem enormes por trás dos óculos como de costume. - Eu? Com olhos enormes? Será que é muito estranho?

- Meus olhos? São muito estranhos?

- Não nesse sentido.

- Então são bonitos? - Senti ele ficar meio tenso enquanto abaixava a cabeça e falava com a voz meio abafada.

- Deixa eu dormir só um pouco?

- Curte ai sua soneca.

- Obrigada por me conceder dois minutos de sono.

- De nada loiro tingido.

- Achei que fosse oxigenado?

- E não é a mesma coisa?

- Tinta é diferente de água oxigenada. - Ele começou a rir e eu também sorri.

- Deita ai logo.

- Tudo bem. - Fiquei viajando enquanto escorava minha cabeça na parede e tentava dormir um instante, o que não consegui já que um minuto depois o sinal tocou. A professora que tinha ido a sala dos professores voltou em seguida botando muitas coisas no quadro e o pessoal começou a entrar. Dia exaustivo: Começando.