POV Ally

Fiquei variando entre ler e escrever em meu caderno/diário durante o tempo que ficamos ali. Eles ficaram brincando, jogando carta e comendo algo da mochila do Dez que literalmente eu não identifiquei.

Quando o sinal do almoço tocou, o Dez e o Dallas gritaram felizes e foram correndo até o refeitório, que eu não sei como conseguiram encontrar já que não dei nenhuma coordenada, mas do jeito que eu percebi que eles são, provavelmente vão seguir o cheiro da comida. Ou seguir as placas...

O Austin ficou deitado, provavelmente dormindo e eu decidi acordá-lo. Para ser um pouquinho má, peguei o iphone dele e botei “Supremacy” do Muse na metade e pausei, cheguei bem perto dele e botei o aparelho perto de seu ouvido ligando o som em seguida. Ele caiu das mesas e eu fiquei com pena, assim ajudando-o.

- Desculpa, não sabia que você ia cair. – Ele tentou arrumar sua blusa.

- Nossa, gostei da sua desculpa. – Ironia da parte do Austin: ON.

- Pelo menos eu me desculpei.

- Percebi. – Ele pegou sua mochila e começou a andar. Eu o segui obviamente.

- E ai, por que saiu da outra escola?

- Lhe interessa por acaso?

- Curiosidade.

- Com certeza esta informação não mudará sua vida, então acredito que você não precisa saber.

- Desculpa ai. – Ele apertou a alça da mochila e começou a descer mais rápido. – Aonde você vai?

- Não é óbvio? Ao refeitório.

- Ah certo, deixa que eu te levo lá.

- Acho que eu posso seguir as placas e você pode me deixar em paz, não precisa ficar de babá se quiser, eu sei me virar.

- Ajudar vocês não vai me fazer perder alguma parte do corpo, então acho que posso cuidar do trabalho.

- Se quiser não precisa ser legal comigo só por que o diretor mandou. – O segurei no braço e o fiz baixar o olhar para me encarar.

- Eu estou ajudando vocês por que eu quero, entendeu? E você vai ser legal comigo, caso contrário nossa convivência não será nem um pouco agradável. Quero me tornar amiga de vocês, e não levar patada toda vez que faço alguma pergunta ou comentário, sacou? – Ele me olhou sério desta vez e eu o soltei começando a caminhar novamente.

- Você não quer ser só minha amiga, tenho certeza.

- E o que eu ia querer?

- Algo mais com certeza, as pessoas sempre querem algo de você quando se aproximam. – Não pude deixar de rir sarcasticamente (o que foi estranho até pra mim já que não costumo fazer isto).

- Você nunca teve pessoas confiáveis em volta de você, acertei? Eu sou sincera, não minto, e sei cumprir uma promessa.

- Tudo bem, mas não seja grudenta ou queira saber sobre minha vida, ela não é nem um pouco interessante e nem um pouco agradável.

- Sem problemas. – Seguimos ao refeitório e quando entramos vários olhares se fixaram em nós e não pude deixar de ficar constrangida. O Austin por outro lado parecia confiante e na dele, sem se importar com o que deixasse ou não de fazer.

A Trish levantou a mão bem alto já com o Dez e o Dallas em seu lado e fomos até a mesa. Sentamo-nos e eu peguei um potinho com um sanduíche na minha mochila que eu tinha feito de manhã e comecei a comê-lo.

Enquanto os três estavam conversando como pessoas civilizadas, eu peguei meu celular, encaixei o fone e escutei minha música tranquilamente. O Austin que estava do meu lado quieto, acho que escutando suas músicas também, sorriu para os dois amigos que estavam fazendo um tipo de competição envolvendo comidacom a baixinha do outro lado da mesa. Vendo aquilo não pude deixar de sorrir também.

Depois de um tempo curto, a Cassidy chegou e pude perceber o Dallas abrindo a boca e arregalando os olhos em direção a ela, até parou de comer sua pizza que tinha pegado com a cozinheira.

- Quem é ela? – Ele perguntou ainda a encarando, só que não pude responder já que a mesma estava vindo em nossa direção.

- Oi Ally, Trish e resto do pessoal que eu não sei o nome. – Ela sentou ao lado do Dallas que não parava de sorrir um só instante.

- Eu sou o Dallas, qual o seu nome? – Ela sorriu para ele que ficou mais derretido do que já estava.

- Meu nome é Cassidy, prazer.

- Você é linda.

- Você é bastante direto em?

- Faço o que posso.

- Você também. - Ela bagunçou o cabelo dele fazendo ficar vermelho.

- Obrigada.

- De nada fofo. – As líderes de torcida a estavam chamando e ela se levantou, mas antes deu um beijo na bochecha do Dallas, deixando-o com uma marca vermelha (ela geralmente faz isso com os garotos, para os deixar querendo mais, ou simplesmente ficarem babando por ela). Não, ela não é metida como as outras patricinhas com quem fala, apesar de ser loira naturalmente com o cabelo liso perfeito, olhos que hipnotizam qualquer garoto e um corpo que não sei se conseguiria nem com vinte anos de academia, ela é super simpática e mantem uma grande amizade comigo e a Trish. – Tenho que ir, falo com vocês depois.

- Tchau. – O Dallas falou acabando com um suspiro e eu o achei mais fofo do que o tinha achado. – Será que se eu a convidasse para sair, ela aceitaria?

- Acho que sim. – Eu falei o encorajando, recebendo um olhar mortal do Austin. O que aquele loiro tem contra romance?

- Tem dois problemas. – A Trish falou nos olhando. – Ela gosta de caras inteligentes, digo o mesmo, e que estejam no time de futebol americano já que ela é uma líder de torcida.

- Futebol? – O Dallas falou com os olhos parecendo chamas de fogo.

- Ah não, será que não tinha outro esporte?

- O que foi Austin?

- Ele era capitão do time na outra escola, então se ele se inscrever aqui obviamente irá conseguir uma vaga.

- Pena que o time está completo.

- Não é bem assim Trish. – Eu sorri e recebi um olhar confuso dela. - O Scott saiu da escola por já ter conseguido créditos suficientes para faculdade.

- Ah é, eu tinha me esquecido. Hoje iriam começar os testes né?

- Isso ai.

- Quer dizer que eu tenho uma chance? - Acenei em concordância. - YES! - Ele se levantou e deu socos no ar, recebendo mais olhares distintos do refeitório. Acho que eu não me senti bem com aquilo e disse a Trish que iria a biblioteca por precisar de um livro. Ela concordou e eu segui meu caminho para fora.

Enquanto andava não percebi passos atrás de mim que me bloquearam, assim levando-me a ter um enorme susto.

- Ally, se acalma, só somos nós. – O Dez falou soltando meu braço junto com o Dallas que estava ao seu lado.

- Desculpa, eu estava com os fones e nem percebi a presença de vocês. O que querem?

- Bem... Queremos saber se você não pode nos ajudar com os conteúdos e tudo mais. – O Dallas falou olhando para baixo.

- Claro, eu sou a babá de vocês lembram? - Os dois assentiram.

- Queremos ir bem à prova que o diretor disse que vamos fazer. Gostamos desta escola e pretendemos ficar. – O Dallas comentou.

- Ajudo sim, vocês só tem que me fazer um acordo. – O brilho dos olhos dos dois surpreendentemente aumentou.

- Qual seria? Faremos tudo.

- Vocês não podem mais matar aula.

- Não faremos mais isto. – O ruivo falou sorrindo.

- Posso perguntar uma coisa? – Eles assentiram. – Por que não foram as suas classes nos primeiros períodos?

- Não queríamos deixar o Austin sozinho. – O Dez falou meio cabisbaixo. – Acho que ele ainda está meio pra baixo e não queremos deixa-lo pior.

- Achei que vocês tivessem sido expulsos da outra escola.

- O Austin foi expulso, nós dois só o acompanhamos até aqui. Tínhamos uma boa imagem na antiga escola, mas faríamos tudo para nossa amizade permanecer. – O Dallas falou dando de ombros em seguida. – E ai, vai nos ajudar mesmo? – Ele falou mudando de assunto.

- Sim, claro. Depois da escola?

- Hoje? Mas tem as inscrições para o time além do treino que o técnico vai fazer. Sim, eu já vi o cartaz que estava no refeitório.

- Você que me pede as aulas, agora quer desmarcar? – Eu comecei a rir. – Amanhã então, sem faltas.

- Tudo bem. – Os dois responderam, voltando. Eu segurei o Dez pelo braço e fiz ele me olhar.

- E o loiro não vai querer ajuda?

- O Austin? – Ele começou a rir como se eu tivesse contado uma grande piada. – Se brincar ele é mais inteligente que você.

- Sério?

- Totalmente, mas mesmo assim o chamarei para as aulas com você. Até mais Ally.

- Até mais. – O soltei seguindo meu caminho e pensando em como gostaria de saber mais coisas sobre eles. Sabe, não são maus garotos, só alunos novos chegando à escola.

Por que eu tive que acusa-los de delinquentes mesmo? Ah sim, o cérebro querido faz isto conosco, antes que podemos controlar, ele já está criando falsas aparências. Ele faz isto com tudo, faz criarmos falsas esperanças, faz termos uma falsa imagem do nosso futuro para que tenhamos uma paranoia sobre o que pode acontecer e faz com que tenhamos sonhos que talvez nunca vão acontecer...