“calma débora, vai dar tudo certo”-disse ele enquanto continuava a mexer nas mechas dos meus cabelos.

“claro que não! Ninguem nunca voltou vivo daquele lugar, você acha mesmo que seremos os primeiros!?”-o que fez cair mais ainda no choro, agora a blusa dele pingava de tão molhada que estava.

“a gente vai conseguir sim, nada é impossível”-disse ele

“ah eu acho que sim, tem algumas coisas que são impossíveis sim, tipo isso”- me soltei de seus braços e sentei na ponta da cama, logo em seguida ele veio sentar do meu lado, colocando um de seus braços sobre meu ombro.

“eu estou aqui, a gente vai conseguir, juntos”-disse-“nunca fizemos tudo juntos? E na maioria das vezes tudo saiu como planejávamos”.

Não havia prestado atenção em uma sequer palavra que ele dizia para mim naquele momento, estava imaginando como seria a vida da minha família e da de Evandro sem a gente.

“....e vamos conseguir, entendeu?”- voltei meus olhos vermelhos e inchados para ele,  soltando um “o que?” e acho que ele tinha percebido que não tinha escutado nada.

Comecei a resmungar para ele, contando tudo que estava pensando e que poderia acontecer caso a gente não voltasse, e ele ouviu tudo pacientemente, segurando as minhas mãos e olhando diretamente para meus olhos. Quando terminei, perguntei o que ele tinha achado ouse ia dizer alguma coisa, ele não fez simplesmente nada, nem disse “entendi”, ele fez apenas uma coisa e naquele momento tive toda a certeza do mundo que era a melhor coisa que poderia ter feito; ele me beijou.

Segurou meus braços e os puxou para mais perto e nosso beijo ficava melhor a cada segundo, aquela sensação de não parar mais crescia involuntariamente dentro do meu peito, e quando  ele parou e nossas bocas se afastaram, ele sorriu e então pude retribuir um sorriso verdadeiro para ele, pois foi o único momento do dia que eu estava realmente feliz, como se tudo que tivesse acontecido até aquele momento fosse apagado da historia ou simplesmente não existido.

Como disse anteriormente, eu nunca tinha pensado que a nossa convivência poderia passar de amigos para namorados, isso nunca acontecia na vida real, mas pelo jeito eu havia sido a escolhida para ser a primeira.

“o..olha, desculpa pelo que eu fiz, não foi por mal, mas sabe....”- Evandro tinha começado a se desculpar pelo seu ato, por ter sido tão atirado e imprevisível, mas sabia, do fundo do coração que não foi por mal.

“não precisa se desculpar, sabe, até acho que gostei...”- abaixei a cabeça como se brincar com o tecido da minha calça fosse a coisa mais interessante para fazer, mas também era uma forma de esconder o largo sorriso que era possível ver no meu rosto agora.

Achei que ele iria rir também, ou dar um surto e voltar para sala, mas ele simplesmente me abraçou novamente, cochichou no meu ouvido algo como “ vamos sobreviver” , deu um beijo na minha bochecha, se levantou, abriu a porta e com um ultimo olhar desceu escada abaixo.

Como eu não era uma pessoa de muitas amigas, não tinha para quem sair contando então aproveitei a situação para comemorar sozinha, eu não costumava pular de alegria ou sorrir para todo mundo, não era uma pessoa amigável e delicada e acho que é por isso que Evandro e eu éramos tão próximos, pois tínhamos o mesmo gênio.

Durante toda a semana que ainda tinha para viver, continuei fazendo minhas tarefas habituais que incluíam caçar com Evandro, que agora se tornou melhor do que já era, já que não tínhamos mais receio de nos aproximar e aproveitar o máximo de tempo que conseguia ficar ao lado da minha família, porque não sabia qual seria a próxima vez que conseguiria ver esses rostinhos.