Home escrita por Wanda Scarlet


Capítulo 3
Após a terceira Maria


Notas iniciais do capítulo

Cavaleiros do Zodíaco e seus personagens pertencem à Masami Kurumada e empresas afiliadas (Toei, Bandai, etc...).
A personagem Tamara (Tamy) é de autoria de Wanda Scarlet. Todos os direitos reservados à mim.



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APÓS A TERCEIRA MARIA
(Wanda Scarlet)
         Noite alta, movimento na boate começando a esquentar. E ele ali, no balcão aproveitando seu wisky na mais completa absorção de pensamentos.
         Por que resolvera sair? Seu humor estava terrível nos últimos dias, ir para um lugar agitado só piorava a situação. Mas o apartamento vazio que deixara não era uma opção que o agradava muito, pra falar a verdade não o agradava nem um pouco.
         - Que pecado! – de repente uma voz feminina diz com um leve tom de comoção.
         O cavaleiro levanta imediatamente os olhos da bebida que tinha nas mãos. Ao avistar as íris azuis da ruiva do outro lado do balcão, abriu um sorriso.
         - O que é um pecado, Tamy?
         - O que mais poderia ser? Um jovem lindo como você bebendo sozinho, isso é um pecado...
         Tamara, ou Tamy para os íntimos, era a barmaid daquela boate.
         - Mas eu não estou sozinho, tenho você. – e alargou o sorriso nos lábios lançando um daqueles ‘olhares fatais’ que só homens que têm certeza do quanto são bonitos possuem.
         - Ah...cavaleiro! – repreendeu ela – Nem começou direito a noite e você já vem com essa conversa pra cima de mim?
         Ele tomou um gole da bebida e riu baixinho.
         - É verdade, você já deve estar cansada das minhas indiretas, não é mesmo? Vou ser mais específico... – olhou-a significativamente – Que horas termina seu turno?
         A moça riu e tocou de leve a ponta do nariz do rapaz num gesto carinhoso.
         - Engraçadinho! Você sabe que nunca revelo meus horários. – estreitou os olhos e sorriu – Trabalho aqui há muito tempo e te conheço a mais tempo ainda para esse tipo de abordagem funcionar comigo, não acha?
         Olhou-a com um brilho de falsa decepção nas grandes pupilas claras.
         - Quer dizer que você não gosta de mim?
         Ela teve que cair na risada. Aquele rapaz tinha o rosto tão angelical quanto atraente, ou seria atraente porque é angelical? De qualquer forma, aqueles olhinhos podiam amolecer qualquer coração! Isso se o coração em questão não pertencesse à Tamara.
         - Você sabe ser persuasivo, né?! Agora entendo como até a mais séria das mulheres não consegue resistir a esse seu charme encantador.
         Suavizando a expressão e sorrindo também, o rapaz disse:
         - Mas embora você não seja séria, ainda resiste. O que me diz?
         - O que eu te digo é que deveria olhar para trás. Tem uma loira muito bonita te secando desde que chegou. – e indicou com o olhar uma mulher às costas dele.
         O cavaleiro só olhou por cima do ombro franzindo o cenho para a mulher que o observava de maneira cobiçosa. Depois virou-se para frente e voltou a tomar a sua bebida calmamente. Aparentemente aquele gesto aborrecera a loira, pois essa fechou a cara e desviou seu olhar, visivelmente irritada.
         - Por que fez isso? – perguntou a moça não entendendo a atitude do rapaz – Não a achou bonita?
         - Achei bonita sim.
         - E por que a dispensou?
         - Não estou interessado em loiras. – foi a resposta mal humorada dele.
         - Sei... – estreitou os olhos lendo nas entrelinhas e adivinhando o motivo daquelas palavras – Ainda com dor de cotovelo?
         - De quem? – perguntou fingindo não entender de quem ela falava.
         Se meia palavra pra um bom entendedor bastava, o mesmo valia para um meio olhar. O que ele lhe lançou cumpriu bem o papel. Não estava a fim de falar a respeito daquilo!
         - Então a morena na pista de dança faça mais o seu tipo. Ela também não tirou os olhos de você nem por um instante.
         Dessa vez o rapaz nem se deu ao trabalho de olhar a mulher que a barmaid lhe indicava discretamente. Limitou-se a levantar e abaixar os ombros em sinal de descaso.
         - Hunf... Deixa ela lá olhando o quanto quiser. Isso é só o que terá de mim.
         - Santo mau humor!!! – exclamou ela sorrindo – Se não está procurando companhia, por que veio aqui hoje? Só pra beber?
         - Vim porque você é uma pessoa adorável e trata muito bem os clientes, principalmente os amigos. Seria um crime negar-me sua simpática companhia. – respondeu transbordando de sarcasmo, sem contudo deixar de sorrir charmosamente para ela.
         - Ah amorzinho! Então era isso que você faz toda noite? – fingiu estar comovida – Achei que estava só procurando uma desculpa para não voltar para aquele apartamento grande e vazio...
         A alfinetada acertou em cheio, pois ele desviou o olhar sem responder nada. Tamy sabia que tinha tocado na ferida certa.
         - Por que você não vai lá e se acerta com seu irmão de uma vez?! Não agüento te ver agindo dessa maneira irresponsável e infantil!!! – exaltou-se indo direto ao ponto – Já de tempo mais do que suficiente para vocês dois se acertarem e voltarem a ser uma família! Você deveria acabar com esse... – interrompeu a bronca de repente, os olhos perspicazes desviando-se para a outra ponta do balcão – Com licença. – falou ela já se dirigindo para o local atender o cliente recém chegado.
         - Aproveita e me traz outra dose. – pediu ele ao que a moça só fez um sinal com a mão de que tinha ouvido.
         Tamy era uma boa moça, mas definitivamente não entendia que a relação com o irmão não ia mudar tão cedo... Mas mesmo assim, ouvia calado as opiniões, ou sermões, que ela exprimia sem qualquer cerimônia. Eram amigos desde que o cavaleiro começara a freqüentar aquela boate depois que retornou para a Grécia, tinham uma intimidade grande. O fato de a ruiva ser sua vizinha de apartamento também era um agravante para o relacionamento entre os dois tornar-se uma sólida amizade.
         Lembrava-se da época em que a conhecera...
         Naquele tempo achava que nenhuma mulher tinha motivos para resistir aos seus encantos quando se mostrava interessado. Mas Tamy o fez lembrar que não era bem assim que a banda tocava. Ficara irritado com a maneira esguia com que a moça rejeitava suas investidas, afinal, era uma mulher bonita e agradava-o em vários aspectos. O mais natural era que desse em cima dela, mas o fato da barmaid não estar interessada nele feriu seu orgulho masculino.
         Agora estava tudo bem, aprendera a ser amigo da ruiva sem qualquer segunda intenção. Embora não pudesse evitar as esporádicas indiretas, e diretas, que dirigia a ela só pra provocá-la. Era divertido duelar nesse campo com uma oponente como Tamy.
         Nesse momento apareceu novamente, com movimentos rápidos e precisos, nascidos de meses de prática, serviu mais uma dose para o cavaleiro.
         - Terceira Maria, vizinho. – avisou ela ao terminar de completar a dose – Espero que também esteja contando.
         - Só isso? – surpreendeu-se sorrindo e tomando um pequeno gole – Me avise quando chegar à Antares.
         Era uma brincadeira entre os dois. As doses que o cavaleiro tomava eram representadas conforme o número de estrelas das constelações.
         - Não me provoque cavaleiro... – ameaçou – Não quero que se repita o seu episódio de Sargitário do mês passado. – referia-se à vez em que ele bebera além da conta. Levá-lo para casa e cuidar dos sintomas do porre, bem como da ressaca no dia seguinte, não era algo que Tamy gostaria de repetir.
         - Ahhhh... mas foi a primeira vez que dormimos juntos na mesma cama! E eu nem me lembro direito de como foi... – argumentou em tom de falso desapontamento sobre o fato dela ter pernoitado no apartamento para cuidar dele.
         - Fazer o quê, né bronzeadinho?! Agora já foi. – respondeu rindo enquanto voltava ao trabalho de servir os outros clientes que se aproximavam do balcão. O movimento da boate estava esquentando.
         Enquanto bebia, olhava o reflexo de seu rosto no espelho atrás das bebidas na parede. Realmente parecia péssimo! Tudo culpa daquele terrível humor que resolvera instalar-se dentro de si.
         Olhou para a barmaid que atendia outras pessoas até que ela notasse seu olhar e virasse para vê-lo. Com um aceno de cabeça, Tamy confirmou que entendera o gesto de levantar-se e colocar umas notas sob o copo ainda com mais da metade da dose. Ele estava de partida.
         Acenou para a moça e foi embora saindo da boate para a noite alta de lua que despontava lá fora.
         “Você precisa tomar jeito, Shun de Andrômeda!” repreendeu-se em pensamento enquanto rumava de volta para o apartamento vazio que o esperava. Lembrou-se de Tamy e seu riso de milhões de significados, sorriu interiormente.
         “Numa noite como essa, é mesmo um crime negar-me sua adorável companhia.”
(Wanda Scarlet)

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