Fiquei a observar Magnus e Axel através de uma janela quando eles saíram para o mundo que eu tinha esquecido. E nesse dia ele estava completamente branco.

Nem uma única vez Axel olhou para trás, ele apenas segui seu caminho, já o seu avô olhou algumas vezes. E isso partia meu coração. Pois meu tempo tinha parado enquanto o dele continuou.

"Me desculpe Magnus. Te fiz esperar por muito tempo, mas agora sei que mesmo me esperando, você achou a felicidade. Agora sei que o tempo que passei deitada foi o pior de todos, pois não lembro de ninguém, a única coisa que tinha era seu rosto jovem." Disse para mim mesma. Enquanto acariciava gentilmente a cabeça de Sigma e Tau. Eles foram minha companhia por muito tempo. "Por favor, me deixe te amar novamente." Sussurrei para a porta e nesse momento Axel chegou trazendo o casaco de Magnus no braço. Ele não chegou a entrar, apenas entregou o casaco e saiu novamente.

Será que ele ouviu o que eu disse? Não, isso é meio improvável. Tau e Sigma estão sempre alertas para aproximações furtivas. A menos que esse complexo esteja isolado por um campo magnético. Assim não seria uma surpresa ele chegar até aqui sem ser notado. Peguei o casaco da mão dele e coloquei sobre meu corpo e Tau e Sigma estavam flutuando ao meu redor.

"Tau, Sigma. Ativar modo cilíndrico." Disse o comando para os dois robôs e rapidamente os dois se transformaram em pequeno tubos cilíndricos que cabiam nos bolsos do casaco que estava usando.

Abrindo a porta reparei como estava uma noite fria e linda. A neve branca refletia a luz pálida da lua. E um jovem garoto de cabelos vermelhos se destacava naquela brancura toda.

Axel estava parado olhando para o céu com uma cara pensativa. Não queria atrapalhar os pensamentos dele, mas temos que chegar rapidamente na casa, ou morreremos aqui fora, pelo menos ele.

"Axel, estou aqui. Vamos indo." Eu falei para o garoto que me olhou com olhos vermelhos e distantes. Um vento soprou e levou meu cabelos contra o meus rosto.

"Uma dama das neves..." Ouvi um sussurro que veio com o vento. Talvez seja minha imaginação, pensei. Mas quando olhei para o garoto, seu rosto estava muito vermelho.

"Axel, você pegará um resfriado assim, onde está aquele cachecol que vi você usando quando saiu com Magnus agora a pouco?"

"..." Silêncio, ótimo, mas uma vez ele voltou a se calar. E lentamente ele apontou para algum lugar no meu casaco, e quando coloquei a mão naquele lugar pude sentir o que ele quis dizer. "Pensei que você sentiria frio..." Sussurrou novamente.

"Obrigada Axel. Mas creio que você deve usá-lo. Meu cabelos são longos, não sentirei o frio que você sentirá." Me aproximei dele e comecei a colocar o cachecol em seu pescoço enquanto ele estava imóvel. E pude ver como seu rosto corou quando me aproximei dele. "Vamos, acho que está na hora de me guiar até a casa. Ou prefere ficar aqui e comer minha comida?" Perguntei a ele.

"Vovô disse que sua comida é horrível." Esse é o pequeno som que escapa dos lábios do garoto.

"Então cozinharei algo para vocês, espero que comam tudo." E sai andando para um lado qualquer. Axel me seguiu por um tempo, então repentinamente ele me chamou e começou a andar por um caminho no meio de árvores. Eu estava admirando o local quando de repente uma casa de madeiras com 3 andares surge no meio de uma clareira, era possível ver luzes em seu interior e uma chaminé soltava uma fumaça que logo era apanhada e apagada pelo vento e envolta de todo o primeiro andar era possível ver uma varanda coberta.

Axel saiu correndo para a caba assim que chegamos na borda do espaço livre entre a floresta e a casa, como se já estivesse preparado para fazer aquilo a muito tempo. Eu apenas caminhei e fui admirando como o local era bom. A lua iluminava todo o lugar. E na minha frente pude ver Magnus, Axel, correndo e meu coração apenas pulou.

Será possível. Talvez seja verdade. Ainda não me acostumei com a ideia de Magnus estar velho, mas mesmo assim consigo vê-lo em seu neto. Aquele garoto guerreiro que estava sempre disposto a ajudar seus amigos. Um jovem alegre e cheio de energia. As suas feridas do campo de batalha, nossos companheiros. Enquanto estava perdida em meus pensamentos o jovem garoto parou em frente a porta e se virou sorrindo para mim e gritou.

"Venha El, está ficando mais frio a cada minuto que passa, entre e venha conhecer minha avó e o resto da família, vovô já deve ter contado a todos." E é nesse momento em que percebo que realmente amei Magnus, pois esse garoto na minha frente é seu eu jovem que foi deixado para trás quando se casou. Agora entendo o porque de ter uma família.

"Magnus, sinceramente, eu te agradeço e eu ainda te amo." Sussurrei para mim mesma enquanto enxugava uma pequena e única lágrima que caiu de meu rosto. E quando levanto meu olhar para a casa, vejo que o jovem estava voltando para me apressar. "Axel, já estou indo. Ainda me sinto incomodado com a diferença no tempo, mas não se importe com isso, logo estarei bem." E mesmo assim ele começou a puxar meu braço. Sinceramente Magnus, como seu neto pode ser tão parecido com você? Principalmente no aspecto de ser impaciente.

Olho para a porta e vejo que Magnus já entrou, levanto minha cabeça e olho para o céu acima da casa, uma estrela cadente o rasga nesse momento. E Axel e eu chegamos na varanda da casa, e ele empurra a porta e entramos na casa.

O interior da casa estava aquecido pela lareira e envolta desta estava dois sofás de três lugares e uma cadeira de balanço, essa era a sala, e ali Axel retira o casaco e o cachecol que estava usando e o pendura na parede e eu faço o mesmo. Continuei a segui-lo até uma outra parte da casa, que acabou por ser a cozinha, nela era possível ver um fogão e um forno, uma geladeira e vários armários. No cento da cozinha era possível ver uma grande mesa com lugares para até 10 pessoas, na qual somente três pessoas estavam sentadas, e duas estavam andando pela cozinha preparando a comida. Magnus se levantou assim que nos viu parados ali na entrada.

"Bom, aqui está ela." Disse enquanto olhava para todo mundo na mesa e na cozinha. "Os que estão sentados aqui são meu filho Barton e minha neta Amber. Ali preparando a comida está minha esposa Hera e ao lado dela minha nora Rose." Ele dizia os nomes a indicava as pessoas com as mãos. Apenas os cumprimentei com um aceno de cabeça, pois todos ali pareciam saber sobre mim. "E como todos já sabem, essa é Electra."

Todos pareciam estar me medindo com os olhos exceto Rose e Hera, elas responderam ao aceno e voltaram sua atenção para as panelas.

Amber tinha o mesmo cabelo vermelho que o irmão e este estava preso em uma única trança lateral, ela aparentava ser mais velha que ele, talvez uns 15 anos, aproximadamente, estava usando um vestido vermelho com detalhes brancos, e por cima do tronco ainda tinha uma blusa branca que completava o visual. Seu rosto indicava que ela possuía uma personalidade forte.

Barton tinha os cabelos castanho escuro quase preto, usava um corte curto. Estava usando um casaco azul sobre uma camiseta branca e calças escuras. Seu rosto tinha uma expressão severa, como pronto para assumir o lugar mais a frente em um campo de batalha e encarar de cara limpa o inimigo, que provavelmente se assustaria com seu rosto.

Pelo pouco que pude notar do rosto de Hera pude ver que ela não estava contente com a minha vinda. Provavelmente fui o primeiro amor de seu marido, o qual estava me vigiando até o dia de hoje. Mas ela tinha um rosto que demonstrava responsabilidade. Melhor se preparar Magnus, ela vai te por na linha. Pensei comigo mesma. Mas eles já são casados, lembrei-me. A roupa que ela estava usando era uma camisa verde sob um casaco branco, uma saia bege que ia até seus joelhos e sobre tudo isso ela usava um avental rosa claro.

E Rose parecia ser uma mulher tímida, até seu modo de se vestir era acanhado, um vestido branco com traços dourados, lhe cobria todo o corpo. Ela também usava um avental rosa sobre a roupa. Seu cabelo estava preso numa trança como o da filha, mas a cor era completamente pura, um vermelho carmesim.

Olhei para Axel mas esse apenas cumprimentou todos rapidamente e começou a sair.

"Axel, leve Electra para tomar um banho." A voz saiu da boca de Barton me surpreendeu, era uma voz calma e gentil. "Amber, poderia emprestar uma de suas roupas para ela?"

"Tudo bem pai, mas acho melhor ela escolher comigo. Assim ela ficará confortável." Ela respondeu firmemente. Ela já parecia decidida a fazer isso por mim.

"E Axel, não faça nada de estranho a ela. Se fizer terá que correr lá fora quando acordar e só poderá comer depois que terminar de dar algumas voltas ao redor da casa." Magnus, o que você ensinou para seu filho. Não, acho que isso veio da mãe dele, olhe a risadinha que ela deu quando ouviu isso? Será que ela já repreendeu ele assim no passado?

"Pai! Você não confia em mim?" Respondeu Axel. Ele parecia magoado com o que o pai dele falou. "Eu nunca faria isso com ela!"

"Não disse nada de não confiar em você. Apenas disse que ela é uma garota e você um garoto de 13 anos. E por isso precisa se comportar." Ele respondeu como se já tivesse explicado tudo. "Agora vão, vá tomar seu banho. E Amber, poderia mostrar o banheiro depois de escolherem uma roupa para ela? Ainda vai demorar um pouco para o jantar ficar pronto."

"Vamos El?" Ela se levantou e pegou na minha mão. Assim subimos as escadas para o próximo andar, nele havia muitas portas, entramos em uma delas e lá estávamos no quarto da menina.

O quarto era bem limpo, não possuía uma lareira, mas tinha um pequeno aquecedor. A cama estava em um lado do quarto. Havia uma mesa e um guarda-roupa. Ela se dirigiu ao roupeiro e o abriu de me disse para escolher uma peça qualquer. Assim que olhei as roupas, iniciei o modo de escaneamento, o modo rapidamente me mostrou as roupas que caberiam no meu corpo, todas elas estavam incluídas. Escolhi e peguei um vestido branco.

"Realmente posso usar esse aqui?" Perguntei enquanto mostrava o vestido que estava guardado.

"Pode usá-lo. Ele vai ficar lindo em você." Ela disse e pegou mais algumas peças de roupas e me levou para o banheiro.

Quando entrei no banheiro Axel estava saindo do banho. Ele estava usando somente uma cueca e seu rosto ficou completamente vermelho quando me viu. Rapidamente fechei a porta e dei alguns passos para trás. Não esperava por isso, achei que ele já tinha terminado o banho dele. Julgando pelo aspecto do cabelo ele já tinha terminado seu banho e estava colocando sua muda de roupas.

Alguns segundos depois ele sai do banheiro usando uma camisa vermelha, um casaco preto e uma calça branca, seu rosto ainda não estava da cor normal, estava tão vermelha quanto seu cabelo. Ele nem conseguia olhar para o meu rosto quando abriu a porta, apenas passou por mim de cabeça baixa. E rapidamente entrei no banheiro e tranquei a porta. Lá dentro procurei por Tau e Sigma, e me lembrei que os tinha deixado no casaco. Mas eles ainda podiam ser ativados, nossa distância não era longa, as ondas de radio foram lançadas e logo ouvi umas pequenas batidas na porta, eram meus pequenos robôs. Abri a porta o suficiente para eles entrarem.

"Mestra, seus níveis de energia estão superaquecendo. Melhor começarmos a resfriar o sistema, ou poderá haver consequências desagradáveis." Sigma começou a explicar detalhadamente os efeitos colaterais enquanto estava me despindo.

"Sigma, Tau, venham. Vou lavar meu corpo e vocês precisam de uma limpeza. Ambos estão sujos." Disse enquanto me dirigia ao banho.

Demoramos tempo suficiente para estarmos limpos e voltei para colocar a roupa que havia pego emprestado com Amber. Assim que terminei desci as escada e voltei para a cozinha, quando lá entrei todos me olharam, exceto Axel, ele apenas ficou vermelho e virou o rosto.

"Me desculpe, acabei demorando demais, meu cabelo estava no caminho e tive que pedir ajuda a Tau e a Sigma." Disse para eles enquanto olhava para a mesa completamente montada com o jantar.

"Não, acabamos de colocar tudo na mesa, então não se preocupe com isso Electra." Respondeu Rose ao lado de seu marido. Amber estava do lado dela, Axel estava ao lado de sua irmã, Hera sentou ao lado de Magnus, e eu sentei na ponta da mesa, próxima a Axel e Magnus. Todos agradecemos e comemos a comer. Não importo de ter esquecido de muitas coisas, mas esquecer o sabor e o prazer de comer já era algo que não podia ter acontecido.

Após o jantar, me ofereci a ajudar a limpar a mesa, pois não tinha feito nada. As esposas aceitaram de boa. Tau e Sigma estavam pegando os pratos e talheres, elas agora já não estavam incomodadas com minha presença. Elas estavam conversando sobre algo que não entendia, mas pelas informações ouvidas comecei a trocar algumas palavras com elas e rapidamente desfiz alguns mal-entendidos que ainda estavam levantados.

"Electra, quer treinar com Axel amanhã?" A voz de Barton nos surpreendeu. "Temos um campos de treinamento aqui atras, portanto, se quiser é só aparecer. Ele ficará surpreso e o ajudará a treinar, ele ainda é meio medroso. Ouvi muitas coisas do seu estilo de luta sobre meu pai, e ai quer tentar?" Seus olhos brilhavam, pois também conhecia as histórias e queria ver se era verdade.

"Talvez." Respondi. "Não sei se ainda possuo as memórias de meu estilo de combate. Mas se tiver vontade ou sentir que ainda reconheço... devo aparecer, mas não crie muitas esperanças." Voltei ao trabalho que fazia no momento. E após terminarmos tudo segui Amber, pois ela disse que poderia dividir o quarto comigo.

Conversamos um pouco naquela noite. Ela tentou tirar algumas informações de mim. Porém não pude responder muitas das perguntas que ela tinha feito até o momento.

"Então El, me conte uma coisa. Você gostava do vovô Mag quando ele era mais novo? "

"... Sim. Eu acho. Não tenho certeza. "

"Hum... Mas parece que você achou alguém que se parece com ele em muitos aspectos. " Amber comentou soltando um risinho. "Acho que meu irmão deve estar super contente por te conhecer. "

"Nada a comentar. "

A menina rapidamente começou a rir quando viu meu rosto. "El, não precisa ficar tão vermelha assim... seu rosto apenas se destaca mais... " Assim foi aquela noite. Ela me deixou encabulada e deu muitas risadas. Contudo a noite estava passando e ela parecia estar cansada. Por isso coloquei um fim na conversa e pedi para dormirmos.

"Boa noite El. Espero que você goste de ficar nessa casa. "

"Boa noite Amber. Acho que vou gostar. "