Strange Love escrita por Fran Carroll


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Desculpe, gente, por demorar tanto para postar essa continuação. Estava atualizando minhas outras fics e também precisei pensar em como seria a história, mesmo já tendo em mente o que eu queria abordar, precisava dar recheio a ela.

Também queria pedir desculpas por não ter respondido os reviews, queria fazer isso só depois de ter postado esse capítulo, para avisar aos leitores.

Nem achei que aquela oneshot iria dar ibope e fiquei muito surpresa em receber tantos comentários. Muitíssimo obrigada ^^
Bem, não quero segurá-los.

Boa leitura!



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Capítulo Um


Lucy olhava através da janela da sala de aula, pouco atenta à matéria dada. Depois de longos e cansativos minutos, o sinal ecoou por toda a escola, dando fim ao período. Ela ergueu-se da cadeira e começou a juntar seus materiais. Às suas costas, conseguia ouvir os cochichos e comentários maldosos a seu respeito. Já estava costumada com isso, mas depois de certo acontecimento, eles só pioraram.


Depois daquele acontecimento.


— Vai embora logo, aberração. — uma de suas colegas a apressou, arrancando risadas dos outros ali.


Suspirando, ela pendurou a pasta no ombro e saiu da sala. No corredor, os outros alunos também a encararam de forma desconfiada, mas a animosidade era menor em relação ao tratamento que recebia de grande parte de sua turma.


Ao deixar a escola, caminhou solitária pelas ruas da cidade até chegar à sua casa. Quando destrancou a porta, logo notou que não havia ninguém lá. Em cima do aparador da sala, um bilhete repousava.


Lucy,

tive um imprevisto no trabalho, voltarei só depois das três. Max irá me esperar na escolinha dele. Qualquer problema, é só me ligar.

Beijos, mamãe


A perspectiva de ter que passar horas sozinha a fez soltar um suspiro nervoso e aflito. Com pressa, chaveou as portas e fechou as janelas. Em seguida, correu para o seu quarto e se trancou ali.


Antes, não via problema em ficar sozinha. Mas agora... Todas as vezes que era necessário passar por esses momentos, sentia como se o desespero fosse dominá-la e enlouquecê-la completamente.


Depois que aquilo aconteceu, tinha medo de ficar sozinha. Tinha medo do que poderia acontecer consigo e medo de si mesma. Sozinha, sua mente a traía, voltando àquela terrível noite, que tanto se obrigava a esquecer.


Aquela tenebrosa noite... A sensação daqueles tentáculos, a dor dos cortes provocados em seu corpo, o pavor que sentiu ao perceber o que aquele ser queria fazer, o som daquela macabra risada ecoando por sua mente e aquelas palavras... Aquelas malditas palavras.


— Esqueça... — sussurrou para si mesma, tapando os ouvidos. — Esqueça...


Estava ficando cada vez mais difícil conviver com esse medo e fingir que não havia nada de errado. Já não sorria mais com tanta frequência perto de seus familiares, comia pouco, assustava-se à toa, tinha pesadelos quase todas as noites e tinha dificuldades em se concentrar. E, por causa disso, mentia frequentemente para seus pais na tentativa de mascarar seu atual estado.


Chegou até a mentir para os policiais que vieram à sua casa. Dois dias depois daquela noite, o corpo do tão procurado serial killer foi encontrado na floresta atrás de sua casa. A data da morte batia com sua noite solitária, então, mais do que depressa, detetives e policiais a interrogaram. Dizer a verdade estava fora de cogitação, obrigando-a a responder que não havia ouvido ou visto nada. E que a janela quebrada era fruto da força dos ventos. Se haviam acreditado, não sabia, mas também não insistiram no assunto. Por fim, ela própria questionou a eles se fora feita uma busca na área e se algo de relevante foi achado.


Nada. Sem casas abandonadas ou seres macabros.


Tentou usar isso como forma de autoconvencimento de que tudo havia sido um sonho estranho. Mas aquela odiosa folha continuava guardada em seu quarto. Mesmo escondida no fundo da gaveta de sua escrivaninha, ela ainda conseguia perturbá-la. Sussurrando-lhe todas as noites a promessa de um aterrador reencontro.


Um reencontro com ele.


— Lucy.


Ela gritou, alto o suficiente para sua voz ecoar estridentemente por todo o cômodo. Em um gesto de pânico, ela encolhe-se na cama e tapou os ouvidos.


— Lucy?


— Vai embora! — pediu sofregamente, apertando os olhos.


Com o coração disparado, ela ficou em silêncio, esperando que o pior acontecesse, mas não houve nada. Receosa, ela voltou a abrir um dos olhos e espiou pelo quarto. Não havia ninguém ali, até que se virou para a janela, vendo ali um rosto conhecido.


— Nicholas... — sussurrou com alívio.


Levantando-se de sua humilhante posição, caminhou até a janela do quarto.


Nicholas era o seu vizinho, tinha doze anos e simplesmente adorava Lucy. Era filho único e tinha pais que trabalhavam o dia todo. Desde mais novo, vivia a maior parte do tempo sozinho, até o dia que os pais da garota lhe ofereceram a própria casa como refúgio. Ela, que sempre gostou de crianças e compartilhava do sentimento de solidão, lhe deu todo o afeto e dedicação de uma irmã mais velha. E ele, em retribuição, a tratou com todo o carinho e amor de um irmão mais novo.

Era um garotinho inteligente e ao mesmo tempo inquieto, mas tinha um coração gentil. Não a via com repúdio ou estranhava sua aparência. Gostaria muito de chamá-lo de amigo e passar mais tempo com ele fora de sua casa, mas evitava, por medo das outras pessoas o julgarem por andar com ela. E a última coisa que queria era Nicholas sofrendo bullying por simpatizar com uma assombração como Lucy.


— Olá! — ele cumprimentou animadamente quando a dona da casa abriu a janela. Mesmo com o tempo nublado seus lisos cabelos loiros e olhos verdes brilhavam.


— Já disse para não fazer isso. — repreendeu, enquanto ele entrava. — É perigoso.


— Que nada, a cerca viva que sobe até sua janela é perfeitamente segura. — Nick andou até o meio do quarto com ar confiante.


Revirando os olhos, ela acrescentou:


— Eu poderia estar trocando de roupa. — cruzou os braços.


— Da próxima vez eu uso a porta. — desistiu, com o rosto corado. — Fora que eu te assustei, não é?


O garoto virou-se para ela, com um semblante triste.


— Aquilo ainda te perturba? — perguntou suavemente.


Lucy sentiu a angustia tomar-lhe novamente. Não, ele não estava falando sobre o monstro – era um segredo. Estava se referindo ao assassino, que era outra coisa que a incomodava. Ser ameaçada e saber que nem sempre a própria casa pode ser segura era um tanto desesperador.


Suspirando cansada, fechou a janela e puxou as cortinas. Depois foi até a cama, mas não se acomodou nela, sentou-se no chão acarpetado, com as costas apoiadas no móvel. Nicholas fez o mesmo, ficando ao seu lado.


— Tudo bem ficar com medo, Lucy. — falou. — Mas você não pode esquecer que tem pessoas que se preocupam com você e querem te ver bem. Eu, por exemplo!


Ela deixou um sorriso escapar.


— Então, quando sentir medo, me ligue. Vou aparecer aqui num estalar de dedos. — ele parou um segundo. — Não, melhor, venha para minha casa. Passe uns dias lá, sei que vamos nos divertir bastante. Podemos fazer panquecas com mel e comer vendo filmes.


Lucy riu com a proposta.


— Panquecas com mel, é? Muito tentador. — comentou.


— Meu poder de convencimento é imbatível — vangloriou-se.


— É verdade. — concordou. — Talvez esse sábado, ok?


— Certo.


A mais velha lhe direcionou um sorriso carinhoso, porém sua mente voltou a bombardeá-la com aquelas memorias traumatizantes, não a deixando se esquecer de sua realidade. Sua alegria esvaiu-se e seus ombros caíram.


— Nick... — chamou quase como se ela fosse uma criança desamparada. — Você acredita em coisas sobrenaturais?


O garoto virou-se para ela com curiosidade.


— Acredito. — respondeu.


Lucy se colocou de pé e foi até sua escrivaninha, ficando de costas para o outro.


— O quanto? — insistiu.


— O quanto for necessário. — também se levantou. — O mundo é cheio de mistérios, cheio de coisas que não podemos explicar. Talvez, nós, seres humanos, sejamos o sobrenatural de outros seres por ai, não dá pra saber.


A resposta a surpreendeu. Seus dedos tocaram a maçaneta da gaveta do móvel e ela quase a abriu, mas logo perdeu a coragem.


— Me diga, o que faria se fosse um ser sobrenatural que vivesse isolado dos humanos, mas sempre os observasse?


Nick pensou um pouco.


— Depende... — ponderou. — Os humanos podem ser bem perigosos, e se eu fosse mais fraco do que eles, não tentaria me arriscar, continuaria afastado. Entretanto, se me considerasse mais forte, me aproximaria por curiosidade. Mas por que quer saber isso?


— Por nada... — ela voltou-se para o jovem, com um sorriso sem graça. — Andei lendo muitas coisas na internet esses dias sobre coisas paranormais e acabei ficando com isso na cabeça.


— Entendo.


Nick ia continuar, mas o celular em seu bolso tocou. Ele o pegou e atendeu, conversou por poucos segundos e desligou.


— Sinto muito, Lucy, minha mãe disse que temos visita hoje, preciso ir. — avisou com pesar. — Sábado, então?


— Combinado.


Sorrindo radiantemente, o garoto voltou para a janela a travessou o batente.


— Acho melhor você usar a porta. — sugeriu preocupada.


— Que nada, descer é ainda mais fácil. — deu de ombros, encaixando o pé entre as raízes nodosas da planta que subia enroscada pela parede.


— Uma última pergunta, Nick. — Lucy foi até ele, vigiando seus movimentos. — O que faria se depois de observar muito, acabasse se interessando profundamente por algo do mundo humano?


— Acho que, se fosse possível, tomaria esse “algo” para mim.


O coração da garota quase parou e seu rosto perdeu a cor. Porém o outro não percebeu, estava concentrado na descida. E, até mesmo quando chegou ao chão e deu um último aceno de despedida, ela continuou na mesma posição petrificada. Hesitante, erguei seus olhos azuis para a densa floresta atrás de sua casa. Tinha medo de procurar, mas não conseguiu evitar varrer com os olhos o a extensão arbórea. E, por um momento, sentiu ter visto uma sombra esguia.

Com o coração tomado pelo desespero, fechou a janela e a cobriu com as cortinas.







— Filha?


Nenhuma resposta.


— Filha?


Nada ainda.


Lucy?


— Si-sim? — alarmada, a jovem olhou para o lado, fitando sua mãe, que mantinha os olhos atentos na pista enquanto dirigia. Mas isso não mudava o fato de sua expressão mostrar preocupação.


— Está tudo bem, querida? — insistiu.


— Estou, sim, mãe. — respondeu. — É que dias nublados me distraem. — mentiu.


Alguns metros foram percorridos em silêncio, até que Helena voltou a se pronunciar:


— Hoje vai cair uma tempestade muito forte, imagino que não seja uma boa ideia voltar andando para casa. Por isso, hoje vou buscá-la na escola. Mas você sabe que eu só chego meia hora mais tarde, por isso, terá que me esperar. — ofereceu. — Tudo bem pra você?


— É claro.


— Hoje você vai voltar comigo, Lucy? — Max perguntou animado, puxando a manga da blusa da irmã.


— Sim, vou! — ela sorriu.


Assim que foi deixada na porta de sua escola e sua mãe partiu para entregar o segundo filho, sua alegria se desfez. Suspirando e tentando se preparar para as possíveis pressões psicológicas que sofreria, caminhou para dentro do local.


Mesmo para alguém como Lucy, que gostava da maioria das matérias, as aulas estavam passando de forma arrastada, trazendo consigo uma agonizante sensação de tédio. E, quando o sinal tocou indicando que a tortura maçante havia passado, ela finalmente pôde respirar com alívio.

Rapidamente guardou suas coisas e foi para o térreo. Robustas nuvens cinza cobriam o céu daquela cidade, obstruindo boa parte dos raios solares e bombardeando-a com uma intensa e copiosa chuva. Mesmo sendo inicio de tarde, o dia estava escuro, abafado e barulhento.

A fachada do colégio encontrava-se abarrotada de alunos, poucos eram aqueles que se arriscavam em meio à tempestade. Todavia, Lucy não gostava de multidões e preferiu buscar abrigo enquanto esperava sua mãe em outro local, mas todos pareciam cheios de alunos entediados e ansiosos – ainda mais por ser sexta. Por fim, esgueirou-se para a parte de trás do colégio, acomodando-se no primeiro degrau da grande arquibancada coberta que dava para o campo gramado, onde eram praticadas as aulas de educação física e competições esportistas.

Teria que esperar ali por meia hora, pois sabia que devido ao trabalho, Helena não conseguia chegar um minuto antes disso. E, já que não havia nada para fazer, tirou um livro de sua pasta e começou a lê-lo.


Lucy adorava ler e quando estava imersa em alguma história, o mundo a sua volta parecia sumir, já não escutava mais o barulho da chuva e suas perturbações não mais a intimidavam. Então, não foi nenhuma surpresa quando gritou ao ter seu livro arrancado de sua mão subitamente.

Depois de recuperar o fôlego, olhou para cima com os olhos arregalados, percebendo três colegas de sala ao seu lado, rindo de forma desdenhosa.


— O que faz aqui, assombração? — a que havia tirado o objeto de suas mãos perguntou, chamava-se Emily.


— Talvez esperando um desavisado aparecer para ela assustar. — riu a segunda, seu nome era Rebecca.


— Poderia devolver meu livro? — pediu de forma neutra. Não havia uma fórmula certa para reagir a esse tipo de coisa, porém sabia que se demonstrasse incomodada com a intromissão, pior elas agiriam. O mais seguro era fingir não se importar.


— Essa droga aqui? — Emily comentou com desgosto, lendo a capa. — Achei que você só lesse livros de bruxaria. — sorrindo com malícia, ela o jogou no gramado lamacento.


Lucy levantou-se no impulso, mas nem adiantaria correr até ele, havia caído aberto com as páginas viradas para o chão.


— Acho que esses dias ela tem se interessado por outras coisas. — a terceira, Holly, sugeriu. — Lucy prefere livros sobre seriais killers, sabe, pra inspirá-la mais.


— Ah, é mesmo, tinha me esquecido que o apelido dela agora é assassina. — acrescentou Rebecca. — Diz ai, como foi que você conseguiu enganar aqueles policiais? Está na cara que foi você quem matou aquele homem.


Lucy tentou respirar fundo e apertou os punhos. Se rebatesse, seria pior, daria a elas mais motivos para continuarem com aquilo.

Fingindo ignorar os comentários, ela adentrou na chuva para buscar seu livro. Mas, quando estava se abaixando, sentiu-se sendo empurrada com força para o chão.


— Presta atenção enquanto a gente está falando, aberração! — xingou Emily, sem se importar que também estava se molhando.


— Esquece essa ai, ela não presta. — Holly deu de ombros. — Vamos embora.


Furiosa, a mais agressiva a olhou com ódio.


— Uma pena aquele assassino não ter chegado à sua casa. — falou por fim, dando-lhe um chute na região das costelas, antes de ir embora.


Tossindo, Lucy se levantou, massageando a região ferida. A chuva forte batia contra o seu corpo, empapando suas roupas e lhe roubando calor. Pegou seu livro encharcado, analisando os danos. Estava horrível, muitas páginas haviam sido danificadas. Porém não queria descarta-lo, fora presente de seu pai.


Ao voltar para a arquibancada, olhou para si mesma, estava ensopada e suja. O que diria para sua mãe?

Abraçou a si mesma, numa vã tentativa de acalentar a si própria. Sentia desolamento e tristeza. Entretanto, não chorou. Nunca chorava, por mais crítica que a situação estivesse, nunca conseguia liberar seus sofrimento. Era horrível, mas depois de tanto tempo passando por coisas assim, seu coração havia endurecido.

Chateada, guardou o livro e pegou sua bolsa. Olhou as horas, constatando que faltavam quinze minutos para Helena chegar. Talvez conseguisse melhorar o aspecto de sua aparência se lavando no banheiro.


Chegando lá, tentou ao máximo se limpar e secar suas roupas com papel. Continuou molhada, mas pelo menos não estava tão suja assim. Se escolhesse as palavras certas e inventasse algo crível, quem sabe sua mãe não lhe fizesse tantas perguntas assim.


Estava saindo do banheiro, quando notou que havia alguém a esperando. Era uma garota loira, pequena e de olhos castanhos.


— Você é a Lucy? — perguntou um pouco insegura, mas sem deixar de analisá-la.


— Sou... — respondeu receosa.


A menina pareceu surpresa.


— Nossa, é verdade, você é bem diferente e bonita. — elogiou.


— ... Olha, eu agradeço por isso, mas se me der licença, preciso ir. — cortou, dando as costas para a outra.


— E-espera! — ela a seguiu.


Segurou-se para não cortá-la de maneira rude, pois sabia que não era certo descontar suas frustrações nas outras pessoas. Todavia, realmente não estava em um bom momento.


— O que quer? — perguntou cansada, virando-se.


— Meu nome é Chloe, sou prima do Nicholas. — explicou.


— Nicholas...?


— Sim! Vocês são vizinhos, não é?


A imagem do garotinho loiro veio a sua mente.


— Ele nunca me falou que tinha uma prima estudando na mesma escola que eu.


— Bem, deve ser por que acabei de me transferir. — esclareceu com um sorriso. — Me matriculei semana passada.


— Entendo... E o que quer?


— Ontem eu fui visitá-lo com meus pais e quando Nicholas soube para qual escola eu havia me mudado, comentou que tinha uma amiga muito legal nesse colégio e que ela ficaria feliz em me ajudar a me adaptar. — falou em graça coçando a nuca. — Achei que fosse uma boa ideia e cá estou eu.


Nick..., Lucy pensou. Seu bobo.


— M-mas se achar que pode ser um incomodo, não precisa se importar! — exclamou com o silêncio da outra.


— Não, não. — riu de leve. — Será um prazer. Mas eu realmente tenho que ir agora.


— Tudo bem! Er... Qual a sua turma? — quis saber.


— Segundo A.


— Certo. Segunda eu passo lá durante o intervalo. — Chloe parou, tirando o casaco jeans que usava. — Toma, pode acabar pegando um resfriado.


Com os olhos arregalados, Lucy encarou a peça de roupa. Hesitou inicialmente, mas acabou pegando-a e vestindo.


— Obrigada. — disse.


— Por nada. — a loira sorriu. — Nos vemos na segunda. — despediu-se, indo embora.


Confusa, ela olhou as mangas da blusa, que eram um pouco curtas para o seu tamanho. Mas isso não mudava o fato de aquilo ter sido uma gentileza direcionada a ela. O que era estranho, não estava acostumada com isso.


Teria ficado mais tempo divagando sobre aquele novo sentimento, se não tivesse lembrando-se de sua mãe. Apressada, também foi embora.




— O que houve com suas roupas?! — Helena exclamou, assim que a filha entrou no carro.


— Acabei esquecendo minha mochila no ginásio e tive que atravessar o campo no meio da chuva, mas acabei tropeçando no caminho. — falou. Sabia que era uma desculpa ridícula, mas era melhor do que dizer o que de fato havia acontecido.


Sua mãe franziu o cenho, pouco convencida. E estava pronta para fazer mais questionamentos que talvez a desmascarasse, quando Lucy tomou a dianteira:


— Não se preocupe, uma colega me emprestou esse casaco!


— Colega? — a expressão da mãe mudou completamente, agora demonstrando surpresa. Afinal, sua filha nunca falava sobre seus amigos ou a vida na escola. — Como ela se chama?


— Chloe. É novata e pediu para eu ajudá-la a se adaptar. É uma pessoa bem legal, um pouco esquisita, talvez.


— Oh, não diga isso, filha. Fico feliz que tenha arranjado uma amiga. Quando puder, traga para jantar em nossa casa, gostaria de conhecê-la.


Suspirando aliviada, Lucy acenou com a cabeça. Foi por pouco.






— Como é bom vê-la novamente, Lucy. — cumprimentou a mãe de Nick, Ellie, ao recebê-la em sua casa.


Depois do caso do assassino, a mãe do garoto, em um gesto de proteção materna, optou por tirar algumas semanas de férias para passar mais tempo com seu único e querido filho.


Pedindo licença, a jovem de cabelos brancos adentrou na casa, sendo interceptada por Nicholas, que sorriu ao vê-la. Ambos subiram para o quarto do garoto, onde passaram várias horas distraídos com jogos de videogame. Depois passaram a conversar sobre livros e filmes – momento em que ela bagunçou os fios loiros do menor e disse obrigada. E, por fim, prepararam panquecas para comer vendo filme.



— O filme era ótimo. — elogiou Nick, espreguiçando no sofá. — Aonde está indo, mãe? — perguntou ao ver Ellie ir até a porta.


— Preciso comprar algumas coisas na loja de conveniência. — respondeu. — Querem ir comigo?


O jovem olhou para Lucy, que pensou se seria uma boa ideia, mas acabou acenando afirmativamente.


— Claro.


Há muito já havia anoitecido, e devido as constantes chuvas, estava bem frio.

Mãe e filho caminhavam tranquilamente, com Lucy um passo atrás, um tanto alheia as coisas a sua volta. Era raro ter momentos assim, onde se sentia aliviada e tranquila. Há muito tempo não se divertia daquela forma e sentia-se grata ao garoto por isso.

Deixou um singelo sorriso escapar, porém esse foi morrendo quando uma luz vermelha e azul refletiu em seus olhos.


— Polícia? — observou Ellie, olhando para as viaturas paradas perto de um beco.


Os três se aproximaram, mas o perímetro estava isolado por fitas amareladas. Policiais sérios e pessoas curiosas também cercavam o local. Um arrepio correu pelo corpo de Lucy e suas pernas bambearam ao olhar para dentro do beco. Estirados pelo chão, cobertos por lonas negras, havia três corpos. Sangue vermelho e brilhante escapava pelas bordas, manchando o cimento da rua.


— Vamos embora daqui. — interveio a mãe de Nick, colocando a mão em seu ombro.


Dominados por um silêncio gélido e incomodo, seguiram para a loja de conveniências, compraram o que pretendiam e voltaram, porém Ellie tomou o cuidado de desviar do beco e evitar traumas desnecessários.


Ao pararem na porta de sua casa, Lucy agradeceu profundamente a estadia e entrou. Passando pela sala, cumprimentou seus pais, mas não teve coragem de falar o que vira, então subiu para o seu quarto, a fim de dormir e esquecer tudo aquilo.

Porém não conseguiu.

Algo a incomodava, uma estranha voz ecoava por sua mente, impedindo-a de descansar ou pensar com coerência. Remexia-se na cama, inquieta. E, nas poucas vezes que pegava no sono, acordava momentos depois assustada e ofegante, com a imagem de três corpos mutilados na sua frente. Por vezes, seus olhos involuntariamente caiam na gaveta da escrivaninha, mas Lucy se recusava a acreditar que aquilo tinha alguma relação com o que acontecera.






Devido ao cansaço, Lucy quase optou por faltar à aula, mas quando lembrou-se que teria que ficar sozinha em casa, desistiu da ideia.


Quando entrou na sala, logo tratou de acomodar-se um lugar ao fundo – talvez conseguisse cochilar um pouco. Percebeu que a turma parecia estranhamente quieta, tomada apenas pelo som de cochichos e vozes receosas. Mas não ligou, abaixou a cabeça e fechou os olhos.


— Alunos.


Ao ouvir a voz do professor, levantou a cabeça; nem havia notado sua chegada. Pretendia voltar à posição anterior, todavia, quando notou as feições sérias do homem, resolveu prestar atenção nele.


— Eu tenho um comunicado. — começou.


A sala inteira fez silêncio.


— Esse sábado, três colegas de vocês foram encontradas mortas. Uma verdadeira tragédia para essa turma, pois as senhoritas Emily, Holly e Rebecca nos farão muito falta.


O coração de Lucy gelou. A imagem dos corpos voltou a sua mente, fazendo seu estomago embrulhar.


— As três foram encontradas na parte sul da cidade e não se sabe quem foi. — explicou. — Por isso, pedimos cautela.


Com ar solene, o homem encerrou sua fala e deu inicio a aula. Mas Lucy não prestou atenção nisso, estava mais preocupada com os olhares desconfiados e de repúdio direcionados a si. Sentia-se suando frio e nervosa. Os cochichos também não ajudavam. Coisas como: o corpo delas estava irreconhecível, foi algo macabro e estavam completamente dilaceradas, penetraram dolorosamente seus ouvidos.


No intervalo, mal conversou com Chloe, que também soubera da notícia e preferiu não fazer comentários. Porém, as outras pessoas ali não pareciam ter o mesmo tato que a jovem, pois falavam sem pudor sobre o que havia acontecido.


— Dessa vez você não escapa. — alguém falou, em uma mesa à esquerda da delas.


— Fica quieto! — reclamou Chloe com a pessoa.


— Por que está defendendo ela, novata? Por acaso não sabe quem é essa garota? — a mesma pessoa falou. — É uma assassina.


Lucy levantou-se abruptamente da cadeira, fazendo o metal dos pés arranhar contra o piso do chão. Todos ficaram em silêncio. Ela olhou para todo refeitório, encontrando olhares que variavam do medo ao desgosto.

Foi então que sentiu seu estomago se contrair dolorosamente. Ela deu um passo para trás e correu dali. Infelizmente não conseguiu alcançar o banheiro, despejando todo o seu almoço no meio do corredor.









Uma mão quente e gentil tocou seu rosto. Aos poucos, abriu seus olhos azuis, encontrando os da mãe, preocupados e tristes.


— Filha... — ela sussurrou ao seu lado na cama. — Fiquei tão preocupada.


Confusa, ela se sentou com dificuldade, notando que estranhamente se encontrava em seu quarto.


— Como eu vim parar aqui? — perguntou.


— Querida, você passou mal e desmaiou. Me ligaram no trabalho e eu corri até lá para te buscar. — explicou. — Como se sente agora?


— Um pouco melhor... — ela passou a mão pelo rosto, notando as feições preocupadas de Helena. — Não dormi muito bem noite passada e acho que comi algo estranho no almoço.


Entretanto, Helena não se demonstrou convencida.


— Filha, seu pai teve que viajar hoje e só volta na sexta. Quando ele chegar, quero que você sente com a gente para conversar.


Os olhos de Lucy se arregalaram, porém antes que pudesse protestas, sua mãe foi até a porta.


— Apenas descanse. — pediu, ela conseguia ver dor nos olhos da mãe. — Vou até a farmácia comprar algumas vitaminas pra você e já volto.


Por alguns segundos, depois de ser deixada sozinha, Lucy ficou parada no mesmo lugar. Seus olhos encaravam algo que estava logo a sua frente. A gaveta.

Uma súbita onda de irritação apoderou-se de seu corpo e ela se levantou, indo até ela. Bruscamente a abriu e arrancou de lá os cadernos, deixando apenas a amarelada folha dobrada ao fundo. Ela a pegou e desdobrou, colocando-a aberta em cima da escrivaninha.


CAN’T RUN


As palavras estavam escritas em preto, com alguns rabiscos logo em baixo.


— Foi você, não foi? — gritou para o papel. — Foi você que matou as garotas!


Obviamente, a folha não respondeu. Apertando os punhos, Lucy a pegou e embolou, jogando com força em um dos cantos do quarto.


— O que você quer de mim?! — desesperou-se. — Me deixa em paz! Eu não pedi por nada disso. Não queria que você as matasse!


Ofegante, ela encarou o silêncio.


— Agora todos acham que eu tenho algo com isso. Que eu sou uma assassina! Até meus pais estão envolvidos. E é tudo sua culpa! Também não pedi para matar aquele homem. Preferia estar morta a ter que encarar tudo isso!


Enfurecida, caminhou até o papel amaçado, que havia caído embaixo da janela. Ela o pegou e o abriu novamente, dando as costas para a floresta lá fora.


— O que eu preciso fazer pra você me deixar em paz?! — suplicou. — Eu estou cansada disso, não aguento mais!


Seus olhos saíram das letras e fitaram sua sombra projetada pela luz da lua que invadia o quarto escuro. Mas não era sua silhueta que via, era algo estranho. Esguio, de braços e pernas longas.

A figura parecia rir para Lucy, desafiando-a.


“Em breve nos veremos Lucy. E com você vindo até mim.”


Ainda conseguia ouvir aquele tom arrastado e sombrio, junto coma as risadas satisfeitas.


— Maldito...




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Notas finais do capítulo

Entãããão, o que acharam???
Sei , sei, muitos devem estar decepcionados. Cadê o Slender?! Bem, meus caros, ele não apareceu diretamente nesse capítulo por alguns motivos. O primeiro é porque eu queria fazer charminho, haha, e um pouco de suspense. Mas principalmente porque esse é o capítulo introdutório. Ao contrário da one, que as coisas eram meio no ar, nessa continuação eu precisava ambientar a história. Fora que eu queria retratar como a Lucy ficou depois do encontro e o bullying que ela sofre na escola.
Quando ao Nick e a Chloe... Bem, eles ajudarão no desenvolvimento. Fora que tinha ficado bem difícil narrar a Lucy solitária a todo o momento.

Lembro-me de ter comentado que eu faria uma continuação de quatro capítulos. Confesso que não sei de onde tirei esse número. Possivelmente será uma continuação dividida em três.
Espero que, mesmo com isso tudo, tenha gostado desse primeiro capítulo da continuação. ^^

Ah, e eu tenho uma perguntinha pra vocês meio... Estranha. Bem estranha mesmo... Ficaria muito bizarro um hentai? Não tentacles hentai, pois é nojento e mais bizarro ainda. Mas vocês me entenderam, né? Digam o que acham xD

Bem, acho que é só isso. Espero que gostem e não se esqueçam de comentar dizendo o que acharam.