Dádiva Infernal escrita por La-Fenix, Vitória Palitot


Capítulo 8
O Equinócio - 1º Dia




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Conversar com a cadelinha angelical, até que foi, como posso dizer, interessante, mas foi graças ao equinócio, só o fato de começar a falar sobre ele já nos causa um grande efeito "amistoso".

Ao amanhecer encerramos nossa conversa agradável, comecei a fazer o café da manhã de Elliot, o típico ovos mexidos com bacon, enquanto ela foi acordá-lo. Não era nossa obrigação agradar, ou melhor, cuidar de Elliot, mas realmente era necessário convencê-lo a escolher por conta própria uma de nós, afinal se somente o obrigássemos, além de que a alma dele teria um péssimo gosto, iria simplesmente se dissolver, ele seria um simples espírito vagando por aí, como o que acontece às pessoas que se suicidam. E não era esse nosso objetivo, o que significava que teríamos de agradá-lo, assim quando escolhesse seria de boa vontade.

– Elliot você vai cabular aula hoje.

– O quê? Você quis dizer que irei faltar?

– Sim, oras. Seja lá como chamem isso, você não irá à aula hoje.

– Mas por que?

– Porque não poderemos lhe acompanhar e não pretendo deixá-lo ser sequestrado, ou algo do tipo.

– E o que farão?

– Vamos passar o dia no equinócio, para isso você terá de fazer algo.

– P-pera, eu? O que vou fazer?

– O que você acha cadelinha ?

Na mesma hora Maria levantou-se e empinou as orelhas demonstrando atenção.

– Acho que você está, relativamente certa.

– "Relativamente", aposto que só disse isso para não concordar comigo.

– E se eu tiver?

– Que tal um pouco de pimenta em pó no focinho, cadelinha?

– Hey, hey, pessoal! E o equi, equiná, equíni... Bom, enfim. o que houve com a trégua???

– Em primeiro lugar, é Equinócio, Elliot . Em segundo lugar a trégua só é oficial no Inter-Mundis, que é aonde se dá início ao Equinócio. Estamos na Terra, podemos até "simpatizar", às vezes, mas mantemos nossas diferenças e rixas em destaque.

– E mesmo no Inter-Mundis, isso não muda, ainda há algumas brigas, e tudo, mas nada muito sério à ponto de se matarem, à não ser que a ofensa seja, realmente, de certo modo, grave.

– Oh, então mesmo em um dia de trégua, vocês estão, basicamente em guerra, certo?

– É bem por aí mesmo.

– E vai se acostumando, gatas sarnentas tendem a ser irritadiças.

– E cuidado, cadelas pulguentas, tendem a espalhar suas pulgas e carrapatos por aí, e também raiva.

– O que você disse?

– Acho que com essas orelhas você conseguiu ouvir muito bem! Ou está velha demais para isso?

– Ora sua...

Enquanto Maria me ameaçava mostrando seus dentes e rosnando para mim, eu a ameaçava com um frasco de pimenta em pó, e uma frigideira.

– Meninas. Vamos, não briguem, o que pretendiam fazer comigo ? Porque aposto que serei obrigado a ir junto com vocês...

– Sim você irá, mas precisamos de certa forma, camuflá-lo.

– Mas o que faríamos, para esconder esse cheiro...?

– Cheiro? Por acaso estou fedendo?

– Seu cheiro, humano. Todos tem um cheiro diferente, ou melhor dizendo uma essência diferente, a sua no caso é bem agradável.

Me aproximei dele e passei a língua pelos lábios, por acabar me descontrolando. Acordando de meu sadismo, misturado à doce sensação de ter aquela alma, a tentação estava transbordando.

– Certo que animal ele deveria ser?

– Ah, que tal rato? Adoraria caçá-lo seria divertido.

Podendo sentir os sentimentos de Elliot pude perceber seu calafrio na espinha quando eu disse aquilo, eu achava hilário o tamanho medo que os humanos tinham da morte, apesar de saberem de sua existência, e de saberem que irão morrer algum dia, de um jeito ou de outro.

– Certo, certo, dispenso meu comentário, descartamos o rato... infelizmente.

– Que tal um cão?

– Já temos pulgas demais!

– E gato não poderia ser, seriam muitas sarnas para cuidar!

– Hey, que tal perguntarem para mim?

– Sei, que não há necessidade, mas diga logo para que descartemos sua opinião.

Encarei o saco de pulgas sentado, com um sorriso de agradecimento no rosto, pois além de tirar as palavras de minha boca, ela foi rude por mim.

– Um corvo?

Caímos na risada. Um corvo? Um corvo?!

– Elliot, não leve a mal, mas um corvo não dá!

– Por que não?

– Porque você se perderia, seria morto acidental ou propositalmente, e também o corvo não irá escondê-lo tão bem...

Ao refletir no que Maria disse ao humano, me veio uma idéia em mente.

– Uma Fuinha?

– Fuinha?

– É, uma fuinha, sua audição tá bem ruim hoje, hein, pulguenta..

– Tsc. Não é má idéia...

– Claro que não é, afinal é minha idéia, mas lhe agradeço por me incentivar a tê-la.

– OI? Eu to aqui, o garoto que vocês querem transformar em um animal, por que uma fuinha?

– Não é óbvio?

Revirando os olhos, o ignorei.

– Esqueça, e vá tomar um banho, saímos daqui uma hora. Anda vá se arrumar donzela.

– Tsc.

Enquanto Elliot saía resmungando e Maria abafarrava o riso, arrumei as coisas para sairmos.

Não há como explicar, o equinócio é algo... Diferente. Uma emoção diferente, não há ódio, guerra ou intrigas, somos mais "colegas", do que inimigos, e de certo modo, essa sensação sempre foi boa. O equinócio é o termo ideal para "férias".

– Vamos logo Elliot! Não quero perder o jogo de pôquer!

– Tem pôquer no equinócio?

– Claro que tem! E é difícil pegar uma mesa boa para se trapacear, então vai logo!

– Ok, ok.

Saímos do início da tarde, Elliot já era uma fuinha e se encontrava em minha bolsa, paramos diante de uma estação de metrô abandonada.

– Vai me dizer que a festa é lá embaixo?

– Claro que não humano tolo.

Na minha opinião Maria estava perdendo a paciência com Elliot, bom... melhor para mim.

– Podemos ir, ou vão ficar flertando aí?

– Mas ir aonde Mizuki?

– Ai Elliot... Ao metrô, é claro!

– Metrô? Pera, Metrô?

– Você vai ver quando chegarmos lá, vamos logo, ou vou perder o pôquer e a bebida grátis!!

Fomos até a velha estação de metrô abandonada que ficava ao lado de um cemitério da cidade, a linha que, antes, passava por baixo do cemitério estava fechada por conta de um desabamento, e isso aconteceu à uns 15 ou 20 anos, muitas pessoas morreram no acidente... Trágico...

– Elliot, antes que diga qualquer besteira, e sei que você irá dizer precisamos transformá-lo aqui.

– Maria, realmente não sei o que está havendo...

– Isso é porque o nosso mundo não lhe diz respeito aos mundanos...

– Cadelinha celeste chega de tantos flertes, certo?

– Você é quem está flertando visualmente, que roupa é esta?

– Não lhe diz respeito! Pelo menos não pareço uma velha!

Estávamos vestidas de um jeito bem... Diferente, uma da outra. Meu cabelo estava um pouco mais curto e preto-azulado, meus olhos continuavam em seu vermelho vivo, eu usava uma jaqueta preta de couro, luvas abertas, uma calça jeans escura, uma blusa regata vinho e botas de cano curto. Maria usava um sobretudo branco de couro, sem mangas, uma blusa levemente azulada de manga cumprida, uma calça preta e botas de cano longo igualmente pretas, eu não entendia muito bem seu visual, mas apesar de saber que não tinha nada de "velha" nele, resolvi provocar mesmo assim.

– O que tem de velho aqui?

– Sua cara, pulguenta.

– Tsc. Gata sarnenta.

– Opa,opa, Mizuki, seu pôquer...

– Ah! Droga, ande Elliot feche os olhos e prenda a respiração!

Ele realmente fez o que mandei...

– Aaah, não aguento mais, pra quê isso?

– Para eu me divertir com sua cara, mas ok, vamos logo...

Naquele momento eu o toquei na testa me concentrando no desenho de selo.

– Pronto. Como se sente?

– Pequeno, indefeso, e com muito medo...

– Pois está uma grancinha! Prefere vir comigo ou com a pulguenta Sr.Fuinha?

– Eu o levo, pode ser que você o aposte e o perca no jogo de pôquer..

– Ha, ha, estou morta de tanto rir.

Maria pegou a fuinha e a colocou em seu bolso, pegamos o trem SUBMUNDO 01 - PLATAFORMA D, e embarcamos rumo aos esconbros do desabamento antigo. Embarcar no Plataforma D, era bem legal, de início nos dava a impressão de que iríamos bater contra tudo, e então, "PUFF", um portal se abria à nossa frente, mas os anos passaram, a época de novata está muito longe.

Ao descermos do trem nos deparamos ao Bosque Negro, onde -do centro- brotava raios de luz coloridas, muita música e o cheiro de diversas comidas típicas do Equinócio no submundo.

Ja acostumada às diversas "surpresas" do bosque, me pronunciei impedindo a passagem da Maria.

– Escute "anjinha", sei que esta não é uma das passagens utilizadas pelos anjos e turma, então preciso que me siga precisamente, entendeu? Tenho de mantê-los em segurança.

– Mantê-LOS?

Percebendo a ênfase na palavra pronunciada pela Maria, resolvi me concertar.

– A fuinha vale por dois.

– Certo, certo... Pois saiba você que sei muito bem me cuidar, não preciso de você.

Maria deu alguns passos para dentro do bosque e pôde-se ouvir um grito gerado por sua voz, segundos depois. Adentrei o bosque e logo de cara, a encontrei pendurada e amarrada em um velho carvalho, ela caíra em uma das armadilhas. Elliot, o fuinha, estava no chão, provavelmente caira do bolso do sobretudo de Maria. Cai na risada.

– Ora, ora... Não sabe o quão bom é vê-ladesta maneira...

Ela tentava de tudo para se soltar, mas se fosse fácil assim, não adiantava tê-las.

– Não vai onseguir sair, nem eu conseguiria. São feitas para a proteção do festival, além de aprisionar os idiotas e os desavisados. Bem... Eu te avisei.

– Me tire logo daqui!

– Por que tudo o que é bom, dura tão pouco?

Passando a mão sobre o tronco do carvalho, aciono a liberação manual, logo, um teclado em vermelho vivo se sobrepõe em madeira, digito a senha de segurança e libero a Maria, a mesma cai com tudo contra o chão ofegante.

– Eles absorvem sua energia, de maneira, bem excessiva. Não são simples cordas, nada pode afetá-las.

– Percebi...

– Vamos, vou perder meu pôquer.

Saímos do bosque sem mais problemas e nos deparamos com o que parecia um parque temático como os dos humanos.

– Nos separamos aqui, os vejo mais tarde, tanto faz...

Saí rumo à tenda de pôquer, uma das únicas com um letreiro luminoso gigantescos. Até sentir leves e pequenas garras no meu ombro. Elliot.

– O que está fazendo aqui? Deveria estar com o ser celeste.

– Gosto de pôquer.

– Ah, está bem, mas fique imóvel sobre o meu ombro, assim pensarão que você é um acessório.

– Ok, ok.

No pôquer algumas mesas estavam cheias, outras vazias, mas ser reconhecida, não foi uma surpresa. Todos pararam suas jogadas. No ponto de apostas na mesa, havia tudo o que se poderia imaginar, jóias, dinheiro de vários mundos, selos, poções, magias, chaves -simbolizam automóveis ou imóveis mundanos-, tickets de suprimentos vitalícios de vários comércios e até um peixe, tudo o que poderiam apostar, tudo o que tinham.

– E aí povo! Como vão?

O silêncio pairou no ar.

– O que quer Tsuyoshi?

A voz veio da área VIP, preenchida essencialmente por centauros, trolls, ogros, enfim, os seres mais ricos do submundo. Minha principal fonte de lucro.

– Ora, Gionn! O mesmo de sempre, me divertir.

– Tem ao menos o que apostar?

– Meu caro Centauro, mas é claro que tenho e muita coisa boa, devo dizer!

– Pois bem, sente-se, tentarei recuperar os tesouros que tirou de mim.

– Lembrando que você os perdeu de modo justo.

– Claro, claro.- Seu tom de sarcasmo sempre me divertiu.

Após algumas rodadas ganhas e outras perdidas, caí no tédio, o que me fez perder o humor e começar a jogar à sério. Depois de retirar uma boa quantia de todos, lancei tudo em minha mochila e estava pronta para me retirar.

– Sinto, meus queridos, mas tenho de me retirar, foi um ótimo jogo, devemos repeti-lo um dia desses.

Senti a presença de dois brutamontes atrás de mim, impedindo minha passagem.

– Ah, vocês nunca souberam perder...

– Ah, tem razão, agora dê-me as coisas que roubou!

A ênfase imposta na última palavra, me deu vontade de socá-lo bem no meio de sua fuça.

– Ganhei de modo limpo, seu porco meio cavalo!

– Acha que sou tolo?!

– Gionn, lhe garanto, que não vai querer ouvir minha resposta.

– Ora sua... Peguem-na AGORA!!

No mesmo instante pulei sobre a mesa, usei a parte equína de um dos centauros como apoio e saltei, rasgando a tenda rumo à fuga.

–Adiê, bons tolos!

Corro em meio a multidão, ouvindo os xingamentos jogados no ar.Até que algo me distraiu, um ser pequeno em meu ombro, o qual eu havia me esquecido de sua existência.

–Você é boa no pôquer.

–Não, eu não sou.

–E como ganhou tudo?

–Trapaça, sou boa nela.

–E o gordão percebeu, né?

–Só no fim, talvez o feitiço tenha perdido o efeito.

–O quê?

–Te explico depois, vamos encontrar a Maria.

Eu a vi, primeiramente zanzando pelo festival. Ao me aproximar roubei discretamente um algodão doce da tenda de doces

–Está procurando algo?

–Sim, perdi minha fuinha, era de família, sabe? Será que você… você! Mizuki!

–Cale a boca, quer que me encontrem?

–O que está havendo?

–Hora de ir embora, voltamos amanhã se quiser.

–Elliot! O que faz com ele?

–Não me culpe. Ele me seguiu, agora vamos!

A puxei pelo pulso, corremos pelo bosque, e pegamos o trem.


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