Dádiva Infernal escrita por La-Fenix, Vitória Palitot


Capítulo 5
Tenho vontade de socar a sua fuça (na amizade)


Notas iniciais do capítulo

O título é bem sugestivo, terá uma pequena luta e muita gasolina pra gente acender o fósforo.



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–Ai capeta... Preciso fazer alguma coisa. –Se Mizuki se aproximasse demais do rapaz eu tinha certeza que ele seria seduzido por ela e transformado em demônio. –Mas primeiro renovar meu tempo na terra.

O tempo de um anjo na terra dependia da posição na hierarquia que ele ocupava, os mais poderosos ficavam semanas na terra sem sentir absolutamente nada, já os de nível baixo – guardiões tinham privilégios, não nível social, que fique claro – eu tinha que falar com o meu supervisor.

Ele se parecia com um adolescente e não falava muito, diziam que ele era pupilo de Asriel, portanto poderoso. Eu não achava aquilo, ele era bom em direcionar as almas para seus devidos lugares nas esferas, usava uma venda como Asriel, tinha até afinidade com a luz divina, mas era um doce de pessoa.

Peguei um pedaço da janela quebrada e cortei a palma da minha mão. O vidro quase não rompeu a pele firme que eu tinha e do pequeno corte saíram apenas algumas gotas de sangue prateado, ou como eu diria ‘o bastante’. Espalhei as gotas no vidro quebrado que eu havia usado e sussurrei:

–Ei, Damon. Você está na escuta? –A prata do meu sangue se mesclou no vidro e me mostrou uma imagem de um jovem de cabelos negros, com olhos vendados com uma tira de linho bege. Suas feições eram angulosas, quase feitas de pedra de tão duras que eram sua boca se movia de modo peculiar sem mover músculos do rosto de forma aparente.

Uma aura de soturnidade o cercava, ele era triste e de poucas palavras. Talvez sua alma tivesse sido retirada a força do corpo e não tivera a oportunidade de remendar a vida que abandonou.

–Precisa de mais tempo na terra, Maria? –Sua voz era suave e ao mesmo tempo dura, a voz de um ser que vivia sempre na liderança.

–Bom dia pra você também. Tive um imprevisto com um demônio e vou ficar por uns dias. –Me encostei-me à parede que ficava na frente da janela quebrada e visualizei cada um dos pedaços partidos do vidro.

–Sua posição só me permite te deixar por mais dois dias, e olha que você vai enfraquecer muito nesse meio tempo. –Dei duas batidinhas no chão com o pé. Todos os pedaços de vidro que estavam no chão – e o que estava na minha mão - se reuniram e voltarão a formar a janela.

–Eu tenho que cumprir essa missão, é crucial que eu não falhe. –Esfreguei meu ombro, cansada, e limpei o sangue seco que tinha ficado no meu vestido devido a queda de vinte e três andares. – Também vou precisar de uma permissão especial para matar demônios, não tem como usar somente a lábia com ela.

–Depois eu que tenho a fama de frívolo. –Damon encostou os dedos no vidro e uma luz tênue veio através do vidro se transmutando vagarosamente num colar de contas transparentes e cristalinas. –Quando todas se tornarem vermelhas é porque seu tempo se esgotou, não demore muito.

–Entendido capitão! –Coloquei um dedo no vidro e Damon desapareceu.

Coloquei o colar em volta do pescoço e suas contas se tornaram azuis, como se fossem lápis lazuli polidas.

Após deliberar um instante decidi-me por ir até a universidade de Elliot. Minhas chances de conseguir fazê-lo tornar-se um anjo estavam caindo mais rápido do que eu podia controlar naquele ritmo eu seria rebaixada a caça espíritos num segundo.

Estalei os dedos transformando meu vestido, em um jeans e uma camiseta vermelha. Catei uns três livros da estante medíocre de Elliot e esfreguei a mão em suas capas conjurando um pequeno sortilégio neles, no segundo seguinte eles estavam mais grossos e com títulos referentes a estudo medieval.

–Queria saber o que tem de interessante na idade média... –Minha preocupação era a de não me deixarem entrar, por causa da minha tatuagem de lírio no braço. –Malditos humanos.

Saí do apartamento de Elliot daquele jeito e segui o rastro maligno de Mizuki.

Nada complicado com os sentidos funcionando bem, o rastro dela se resumia a algo vermelho, não sei explicar o porquê, mas era vermelho.

–Cuidado moça! –Um moleque colegial esbarrou em mim na rua e correu. De dia a cidade era barulhenta e movimentada, nada legal pra quem tem audição refinada.

“Calma Maria... É só você se livrar do demônio e tá tudo certo.”.

Tive que andar por cerca de vinte minutos ou mais para poder chegar à universidade do meu alvo.

Tomei um susto ao me deparar com um palácio imperial, cujo letreiro de ferro indicava como universidade nacional.

Era uma construção com cerca de três andares e milhares de metros para os lados, subdividindo-se em setores unidos no centro. Suas cores douradas mesclavam-se com branco por toda a fachada e faziam todo o conjunto parecer uma construção feita exclusivamente para a família imperial.

Um único segurança inspecionava os alunos que entravam no campus pelo portão e ele parecia distraído.

“Que perfeito.”

Um vento forte surgiu de repente levando ao ar todos os documentos que o segurança estava usando para identificar cada aluno. Meu trabalho foi entrar pelo portão da universidade e esperar o intervalo de aulas.




Minha presença foi ignorada por todos e eu me sentei num contra queda que tinha em um corredor deserto. O lugar era tão grande que um humano poderia estudar naquele lugar durante anos e nunca conhecer por completo a planta do local.

Eu gostaria de estudar ali somente para olhar o teto ornamentado o dia inteiro. Todo o lugar em si era uma obra de arte e aquilo me deixava extasiada.

Humanos eram idiotas, mas faziam coisas tão lindas.

–Nossa, passarinho! Não esperava que você aparecesse por aqui. –Mizuki se colocou na minha frente com ar de deboche. –Achei que anjos não trapaceassem como demônios.

Levantei-me e fiquei frente a demônio, em pé eu era cinco centímetros mais alta que ela.

–Digamos que eu me aproveito das oportunidades, e você? Porque não está com Elliot? –Ela pegou uma mecha azulada e ficou enrolando ela no dedo.

–Nunca gostei de autoridades, muito menos um professor mandão querendo ser ditador. Saí da sala pra tomar um ar. –Sua mão de unhas bem feitas, me empurrou com força me fazendo ir pra trás em direção ao chão. –Você deveria fazer o mesmo.

“Deveria sim.”.

Deixei meu corpo ir pra trás e no último minuto segurei o beiral com força e dei um impulso forte que fez meus pés se encontrar com a cara de Mizuki.

–Essa história de anjo não guardar rancor é verdade. –Endireitei minha postura, enquanto Mizuki se afastava de mim com a mão no maxilar atingido. –Só que eu não sou ingênua, e tenho permissão de atacar ao ser atacada. Por sorte eu não vou usar nenhum poder contra você.

Como um raio, soquei a cara dela e aproveitei sua surpresa para lhe dar um chute nas costelas. Tendo uma melhor reação da que eu esperava dela, a demônio me deu uma rasteira me levando ao chão, me deixando de costas e prendendo meus braços nas costas.

–Passarinho você até que luta bem. –Ela torceu meu braço até ele chegar no limite, a ponto de se romper. –O legal é que eu também.

Soltei uma rajada de vento pela boca e fiz com que colidissemos no teto duro de mármore. Ao cair, rolei para o lado, me preparando para mais uma investida, colocando os braços frente ao corpo em posição defensiva.

–Você está pedindo por uma briga séria, passarinho. –Mizuki estava de quatro no chão com uma mão na cabeça. Provavelmente ela teria batido  no teto com ela. –Fogo é muito mais forte que ar.

A mulher se levantou com o rosto obscurecido e encoberto pelo cabelo, ela ofereceu a mão frente ao corpo e uma bola de fogo surgiu em sua palma. Era algo ameaçador e assombroso, ter poder sobre o fogo significava que meu vento seria inútil. Mizuki lançou seu fogo e minha única opção no momento foi desviar.

Senti o calor do ataque passar perto do meu rosto. Girei meus calcanhares bem no momento que teria sido atingida, um giro perfeito executado com maestria. Minhas habilidades haviam me salvado.

Uma rápida sucessão de bolas de fogo foi atirada em mim depois daquilo, desviei de algumas até uma bola gigante vir em minha direção. Conjurei, em alguns segundos, uma massa de energia azulada que absorveu todo o fogo, e se transformou em seguida em uma esfera agitadiça que se dissolveu no ar em alguns segundos criando uma cortina de fumaça entre eu a minha adversária.

Aproveitei-me do novo fator e avancei contra Mizuki pegando sua cabeça e a batendo contra a parede com violência. No seguinte momento tive meu pulso queimado e consequentemente que largá-la.

–Você vai me dar trabalho, demônio. –Estava prestes a revelar minhas asas mortais quando vejo Elliot entrando no corredor onde estávamos ‘conversando’.

–Mas o que infernos está acontecendo aqui? -Ele começou a reclamar que havíamos queimado as paredes e destruído a parede e eu tive que aguentar o risinho maldito que a Mizuki me lançou.


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Notas finais do capítulo

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