Dádiva Infernal escrita por La-Fenix, Vitória Palitot


Capítulo 13
É isso aí


Notas iniciais do capítulo

Não gostaria de de dizer nada.



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Sangue fluía entre as junções de pedra do piso, rios vermelhos que se espalhavam gradativamente pelo chão. O mesmo estava fadado a acontecer com a parede no momento em que o prisioneiro recebesse golpes na face, o qual as unhas de ambas as mãos estavam caídas ao lado de sua cadeira restritiva.

–Vamos lá John… Quanto tempo mais você vai querer ficar desse jeito? -Um homem, de feições quase delicadas se não fosse por seu olhar de escárnio, segurava um alicate ensanguentado nas mãos de unhas compridas e afiadas como as de um animal.

O homem que estava preso na cadeira levantou o olhar de maneira cansada e com o olhar exalando violência. A cadeira não possuía quaisquer amarras para prendê-lo, mas ele mal conseguia se mover, as asas negras em suas costas estavam esmagadas contra o encosto da cadeira, provavelmente seriam as próximas a serem mutiladas após o torturador acabar com o rosto do homem.

–Faça-me o favor kitsune, já enfrentei coisa pior do que perder algumas unhas.-Um sorriso petulante surgiu nos lábios do anjo- Aposto que se fosse você aqui já estaria chorando por perder as unhas que nem uma menininha.

O alicate caiu no chão, as unhas do torturador estavam cravadas no abdomem de John.

–Eu controlaria a língua se fosse você, aqui não existem privilégios para anjinhos.-O anjo de asas ébrias gemeu de dor ao sentir suas entranhas serem perfuradas por cinco garras animalescas e cruéis.

O cabelo platinado do kitsune estava sendo tingido por gotas de sangue que espirraram do prisioneiro, o kimono simplório que ele usava também começava a se encher de sangue.

–Jura…?-Entre um gemido e outro John falava algumas coisas.-Entenda… Sua vontade…. De me matar… Não é maior que a minha de morrer, Hideki…

O assim chamado Hideki soltou uma gargalhada do fundo de seu ser, era um som profundo, perverso e quase absurdo.

–Acha que eu não sei? É isso que vai fazer com que você fale, você vai implorar para morrer, podemos ficar com esse joguinho por anos -Ele torceu suas garras que estavam cravadas no anjo. -Vai ser divertido ver você chafurdar no próprio sangue como se fosse um porco, logo você que sempre chamava os humanos de porcos imundos, será hilário na minha opinião.

John teve que cerrar os dentes, ao ponto de um trincar, para não berrar de dor.

–Tomoko já tinha te avisado… Ela sabia da sua traição e ainda lhe deu a chance de redenção… Anjos caídos são sempre traidores.

Naquele momento duas coisas aconteceram. Uma delas foi a abertura repentina da porta do calabouço onde os dois se encontravam, outra foi a entrada de uma mulher de cabelos azuis correndo ruidosamente e em ritmo frenético, sendo seguida por uma ruiva irritadíssima que não corria mas andava rápido e gritava em plenos pulmões.

–Mizuki! Sua demônio vagabunda! Roubou a minha coxinha!! -Maria estava com as feições geralmente apáticas moldadas em uma face de raiva.

–A coxinha é minha! -Mizuki se encontrava segurando metade de uma coxinha numa mão, e um cortador que havia pego no meio de outros instrumentos de tortura próximos na outra.

–Era pra ser nossa! Era pra gente dividir a coxinha! Sua cria malfeita do capeta!

–Eu te dei um pedaço. -Disse Mizuki dando de ombros com o rosto calmo apesar de segurar o cortador em postura defensiva.

–A pontinha com massa!

Mizuki revirou os olhos e enfiou a metade da coxinha na boca, num gesto infantil.

Hideki e John se entreolharam.

O kitsune segurou o riso.

John agradeceu, mentalmente, pela interrupção.

Os dois voltaram a olhar para as mulheres brigando.

Se entreolharam novamente, e caíram na gargalhada.

–MINHA COXINHA!!!!!!!!!!!!!!! -Maria lançou um olhar de pura descrença para Mizuki, tendo uma reação de maior expressividade do que quando Elliot morreu. -Mas… Porque fez isso?!!!

A demônio engoliu o salgado com dificuldade, e olhou para Maria.

–Rawr. -Dando uma arranhada no ar igual a um dinossauro.

–Capetossauro… Eu vou transformar você em um abajur pelo resto da eternidade!

O kitsune deu um pigarro para informar as duas que que se encontrava ali e que estava no meio de uma importante tortura.

–Perdão senhoritas. Aqui é a sala de tortura.

Maria estava dando uma chave de braço em Mizuki e a demônio não parava de rir.

–Queiram se retirar, aqui não é lugar para damas.

Mizuki observou o homem enquanto Maria a soltava da chave de braço.

Sua constituição era esguia, os braços não muito grossos e ainda por cima cobertos por um quimono branco de aparência delicada. O rosto dele era comprido, mas equilibrado por causa do cabelo branco e cheio que lhe chegava aos ombros.

–Então o que você, gracinha, está fazendo aqui?-Zombou a mulher com o maior cinismo do mundo.

No momento seguinte havia uma raposa gigantesca (praticamente do tamanho de dois leões), perseguindo Mizuki e lançando orbes de fogo em sua direção.

–Baka…

Uma voz delicada ecoou nas pedras da sala, vinda de um ponto no alto.

Feixes de luz, da espessura de um fio de cabelo, surgiram deste ponto, e como se fossem linhas com vida própria investiram contra o kitsune transformado. Se prendendo em suas patas, peito e pescoço.

–Lembre-se que você não passa de um verme insolente aqui,jamais ouse atacar alguém sem a minha permissão,-a linha que prendia a kitsune pelo pescoço se comprimiu a ponto de manchar os pelos brancos da criatura de sangue- seu praga cheio de pulgas fétido.

A dama de preto surgiu no ar, flutuando como se fosse uma assombração em seu quimono negro ornado de flores vermelhas.

Maria, que até o momento observara tudo com neutralidade, olhou para o prisioneiro atrás de si, o reconhecendo do reino celestial do qual fora expulsa a menos de um dia.

–John? -Ela lhe perguntou com o cenho franzido. -Se for você mesmo, tenho que lhe dizer que sua aparência está lastimável.

–Maria! A quanto tempo! Creio que está ainda mais bela do que…-Sua fala foi interrompida por um chute dado em seu maxilar que, por sorte do bom humor de Maria, não o arrancara.

A parede estava finalmente tingida de sangue.

–Seu traidor… -A bota que a ruiva usava fora parar novamente no rosto do caído, desta vez apertando seu rosto.

Mizuki apareceu do lado de Maria,e apoiou o braço no ombro dela.

–Caraca… Esse cara curte trair as pessoas. Coitada da namorada desse cara.

Tomoko foi para o lado das duas, enquanto Hideki, em sua forma humana, se recuperava do estrangulamento.

–Esse ‘cara’ virou um caído porque roubou a Lança Sagrada de seu lugar na esfera celeste. E ontem foi pego em flagrante roubando a Lança do Purgatório e a teletransportando para outro lugar. Eu imagino que ele a tenha levado à Organização do Pesadelo, e que novamente tenha traído o lugar a que pertence.

–O Purgatório é um lugar de traidores? Sempre imaginei que ele fosse um lugar para pessoas que não foram boas o bastante para o Céu, e nem pecadoras para o inferno. -Perguntou Mizuki com verdadeira inocência no assunto.-E o que raios é a Organização do Pesadelo?

–Em tese o Céu e o Inferno são lugares que abrigam pessoas boas e ruins,mas isso foi instituído após o surgimento dos humanos, antigamente eram somente moradias de anjos e demônios, em teoria o Purgatório foi feito da mesma maneira não sendo lar nem de anjos nem de demônios, mas sim das outras criaturas como anjos caídos. -Maria parou de esmagar a cabeça do traidor com o pé e voltou a falar. -O problema é que a Lança Sagrada pode matar até mesmo os deuses na mão certa.

Mizuki arregalou os olhos com a compreensão da situação.

–E a Organização do Pesadelo busca justamente matar os dois deuses regentes do momento para assumir o comando do mundo humano.-Começou Tomoko.- Essa organização é formada por seres do Purgatório que são gananciosos e possuem um coração maldoso, ávido por sangue e crueldade.

–É por isso que eles estão buscando o Elliot…

Tomoko completou.

–Buscando sua alma na verdade, eles querem criar um Deus guerreiro para matar os Deuses adversário.

–Vamos acabar com esses imbecis e dar fim nessa Guerra. -Incitou Mizuki.-Eu juro que acabo com todos sozinha e devoro esses corações recheados de maldade!

–Porque você quer devorar corações?-Questionou Maria.

–Porque deve ter gosto de frango! -Gritou Mizuki com valentia.


[Continua no próximo episódio]


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