À sombra de uma árvore, um garotinho se encontrava entretido. Com suas mãos, não muito habilidosas, ele construía pequenos tsuru. As aves de papel estavam tortas, mas ele ao menos notou, afinal, já era grande feito para si estar ao menos fazendo essas dobraduras.

Cantarolando baixinho, ele depositava cada novo tsuru ao lado de seu pequeno corpo.

- 13 – murmurou em sua voz infantil, quando depositou a ave correspondente ao número que citou, um sorriso grande nos lábios – Quantos será que faltam para mil?

E juntando todos, guardou-os em uma pequena caixa de madeira.

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- Que merda! Será que vocês poderiam me dar uma folga? Nem que seja por um minuto?

O pré-adolescente corria pela grama do jardim de sua casa, preso em seus braços a caixa de outrora, onde, agora, existiam pouco mais de quinhentos tsurus.

Era tão preguiçoso, que depois de fazer alguns poucos, já se cansava e largava de lado, buscando outra forma de se distrair. Por isso ainda não havia conseguido alcançar sua meta. Mas, de qualquer forma, nem ao menos se lembrava do desejo que queria realizar.

Fazia apenas por fazer.

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Chuva.

Estava chovendo muito, mas, mesmo assim, o jovem se encontrava sentado sob a árvore que adorava.

Seu rosto, completamente molhado, encontrava-se em um misto de sabores. A água salgada de suas lágrimas, misturada à água doce das gotas de chuva.

Não sentia o frio, não sentia medo por estar tarde da noite.

Só sentia o peso da roupa completamente escura que vestia.

O peso da roupa que usara, enquanto seus pais eram cremados.

Um acidente havia tirado a vida dos dois, e agora ele era só.

Não tinha família, os amigos tinham receio de se aproximar por não saber como agir, não tinha nada para dizer seu. Apenas a pequena caixa de madeira, que mais uma vez estava em suas mãos.

Enquanto velavam o corpo de seus pais, ele voltou a produzir os tsurus, faltava pouco.

Mas não havia contado com a chuva.

Papel e chuva não combinavam.

Perdera tudo, e agora não poderia mais desejar que eles voltassem para si.

Seu coração se apertou.

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Três anos depois, véspera de ano novo.

Em seus plenos vinte anos, o rapaz se preparava para ir às comemorações que dariam inicio ao ano que se seguiria. Estava pronto para pisar fora de casa, quando algo lhe passou pela memória. Instantaneamente, os olhos escuros buscaram sua caixa.

Não tivera coragem de jogá-la fora, mesmo que toda vez que a olhasse, seus olhos marejassem.

Mas fora diferente daquela vez.

Em passos longos, com uma coragem que jamais sentira antes, postou-se diante da caixa, e a abriu sem fazer cerimônias. Sentia que deveria procurar algo ali.

Então, no meio do papel engiado, estranho por causa da chuva que tomara anos atrás, achou um único tsuru inteiro.

Seus olhos se arregalaram de surpresa, e não conseguiu conter as lágrimas que escorreram até seu queixo, antes de serem abandonadas no chão frio.

Com as asas tortas, seu primeiro tsuru se encontrava intacto.

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Fim de festividades.

O ano novo havia começado a correr a partir daquele primeiro dia.

As pessoas voltavam à vida normal, deixando os templos lotados de pedidos, mensagens, moedas e tudo mais que desejavam.

Mas ninguém foi capaz de notar uma ave de papel e uma mensagem que foram deixadas como oferenda.

Em uma letra bonita, estava registrado:

“Nunca é tarde demais para recomeçar.”

E ao longe, um jovem sorria, dobrando papéis em pleno trabalho.