Já passava das dez da noite quando Ron deixou o hospital. Deveria ter saído três horas antes, mas tivera algumas emergências.

Havia acontecido um grave acidente envolvendo três carros e uma moto no final da tarde, deixando oito pessoas feridas. Duas pessoas saíram praticamente ilesas, apenas alguns arranhões; três tiveram escoriações leves e outras duas tiveram uma concussão e uma delas também quebrou o braço. Apenas uma pessoa ficou gravemente ferida e ela era o motivo da demora de Ron. Foram seis horas de cirurgia e felizmente, havia conseguido salvá-lo. Era uma demora perfeitamente justificável por um excelente motivo. Pelo menos para a maioria das pessoas.

“O Malfoy vai querer arrancar o meu fígado!” – pensava enquanto tocava a campainha do apartamento de Draco.

– Estava começando a achar que tinha abandonado a menina aqui e sumido no mundo! – disse Draco, gesticulando para que o ruivo entrasse.

– Eu nunca abandonaria a minha filha! – respondeu assim que entrou – Tive que cuidar de uma emergência no hospital. Só pude sair agora.

– Por essas e outras que sou escritor! Faço meus próprios horários!

– Sorte sua! – suspirou cansado – E a Isa?

– Dormindo.

– Olha Malfoy, valeu mesmo por ter cuidado dela hoje. Estou te devendo essa.

– É claro que está. Já tem alguém pra cuidar dela amanhã?

– Hoje eu nem tive tempo de respirar direito... Vou pedir à Gin- não, ela disse que ia viajar hoje à tarde! – franziu as sobrancelhas – A Hermione ta enrolada com o trabalho... Bom... – deu de ombros – talvez elas me indiquem alguém.

– Pode deixar ela aqui amanhã.

Ron arregalou tanto os olhos que achou que fossem saltar de seu rosto a qualquer momento. Draco revirou os dele em resposta.

– Não precisa me olhar com essa cara, Weasley! Não fiquei bonzinho de uma hora pra outra! Continuo o mesmo Draco Malfoy de sempre!

– Então por que está se oferecendo pra cuidar da Isa? Nunca pensei que gostasse de crianças.

– E não gosto. – disse simplesmente – Mas a Isa é inteligente! Me deu umas idéias interessantes pra pôr no livro que estou escrevendo.

– Então está se aproveitando da inteligência da minha filha! – acusou Ron.

– Foi ela quem começou. – deu de ombros – Quando disse que a minha história era ruim! Acho uma troca justa. Você consegue alguém pra tomar conta dela enquanto trabalha e eu termino de escrever o meu livro com uma significativa colaboração criativa dela! Simples!

O ruivo estreitou os olhos.

– E o que ela acha disso?

– Ela se divertiu bastante pondo defeito em tudo que eu tinha escrito.

– Hm. Bom, se ela se divertiu, acho que não tem problema. Mas primeiro vou perguntar pra ela, se ela quiser, tudo bem.

– Tudo bem.

O loiro o levou até o quarto de hóspedes, onde a menina estava esparramada na cama, ressonando baixinho. Ron se aproximou e acariciou os cabelos da filha.

– Ela queria esperar você, acordada. Resistiu bravamente até quarenta minutos atrás, quando desabou no sofá.

Ron sorriu e afastou uma mecha que caía no rosto da menina antes de pegá-la no colo e sair do quarto, seguido pelo loiro.

– Valeu mesmo, Malfoy! Por ter ficado com ela hoje! – disse já fora do apartamento.

– Tá. Tá. Agora cai fora que eu preciso descansar a minha beleza. – fez um gesto de despensa.

Ron riu. Definitivamente aquele ainda era o Malfoy! Narcisista como sempre!

– Boa noite, Malfoy!

– Boa noite.