Conto das Neves

Foi apenas num olhar a tira colo.

Apenas num vazio entoar de palavras e no mínimo toque da canção.

Era véspera de ano novo quando seus hipnotizantes olhos achocolatados roubaram minha atenção.

O sol escondia-se por detrás de grossas e pesadas nuvens acinzentadas.

Diante de todo o seu silêncio o céu derramou sobre nós os flocos cristalinos congelados.

Talvez eu tenha sido nada mais que um mero expectador a apreciar a beleza de seus movimentos.

Mas por longas noites me pego desejando sentir à maciez de seus cabelos dourados, ou mesmo o calor gelado de sua pele clara.

Ainda sinto-me envolvido por seus passos e movimentos. Cada mínima ação – mesmo as mais singelas - está gravada em minha mente.

Recordo-me de vê-la tropeçar e ir ao chão, antes de deparar-se com o próprio pranto.

Sempre me perguntei por que chorou naquele dia, talvez eu nunca descubra.

Fora ao ver-te no chão. Ao ouvir seus soluços que percebi.

Não havia canção, ou qualquer melodia. Estavam sozinhos no silencio da floresta escura de inverno.

Eu estava sozinho, e você a dançar como uma dama sobre a imensidão cristalina do lago congelado.

Lembro-me de quando me viu. Eu estava ao seu lado oferecendo ajuda para levantar.

Ambos tremíamos.

Você devido ao choro, e, talvez, angustia.

Eu era devido ao irremediável e irritável frio.

“Está tudo bem?” Foi o que perguntei vendo-te negar com os olhos marejados.

Queria poder dizer que éramos amigos, mas seria errado não.

Você era bela, uma princesa com seus olhos grandes e infantis, uma mulher de cabelos de ouro e corpo bem esculpido.

A princesa de uma sociedade que a servia da melhor forma, buscando ao máximo seu agrado.

E eu não passava de um reles plebeu, ou mesmo um criminoso.

Mas você não ligou para isso, não é mesmo?

Naquele dia, você chorou agarrada a minhas roupas, ignorando a minha identidade desconhecida.

Levei-te a minha casa para que pudesse aquecer suas mãos frias, eu morava em meio a floresta afinal.

Recordo-me de que você ficou comigo, não apenas aquele dia, mas também os dias que se seguiram.

Estava fugindo dos pais não é? Agora entendo.

Fugindo de um casamento arranjado.

Naqueles dias, eu aprendi a te amar. Aprendi a te desejar, como nunca antes desejei outra mulher.

Foi pouco antes de a neve vir a derreter que deitamo-nos juntos.

Fizemos amor e juras diante da lareira acesa.

Havia um futuro a nossa frente, até sermos descobertos.

Vi-te ser tirada de mim a força.

As lágrimas que a custo sequei, agora retornavam.

Fui preso e castigado por ter tocado em ti.

No meu ultimo dia, tudo o que desejo é ver teu sorriso.

Mesmo sendo condenado a forca, tudo o que desejo é que sejas feliz meu amor.

Para sempre seu,

Sting Eucliffe.