-Força, você consegue. -Disse a voz masculina. -Eu já posso ver a cabeça.

A mulher fazia mais e mais força, até que o choro de uma criança se faz ouvir. O choro era forte, a criança era perfeita, saudável. Possua os olhos claros e poucos cabelos.

-É uma menina. -Falou novamente a voz masculina. É uma menina linda. -Os olhos do homem estavam tomados pelas lágrimas.

-Deixe-me segurá-la pelo menos um pouco. -Pediu a voz feminina. O homem assentiu, passando a criança para o colo da mãe. -Você é linda. -A voz feminina era trêmula, sabia o que acontecia. -Promete cuidar bem dela?

-Eu prometo! Esse será nosso segredo. -Confirmou a voz masculina, cortando o cordão umbilical, que unia mãe e filha e cobrindo-as.

-Haveria tempo de dar-lhe de mamar uma vez ao menos? -Os olhos da mulher imploravam.

-Sim, temos tempo. -O homem secou suas mãos sujas de sangue, afagou o rosto das duas mulheres, vendo a menor sugar o leito do peito da maior. 

A mãe chorava sem sessar. Era algo que ela desejara, mas sabia que não era seguro para a criancinha. Ela não se importava consigo, se ao menos ela pudesse pensar em levar sua filha para casa e vê-la crescendo. Mas essa era uma impossibilidade. Ela nunca se perdoaria se algo acontecesse aquela que saiu de seu ventre.

-Ela dormiu. Ela é linda. -Beijou a testa da pequena, abraçou-a. -Tome, vá! Vá e não olhe para trás. -Entregou a menina ao homem. -E isso, entregue a ela quando completar dezesseis anos e não me pergunte o porquê. Agora corra, antes que nos peguem aqui. 

O homem obedeceu, sabia do perigo. Beijou a testa da mãe da como despedida e não olhou para trás.