– Pronto. – Disse Percy sem ânimo algum quando encontrou com o amigo e o irmão nas escadas de incêndio com vista para outro velho prédio do bairro. – Alguém da agência de adoção virá aqui amanhã pela manhã.

– Você está bem?- Perguntou Grover mesmo sabendo a resposta.

– Claro. Por que não estaria? – Respondeu sem a mínima vontade.

– Percy, se você não quiser fazer isso, cara-

– Não. – Interrompeu Percy- Está tudo bem. Mamãe estava certa. Eu não poderia criar esse bebê mesmo que quisesse.

– Cara, vai ficar tudo bem – Pronunciou-se Tyson pela primeira vez- Aconteceu... E agora, como você disse, nunca mais falaremos sobre isso.

***

– ...Eu poderia ter sido modelo... – Dizia Sally para a neta que estava sentada sobre a sua barriga, com as costas encostadas nas pernas da avó, que estavam dobradas. – Mas você já viu seu tio Tyson? Sim! Nenhum corpo consegue se recuperar daquilo... Ele era tão grande que eu tive que fazer três cesarianas...

***

Tyson e Annabeth conversavam animadamente no mesmo bar que Percy trabalhava porém, ele não estava lá. Não era seu turno.

– E então, você sempre gostou do Percy?

Annabeth revirou os olhos e bufou.

– Caramba! Você é obcecado!- Suspirou se dando por vencida- Eu não sei... Meio que sim... Sempre achei que, talvez, um dia, tivesse uma chance, mas era muito gorda, ou muito...

– ...Gritona, ou muito peluda, ou muito...- Interrompeu Tyson, que foi interrompido por Annabeth.

– HEY!-protestou- Não estamos fazendo uma lista!

Os dois gargalharam.

– Bem, você cresceu e se tornou uma mulher linda e bem-sucedida... Acho que está na hora de passar da fase “Percy Jackson”.

– Por que eu faria isso?

– Huh... Se esqueceu da parte do bebê?

– Do bebê que ele não quer desistir?-Indagou Annabeth. Ela conhecia Percy... Não seria capaz de abandonar sua própria filha por conta própria. Tudo que ele precisava era de apoio.

– Se isso é verdade, por que ele ligou para o centro de adoção?-Perguntou Tyson.

– Porque toda a família dele está dizendo que ele não consegue! – Respondeu Annabeth como se aquilo fosse óbvio.- Se ninguém acredita nele, como ele pode acreditar em si mesmo?

– Ele não pode fazer isso sozinho- Insistiu Tyson.

– Você não pode saber isso. Não até que ele tente. –  beeepbeeepbeeep, o celular de Annabeth tocou- Oops, é o Percy. Sua mãe vai deixá-lo sozinho com a Emma.

– Você está indo?

– Eu disse sozinho! – Ela beliscou o grandão novamente.

– AAAAHH! Pelo quê foi esse? – Perguntou massageando a área atingida.

– Por me fazer falar sobre sentimentos! Você sabe que eu odeio isso... – Ela pegou a bolsa e se levantou. – E pegue leve com seu irmão. Ele te admira muito... Aos olhos dele, você tem tudo. – E se afastou finalmente.

– Nem tudo- Murmurou para si mesmo enquanto observava Annie passar pela porta do bar. Linda como sempre a vira. Até mesmo no colegial, quando ainda era conhecida como “Calças Gordas”.

***

O elevador se abriu enquanto Annie ajeitava o cabelo afinal, não queria nenhum fio fora do lugar quando encontrasse Percy. Ela já erguia a mão para bater na porta quando foi interrompida por alguém chamando seu nome. Virou-se e viu Tyson que, pela ofegância, subira correndo as escadas para chegar a tempo de impedir a loira de chegar ao apartamento antes dele.

– Annie... – Colocou as mãos nos joelhos- Pera, você tem que me dar um minuto... – Agora se encostou na parede. Suspirou fundo – Uhh... Céus, agora eu... Sei porque me mandaram pra outro time...

– Tyson, saia da frente. Percy precisa de ajuda! – Ela disse, mas ele se interpôs.

– Escuta Annie. Você estava certa. – Ela ergueu as sobrancelhas- Eu não acreditei nele... Não achei que ele fosse capaz de fazer isso...

– Vá direto ao ponto, Tyson... – Irritou-se a loira.

– Se você for ajudá-lo, ele também não acreditará que é capaz.

Sentaram-se então nas escadas, rezando para que Percy se saísse bem na sua primeira noite como pai. Na verdade, rezaram mais pela sobrevivência de Emma, mas isso é detalhe...

Depois de alguns minutos sentados, o elevador se abriu novamente. Era Grover e ele parecia com muita pressa. Com um assobio, Tyson chamou sua atenção.

– Por que estão sentados aí? Eu estava no cinema com Junniper quando Percy me ligou dizendo que Emma estava passando mal...

– Não acho que esse seja o problema de Emma... – Disse Annie.

***

Enquanto isso, dentro do apartamento...

Percy caminhava de um lado para o outro pensando no que fazer. Ele não sabia como cuidar da criança a sua frente. Não tinha preparo, não sabia como alimentá-la ou trocá-la... Nem mesmo como educá-la. Pegou mais uma vez o celular para deixar mais uma mensagem de voz na secretária de algum dos amigos.

– Annabeth! Annie, pelo amor de Deus! Ela está com fome... Ou com sede... Ou cansada... Olha, não importa! Eu não falo bebeês. Venha pra cá quando pegar esse recado.

Emma começou a chorar. Ele se desesperou, mas achou melhor não tocá-la. Desastrado como era, poderia machucá-la.

– Grover, eu juro, se não chegar em casa em dois segundos... – Olhou em volta pensando na ameaça mais terrível que poderia fazer- eu vou comer toda a sua comida! – Emma agora chorava mais alto. – GROVER!

Apelou para o irmão mais velho, mas dessa vez, a ligação não caiu direto na secretária. Estava chamando. Percy não sabia se era loucura, mas escutou de onde estava o toque do celular do irmão. Franziu o cenho caminhando até a porta.

E do lado de fora...

O trio continuava sentado no corredor, olhando pra cima e pensado em como estaria o desempenho de Percy dentro do apartamento. Não podiam conversar, pois era possível que fossem ouvidos do lado de dentro do apartamento.

TRIIIM TRIIIM –  O celular de Tyson tocou dentro da jaqueta de couro que estava jogada nomeio do corredor. Eles se desesperaram e Tyson alcançou o celular rapidamente para silenciá-lo.

Enquanto do lado de dentro...

Constatando que era coincidência demais escutar o toque do celular de Tyson enquanto estava ligando para ele, resolveu olhar pelo olho mágico. Talvez o irmão estivesse na porta procurando sua chave para abri-la.

Olhando pelo olho mágico, nada viu. Já nem ouvia mais o toque. Decidiu que estava ficando louco. Suspirou pesadamente. O momento havia chegado.

[N/Isaa: Porquê ele não viu? Aqui. ]

– Okay bebê... Acho que seremos só eu e você. – Percy avaliou-a deitada no cesto. Parecia bem mais calma. Ela tinha os seus olhos... Era linda. Pegou-a de dentro do cesto ainda hesitante e se manteve com os braços esticados- Por favor, não quebre, por favor, não quebre... Okay, vai ficar tudo bem- Apertou-a contra o peito. Vai ficar tudo bem Emma, papai está aqui.

Percy se sentiu feliz por estar tudo dando certo, mas sua alegria passou mais rápido do que veio quando ele percebeu que precisaria trocá-la. Pegou alguns equipamentos para ajudar e a colocou em cima da mesa de centro. Óculos, fita adesiva, luvas e o pegador de salada. Prontinho.

Percy se saiu melhor do que esperava... Não a havia machucado então, mesmo com alguns traumas estava tudo bem. Quem diria que um bebê de colo seria capaz de fazer tanto estrago? Terminou jogando a fralda e o pegado de salada na lata de lixo colocada estrategicamente ao lado da mesa.

– Prontinho... – Emma sorriu pra ele e ele soube: A mulher do supermercado estava certa, ela ainda não tinha dentes. – Está com fome? Claro que está.

Colocou-a novamente dentro do cesto e foi preparar a mamadeira. Nas próximas duas horas, Percy fez de tudo para que Emma desse ao menos um gole na comida, mas nada parecia despertar o interesse da garotinha na mamadeira.

– Emma, por favor... – Colocava o bico da mamadeira pero da boca dela. Colocou-a de volta no cesto. - Coma, por favor... É gostoso! Veja... – Despejou um pouco do conteúdo na boca e percebeu que estava mentindo pra filha. – Urrrgh. Céus, não me surpreende você não querer comer isso...

Percy suspirou fundo e jogou a mamadeira para cima como fazia com os drinks no bar para pensar na próxima estratégia. Um muxoxo veio do cesto e seu rosto se iluminou.

– Você gosta disso, Emma? – Jogou novamente a mamadeira para cima, girando-a dessa vez- É só o que o papai sabe fazer... Faço isso o dia inteiro no bar. – Enquanto falava fazia os mais diversos malabarismos- Agora você quer provar?

Mais uma vez tentou colocar o bico da mamadeira na boa da criança que dessa vez aceitou.

– Você está comendo! Graças a Deus Emma... Obrigado. Muito obrigado- Ver a filha finalmente comendo fez Percy se emocionar. Ele se achava um idiota por estar chorando por algo tão simples, mas pela primeira vez considerou a ideia de que seria um bom pai. – Oh droga, estou chorando agora... Ooops. Não diga “droga” Percy. Não diga palavrões – Se autorrepreendeu.

***

Na manhã seguinte, Tyson foi o primeiro a acordar. O trio havia dormido no corredor. Sentiu um peso sobre o peito e constatou que Annabeth e Grover haviam dormido em cima dele. Como isso aconteceu? Boa pergunta.

– Hey Cara, você tá babando em mim! – Disse Tyson acordando Grover. As embalagens de pizza e os copos de bebida ainda estavam no chão. Era hora de voltar para casa e ver como Percy tinha se saído durante a noite. Só esperavam que o que vissem ao adentrar o apartamento na fosse tão traumatizante. Grover e Annabeth se levantaram do colo do maior, ainda sonolentos.

– Estão prontos?-Perguntou Annabeth.

– Seja o que Deus quiser- Respondeu Grover.

Caminharam para a porta, abrindo-a em seguida. Para surpresa geral, tudo parecia estar em ordem. Percy estava com Emma em seu colo e brincava animadamente com a filha, que sorria.

– Hey- Disse Percy ao notar a presença dos demais. Hesitantemente, continuou sua fala- Pessoal, acho que quero fazer isso... Não posso deixá-la. Eu a amo.

Percy esperava uma reação dos amigos. Esperava que tentassem fazer algo para impedi-lo ou pelo menos para convencê-lo do contrário, mas essa reação não veio. Tyson continuou a juntar os brinquedos esparramados, Grover agora pegava seu cereal no armário e Annabeth ainda estava parada na soleira da porta.

– Vocês me ouviram?

– Sim cara, nós te ouvimos. – Disse Grover com simplicidade.

– Acho melhor ligar para a agência... Já são quase sete horas.

Grover se aproximou e estendeu os braços para tirar Emma dos braços de Percy.

– Venha cá, meu amor... – Disse- Ugh, acho que alguém precisa de um banho... E eu não estou falando só de Emma- Disse a última parte olhando diretamente para Percy.

– Vou preparar a mamadeira. – Falou Tyson.

– Tudo bem, mas eu quero dar a ela, okay? – Disse Percy à Tyson, que assentiu.

– Acho que temos que fazer um tipo de escala... – Disse Grover –  Bem, temos um bebê agora... Precisamos ser responsáveis.

Annabeth sorriu e fechou a porta atrás de si. Pelo que conhecia dos amigos, aquilo ainda geraria muitas confusões. Deu de cara com dois homens muito atraentes. Um loiro, um moreno. Ambos encharcados da cabeça aos pés e visivelmente abatidos.

Um sorriso se formou no rosto do loiro.

– Olha só Nico, lanche...

– Olha só Nico, um idiota! – Retrucou Annabeth, furiosamente. Já não tinha simpatizado com o loiro. Nem se importou em ser gentil por ser a primeira vez que os via. – Acho que erraram de porta, isso aqui não é a área de lavagem de animais domésticos.

– Jura? – O loiro deu um passo a frente. – Então o que uma gata limpinha faz aqui?

Annabeth revirou os olhos.

– Francamente, não tenho tempo pra isso.

– Calma, querida. – O moreno olhou para o loiro, repreendendo-o. Não conseguia entender os níveis inimagináveis de idiotice que Luke conseguia atingir. – Está tudo bem, estamos procurando nossos amigos... Percy e Grover.

Annabeth ergueu a sobrancelha.

– Eles estão lá dentro. –Ela abrindo passagem entre os dois.

– Por favor, me diga que não está com um deles! – Gritou Luke, mas não houve resposta. Annabeth mostrou o dedo do meio e entrou no elevador.

– Vamos cara, estamos encrencados demais para pensar em garotas...

– Geralmente, nossas encrencas e garotas estão relacionadas! – Luke devolveu torcendo a camisa que antes estava pendurada no ombro.

– Não dessa vez Luke, - revirou os olhos – Não dessa vez.

Luke deu de ombros, batendo na porta em seguida. Tudo o que os garotos que moravam ali precisavam era de mais encrenca. Mas, infelizmente, Luke e Nico ainda não sabiam disso.

E estavam prestes a dobrar o problema.