Já era noite quando o navio atracou no cais de Virbank. Uma menina sorridente acompanhada de um garoto mal humorado desembarcavam, se despedindo do amigo marinheiro que fizeram na viajem.

–Adoraria batalhar contra você um dia, Ky! Você tem jeito de ser um ótimo treinador! - Disse ele, dando seus típicos tapinhas nas costas de Ky.

–Talvez outro dia, Sam. Eu e Bianca estamos com um pouco de pressa para fazer as pesquisas que a senhora Juniper pediu.

–Então não vou mais atrasá-los! Boa sorte na sua pesquisa, e aproveitem o tempo aqui em Virbank, ouvi dizer que tem vários pontos turísticos.

–Obrigado, mas infelizmente nossa estadia aqui tem que ser rápida. Bianca é muito importante no laboratório.

Ky olhou rapidamente para Bianca e enrubesceu. Sam entendeu tudo.

–Muito bem, então vão. Vocês já tem um hotel em mente para passar a noite?

–Nós vamos dormir na casa da Lider de Ginásio daqui! - Disse Bianca, excitada. - Roxie é uma amiga minha. Ofereceu-se para nos acolher quando soube que iriamos vir para cá. Vai dar um show comemorativo com a sua banda e tudo! Vai ser tão legal! Obrigado por tudo, Sam! Nos veremos outro dia, quem sabe!

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Ky e Bianca observavam o barco partir, enquanto uma pick-up amarela com vários instrumentos no bagageiro parava ao lado deles. O vidro insufilmado abriu-se e dele saiu a cabeça de uma garota de cabelos brancos e grandes olhos azuis.

–Hey, parece que chegamos um pouco mais tarde do que dissemos. Bianca, como vai? A quanto tempo não nos vemos! E quem é seu amigo?

Ky encarou Roxie. A garota prendia o cabelo para trás, revelando a grande testa que tinha, mas Ky achava isso bonitinho. Quando viu que ela se dirigia a ele, logo se apressou a se endireitar e falou com um tom exaltado demais.

–Eu sou Ky, assistente de campo da senhorita Bianca e técnico de manutenção dos aparelhos do laboratório da senhora Juniper.

–Gostei de você. - Disse Roxie com uma risadinha. - Bom, o que estão esperando, entrem! Está meio apertado porque o resto da banda está aqui também, mas sempre cabe mais um! Ou dois, nesse caso.

Quando Ky abriu a porta para Bianca, viu um homem careca e alto, de jaqueta de couro preta e alguns piercings na sombrancelha. Era o motorista da pick-up. Do lado dele, estava Roxie, e nos bancos de trás estavam outra menina, esta cheia de maquiagem roxa e azul, e longos cabelos desgrenhados presos em um rabo de cavalo, e também um punk de mohawk verde e colete jeans. Tinha um par de baquetas na mão. Bianca entrou antes e sentou-se logo após a menina de maquiagem, e Ky se apertou entre ela e a porta.

–Segurem-se! - Disse Roxie, enquanto aumentava a música pesada do carro e se segurava numa barra horizontal grudada no teto com fita adesiva. - Temos que ir voando pra chegar a tempo!

Ky entendeu e apertou o cinto de segurança. Bianca agarrou-se no braço esquerdo dele, o que o deixou deveras constrangido. Podia jurar que viu Roxie dar um risinho pelo retrovisor.

O carro partiu a mil. Ky sentiu o cheiro de pneu queimado, enquanto eles voavam pela estrada vazia que ligava o cais a cidade. As pessoas deviam estar acostumadas com isso, pois outros carros davam a passagem para a pick-up passar. Alguns minutos de corrida turbulenta e perigosa, onde os instrumentos quase caíram do bagageiro numa curva, eles finalmente chegaram na frente de uma casa de shows. Havia uma fila enorme na frente, com todos os tipos de metaleiros e punks que podia-se imaginar. Mas, o que mais intrigou Ky foi o símbolo dos ginásios oficiais da liga de Unova no letreiro da casa de shows. Era ali então que Roxie aceitava os desafios de outros treinadores?

O carro deu a volta na quadra, parando no estacionamento atrás do prédio. Ky e Bianca ajudaram a banda a descarregar o equipamento, e entraram pelo backstage, com Bianca carregando uma maleta com o baixo da Roxie e Ky ajudando a levar as peças da bateria. Conseguiam escutar dos camarins as pessoas gritando lá fora. Alguns técnicos rapidamente instalaram e revisaram os equipamentos, e Roxie deu dois ingressos para a pista especial a Bianca e Ky, para ficarem bem de frente para a banda. Não demorou muito, e nuvens de fumaça roxa começaram a subir no palco e o show finalmente começou. Roxie era a baixista e vocalista da banda, e tocava extremamente bem. O som da banda era pesado, mas com uma levada punk, que combinava muito bem com o estilo dos integrantes. Bianca pulava e balançava um "stick" de neon com o punho erguido, bem diferente dos outros ali, que balançavam as cabeças ou ficavam se empurrando em moshpits. Ky, apesar de estar gostando da música, não sabia bem o que fazer, então se permitiu bater os pés no rítmo da música (se é que aquilo podia ser chamado de rítmo).

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Algumas músicas depois, e um agressivo e pesado bis também, Roxie e sua banda se despediram. Ky e Bianca encontraram uma cansada e suada Roxie no backstage, bebendo uma lata de cerveja como se tivesse peregrinado em um deserto por dias.

–Por Arceus, esses fãs só pedem nossas músicas mais difíceis de tocar.

–Você foi incrível, Roxie! Amei o seu show!

–É, eu consegui ver vocês do palco. - Disse Roxie, cansada, pendendo a cabeça para trás enquanto sentava na cadeira. - Alguns dos caras perto de vocês não estavam gostando muito daquele "glowstick", isso é mais coisa pra show de pop, mas o importante é que você gostou!
E quanto a você, Ky?

–Não é meu tipo de música favorito, mas eu gostei da harmonia entre os instrumentos. Só acho que vou ficar com um roxo nas costas de um chute que levei de um punk.

Roxie riu e virou mais uma lata de cerveja.

–Bom, Alfred leva vocês pra casa. Nós vamos ficar pra dar uma festa, e eu sei que vocês não são do tipo que sai por aí bebendo e quebrando casas.

O careca de piercings, Alfred, levou-os até o carro. Ky finalmente conseguiu ler o que estava estampado nas costas da jaqueta de couro: uma enorme cabeça de Seviper e os dizeres "BORN TO CATCH A WILD" em volta da cobra. Parecia estar prestes a cair no sono. Por sorte, a casa de Roxie não era muito longe da casa de shows, porque nenhum dos três ali no carro estava com ânimo para trânsito. A casa mais parecia um estúdio: na sala tinha equipamentos montados para ensaio, e em todo canto havia algo relacionado a música, seja um instrumento, uma caixa de som, ou um quadro com um certificado de disco de platina duplo. O careca jogou as chaves na mesa e disse que o banheiro do primeiro andar estava quebrado, e que só o do segundo estava funcionando. Mostrou o quarto onde Bianca e Ky iriam dormir, e foi aí que Ky pareceu ter tomado um tiro no peito. Só a ideia de dividir o mesmo quarto com Bianca, mesmo que por uma noite, já era motivo para ele se sentir agitado e desconfortável. Não era muito bom com seus sentimentos.

Alfred foi para o seu próprio quarto. Bianca brincou sobre como era estranho um homem mal encarado como ele ter um nome tão nobre, e foi tomar banho, enquanto Ky apagava assim que deitou na cama.

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Bianca acordou com os raios de sol entrando pela janela e batendo em seu rosto. Ela se levantou molenga, se expreguiçando longamente. Viu que Ky não estava na cama, e então percebeu que havia barulho de chuveiro ligado no banheiro ao lado do quarto e presumiu que fosse Ky, já que ele dormira sem se lavar noite passada.

Quando terminou de se arrumar, se dirigiu a cozinha, e encontrou uma Roxie de olhos fundos, camisola surrada e cabelos embaraçados colocando o pó de café na cafeteira.

–Nossa, o que aconteceu com você?

–Ressaca pós-farra. Com o tempo você se acostuma. Só fale mais baixo, ainda estou com dor de cabeça...

E foi até a mesa, arrastando as pantufas com pelinhos pretos. Bianca se aprontou a preparar o café para todos. Logo, o cheiro de waffles encheu a sala, enquanto os outros integrantes da banda iam acordando. Logo, todos, incluindo Ky, estavam apreciando os waffles deliciosos que Bianca fez, acompanhados de calda de caramelo e um jarro de suco de laranja.

–Nossa, a quanto tempo não comemos algo assim no café. - Disse a garota de maquiagem, agora sem maquiagem. - Basicamente a gente vive de pizzas, bolachas e cerveja.

–Pois não deviam. Vão acabar morrendo de infarto assim! - Repreendeu Bianca. - Se quiserem deixo umas receitas de comidas fáceis aqui para vocês.

–Não é mais fácil te contratar para ser nossa cozinheira? - Falou Roxie, enquanto brincava com o garfo. - Podemos pagar mais do que a Juniper, hehe.

–Agradeço a oferta, mas devo recusar. Eu adoro meu emprego como assitente da Professora Juniper, e não trocaria por nada no mundo!

Os olhos dela brilhavam de paixão. Roxie pareceu compreender e concentrou-se na comida. Fazia bem uns 25 graus lá fora, e o sol fazia arder a nuca de Ky quando ele e Bianca estavam saindo para a cidade de Floccesy, sua última parada antes de iniciarem sua pesquisa.

–É que a Professora Juniper pediu para entregarmos um pokémon inicial para uma nova treinadora lá. Acho que é uma sobrinha do senhor Alder, pelo que ela me contou.

–Sobrinha do Alder? Deve ter o sangue de treinador do tio. Bem, Flocessy não é muito longe daqui. Algumas horinhas a pé e vocês chegam lá sem problemas. Nós os levaríamos de carro, mas a estrada é bloqueada a partir da floresta.

–Não tem problema. É gostoso andar. Vamos, Ky! E obrigado por tudo, Roxie. Nos veremos outro dia!

Se despediram também dos outros integrantes da banda, e saíram pelo oeste, em direção a próxima Rota. Quando estavam entrando pela floresta, Bianca parou subtamente.

–Ai ai ai... Por favor, me diga que eu não fiz isso... - Bianca gemeu, procurando algo em seus bolsos e em sua mochila.

–O que foi? - Perguntou Ky, ao mesmo tempo que o Xtransciver de Bianca começa a tocar. Era a Professora Juniper.

–BI-AN-CA! - Berrou a Professora. - Como diabos você me esquece dos pokémons que a garota iria escolher? Eu fui verificar os servidores para a checagem mensal, e vi que os três estão no PC ainda!

–M-mm-me desculpe, Professora, é que eu...

–SEM DESCULPAS! Como vamos fazer agora? Prometi a Alder que traria os pokémons hoje!

Ky ligou o seu Xtransciver e se juntou a conversa.

–Professora, não tem problema. Tenho um pokémon aqui que vai ser perfeito para ela.

–O que?

–Capturei um pokémon novo a umas horas. Porém, ele não é exatamente o que eu quero. Essa garota pode ficar com ele.

–Ai Ky, o que eu iria fazer sem você?! - Bianca abraçou-o, quase chorando, e Ky sentiu suas pernas tremerem como bambu.

-Ora Ky, é muito gentil de sua parte ceder um de seus pokémons. Vai nos poupar de um grande trabalho. - Disse a Professora, aliviada.

–Sem... Problemas...

–Bom, então vamos! Não podemos mais perder tempo! Que tal uma corrida até a cidade? 

Bianca puxou Ky pelo pulso, e os dois sairam correndo floresta adentro.

–Ei, senhorita Bianca... Porque a Professora fez aquele escândalo? Não era só você retirar os pokémons do servidor em um Centro Pokémon?

Bianca enrubesceu e quase tropeçou numa raiz de árvore.