- Menina, dezesseis anos, virgem, órfã de mãe, apenas amigos meninos, não tem nem ideia de sua verdadeira identidade. – disse um homem de estatura média, forte. Seria bonito se não fosse a cicatriz acima da sobrancelha. Usava jeans e jaqueta de couro, não parecia ter mais de 20 anos. – ou de seu parentesco com...

- Mora aonde? – interrompeu outro homem, esse sem cicatrizes, a pele lisa. Usava terno e gravata mesmo sendo pouco mais de meio dia num domingo. Parecia ser uma espécie de líder. Ele tinha pelo menos uns 50 anos. Seu rosto era inexpressivo, quase comum, se não prestasse atenção o esqueceria facilmente – Aonde a menina mora!? – falou ele, ríspido, devido ao silêncio que se fez na sala quando ninguém o respondeu.

- Ross, senhor, se acalme, nós ainda não conseguimos descobrir. – sua expressão nesse momento foi de medo absoluto, e logo acrescentou - Mas estamos trabalhando arduamente nisso. Também descobrimos que a menina não sabe nada sobre a mãe. Ela acha que ela morreu num acidente. E que era nada mais do que uma simples mortal. – ele disse “mortal” com um tom quase que de nojo mas mudou a expressão assim que o seu chefe falou.

- Bom, muito bom. Dessa vez vai ser tão fácil que não vai ter graça. Tente encontrar algum outro estudante exatamente nesse perfil, mas que tenha alguma noção de tudo. Que me dê alguma diversão. E faça isso até o pôr do sol de hoje. Se não encontrar, vai ter que ser ela mesma. Isso é apenas sua responsabilidade, Joe. Ah sim, não me chame de Ross nunca mais. Nunca. Entendeu?

- Sim, senhor, desculpe, senhor. Sobre outro estudante, eu já encontrei. – a cara de espanto que o seu chefe fez o deixou muito satisfeito consigo mesmo – Bem, quando o senhor disse nesse mesmo perfil acho que não foi exatamente isso que o senhor quis dizer, veja. – neste momento ele se aproxima, relutante, com uma pasta na mão e a mostra para o outro – Ninguém consegue compreender exatamente o que isso significa, senhor. Mas o senhor sabe que existe a lenda de que quando os gêmeos chegarem...

- Basta! – se irritou o mais velho – Eu sei sobre a lenda, não precisa ficar me lembrando de que eu corro riscos. Eu sei de tudo isso. Vou pensar em alguma coisa, mas nada vai acontecer, nem que eu tenha que adormecer uma cidade inteira.

Ele sai da sala, deixando para trás um Joe amedrontado, mas determinado a entender claramente o que os dados contidos na pasta significavam, de preferência sem ajuda de nada nem de ninguém, e antes do pôr do Sol. Ele não ia deixar nada atrapalhar o grande momento de glória de seu chefe. Precisava dar algum último orgulho a um velho homem no final da vida. Joe sabia que senão o fizesse, ninguém mais faria. Ninguém se importava tanto com o velho Ross quanto ele. Pelo menos era o que Joe pensava, o que não sabia era que ele tinham outros pensando como Joe. Outros que usaria modos de deixar Ross orgulhoso que Joe não entenderia. Nem Joe nem ninguém. Pelo menos ninguém deveria entender, mas Ross os compreendia e, principalmente, apreciava o que faziam por ele.