With A Kiss. escrita por xmeglex


Capítulo 1
Capítulo Único: Com um beijo.


Notas iniciais do capítulo

TFaberry~ Me desculpe a demora~ ♥ Consegui terminá-la hoje e estou postando~ ♥
Espero que goste dela... Embora, por ser One-Shot ficou bem corrida... =T
Desculpe por ter ficado tão curtinha...



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Grandes cartazes e faixas tapavam a visão de muitos. Carros tinham que fazer desvios por outras ruas. O protesto tinha apenas começado e já tinham pessoas gritando para voltarmos para casa.

Bem, não posso dizer que estava me incomodando. Afinal eu queria estar ali.

–Famílias precisam de um pai e uma mãe! –Os gritos ecoavam meus ouvidos.

Era um protesto contra o casamento homossexual. E sim eu era contra. Estava ali para derrubar a mínima chance que eles tinham. E eu precisava estar ali. Mesmo sabendo que meus pais choravam em casa a me ver no protesto.

Como filha adotada por homossexuais, nunca que alguém imaginaria que eu, Bruna, estaria naquele movimento.

Amava meus pais. Mas eles não eram casados e para conseguir me adotar tiveram muito trabalho. Eu não era a favor. Afinal, se eu pudesse transformaria um deles em uma mulher para chamar de mãe.

Eu os respeitava, por terem me criado desde que eu era uma garotinha de dois anos.

–Bruna! Até que enfim te achei! –Ouvi uma voz conhecida me alcançar. –Vamos para casa. Acho que temos umas coisas para conversar, meu anjo. Vamos?

Bati na mão gentil sem medo. Mas pude sentir o arrependimento quando vi os olhos de meu querido pai se encherem de lágrimas. Eu era uma vergonha pra ele. Era a decepção. Tudo que ele podia sentir era...

–Tudo bem, querida. –Sorriu dolorido e segurou o choro. –Apenas lembre-se que eu e seu pai te amamos.

Deixei que o homem que eu nomeava pai me abraçasse e fosse embora fugindo de pessoas conhecidas que eram contra o casamento gay.

Joguei fora o arrependimento.

Sabia que eles dois me amavam. Eu também os amava, como meus queridos pais. Mas eu tinha sofrido tanto. Não queria que mais nenhuma criança sofresse.

–Pensem nas crianças! –Soltei um grito de desespero, e sabia que Hector, meu pai, tinha ouvido.

Aquilo afetaria o mais profundo de seus sentimentos.

Não que eu quisesse machucá-lo. Mas eu precisava proteger o futuro de muitas crianças e precisava lutar naquele protesto.

Assim segui a multidão pela rua principal da praça. Seguimos em dois grupos diferentes para duas outras ruas numa bifurcação. Até que meu grupo chegou no ponto que queríamos.

Um orfanato só de garotas. Que não se importava com adoções por homossexuais. Time of Dreams.

–Não ignorem os fatos! Todos sofrem por causa deles! –Alguns gritos se destacavam. –Como uma criança pode crescer num meio como esse?!

Tentei gritar algumas coisas, mas meu grito se parou quando vi uma menina ruiva chorando em frente ao orfanato. Chorava alto, mas não era possível ouvi-la por causa dos barulhos da multidão. Então uma adolescente a pegou no colo.

–Não chore... –Consegui ler seus lábios. –Esses malvados logo irão embora, Yuu.

Minha garganta ardeu, eu precisava gritar.

–Pensem nas crianças! –Deixei soltar a voz presa, mantendo os olhos na adolescente.

Rapidamente os olhos castanhos buscaram a mim. E ao me encontrar vi suas sobrancelhas se retorcerem e ela deixou a criança do lado de dentro do portão do orfanato.

Os passos rápidos seguiram até mim.

Ela tinha longos cabelos escuros e os prendia com uma fita verde combinando com a cor do vestido. Era mais baixa que eu, mas não parecia ter medo de mim. No rosto, um olhar furioso que me fazia tremer.

Ao me alcançar, pensei que fosse me bater. Que fosse gritar comigo e tentar nos expulsar.

Mas ela não fez isso.

Sua mão fina e pálida puxou minha nuca e, ficando na ponta dos pés, ela plantou um beijo em meus lábios secos de tanto gritar.

Ao se afastar ela mostrou um olhar de tristeza.

–Você deve pensar nas crianças. Nós do orfanato, pensamos. Todos os dias. Garanto que Hector e James estão decepcionados, não é? –Me repreendeu.

Eu não a conhecia. Mas ela sabia o nome de meus pais. E não tinha medo do que havia feito em meio uma multidão homofóbica pronta para atacar.

Então ouvi uma voz mais adulta.

–Vão embora! Não há nada que possamos fazer! As donas do orfanato tinham duas mães! E as donas deste lugar são mais educadas que vocês que tiveram um pai e uma mãe! –Uma mulher gritava na frente do orfanato. –Elas fazem as regras aqui. Portanto se não quiserem ainda mais problemas, sumam daqui!

Sirenes de policias começaram a surgir no fundo da gritaria. E logo o protesto se dissipou.

Mas meus pés não se moviam. Eu estava em choque. Como alguém que eu não conhecia podia saber dos meus pais, e podia falar comigo daquele jeito? E pior... Ela tinha me beijado!

–Ei! Qual seu nome? Como sabe quem são meus pais? –Segurei o braço da adolescente sem medo.

Ela dirigiu um olhar magoado para mim. E tentou se livrar, mas eu a segurei como pude e acabei segurando seus cotovelos. Balancei-a levemente e perguntei de novo.

–Seus pais conheciam a minha mãe! Eles eram amigos e minha mãe ajudou eles adotarem você! Dois anos depois minha mãe faleceu e eles continuaram a amar ela como sempre! Mesmo depois de tudo que eles fizeram por nós, tudo que eles têm nos braços é uma filha ingrata! Que não vê o sonho deles! –Algumas lágrimas caiam de seus olhos e escorriam pela expressão raivosa.

Pisquei algumas vezes, incrédula do que tinha ouvido.

Eu não a conhecia! E aquela garota falava absurdos. “Filha ingrata?!”

Tentei manter-me calma, mas meus punhos fechados tremiam sobre o braço dela. Percebi que estava machucando, e consegui respirar fundo e soltar seu braço.

Me afastei alguns centímetros e abaixei o rosto:

–Eu... Eu faço isso pelas crianças. Para que elas não sofram como eu sofri... Desculpe. Pela violência. E por tudo que o protesto causou... Eu só...

Senti uma forte dor no rosto. A garota tinha acertado meu rosto com um tapa.

–Yuu e Elizabeth são as fundadoras do orfanato. Ambas tiveram duas mães. Não sofreram por serem filhas de homossexuais, e sim por que a morte levou suas mães amadas. Alem disso, seus lábios não parecem ter desgostado de meu beijo.

O rosto mostrou um sorriso malicioso. Levemente, senti seus dedos tocarem minha boca.

Ela estava certa. Meus lábios tinham se acomodado perfeitamente contra os dela. E isso era assustadoramente inédito para mim. Se sentir bem com uma pessoa de mesmo sexo.

–Mariana. –Sorriu. –Mariana Luppe. Se me lembro bem... Você é Bruna Daniels.

O clima parecia ter mudado. Num momento, eu queria destruir as palavras que aquela garota jogou contra mim. E no outro, eu me agarrava inconscientemente na voz doce de Mariana.

–Mari! –A ruivinha correu até nós e se agarrou na barra do vestido branco e verde. –Os homens malvados foram embora, Mari! Obrigada por proteger nossa casa...

–Yuu-chan... Queria apresentar pra você. –Pegou a menor no colo e olhou para mim. –Essa é a Bruna. Ela acha que as crianças do orfanato vão sofrer se tiverem duas mamães ou dois papais. O que você diria a ela, Yuu-chan?

Vi as bochechas da ruiva inflarem. Por uns segundos, ela até mesmo virou o rosto e se recusou a olhar para mim.

Mariana tentou convencê-la a virar e falar honestamente comigo, mas isso só deu motivo para a pequena descer do colo dela e correr para o orfanato.

Ficamos um tempo em silencio, sem saber o que fazer, o que falar... Mas não demorou muito, e a pequena Yuu voltou de mãos dadas com uma loirinha. Elas eram lindas, mas no olhar de ambas, uma tristeza profunda pairava.

Andaram até nós e Yuu começou a falar:

–Eu e a Lizzy tivemos duas mamães. Mas antes tínhamos um papai. –Do bolso do pequeno vestido, ela tirou uma corrente com um pingente que abria. –Nossas mamães nos trataram bem melhor do que nossos pais. Elas nunca abandonaram a gente...

Entregou para mim o colar.

Quando eu o abri, haviam duas fotos. Julguei que seriam suas mães. Eram jovens e sorriam.

–Mas... –A loira começou, com a voz baixa. –Elas se foram. Não por vontade própria, como nossos pais. A morte levou-as...

Após dizer isso, nos grandes pares de olhos verdes, as duas começaram a chorar, silenciosamente.

Como eu podia ter feito aquilo? Tudo que eu queria era proteger as crianças... Mas naquele momento, eu as fiz dizer palavras tão cruéis. Eu as fiz sofrer.

E com aquelas lagrimas pude ver onde errava. Eu estava descarregando em inocentes, minhas mágoas.

–Me... Me per... –Fui interrompida por um braço segurando o meu.

–Bruna, o que está fazendo? Esqueceu por que viemos aqui protestar? Pelo que fizeram para você, era tudo culpa deles... Vamos, o protesto vai seguir outro rumo hoje. A gente vai conseguir, certo?

Era Nate. Meu amigo. Um cara que tinha algum tipo de fixação por mim. Chegava a ser assustador, ás vezes. Ele parecia saber tudo de mim, mesmo tendo nos conhecido há apenas um ano.

Não dava.

Se eu dissesse a verdade, ia perder a única pessoa que não tinha nojo de mim.

–Claro, Nate. Já te acompanho. Por favor, vá na frente. –Bati levemente em seu ombro. –Só vou... Telefonar para os meus pais para avisar que não vou pra casa hoje. Não quero ter que falar com eles.

Nate deu ombros e seguiu caminho para onde o segundo grupo se arrumaria.

–Bruna, você não deveria... Já sabe que não é certo...

–Mas não é isso, Mariana! Eu não quero que elas sofram como eu sofri! Quero que ela saibam como é poder chegar em casa e conseguir olhar no rosto dos pais e dizer se está ou não tudo bem! Por isso... Eu tenho que fazer isso.

Dei as costas, mas antes que pudesse correr, os dedos firmes dela se prenderam aos meus.

–Já que não vai voltar para sua casa hoje, venha para o orfanato. Talvez passar uma noite aqui te ajude. –Suspirou e me deixou fugir as pressas.

Ela não era ninguém.

Simplesmente nem a conhecia. E ela tinha me virado de ponta cabeça. Tinha destruído meus pensamentos, minhas teorias. Em um instante ela me fez querer desistir de tudo e ao mesmo tempo não desistir nunca.

Como? Não sabia.

Apenas sabia que seria melhor não me aproximar mais.

Tomei caminho ao ponto de encontro do segundo grupo e seguimos com o protesto até a prefeitura. Depois de ter sido molhada pelo caminhão de água que levaram para dispersar o movimento, vi que não estávamos fazendo a diferença. Estávamos apenas atrapalhando.

Se não queríamos, bastava votar negativo quando fosse aberto a votação para aprovar a cerimônia.

Queria ir embora.

“Bruna, está tudo bem?”

A voz de James era firme. Ele estava preocupado comigo, ao ver que alguns policiais estavam usando violência contra uns protestantes. Mas estava tentando ser rígido para que eu aprendesse.

–Está sim. Liguei pra dizer que vou dormir fora hoje. Avise ao pa... Avise Hector que liguei.

“Filha... Por favor... Venha para casa. Não rejeite seu coração, meu bem. Vamos, Bruna... Você já tem 19 anos. Já tem a consciência de que o que aconteceu quando você tinha seis anos, foi porque algumas crianças não sabem o que dizem. Não guarde rancor... Vamos...”

–Não aconteceu quando eu tinha seis anos. Aconteceu durante seis anos, James. Agradeço por terem me adotado, por terem cuidado de mim. Mas... Não vou deixar que aconteça de novo.

Desliguei o celular sem medo.

Agora precisava de um lugar para ficar. Só que o destino começou a agir naquele momento.

Liguei para meus conhecidos, procurando um abrigo para passar a noite. Mas todas as minhas opções estavam falhando. Amigos viajando, com parente em casa, saindo com namorado... Até mesmo reformas.

Eu não tinha escolha.

Bati levemente na porta e poucos segundos depois, Mariana apareceu usando uma calça jeans e uma camisa de manga comprida.

–Chegou bem na hora. Eu estou indo para casa por hoje. Precisa ficar em algum lugar, certo? –Sorriu ao me ver sem palavras.

Não entendia aquela garota.

Ela era contra o que eu pensava, mas era gentil e não era fria comigo. Não sabia como, mas parecia que ela não queria me tratar mal, mesmo indo contra algo que ela era a favor.

Seguimos caminho para sua casa. Ficava perto. Apenas umas duas ou três quadras depois do orfanato estávamos diante uma pequena casinha. Pude julgar logo de cara que Mariana morava sozinha, pelo tamanho da casa.

–Desculpe incomodar... –Sussurrei quando entramos.

–Não se preocupe com isso. Eu a convidei. Venha, vou preparar seu cochão. –Chamou para o quarto dela.

Era arrumado e cheiroso.

Tinha uma pequena cama, um criado-mudo com um abajur, um armário e uma escrivaninha. De um outro cômodo ela puxou um cochão, lençol e cobertor. Colocou um travesseiro dela na minha cama e sorriu.

–Tcharam! Cama perfeita para nanar! –Fez uma graça pra quebrar o clima tenso, e sentou na cama que preparou para mim.

–Obrigada...

Sentei ao seu lado e ficamos em silencio.

Era horrível. Então ela se levantou e começou a cantarolar e pegar roupas. Jogou uma muda delas em mim. O sorriso bobo era gentil, não havia por quê negar sua bondade.

Mariana simplesmente colocou o pijama e passou um creme nos braços e nas pernas. Segui seu exemplo, colocando a roupa que me dera.

Então voltamos para o silencio constrangedor.

–Bruna... –Ela puxou assunto. –O que aconteceu quando você era criança?

Abaixei o rosto, não queria falar sobre aquilo. Mas não conseguia achar uma desculpa para não dizer. Então comecei a contar de quando eu tinha quatro anos.

Todos os garotos e garotas da minha sala me maltratavam. Diziam, “olhe, a garotinha dos papais”, ou frases dizendo que éramos nojentos. Amava meus pais. Eles eram tudo que eu tinha. E eu os defendi. Até o meu aniversário de sete anos.

Fiz uma festinha na escola. Na hora do parabéns, quando me aproximei do bolo... Tinham destruído... Hector tinha preparado com carinho. Agora tinham coisas horríveis escritas com ketchup. Me mandavam sumir.

Eu estava irritada.

Gritei com todos. Defendi meus pais novamente.

E então me agrediram.

As professoras só riam de lado. Enquanto as meninas cortavam meu cabelo, e os meninos me acertaram com golpes infantis.

Me senti um lixo. As garotas ainda conseguiram olhar para mim e dizer, “agora você parece mais com seus queridos pais”.

Eu queria morrer.

Mas o pior foi voltar para casa. Quando James foi me buscar, ao me ver naquele estado, me perguntava o que havia acontecido. E eu não podia dizer.

Eu não podia dizer, que por ele amar outro homem tinham me machucado. Isso apenas machucaria nossa família.

Sei que se tivesse dito, Hector e James teriam pensado no melhor para mim, e iam acabar escondendo o amor que sentiam um pelo outro. E eu não queria isso. Eu apenas queria que parassem de pensar que éramos nojentos.

Daquele dia em diante não mais defendi meus pais. Deixei com que falassem. E com o tempo, percebi que não precisava mais ouvir desaforo.

–Você tem medo que mais alguém sofra como você sofreu... –Mariana concluiu em voz alta. –Mas... Já parou para pensar que você pode estar machucando pessoas indo nessas manifestações? Não vê que está ferindo seus pais?

–Claro que eu vejo isso! –Suspirei. –Mas pelo menos nenhuma menina do Time of Dreams vai sofrer como eu...

–Pare. Você fala de mais.

Assim que disse isso, os dedos leves de Bruna puxaram meu queixo.

Em segundos seus lábios estavam nos meus.

O cheiro do creme e o sabor de sua boca me deixaram paralisada. Eu me sentia fraca, e pelo meu corpo longos arrepios corriam.

Consegui voltar a mim quando sua língua tocou-me.

–Ei! –Empurrei seus ombros. –O que pensa que está fazendo?! Não nos conhecemos! Sua... Sua... Sua... Ah! Como ousa?!

–Hm... Você é interessante, Bruna. Só não entendo porque nega algo que seu corpo deseja? –Sua pequena mão deslizou de meus lábios até meu peito, parando para senti minha pulsação.

Tentei me afastar, mas meu corpo não se movia.

Eu parecia querer mais.

Os dedos delicados desceram por entre meus seios parando na linha da calça.

–Não se atreva... Mariana... Você não se atreveria a fazer isso... Nem ao menos sabe quem eu sou... Não me toque! –Apertei os olhos confiando que ela não o faria. –Eu não te dou a permissão para-

–Sabe como se faz alguém ficar quieto? –Deslizou os dedos para minha intimidade por cima do tecido fino do pijama. –Assim.

Num reflexo, meu corpo se curvou e a mão que eu mantinha em seu ombro tremeu apertando-a contra mim.

–Ah... Hn... –Senti seu dedo brincar com minhas reações, aproveitando do momento e registrando cada segundo, cada sensação. –Mari... Ah...

Sorriu vitoriosa.

Eu não era virgem. Na verdade era bem experiente no assunto. Mas o calor de seus dedos próximos a minha pele sensível me fazia reagir como uma novata. Isso me irritava, mas eu não conseguia afastá-la.

–Viu só? Você não consegue dizer nada...

–Não é... –Consegui dizer entre arfares, apertando meu rosto contra seu ombro.

–Ora, não é o suficiente? E se o gato comer sua língua e eu fizer assim...

Os dedos se infiltraram na calça e sua língua invadiu minha boca.

Estava confusa.

Precisava parar. Colocar ordem na mente bagunçada. Colocar juízo na minha cabeça e na daquela garota que me acariciava.

Consegui um segundo de descanso para respirar, e afastei a garota com ambas as mãos, conseguindo ficar de pé.

Me apoiei na escrivaninha e apontei o dedo para Mariana.

–O que pensa que está fazendo?! V... Você nem me conhece! Como pode... Como... –Senti minha voz tremer e ficar instável, prestes a sumir. Como se não devesse falar mais nada sobre aquele momento, e apenas o deixasse rolar.

–Simplesmente tive vontade... E você me atrai por algum motivo.

Pisquei duas vezes, mas antes que pudesse dizer algo, Mariana pulou para sua cama.

Me dirigi ao banheiro sentindo os olhos grudados nas minhas costas. Olhei-me no espelho e tomei conhecimento da minha aparência acabada. Meu cabelo, apesar de ser curto estava uma bagunça. Abaixo de meus olhos uma pesada olheira. E minhas sobrancelhas estavam franzidas.

Arrumei-me rapidamente e corri para de baixo das cobertas.

A luz já estava apagada e eu sentia vontade de esquecer das coisas só para dormir em paz.

Mas antes que eu pudesse dormir, ouvi um suspirar vindo da boca semiaberta de Mariana:

–Bruna...

–Hm? –Respondi me virando na cama. –Se for sobre... Sobre minha escolha sexual... Não pergunte...

Uma longa pausa se fez e então mais um suspiro escapou dos lábios rosados da garota. Não conseguia entendê-la. Como se sentir atraída por mim? Eu não fiz nada. Nada...

–Só queria dizer... Boa noite, Bruna.

E assim algumas semanas se passaram. Eu não ficava em casa para não magoar ainda mais meus pais e ia para a casa de Mariana.

Fugindo de Nate e de todos que me conheciam, passava algum tempo no orfanato. Conheci mais de Yuu e de Elizabeth. Elas eram incrivelmente educadas e gentis.

Até que passou se quase dois meses.

Eu voltava para casa algumas vezes ao dia, dava noticias aos meus pais dizendo que estava tudo bem, mas não ficava muito tempo e voltava para o orfanato e então para casa de Mariana.

–Bruna! Finalmente achei você! Pensei que tinha morrido em algum lugar aí! –Nate me abraçou.

Eu tinha ido ao supermercado com Mariana, comprar coisas para ela e para o orfanato. Não esperava encontrar com ele ali, mas o encontrei. Ou melhor, ele me encontrou.

–Ah... Desculpe não entrar em contato... Preciso mesmo de um tempo pra mim... –Inventei uma desculpa. –Não sei se vale mesmo a pena... Todos esses protestos...

–Bruna, por que você não me apresentou sua amiga? –Olhou maravilhado.

Suspirei e me dirigi a ele.

–Nate, essa é minha amiga, e é quem está me emprestando um teto para ficar, Mariana. Mari, esse é o meu amigo stalker Nate.

Após apresentá-los Nate cumprimentou-a de forma calorosa e isso fez com que um pequeno papel caísse de dentro do caderno que ela carregava nos braços.

Era uma foto.

Mariana com uns cinco anos e dois homens sorridentes de mãos dadas com ela.

Meu amigo se abaixou e perguntou quem era na foto. E então vi a garota hesitar na resposta. Infelizmente, Nate sempre foi rápido para entender as coisas que não eram ditas.

–Bruna! Vamos embora! Deixe ela aí! –Jogou a foto no rosto de Mariana. –Não tem nojo? Ela estava sorrindo enquanto você sofria com as brincadeiras estúpidas... Alem disso, por que você não está ficando em casa? Vamos, Bruna!

Indecisão.

Algumas lágrimas surgiram no olhar dela. Mas ela não me pararia. Virei-me para acompanhar os passos de Nate, mas senti a mão tremula de Mari segurando meu braço pela camisa.

–Não vá... –Sussurrou.

Não dava. Eu não conseguia dizer não a ela.

E pior...

Não conseguia me parar...

Peguei sua mão e a puxei correndo para longe de Nate. Corremos um bom tempo antes de chegarmos onde queria. Era um dos protestos contra o casamento homossexual.

Eu queria começar algo, onde os sentimentos dela começaram. No meio do calor de uma manifestação.

Não mais queria ser uma protestante...

–Por que estamos aqui? –Olhou irritada para mim.

–Por que? –Ri baixinho e envolvi sua cintura. –Você acabou de roubar algo meu... Você destruiu as vontades de um protestante... Não tem vergonha?

Era verdade. Eu queria me casar com a garota que conseguiu me mudar com um ato...

Com um beijo, Mari tinha me tirado do rumo. Tinha virado meu mundo ao contrário. Agora, eu esperava o dia inteiro somente para vê-la. E sabia que algo estava errado...

Eu estava amando-a.

Queria que ela me quisesse. Queria estar sempre com ela. Era doentio, o jeito que eu me sentia... Parecia um vicio, precisar de sua voz e carinho. Precisar dos puxões de orelha e do riso.

–Roubei algo seu? –Inocente, perguntou.

Deixei meus lábios se prenderem aos dela com cuidado.

–Roubou, sim. –Sorri vendo seu rosto corado. –Meu coração, Mari...

Deslizei um pequeno anel no dedo anelar dela, esperando que ela entendesse sem que eu precisasse dizer.

Com um simples beijo, em meio ao protesto que eu estava quando nos conhecemos, eu e ela nos tornamos algo que eu detestava. Nós nos tornamos cúmplices. Culpadas pelos nossos próprios erros e orgulhosas pelos pequenos passos.

Com um beijo doce e cálido, Mari me tirou do eixo.

E por causa deste beijo... Não podia mais ir contra o que me era de desejo...

E meu desejo... Era ter mais e mais daquele beijo.


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Notas finais do capítulo

É isso aew~ ♥
Espero que tenham gostado, e essa foi uma One-Shot ligada um pouquinho com Estranhamente Perfeita.

Não esqueçam de comentar, favoritar, recomenda, reclamar, falar pra tia da cantina~ ♥
Beijinho~