Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 26
Capítulo 26 - Céu nublado


Notas iniciais do capítulo

Chegou o momento pelo que vocês esperaram a fanfic inteira! Depois de 25 capítulos que demoraram anos para serem postados, veremos quem serão os primeiros a morrer.

Lembrem-se de que acabou o ciclo de POVs, então um personagem pode demorar vinte capítulos para ter seu POV, enquanto outro tem um a cada capítulo. Isso não significa absolutamente nada sobre quem vai vencer ou perder.

Tenho uma novidade: em todo capítulo teremos um placar (esse desenho que vocês veem logo abaixo), com o desenho de cada tributo (convenhamos, estão melhores do que os desenhos da Colheita). Vocês vão poder acompanhar quem está vivo e quem está morto sem se esquecer de ninguém. Lembre-se, o placar mostra os tributos vivos até a primeira frase do capítulo.

Então é isso, espero que aproveitem e torçam para que o tributo que você gosta não morra (se bem que isso não vai adiantar de nada).



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Elizabeth Maryan Lopes – 7

Dez.

Haviam feito de propósito, haviam colocado os arcos longe dela. A boca do Chifre de Aqueloo estava totalmente virada contra ela. Mas poderia ver quatro aljavas próximas à entrada. Os arcos não deveriam estar longe. Provavelmente havia apenas quatro também, apesar de mais de cinco tributos usarem essa arma. Liza tinha que conseguir um, a qualquer custo.

George estava à sua esquerda e Jason à direita. Seu aliado e seu irmão. Era bom que eles não corressem mais rápido do que ela, ou Liza os empurraria.

Sete.

Elizabeth olhou para a estátua de mármore atrás de si por uma última vez. Seu pai mantinha a aparência jovial, mas usava uma toga curta ao invés de camiseta e jeans. Ele empunhava um arco.

Atrás dele, em algumas colunas do templo, encontravam-se alguns canhões de luz. Ainda era tarde, mas as nuvens escuras no céu bloqueavam o sol. Aquele banho de sangue seria transmitido na TV, então precisavam de uma boa iluminação. Mas o que mais chamava a atenção eram as figuras empoleiradas nas colunas: harpias. Uma delas, de penas douradas, observava Liza como um abutre. Elas estavam quietas, esperando um sinal.

Três.

Pôs-se em posição de largada. Seu cabelo estava trançado e amarrado como um rabo de cavalo alto, não iria atrapalhar. Notou que poucos tributos estavam preparando-se para correr imediatamente para a Cornucópia. A irmã de George, Annye, o garoto de Hermes... Ela deveria ser mais rápida do que todos eles.

Um.

Inspirou uma última vez, quando expirasse seria para correr.

Zero.

Elizabeth avançou rumo ao chifre dourado muito rápido. Seus ouvidos ouviram uma sirene e grasnados de harpias levantando voo, mas seus olhos não tinham tempo para acompanhá-las. Ela havia saído primeiro, na frente de todos. Iria ser a primeira a pegar o arco. Depois encontraria George e Rosalya e fugiriam para a floresta.

Foi então que um instinto levantou seus olhos para o céu cinzento a ponto de ver harpias voando em círculo e um clarão irradiando o céu. Um clarão que vinha das nuvens escuras. Na direção da Cornucópia.

Olhou para a parede dourada da Cornucópia antes que ela brilhasse com a corrente elétrica. O trovão foi instantâneo e Liza não soube se seu corpo foi jogado pela energia ou pelo som. Ela rolou pelo chão liso do templo, tremendo. Seu corpo estava prestes a explodir.

Seu coração parecia estar entrando em colapso. Elizabeth tremia incontrolavelmente. Ela deveria abrir os olhos, correr antes que alguém a matasse, mas seu corpo não respondia, ela não acordava. Sentiu o pé de alguém passando sobre suas costelas, mas aquela dor não era nada naquele momento.

Seu corpo ficou inconsciente, as tentativas de se levantar eram em vão. Mas seu cérebro ainda lutava para acordar, ela não desistiria.

Mayline Aoki Castleglass – 9

Mac ainda estava em sua plataforma quando o raio atingiu a Cornucópia. Enquanto as mulheres aladas circulavam o templo com suas asas enormes, os tributos hesitavam em entrar no chifre. Uma garota havia sido atingida e seu corpo estava estendido no chão branco. Um aliado corria para tentar acordá-la. Provavelmente estava morta.

Este é o primeiro dia, o dia de Zeus.

A voz ecoou pelos céus. Pertencia a uma mulher, uma mulher sem qualquer emoção, como um computador.

Philipe continuava em sua plataforma também, tremendo.

– Philipe – Mayline gritou em meio aos trovões e aos pios – procure Damon, eu e Callista encontraremos vocês em breve. Vá, agora!

O garoto saiu correndo por entre as estátuas. Ele iria se virar. Mac também correu, mas seu objetivo era o chifre dourado.

Alguns tributos também haviam arriscado entrar na Cornucópia apesar do perigo de serem eletrocutados. Poucos na verdade.

Mac passou pelo filho de Apolo, pelo garoto de Dioniso. Nenhum estava interessado em matá-la, graças aos deuses.

Entrou no Chifre de Aqueloo. Ele estava recheado de suprimentos. Ela não sabia o que escolher, mas deveria lembrar de que não estava em um supermercado. Pegou duas mochilas e um facão. Antes de sair ainda pegou uma zarabatana para Philipe, ele iria gostar.

Ao sair, viu uma garota de preto que corria dez metros à sua frente. Callista. Ela levava apenas uma mochila e uma espécie de maleta. Não iria gritar por ela, não iria atrasá-la, apenas segui-la. Deveriam encontrar os meninos.

Então algo pulou sobre ela. Alguém.

Mac institivamente socou seu oponente com o cabo de sua arma antes que ele a derrubasse. Era uma garota, a filha de Atena. Mayline chutou seu peito, mas isso não a impediu de avançar sobre ela com uma faca menor.

– Aonde vai com essa cesta, Chapeuzinho? – a garota loira riu enquanto colocava as mãos ao redor de seu pescoço, tirando-a o oxigênio. Mac sentia seu sangue deixando de circular – Vai levá-la para a vovozinha ou para o veadinho do seu irmão?

Mac reuniu forças para chutar entre as pernas da garota. Isso rendeu a ela um urro de dor, mas tirou a arma das mãos da filha de Hefesto. A garota de Atena pegou sua faca.

– Devolva-me, sua... – Mac arquejou, mas a garota de cinza, segurando o facão socou-a no queixo.

O que era aparentemente um golpe, tornou-se ardência e agonia. A garota cortara sua garganta. O sangue invadia a traqueia de Mayline e ela arregalava os olhos. Logo soltava sangue pela boca e tremia, buscando ar, buscando não perder sangue.

Seus olhos lacrimejavam, mas ainda conseguia ver a figura da garota de Atena com as mãos sujas de sangue. Olhou para o céu e uma harpia cor de fogo voava em círculos sobre ela.

Antes de morrer, Mac ouviu um pio.

Leah Henderson – 11

Leah e John haviam se perdido de Reyna e Jason. Não tinham tempo de encontrá-los em meio a raios, mortes e confusão.

Eles haviam conseguido apenas uma pequena bolsa e uma espada árabe. John não sabia manuseá-la, mas deveria servir.

Eles estavam prestes a sair do templo, mas Leah ousou olhar para trás. O sangue de alguém se espalhava pelo chão. Uma harpia piava incansavelmente, enquanto voava ao redor do corpo.

Então seus olhos encontraram os de Hannah.

– Corra, John – Leah gritou.

Os pés de ambos saíram do piso de mármore e alcançaram a grama alta. O templo encontrava-se no topo de uma colina íngreme, então eles deveriam descê-la com cuidado.

– Leah! – a voz da filha de Ares chamou por ela – Volte! Tenho algo para acertar com você.

– Não ouça-a, Leah – John corria na frente dela, mas sua voz era audível.

– Vocês sabem que não podem correr por muito tempo. É melhor resolverem isso logo.

– Certo – Leah parou e voltou-se para a garota que um dia abandonara. John ao perceber que a irmã tinha parado de correr parou também – Vamos terminar logo com isso.

– Leah, não desista – John disse atrás dela. Leah o ignorou.

Hannah era nova e pequena, mas tinha forças para correr rápido e segurar dois machados ao mesmo tempo. Seu moletom era vermelho como suas mechas e seu cabelo estava amarrado em dois coques, como se ela fosse um ursinho. Sua pele morena suava e seus olhos puxados a encaravam com ira.

– Me mate, Hannah e vá caçar outros tributos. Apenas deixe meu irmão em paz.

– Parece que você está progredindo, Leah – disse a outra semideusa – Não está fugindo, pelo contrário, está enfrentando o monstro e protegendo a quem ama.

Leah lembrou-se de seu sonho, o rosto da filha de Ares rugindo.

– As pessoas podem mudar, Hannah – Leah olhou para cima, em direção ao seu rosto, estavam a cinco metros de distância uma da outra – Elas podem se arrepender. Podem ser perdoadas.

– Anos de medo e solidão não podem ser apagados com um bilhete de desculpas. Podem ser apagados com sangue.

– Então vá em frente, mostre o quão sanguinária você é, garotinha. Sei que no fundo ainda treme de medo, ainda cobre os pés à noite com medo da quimera vir pegar você.

– Cale essa maldita boca! – Hannah levantou um machado, prestes a arremessá-lo.

– Leah, pare – John gritou atrás dela, Leah mais uma vez o ignorou.

– Vá em frente durona, mostre que você não é covarde e atire esse maldito machado em mim.

Hannah soltou um grito agudo e voraz ao mesmo tempo enquanto o machado girava, o cabo de madeira bem lixada, a lâmina brilhante bem afiada.

Leah fechou os olhos, esperando o impacto. Ouviu a lâmina se alojando, o murmúrio de dor, o baque do corpo no chão. Mas não sentiu nada, ainda estava viva.

Abriu os olhos, virando-se para trás a tempo de ver John vomitar sangue antes de cair para trás. O machado estava fincado em suas costelas.

– Não errei de propósito – Hannah disse, quase sussurrando – Meu outro machado é para você, mas você não o receberá agora.

A filha de Ares virou-se e voltou para o templo. Leah estava muda, trêmula. Seu cérebro mandou suas pernas correrem atrás dela para depois esganá-la. Mas seus membros inferiores não se moveram, apenas fraquejaram e caíram na grama.

John não falou nada, não se despediu. Seus olhos apenas lacrimejavam. Leah passou a mão trêmula por seus cabelos pretos, por seu rosto sardento. O irmão que tanto queria protegê-la estava morto. Leah chorou alto, não se importando se algum outro tributo a escutasse e viesse matá-la.

Antes de se levantar, ouviu um pio.

Elizabeth Maryan Lopes – 7

Liza não pisava no chão, mas se movia. Liza ouvia batimentos cardíacos, mas não eram os seus.

Acordou com uma gota d’água na testa. Sentiu o vento balançando as folhas. Olhou para a direita e encontrou um número 6 bordado em um moletom cinza. George estava carregando-a. Além de seus passos, ouviu os de mais alguém, provavelmente Rosalya.

– Pode me colocar no chão – Liza balbuciou – Já acordei.

– Liza, você foi atingida por um raio! – George olhou para baixo, para seu rosto. Seu cabelo loiro já estava bagunçado – Mas se quiser andar por si só, não tem problema.

Elizabeth cambaleou antes de conseguir se equilibrar no chão da floresta.

Um pio ecoou.

– O segundo morto – Rosalya disse. Ela carregava uma pesada mochila nas costas e uma outra bolsa a tiracolo. Não parecia ter conseguido um arco – Parece que cada tributo tem uma harpia. Elas piam quando um vem a falecer.

– Rosalya... – Liza chamou, a voz ainda rouca.

– Não, não consegui nenhum arco, apenas adagas.

– Posso ficar com uma?

– Pode, achei que você iria querer.

O cabo era de um marrom escuro, quase vermelho. A lâmina curta de bronze celestial era triangular.

Os três andaram por mais algumas centenas de metros até pararem em um local com árvores não muito altas, mas a céu aberto. Podia-se notar uma mata densa trinta metros depois. Gotas de chuva começaram a cair.

Rosalya retirou um grande cobertor da mochila que carregava. Ele era impermeável, então iria servir como uma barraca.

– Vamos ficar parecidos com corpos cobertos depois de um acidente – Liza riu, apesar de aquilo não ser muito engraçado.

Um trovão ribombou, chamando a atenção para o céu noturno.

– Não quero pegar uma gripe logo no primeiro dia – alegou George, deitando-se no chão e cobrindo-se.

Rosalya concordou, fazendo o mesmo, ficando entre Liza e o garoto. Elizabeth preparou-se para fazer o mesmo, até que um movimento surpreendeu-a. A mata havia se agitado.

– Esperem, acho que tem alguém aqui – Liza levantou-se, segurando sua adaga.

– Lizzy, não se preocupe – disse George – Pode ser apenas um animal.

– Pode ser alguém nos espionando – Elizabeth andou até a mata que remexia-se.

Seu cabelo antes chamuscado pelo raio na Cornucópia agora estava úmido. A trança ainda resistia. Colocou o capuz do moletom amarelo sobre a cabeça.

A terra agora afundava quando as botas de Liza tocavam o solo. Podia ouvir as preocupações de George, ele era idiota demais para ficar calado. Tocou a primeira folha da mata, os movimentos tornaram-se mais intensos. Andou até que estivesse rodeada de galhos mais altos que seus olhos. O chão era repleto de cipós caídos, esperando pés desprecavidos para se enroscarem.

Com uma mão Elizabeth afastava os galhos, a direita apertava fortemente o cabo da adaga triangular. Então ela olhou para o chão e viu pés que não eram os seus. Pés que se debatiam.

– Por favor, não me mate! – o garoto remexia-se enquanto tentava se livrar dos cipós. Usava um moletom verde, era o filho de Deméter – Eu me perdi da minha aliança e aí corri para... Olha, eu aceito me aliar a você, a servir você no que você quiser! Só não me mate.

– Fique quieto! – A mão direita de Liza tremia. Ela não iria matar o garoto, mas não conseguia largar a arma – Deixe-me ajudar você.

Sua mão hesitou antes de tentar desamarrar os cipós. Aquele garoto poderia estar blefando. Ele parecia idiota com seu cabelo cor de palha e seus lábios rosados, mas aquela poderia ser sua estratégia. Olhou para ele mais uma vez antes de ter certeza de que poderia confiar nele. Suas mãos seguravam um grande instrumento. Um arco.

– Você... conseguiu um arco – Liza falou, quase com água na boca.

– Sim, a única coisa que consegui. Estou sem comida, sem ferramentas, então por...

No primeiro momento, Elizabeth pensou que a arma tinha voado sozinha para o peito do filho de Deméter. Mas não. Ela o atacara. Ela faria qualquer coisa por um arco, até mesmo matar. Os olhos aflitos do garoto eram azuis e grandes. Ele não conseguia dizer nada, apenas tremer mais ainda. Tremer até morrer.

Liza ouviu o guincho de uma harpia.

A chuva estava forte, então o sangue do filho de Deméter foi rapidamente varrido de sua boca. O arco que ele conseguira era bonito, de madeira envernizada, curvilíneo. Elizabeth afastou os dedos brancos do garoto, roubando-lhe a arma. Roubando de um morto. Morto por ela.

Virou o corpo do menino loiro para desprender a aljava de suas costas. Com a flecha que caíra acidentalmente no chão, ela continha dez setas de madeira escura e penas brancas.

– Lizzy! – George gritou em meio aos trovões.

Elizabeth apressou-se em tirar a adaga do corpo do garoto e limpá-la em seu moletom. Passou a alça da aljava sobre os ombros e segurou seu arco. Seu arco.

– Já vou! Estou bem – ela abriu caminho pela mata até encontrar o acampamento improvisado – Olhem o que eu encontrei!

– Pensamos que o pio havia sido da sua harpia, mas você está sã – Rosalya sorriu – Mas parece que estão apenas pedindo desculpas por tostarem-na.

Liza abriu um sorriso sem graça e olhou para o céu escuro. Um raio incandescente foi de encontrou ao templo mais uma vez. O clarão serviu para notar uma harpia cruzando o céu.

– Agora vamos dormir, eu começo a vigia – o filho de Atena sentou-se.

Rosalya e Elizabeth deitaram-se uma ao lado da outra, o cobertor sobre suas costas. A filha de Apolo abraçava sua arma como se fosse um ursinho de pelúcia.

Fechava os olhos, mas as imagens claras do raio e dos olhos azuis do garoto morto por ela não a deixavam dormir.


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Notas finais do capítulo

Então é isso. Lamento por termos apenas três mortos no primeiro dia, mas amo muito os personagens dessa fanfic para permitir um verdadeiro banho de sangue