Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 10
Capítulo 10 - Espelho trincado


Notas iniciais do capítulo

EU TENHO 101 REVIEWSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS. Obrigado a vocês meus leitores legais e bonitos e tudo mais, muito obrigado mesmo. Faltam apenas três para encerrarmos as colheitas, vamos que vamos!



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Se seriam sorteados para a morte, os filhos de Afrodite o seriam com estilo.

Nuvens de blush, perfume e spray de cabelo preenchiam o chalé. O cheiro de gel competia com o de chapinha e em poucas horas os reis e rainhas da beleza estavam impecáveis. O lugar estava limpo e bem arrumado assim como seus ocupantes.

Por que tanta arrumação? Afinal, dois deles iriam sair e com muita sorte apenas um retornaria. Seria uma ocasião para tantos preparativos? A resposta era simples: os filhos da deusa do amor queriam parecer fortes. Campistas do Chalé 10 sempre foram taxados de frágeis e fúteis, característica não muito útil para uma batalha sangrenta. Essa era a forma que eles tinham de mostrar ao Acampamento que “ah, estamos muito bem, melhor até que os filhos de Ares quem sabe?”.

Drew Tanaka foi eleita mentora do casal de tributos do Chalé 10. Mesmo após a confusão com Piper McLean, atual conselheira, porém ausente, ela fora considerada a mais experiente e sábia para lidar com aquela situação – na maioria das vezes pela própria Drew.

– Tiffany, guarde essas meias, não quero ver nada fora dos seus baús – Drew ordenou.

Sua maquiagem estava no mínimo chamativa: cílios postiços pink além do cabelos cacheados artificialmente. Para dar um toque nude*, um brilho labial com pouco glitter. Discreta.

– Ei garoto! – chamou Drew – você não acha que já poliu muito esses vasos? Você ainda nem tirou sua sobrancelha!

– Desculpe. Força do hábito. Ainda não desacostumei do meu antigo emprego. E acho que não preciso aparar as sobrancelhas.

– T-tudo bem. Você não está mais no Rio, sendo um garçom. Você está em casa agora – Drew percebeu o tom doce que ela estava tomando e tratou logo de recompor sua pose autoritária – Agora trate de fazer outra coisa! E você deve sim tirar as sobrancelhas, A... Al... Qual seu nome mesmo?

– Alan.

Drew saiu, encerrando a conversa. Alan riu mentalmente. Preferiu apenas respirar fundo e dobrar as mangas da camisa social azul listrada. Casa. Era estranho chamar tudo aquilo de casa. Sempre fora acostumado a viver sozinho com o pai, sem mãe, sem irmãos. Agora a ideia de que todos ali nasceram da mesma mãe era mais do que tudo, assustadora. E todos sendo extremamente diferentes. Drew por exemplo era asiática, enquanto Alan tinha a pele da cor de chocolate. Havia loiros, ruivos, indígenas... essa tal Afrodite conheceu caras bem diferentes.

– Ele chegou! – alguém parado à porta exclamou. Todos logo trataram de sentar-se em cadeiras ou em camas. Drew pôs-se em pé entre dois baús de mogno com fivelas douradas e abriu seu melhor sorriso.

O homem entrou e logo garotas e alguns garotos soltaram suspiros. Com aparentemente vinte e cinco anos, tinha os cabelos loiros levemente acobreados, olhos verdes e trajava uma camisa xadrez vermelha. Tinha um grande jeito de garoto e de homem ao mesmo tempo.

– Oi pessoal – ele sorriu – Uau, vocês estão mesmo bem arrumados. Haha, me sinto como se estivesse em uma festa e que não vim a caráter – ele passou a mão pelos cachos louros. Uma das garotas sussurrou o quanto ele era gato – a propósito, eu sou Adônis. Vocês já devem ter ouvido falar de mim por aí e...

– E o quanto mamãe gostava de você – exclamou uma garotinha – Nós sabemos que vocês eram namoradinhos. E que tia Perséfone brigava com a mamãe por você.

– Sério? – Adônis corou. Era tão estranho estar frente a frente com os filhos da deusa que ele amava. O jovem pensou que ajudar dois deles deixaria Afrodite feliz. – Vamos ao sorteio, sim? Uau, belos baús, quem foi o autor disto?

– A confecção dos baús foi um grande trabalho em família, meu querido Adônis – mentiu Drew, piscando os olhos revestidos de pink. Na verdade eram apenas portas-trecos semelhantes a tantos outros do Chalé 10 que agora serviam para acomodar pequenos pergaminhos enlaçados com fitas.

– Começarei agora o sorteio. Hm, senhorita, Quíron me instruiu a respeito da cerimônia e tal, mas esqueci-me por onde começo.

– Você deve começar a sortear pelas garotas, querido – sorriu Drew apontando para o baú da direita. Adônis abriu-o, desfez o pequeno laço cor-de-rosa e desenrolou o papel.

– O tributo feminino do Chalé 10 é... Valentina Fontaine.

– Ah droga! – Valentina levantou-se abruptamente. Trajava um vestido tomara-que-caia rodado até a altura dos joelhos, estampado com vários morangos. Os cabelos estavam presos em um coque por uma presilha no formato da mesma fruta. A bela vestimenta não combinava em nada com seu rosto de espanto.

Valentina reprimiu as lágrimas, reprimiu qualquer outra coisa que a fizesse desabar, como berros e xingamentos. Porque 1. Todo aquele rímel , batom e sombra se iriam, e ela teve muito trabalho para fazer tudo aquilo; 2. Ela não queria parecer fraca.

Todos aqueles anos, seja na escola, seja nas festas da empresa do pai, ela sempre ouvia coisas do tipo “Olhe a Patricinha Fontaine” ou “É herdeira das empresas Fontaine, não tem com o que se preocupar”. Valentina sentia como se ser filha do dono de uma empresa de cosméticos fosse pior do que ser um bandido ou um desempregado. As pessoas não davam crédito a ela, tratavam-na como se não fosse capaz e que necessitava de ajuda para tudo.

Dirigiu-se até Adônis. Ele era bonito como... como seu professor de matemática. Antes de ele mostrar-se um ciclope e tentar matá-la. Ela lembrava-se claramente deste dia: o dia em que descobriu que era capaz. Capaz de derrotar um monstro de dois metros e meio de altura. Talvez ela também fosse capaz de lutar nos Jogos. Capaz de matar pessoas.

– Senhorita Fontaine, desejo que Tique esteja ao seu lado nos Jogos – Adônis estendeu a mão – Belo cabelo ruivo.

– Me chame apenas de Valentina, por favor. E na verdade ele é loiro-morango – ela abriu o sorriso mais simpático que pôde.

– Sim, sim, Valentina. Vamos saber agora seu parceiro, hm? – Adônis retirou um papel enrolado por uma fita azul. Cada garoto estava pálido de medo. Uns folgavam a gravata, engolindo em seco. Outros roíam as unhas pintadas e choravam como garotinhas.

Ah, por favor, esses frangotes não vão durar um segundo – sussurrou Alan – Eu me voluntario!

Drew arregalou os olhos. O lustrador, pensou ela.

Alan ajeitou as mangas da camisa azul e andou confiante até o lado esquerdo de Adônis. O homem devolveu o papel semiaberto ao baú e perguntou o nome do garoto

– Sou Alan Wesley – respondeu ele pela segunda vez naquele dia.

– Muito corajoso você Alan. Garanto que não só sua mãe e eu, mas todos os seus irmãos estão orgulhosos de vocês.

– E agradecidos também – Alan deu um risinho sarcástico.

– Agora peço a vocês dois, Valentina e Alan, que apertem as mãos para finalizar a cerimônia.

Alan e Valentina se olharam. Conheciam-se de longe por causa de Silena. Ah, Silena! Como ela iria reagir àquilo tudo? Eles deram os braços um no outro e levantaram para o alto.

Os braços entrelaçados pareciam um cisne branco e um negro que se completavam sobre as águas tranquilas de um córrego.


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Notas finais do capítulo

Até os reviews!

*nude: termo utilizado por maquiadores e modistas para caracterizar algo discreto, porém bonito.