CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Último Resquício de Humanidade


Notas iniciais do capítulo

É nesse capítulo que eu me inspirei para a imagem de capa da fanfiction. Espero que goste da primeira demonstração de poderes. Eu amo esse capítulo! :3



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Nichollas levantou da cama correndo, pisou firme no chão e procurou qualquer roupa que estivesse no seu alcance. Trajou-as vorazmente e viu o primeiro raio de sol erguer-se no horizonte, alaranjado e luminoso. Colocou os tênis, pegou seu skate, jogou um blusão nas costas e saiu pela porta do quarto, temendo que aquela fosse a última vez que visse aquele lugar. Desceu lentamente pelas escadas de madeira, com medo de produzir algum barulho. Saiu pela porta da frente. Colocou o skate debaixo dos pés e seguiu pela rua, na descida. Nichollas conseguia ver o centro da cidade, conforme ia descendo a ladeira e ao mesmo tempo, mais longínquo via o rochedo no qual o seu sonho havia ocorrido. Sentiu uma sensação gélida tomar sua barriga. Remou no skate e tomou mais velocidade. Desviava-se das primeiras pessoas que saiam para trabalhar, dando remadas com o pé, para que o skate adquirisse mais velocidade. Arriscou algumas manobras, saltando alguns hidrantes ou então lixos nos cantos das calçadas.

O cheiro do café invadiu as narinas do jovem garoto, que sentiu a barriga roncar. Faziam horas que ele não comia nada, assim, era justifícável o mal humor que o tomou nos instantes seguintes.

O combinado era se encontrar no estádio Miller Park, conforme o primeiro raio da manhã tocasse a cidade. E Nichollas julgava-se atrasado e tinha a necessidade de contar para os anjos o sonho que tivera.

O jovem menino inclinou o corpo para efetuar uma curva na rua, passou entre os carros e logo estava nas redondezas do estádio Miller Park. Quando estava na avenida Frederick Miller Way, remou com intensidade e assim, pôde ver o estádio. Ele parou, deu um pisão no objeto, que logo saltou para a mão. Olhou ao redor, e notou um homem uniformizado que poderia-lhe barrar a entrada. Tentou não chamar a atenção, andou mais lentamente, temendo que o o segurança fosse lhe chutar para longe. Porém, o homem nada fez, apenas desviou o olhar de Nichollas, como se ele fosse um convidado bem conhecido. Passou pelo portão, jogou as coisas que estava trazendo e assim, estava caminhando pelos corredores, até chegar no gramado. Não havia ninguém ainda, e o teto estava todo fechado. Havia escuridão parcial pelo local e Nichollas fitou as arquibancadas. Estavam vazias. Voltou o olhar para o ponto que conseguira ver quando entrara e lá estava Angélica e Gabriel, imóveis, olhando-o.

─ Angélica... Gabriel... Eu... eu... eu tive um sonho essa noite, preciso contar. – disse ele.

Ele correu na direção dos anjos, procurando proteção. Ofegava. Contou todo o sonho, não esqueceu de nenhum detalhe, já que possuia memória eidética e os anjos o ouviram atentamente. Gabriel estava analisando o sonho, por isso adquirira uma expressão austera.

─ Você disse que viu um homem de cabelo preto, longo, olhos negros e o Belzebu na companhia dele? – questionou Gabriel.

─ Sim. Bem, estava escuro, não sei bem se os olhos dele eram pretos. – disse o menino, forçando a cabeça para lembrar.

─ Uhn... Irmão... sussurrou Gabriel, mas Nichollas o ouviu.- E o que mais você viu? O manto ondulando, mesmo sem vento?

─ Sim, sim, ondulava suavemente, mesmo sem vento ou alguém que o mexesse. – disse Nichollas, suando frio.

─ Pois é. Sabe com quem você sonhou? Lúcifer, a Estrela da Manhã. E ele está na sua cidade, atrás de você. E o manto ondulando só mostra que ele está poderoso o suficiente. O movimento das coisas ao redor, é o poder dele emanando. Digamos... Que ele está tão poderoso, que o poder não fica contido dentro dele e precisa vazar... Ele recuperou o avatar dele. – Gabriel sorriu. – Angélica, vamos nos preparar logo. Chame Miguel.

─ Espera! O que é avatar?

─ Avatar, Nick, é o corpo que os anjos ou antigos anjos utilizam para interagir na terra. A gente faz nossos avatares com a mesma aparência que temos no Céu. ─ Angélica sorriu brevemente.

A pedido de Gabriel, Angélica ia chamar um outro elemento para o estádio. Talvez tenha sido por isso, que ela arregaçou a manga da roupa e esticou o indicador sobre uma tatuagem. A tatuagem era uma pena. Porém, ela não o fez.

Do outro lado do estádio, um homem surgiu discretamente. Ele estava oculto pelas sombras.

─ Não será necessário, Angélica, minha cara Serafim. Eu, acidentalmente cheguei duas horas mais cedo, temendo o pior... – disse o homem, movendo-se suavemente.

Nichollas forçou a visão, para ver quem era. Pouco a pouco, o homem moveu-se na direção do trio, sem nenhuma expressão, e quando Nichollas conseguiu ver seu rosto com mais clareza, o coração congelou e um misto de sentimentos se apoderou do jovem. Ele pegou o skate e o colocou na frente de si.

─ Se você se aproximar, eu jogo em você. – disse o menino, cambaleando pra trás. – Angélica... É LÚCIFER! Olha! É ele!

─ Mas Nick... – disse Angélica.

Era tarde demais, o menino jogou o skate com tamanha força, que em poucos instantes o objeto já estava próximo do rosto do homem. Com maestria, o homem atacado desviou-se do objeto errante, quando este ameaçava quebrar-lhe o nariz. O skate caiu inocentemente na grama e quicou duas vezes, até ficar inerte. O homem analisou o jovem que corria, incrédulo, tentando traduzir aquela reação.

O homem recém chegado flexionou as pernas e pulou o mais alto que podia. Nichollas continuou a correr na direção da saída, os olhos fechados e já se acostumando com a ideia do fim da vida dele. Talvez já tivesse vivido o bastante. E ele sentiu os pés perderem o solo e o corpo flutuar. A morte era inevitável.

─ Entendo, entendo o que aconteceu. – disse o homem.

Gabriel e Angélica assistiam aquilo, esboçando sorrisos no rosto.

─ É a minha semelhança... Não te culpo. Nichollas, eu não sou Lúcifer, sou Miguel, guerreiro do senhor. – disse calmamente, olhando nos olhos do jovem. Miguel tinha olhos azuis, que emanavam calma. – Calma. Fique calmo, eu não vou te ferir, vou te proteger, irmão. – concluiu o anjo, apenas sorrindo.

Miguel soltou Nichollas carinhosamente no chão e o olhou por mais algum tempo, como se estudasse o jovem. Ele mexeu no cabelo, e só naquele instante que Nichollas percebera que os cabelos de Miguel eram totalmente diferentes dos de Lúcifer.

─ Como eu sou idiota... – disse Nichollas em um tom baixo. – Um tremendo retardado!

─ Não se culpe, Nick... – disse a Serafim, parando ao lado do menino. – Muitos o confundem com Lúcifer. – comentou ela, enquanto Miguel andava ao lado de Gabriel. – Eles se parecem demais. Mas ao mesmo tempo são totalmente diferentes. Miguel tem um sentimento paternal, ele é bom, guerreiro, ele entende as causas dos outros. Ele... Ajuda. Ele é um ser perfeito, uma criação bem feita. Uns dizem que ele personifica Deus, outros dizem que ele foi criado de um pedaço do coração e outro do cérebro de Deus. Eu acredito em tudo.

Nichollas ouviu, enquanto fitava Miguel e Gabriel.

─ Angélica...

─ Oi? – disse ela.

─ Será que eu farei bem, esse meu papel? Quero dizer... Será que eu serei tão bom quanto vocês? – disse ele, olhando no fundo dos olhos da Serafim.

─ Acho que não... – disse ela, sincera, deixando-o alarmado. – Acho que você será melhor. Eu acho que você tem tudo para mostrar para todos, que as coisas não são como são. Acho que você será melhor que nós... – disse a anja, andando para ajudar os outros dois.

Nichollas olhava os três anjos trabalhando, fazendo desenhos na terra. Gabriel abriu as asas, exibindo sua imponência e ergueu voo, na direção do teto retrátil. Forçou um dos lados com as próprias mãos nuas e a luz do sol, agora, entrava apenas por um círculo médio, descendo na forma de um tubo, na direção dos desenhos feitos na terra.

Angélica andou ao lado de Gabriel, até que ambos se postassem ao lado do jovem menino. Nichollas sentia um frio incomodo na barriga. Miguel juntou-se ao grupo e estava tão concentrado, que Nichollas pensava poder ouvir seus pensamentos berrando ordens, disciplina e dizeres, relembrando coisas.

─ Bem, Nick, espero que você esteja pronto para receber a bênção. – disse Miguel. – Você tem certeza de que quer isso?

─ Ele não pode mudar de ideia, Miguel... – contrapôs Gabriel, austero.

─ Mas é claro que pode... – retrucou Miguel, agora olhando diretamente para o irmão.

─ Miguel, temos ordens e devemos segui-las. – interrompeu Gabriel.

─ Mas ele continua humano, então ele goza do livre arbítrio. Não é obrigação dele nos ajudar a corrigir erros que nós comentos. Certo, – e Miguel lançou um olhar severo para o irmão, Nichollas percebeu. – Gabriel?

Gabriel apenas assentiu com a cabeça e olhou no fundo dos olhos de Nichollas. Suspirou. O menino olhou para os pés, respirou profundamente e sem pensar duas vezes, encaminhou-se na direção da luz e manteve-se imóvel. Espera alguma reação dos anjos.

─ Bem, Nick, a gente vai começar a lhe conceder a bênção. Observe atentamente os elementos que farão parte desse processo: a luz do sol simboliza sua colocação, como Anjo da Luz. Os símbolos desenhados na terra mostram suas origens como ser humano. E as palavras que serão cantadas por Miguel, lhe darão a colocação de Arcanjo. Entendeu?

O menino assentiu.

─ Então... – disse Miguel, se colocando próximo ao círculo. – Comecemos.


─ Acho que não, tolo irmão! – falou uma voz.

Parecia que emanava do solo, parecia que a voz vinha das paredes, ou do ar. Era retumbante. Nichollas sentiu as vibrações que o som causava tocarem sua pele. As paredes pareciam tremer ante presença malignam, que deixava a mente do menino confusa. Angélica e Gabriel já estavam com as asas expostas, espadas em punho, procurando pelo locutor da voz. Miguel pouco se moveu, apenas os olhos que iam e vinham, procurando o dono da voz, como se ele já soubesse seu dono. E então, lá no alto, na última fileira da arquibancada surgiu um trio. Nesse momento, Miguel abriu suas asas, que ergueram uma cortina de poeira ao seu redor. Sacou a espada da bainha, que surgiu em sua cintura e juntou-se aos dois companheiros anjos. Nichollas olhou mais uma vez para o alto e reconheceu dois dos elementos que vinham em sua direção. Um era Belzebu e o outro, tudo indicava ser, era Lúcifer.

Mas, misteriosamente, a atenção de Nichollas foi tomada pela mulher que acompanhava Lúcifer. Notava-se beleza no rosto da mulher, porém, notava-se também, um traço de maldade. Ela trazia nos lábios um sorriso de puro escárnio, os olhos tomados por maldade. O trio que a pouco surgira descia as escadas como se deslizasse pelos degraus; os elementos eram graciosos, porém, possuíam asas feitas de couro negro, com garras, muito diferente das dos anjos. Estavam próximos do fim da escadaria, quando Lúcifer, mais alto do que Nichollas imaginava, ergueu o braço, derretendo o cimento que formava o muro de separação do campo da arquibancada. Aonde pisaram, a grama passou a mudar, o verde pouco a pouco ia sumindo e virando marrom, tornando o gramado seco e quebradiço. O olhar insolente de Lúcifer varreu o trio que já estava armado e com prazer, ele sorriu abertamente. Depois, os olhos correram para Nichollas e ele juntou as sobrancelhas, fitando-o.

─ Não se preocupe, menino. – disse Miguel, ficando na frente do garoto. – Nós estamos aqui.

─ Eu acho... – começou o homem do manto. – Que meu convite, para essa reunião familiar, extraviou nos correios. Espero, realmente, que essa seja sua desculpa, tolo irmão.

─ Lúcifer, você não é bobo. Sabes que aqui, sua presença não é bem vinda. – disse Miguel. Apertava tão firmemente o punho de sua espada, que os nós dos dedos já estavam brancos. – Parta agora. O que acontece aqui não é da conta de nenhum demônio. Faz tempo desde que você perdeu sua majestade!

Belzebu bufou e do nariz voou uma pequena mosca, que dançou voando no ar e se escondeu nas roupas do demônio. A mulher que acompanhava o trio ficou imóvel, quieta. Estava numa impecável posição, sexy e ameaçadora. O sorriso no rosto não se modificou e olhar intenso dirigido para Angélica, mostrava que ela já havia escolhido a presa que iria atacar, caso um embate acontecesse ali.

─ Então essa é a escória de barro escolhida? – um riso incontido saiu da boca de Lúcifer. – Tão poderosa, porém, apresenta fragilidade. Ele vai morrer... – completou.

Nichollas sentiu as pernas tremendo. Não sabia se expelia o que havia comido – ou seja, nada – ou se mostrava-se forte. Ele olhou para os olhos de Lúcifer, mas tudo o que via era trevas, que emanavam das fendas, onde deveriam estar os globos oculares. O Arcanjo Desertor sorriu abertamente para o menino, brincando com ele. Lúcifer sabia que poderia muito bem destruir o bom senso do jovem garoto, mas ele queria tê-lo em mãos são, já que seria mais interessante torturá-lo dessa forma, ao ver dele.

─ Lúcifer, parta, agora! – disse Angélica, em bom som, firme e com a espada a frente do corpo. – Agora!

Lúcifer caminhou na direção do trio de anjos, deixando os próprios companheiros para trás. Os cabelos negros vinham severamente escovados e amarrados na trança atrás da cabeça. Não carregava arma alguma, porém, emanava respeito e poder, Nichollas sentia isso e era sensível a essa sensação. Estava arrepiado à mera presença do Arcanjo Sombrio. O manto vinha ondulando logo atrás, e Nichollas olhou atentamente. O manto não fora produzido e tecido com um simples tecido: era um tecido negro, que quando olhado mais atentamente, podia-se notar feições humanas estampado nele, feições que se agonizavam em dor. E quanto mais próximo o Príncipe das Trevas estava, mais audíveis eram os gritos e murmúrios de dor das almas que formavam o manto maldito.

─ Aquilo são... almas? – perguntou Nichollas para quem quisesse responder.

─ Sim. – respondeu Gabriel. – Dizem que são as almas que Lúcifer mais gosta, de pessoas importantes, que fazem parte da história humana, porém, que foram corrompidas. Ele gosta de torná-las demônios para... servi-lo como ele bem entende.

Nichollas engoliu em seco.

─ Escute bem, Serafim. Fui expulso dos céus por não acatar às ordens de nosso Pai. O que faz você crer que, desculpe minha ignorância, acatarei ordens suas? – continuava a caminhar na direção dos anjos. – Entreguem-me a criança.

Gabriel postou-se na frente de Nichollas e ele sentiu-se seguro, por mais que imaginaria que Gabriel o considerasse um fardo. Lúcifer parou. Ele sabia que não seria páreo para dois Arcanjos e uma Serafim, por mais que menosprezasse castas inferiores a qual pertencera anteriormente – os Arcanjos. Ele sorriu brandamente, apalpou a cintura e encontrou o cabo de sua espada. Nichollas soube que ele a desembainharia, pois ouviu o metal da lâmina chiar na bainha e viu a lâmina surgir lentamente na mão do Príncipe. Ele sentia aflição ao barulho do metal.

─ Que assim seja. Que vosso sangue sagrado caia. Eu não me importo. Lilith, Belzebu.

Não bastaram mais palavras. A mulher chamada Lilith correu como uma pantera negra, pronta para atacar sua vítima e ela visava Angélica, era óbvio. Não possuía arma, porém corria de forma desigual, como se estivesse armada até os dentes. Deu um mortal para frente e investiu contra Angélica. Belzebu e Gabriel travavam uma batalha, enquanto voavam pelas arquibancadas. Explosões preenchiam o ar, enquanto as armas se chocavam. Eram sons titânicos, que moviam tudo, tamanha a pressão. Lúcifer não atacara Miguel, ainda.

─ Você sabia, irmão, que seu Homem de Barro, andou xeretando? – disse Lúcifer, gesticulando. – É. Como nosso irmão Gabriel, esse moleque tem a Bênção de Daniel, porém, pouco desenvolvida. Ele te contou o sonho, por acaso, que teve comigo e meu general?

Miguel sorriu.

─ Você ainda tem esperança de que ele não se corrompa e venha para meu lado?

Os sons de lâminas se chocando preencheu o lugar. Um pedaço da arquibancada voou pela cabeça dos anjos, enquanto pegava fogo. O rastro de fumaça demorou para se dissipar. Miguel mexeu no bolso da roupa e retirou um pergaminho velho, surrado e bolorento. Jogou-o no chão, na frente de Nichollas. Uma camada de pó se desprendeu do papel.

─ Lerá cada palavra desse pergaminho. O resto acontecerá sozinho. Precisa de força, talvez seja muito para você. – disse.

Lúcifer correu na direção de Miguel e chocou sua espada contra a do irmão, com velocidade e força descomunal, que não permitiam Nichollas acompanhar os detalhes do embate. O solo ao redor dos dois cedeu e exibiu diversas rachaduras, tamanho era o poder da batalha. Explosões e sons titânicos eram ouvidos em diversos pontos do Miller Park; Nick torceu para que houvessem consertos para o estádio que ele mais gostava de ir. Ele olhou cada palavra do pergaminho, engoliu em seco. Reconheceu a linguagem do pergaminho. Era latim e o jovem garoto conhecia pouco da língua, pois adotara a matéria na grade escolar. Ele ergueu-se, apoiando as mãos nos joelhos, pigarreou. Aquele momento único estava espetacular. Ele, sendo importante. Ele sendo uma peça essencial. Ele não se privou de pensamentos egoístas naquele momento, é claro! E sorriu brevemente. Pigarreou, olhou para as lutas e respirou profundamente.

─ Et usque in lucem, ut corpus creati. – olhou para o céu e deixou a luz entrar em seus olhos. – Constat potentiam, qui glorificat qui prorsus mutari voluntas Dei similitudinem. Faciunt hominem limo Angelus fortis praepes. – berrava o menino.

Nichollas sentia o corpo envolvo pela luz, como se ela fosse física. Ele sentia forças, que jamais experimentara, conseguia ouvir a respiração da grama, conseguia ouvir o barulho do vento, que açoitava os pinheiros ao longe. Conseguia sentir vida, mais do que nunca. Os pés começaram a perder o chão e o menino começou a flutuar. E ele abriu a boca e arregalou os olhos. A luz do sol que descia em um cone, agora parecia alimentar o jovem, penetrando pelos olhos e boca. Lúcifer olhou aquilo irado, correu para parar enquanto conseguia, mas fora barrado por Miguel.

─ Nichollas! Força! Continue, meu garoto. Continue! – berrou Miguel, que fazia força para deter Lúcifer. – Eu... Confio em você... menino!

Angélica, que agora prendia Lilith numa chave de braço, rodopiou o corpo e lançou a adversária no solo, com velocidade e força. Lilith adentrou alguns centímetros no chão, a cara contorcida em dor. Gabriel, por sua vez, fazia sua cansativa perseguição a Belzebu.

Divinitatis carnem assumere corpus relinquo. Accipe me, DIIIIIIIIO.

Nichollas se silenciou de súbito. A luz que estava ao seu redor se expadiu por todas as direções possíveis, iluminando o estádio de forma desigual. A luz também cresceu na direção do céu, abrindo um caminho por entre as nuvens e indo além da visão. Belzebu e Lilith não aguentaram o poder e dissiparam-se em pleno ar. Lúcifer ao ser atingido por tamanho poder, rodopiou para trás, chocando-se contra a mureta de divisa do campo e das arquibancadas. Miguel, Angélica e Gabriel apenas suspiraram, sentindo o poder emanar, enquanto o jovem Nichollas descia lentamente, pousando os pés no chão.

Estava acabado.

─ E ele conseguiu... – contemplou Miguel, maravilhado.

Lúcifer ergueu-se cambaleando, o cabelo bagunçado, a espada longe de si. Ele fitou o menino, os olhos irradiando ódio e raiva. Ele rangeu os dentes, enquanto sentia a raiva. Mordeu o lábio.

─ Traição! Você, Deus, ousa me trair! – dizia Lúcifer, apontando para o céu de forma insurgente. – Escute moleque! Agora eu me dirijo a você: eu irei destruir cada resquício de suas origens. Essa cidade apodrecerá diante do meu olhar. Eu vou destruir cada centímetro, cada pessoa, cada ser vivo que vaga por esse solo. E depois? Eu mato você. E espero que você seja forte o suficiente para salvar quem ama. E pode ter certeza de que nenhum anjo será capaz de te proteger, até que esteja maturo o suficiente. E quando esse dia chegar, eu espero que esteja pronto, pois não pouparei ninguém.

Lúcifer admirou uma mecha de cabelos brancos, que adquirira ao receber o forte poder de Nichollas. Era uma marca que ninguém esqueceria. Jogou os cabelos para trás.

─ Você há de pagar, moleque. Eu deixarei uma cicatriz maior ainda, em seu Deus. – dizia ele, implacável e aos berros.

Um assovio começou a soar e o vento frio rodopiou na direção de Lúcifer e em poucos instantes, sua presença já não estava mais ali. Sua espada, que estava caída próxima de Angélica, dissipou-se em sombras e elas penetraram no solo. Gabriel pousou como uma ave de rapina ao lado do irmão Miguel e Angélica correu na direção de Nichollas.

─ Como se sente querido? – questinou a anja, pondo a mão no ombro do jovem.

Nichollas fitou as próprias mãos, como se elas fossem o brinquedo mais maravilhoso que ele tinha. Ele sorriu abertamente, como não fazia a vários dias e olhou os olhos da mulher. Sentiu-se atrelado ao porto mais seguro.

Poderoso. – respondeu o jovem menino.  





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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, pessoal, lembrando que a imagem de capa da fanfic ilustra a parte em que Nick lê o pergaminho dado por Miguel!
A tradução das palavras, fica basicamente assim: "Sob a luz, o corpo criado. É certo o poder e a vontade de Deus, para aqueles que querem ser mudados. Faça do homem do pó, o poderoso pássaro anjo. Divindade tomando a carne. Aceita-me Deus!"

Enjoy it guys! luv u



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