Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 8
Pasto é vida


Notas iniciais do capítulo

      Capítulo dedicado à Liz Crystal  pela mega divástica recomendação :D



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O cara olha para nós de um jeito estranho. Caramba, será que nunca viu duas pessoas se beijando? Quero dizer, alguém roubando um beijo de outro alguém? Humph, intrometido...

─ Ei, vocês estão bem?

Nossa, que super pergunta foi essa, hein?

─ Aham, claro, tirando o fato de que quase fomos assaltados. ─ Digo casualmente, enquanto vou entrando no carro sem ser convidada. Isso parece distrair o pai de Pedro do que acabara de presenciar. O pequeno Parker me lança um olhar agradecido. Faço questão de ignorar. Fiz isso por mim, não por ele.

─ Meu Deus, vocês estão bem? Se machucaram!?

Ok, agora a pergunta não parecia mais tão absurda.

─ Ah, quase fomos baleados, mas no fim deu tudo certo. Deus é mais. ─ Bato no peito e faço um sinal de paz e amor. Pedro senta-se ao meu lado. E quase caio na gargalhada ao ver a expressão apavorada do pobre Antônio.

Às vezes eu extrapolo um pouco, mas só às vezes e só um pouco.

Dez minutos se passaram, e ele continuava perguntando se estávamos bem. Sério, se eu escutasse outra vez aquela pergunta idiota, eu ia pirar legal.

─ Ei pai, ─ Pedro o corta repentinamente ─ acho melhor nós irmos. A senhora Amélia deve estar preocupada com a nossa demora.

─ Tem razão, tem razão... ─ Murmura consigo mesmo. ─ Vamos lá...

E finalmente ─ finalmente! ─ o motor do carro ruge, e a paisagem começa a se mover lentamente ao nosso redor, até que ganha velocidade e se mescla como um borrão.

Jogo a minha cabeça contra a janela. Péssima ideia. Tento não contorcer o meu rosto de dor. Mesmo assim continuo apoiada contra o vidro frio, com a cabeça latejando.

Enquanto meu humor azeda ainda mais, perigando começar a cheirar mal, olho para a estrada que vamos aos poucos deixando para trás. Agora a paisagem está menos urbana. Não que eu goste, mas por mais incrível que pareça, uma parte exilada e isolada minha se encanta. Tanto verde, tantas flores, tanto céu azul...

Ok, já chega Samara, para com essas frescuras.

─ Estamos quase chegando. ─ Antônio anuncia, enquanto nos olha pelo retrovisor. Só então noto que Pedro me observa, e parece que já faz tempo isso. Ele tenta parecer discreto, e quando nota que o flagrei, rapidamente volta o seu olha para a sua janela.

Depois somos nós, pobres garotas, as donas de humores malucos e bipolares.

Volto a olhar para fora do carro, e quase começo a me sentir tonta quando vejo que tudo parou, inclusive nós.

─ Chegamos! ─ Ele exclama em um tom alegre forçado.

─ Ótimo. ─ Resmungo baixinho, e saio daquele carro que deve custar mais que a minha vida.

Quando olho para aquela coisa gigante, uma única palavra me vem à mente.

Ostentação.

Ok, estou brincando. O hotel está mais para um pequeno castelo do que qualquer outra coisa. Elegante é a palavra perfeita para descrevê-lo. Deve ser muito interessante ter tanto dinheiro assim, a ponto de gastar nesse tipo de coisa.

─ Não é uma beleza? ─ O grande Parker olha com cero orgulho para tudo aquilo. ─ Tem até um vinhedo atrás. Olavo pensa em produzir seus próprios vinhos num futuro próximo.

Minha cara de tédio não poderia ficar mais entediada.

─ Olavo? ─ Pergunto, sem realmente querer uma resposta.

─ É o meu amigo, o dono do hotel.

─ Hum. Legal.

E então nós três ficamos de pé, completamente sem jeito.

De repente tenho uma ideia.

─ Não acho que eu deva ir, quero dizer, olhe só para mim, pareço uma joaninha alienígena. ─ Finalizo em um tom alegre. ─ Todo mundo deve estar tão formal...

─ Sua mãe é uma verdadeira deidade, sempre pensa em tudo! Ela trouxe um vestido para você, pode se trocar no banheiro dos fundos.

Ah, para. Não acredito nisso. Sério, até quando meu azar iria durar?!

─ Maravilha. ─ Completo com um sorriso amarelo.

E lá fui eu, provando mais uma vez que o meu lugar no céu já estava garantido.

Devo dizer que mamãe não ficou exatamente feliz quando me viu, nem de longe. Acho que só não gritou comigo por que havia muitas pessoas importantes por perto. Fazer feio em público? Nunca.

─ Em casa nós conversaremos sobre o que aconteceu hoje. ─ Foi tudo o que me falou, em um tom cortante, enquanto me entregava um vestido cor creme. ─ Agora vá, troque-se e tente parecer apresentável.

Eu sou apresentável, nasci assim, oras.

Vou até onde me disseram ser o banheiro, e lá eu me troco. Simplesmente deixo a minha roupa dos anos 80 em um canto, enquanto tento parecer “apresentável”. Hum, acho que já está na hora de pintar novamente meu cabelo, em breve começaria a aparecer a raiz.

Dou uma olhada no espelho e saio do banheiro.

Não demora muito para que eu encontre o lugar onde as pessoas estão entulhadas. O lugar é tão imponente quanto o seu exterior. Com certeza apenas a classe mais alta e privilegiada poderia se dar ao luxo de vir a um lugar como esse.

Não demora muito para que eu encontre mamãe e o resto da trupe, conversando com um homem troncudo e baixinho. Algo me diz que esse é o tal Olavo cheio da grana.

Atravesso a distância sem dificuldades, e chego até eles com um sorriso invejável.

─ Olá família amada! ─ Pedro estreita os olhos para mim, tentando prever minhas ações. ─ Oh, onde está meu irmãozinho querido? ─ Olavo olha para mim de um jeito desaprovador, mas deve ser por causa do cabelo, no qual ele não tira os olhos.

─ Ele não pôde vir, ─ é mamãe quem responde ─ tinha algum trabalho da escola para terminar.

─ Que pena. Ele iria adorar isso aqui.

─ Então, ─ Antônio tenta desfazer a tensão ─ você havia dito antes que a sua filha já devia ter a idade da Samara. Quem sabe elas não se conhecem e são amigas?

─ Dificilmente. ─ Olavo responde, como se não fosse uma opção eu possuir qualquer tipo de relacionamento com a sua filhinha amada e perfeita.

─ Talvez eu a conheça. Qual é o nome dela?

─ Bianca. Bianca Allen.

Oh, essa eu conhecia. E não só eu.

─ Ah, mas eu conheço sim! ─ De repente minha família me olha de um jeito temeroso, como se eu fosse falar alguma besteira. Da minha boca só sai verdades.

─ É mesmo? ─ Olavo parece cético.

─ Mesmíssimo, senhor. Sua filha é tipo de garota que a gente pode dizer: Mas a mina é tão vaca, mas tão vaca, que quando vê um pasto tem um orgasmo.

Vish, ele está se engasgando. Acho que ele não digeriu muito bem o que eu disse. Deve ser terrível descobrir que a filha é uma marafona que distribui para a metade da escola.

─ Se te consola, ela só pega os mais bonitos e ricos.

Não acho que ele tenha ouvido essa última parte. Antônio parece desesperado, tentando fazer o homem parar de tossir. Agora havia uma rodinha de pessoas ao nosso redor, tentando ver o que estava acontecendo. Bando de fuxiqueiros.

Mamãe se vira para mim, com um olhar bem ameaçador, devo dizer.

─ Eu tiro ela daqui. ─ Pedro se pronuncia, e só então percebo que ele não abria a boca já fazia um bom tempo.

Não tive muita escolha a não ser me deixar levar por ele, enquanto deixava aquele pandemônio para trás. Quando já estávamos de fora, bastante longe para eu ter a certeza de que minha vida não corria nenhum perigo, Pedro me olhou de um jeito estranho.

─ Você tem algum problema em manter a boca fechada.

─ Querido, vocês é que têm algum problema com a verdade. Aquela tal Bianca já nasceu dando. ─ Encosto-me contra uma árvore, enquanto ele faz uma careta com o que eu acabei de falar.

─ Não importa se é mentira ou verdade. Certas coisas simplesmente não devem ser ditas. E é melhor você aprender isso logo, antes que as coisas realmente fiquem muito ruins para você.

Dou de ombros.

─ Acho que sou eu quem decide o que fazer com a minha vida, já que ela é minha.

─ Você está errada, novamente. Quando pessoas te amam e se importam com você, fazer o que bem entende com a tua vida é um sinal de egoísmo.

Suspiro exasperada.

─ Olha aqui, não sou nenhuma criança para ficar ganhando sermões, principalmente os teus.

─ Não é criança, mas age feito uma.

Ai, essa doeu.

─ E o que isso tem a ver contigo, afinal? Por que você se importa tanto?

Ele tem a decência de parecer envergonhado.

─ Não faço ideia. Talvez por que se você não começar a se controlar, vai acabar com a felicidade dos nossos pais, e isso eu não posso permitir.

Aproximo-me dele, tentando não relembrar o beijo que ele me roubou, ao olhar para os seus lábios.

─ O que você quer para me deixar em paz, hein? Quer que eu suma? Eu adoraria, mas não posso. Então, me diga, pequeno gênio, o que você quer que eu faça.

─ Quero que você cresça. ─ Simplesmente diz.

Travo a mandíbula, e tento não me importar.

─ E eu quero que você e o seu pai sumam da minha vida. Mas querer não é poder, não é mesmo?

Toda a sua compostura parece se desintegrar com as minhas palavras.

─ Olha, eu sinto muito. Sei que é muito difícil para você aceitar o divórcio, mas tem que tentar...

Ergo a mão, interrompendo-o.

─ Nem precisa terminar. Guarde a sua saliva.

Viro-me, ficando de costas para ele, e começo a caminhar.

─ Aonde você vai?

Não paro, e nem olho para ele enquanto respondo.

─ Para bem longe de vocês.


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