Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 1
Prazer, Samara


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas. Então, espero que gostem :3
P.s: Aceito reviews :P



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O bullying começa quando sua mãe lhe dá o nome da garotinha do poço. Não que tenha sido proposital, afinal, eu já havia nascido muito antes.

Mas mesmo assim, a ordem cronológica do meu nascimento não impediu que o bullying se propagasse, quando meus coleguinhas mal-amados ficavam chamando-me de “fulaninha do poço”.

Pior do que tudo isso junto, é ter que trabalhar na lanchonete de sua mãe, com temática dos anos 80, em pleno sábado ensolarado. Nessa espécie de roupa peculiar. Vestido vermelho-te-cegando, com bolinhas negras, tipo joaninha doente. Saltos nos quais mal consigo equilibrar-me. E é claro, meu cabelo roxo, absolutamente combinando. Afinal, o que fica melhor do que vermelho, preto e roxo? Amarelo bananada e azul tigrada. Espera, essa cor existe?

— Eu vou querer um chá gelado, de limão.

— Hnm? — Foi minha brilhante fala, após ser brutalmente despertada de meus devaneios por uma garota alegre, sorriso à mostra com uma pequena fresta nos dentes da frente.

— Um chá gelado, de limão. — Ela repetiu, calmamente. Suspirei irritada. Não com essa garota que de nada tinha culpa, mas por todo o resto. Principalmente pelo fato de que amanhã iria me mudar para a casa de meu pré-padrasto, e de seu filho. Sequer os conhecia.

Por que demônios mamãe tinha que pedir o divórcio para o papai? Quer dizer, não é óbvio? Eles são o casal perfeito. Eu iria provar isso, ah se ia.

— São três reais. — Dou-lhe a latinha, com um canudo, e faço troco para sua nota de cinco, tudo isso com um falso sorriso estampado no rosto. Quando a garota sai, me permito ficar esparramada atrás do balcão. Hoje Daniele não pôde vir, e ficou para mim a tarefa de cuidar do caixa. O bom é que não havia tantos clientes agora.

Começo a remexer em meu celular, entediada, com aquela musiquinha animada ao fundo, e um agradável calor adentrando pelas janelas semiabertas. Ergo meus olhos, quando vejo a porta abrir-se, e por ela passar meu querido irmão gêmeo.

— Ei Calvin. — Aceno com preguiça, enquanto o garoto vem em minha direção, todo sorridente. Seus cabelos vermelhos parecem pular em sua cabeça, em seu eterno estado despenteado. Suas covinhas se aprofundam, dando ênfase às suas sardas. No geral Calvin era um garoto bem fofo, com aqueles olhos cor de oliva, iguaizinhos aos meus. Ah, mas no que a aparência lhe concedia fofura, o linguajar era de alguém travesso.

— Olá Sammy querida. — Parou na minha frente, cruzando os braços em cima do balcão, praticamente empurrando-me, e piscando com ar inocente. Ele era basicamente o único a me chamar assim, o resto me chamava de Sam mesmo. Ou os mais ousados, de Samara.

Nada que um olhar lacerante não resolvesse.

— Fala irmãozinho amado. — Digo, mas sem prestar atenção nele. Fico enrolando uma madeixa roxa, enquanto observo a rua pela janela. Pouco movimento.

— Mamãe ligou, e disse que você podia ir para casa, para tomar banho e se arrumar. Nós vamos conhecer os Parker hoje à noite, em um jantar na casa deles.

Isso definitivamente conquistou minha atenção. Minha cabeça se volta para ele, em uma velocidade impressionante.

— Como é?

— Sammy, você escutou muito bem que eu sei. Não vou ficar repetindo nada. — Nisso ele espicha o braço, mirando sua mão em um pote de bubbaloo colorido. Dou um tapa nela, fazendo-o recuar com um ar magoado.

— Você sabe o que mamãe pensa sobre isso. — Falo, enquanto miro minhas unhas laranja berrante. Mais uma cor combinando. A ideia de conhecê-los hoje, não me agradava nada nada. Esse tal de Antônio Parker fora o estopim da separação dos meus pais. Era ele o meu maior empecilho.

— E então?

Volto meus olhos para ele.

— E então o que? Não percebe que ainda tem clientes aqui e não é hora de fechar?

Ele suspira como se eu fosse o ser mais burro do planeta.

— É por isso que estou aqui, para te substituir enquanto se apronta. Agora vá! — Desfaz sua posição preguiçosa, e contorna o enorme balcão até chegar à parte onde se pode passar por uma pequena fenda nele. Logo está ao meu lado, empurrando-me.

— Ei! — Reclamo.

— Ei o que? Pare de reclamar e suma logo daqui. Deus sabe quão demorada você pode ser. — Seu tom é de brincadeira, mas fico ofendida mesmo assim. Bufando, vou para a cozinha, e de lá para o banheiro onde apenas funcionários possuem acesso. No caminho pego minha mochila preta e surrada, onde estão minhas roupas normais, se comparadas a essa.

Abro a porta sem bater para ver se há alguém dentro. Quando sou eu no interior do banheiro, tranco a porta. Tiro o vestido brega, e coloco a bermuda jeans, e a regata pink. O sutiã vermelho fica um pouco à mostra, mas nem me importo muito. Troco os saltos por sapatilhas simples, e por fim, desfaço o coque. Meus fios roxos caem soltos ao redor de meu rosto arredondado.

Amasso o vestido enquanto saio do banheiro, e vou até um armário. Primeiro verifico se está vazio, e então jogo tudo dentro. Vestido e sapatos homicidas, mesmo sabendo que mamãe não ficará nada satisfeita com tal ato.

Balanço a cabeça, sem acreditar na minha falta de sorte. Por mim, nunca conheceria os Parker. E podem me chamar de menininha mimada e egoísta. Quão errado pode ser querer fazer com que seus pais reatem? Não consigo ver problema nenhum nisso.

Jogo a mochila, que agora está mais leve, por cima dos ombros. Atravesso a cozinha, e mando um beijo para Marcus, nosso cozinheiro, quem insiste em dizer que é parte francês. Embora tenha a fuça de um chinês, com aqueles olhos puxados e tal. Mas vamos deixar o iludido continuar se iludindo.

Quase esbarro em um garoto filho de uma... deixa pra lá. Fuzilo ele com os olhos, mas o cretino nem parece perceber. Está falando no telefone, e escolhe uma mesa afastada da lanchonete. Humph, esses garotos de hoje em dia.

Faço um sinal de “até logo” para Calvin, que nem nota. Garotos.

Quando saio porta afora, noto a diferença de temperatura imediatamente. É calor aqui, enquanto lá dentro era fresco, em virtude do ar condicionado. Fico feliz por nosso apartamento não ficar muito longe. No máximo uns cinco minutos de caminhada.

Não me apresso, e conforme vou andando, aproveito e paquero alguns garotos. Pisco para um bem gatinho, com cara de bebê, e que por acaso está com sua namorada. Ele me encara feito um bobo, o que não a deixa nada feliz. A garota atinge o topo da cabeça dele com um tapa, e me dá uma olha do tipo: “foge, bitch, antes que eu vá aí te dar um golpe de karatê.”

Minha vontade era dar uma voadora na megera, mas fiquei com pena do garoto, com aquela carinha de assustado, que o deixava mais fofo ainda. Dei as costas, e continuei caminhando.

Havia muita gente que eu conhecia, afinal, morava aqui minha vida toda. Mas tinha também gente que vinha passar as férias aqui, por ser um lugar quente em meados de janeiro, e ter bastantes lugares interessantes para acampar. Sabe, eu até que curtia morar aqui.

Alguns garotos da minha escola me cumprimentavam com um sorriso sugestivo. Eu retribuía, mas coitados deles, se achavam que iria rolar algo eventualmente. Coitados.

Não fazia muito tempo que havia terminado um relacionamento. Essa relação era algo complicado e turbulento. Vivíamos brigando, quase quebrando louças um no outro. O fato de ele morar longe, e ser um galinha sem igual, não ajudava em nada. Nem o fato de eu flertar com outros garotos na frente dele, isso é, quando nos víamos. Mas juro que nunca o traí, eu ficava só nos olhares mesmo. Que atire a primeiro pedra quem nunca olhou para outro garoto, mesmo com namorado.

Tudo bem que eu extrapolava um pouco.

Mas eu aprendi uma lição valiosa com essa experiência. Às vezes, nem mesmo a paixão é o suficiente. Não quando tantos outros fatores ficam tentando separá-los. A propósito, um desses fatores se chamava mamãe.

Parei em frente à porta, e acenei para o Sr. Edmundo. Eu o conhecia a vida toda, e às vezes ele servia de babá, quando eu e meu irmão éramos mais jovens. Ele foi o único que nos aturou. E o único que nós pegávamos leve.

Ele permite minha entrada, e me cumprimenta com aquele sorriso amigável, típico dele, quando passo por onde ele está.

Para minha sorte, o elevador está a minha espera, e não preciso ficar esperando-o.

Entro nele, e aperto o botão para o terceiro andar. Quando ele chega no destino, pego as chaves que estão no meu bolso, e abro a porta. Nosso apartamento não é luxuoso, mas é confortável. Um lar. Meu pai se mudara para a casa de sua irmã após a separação. Ninguém sabia com certeza como a situação iria se desenvolver. Isto é, até mamãe conhecer o usurpador-Parker, e resolver dar uma de adolescente apaixonada.

Vou até meu quarto, que por acaso divido com meu irmão. Não que tenha tido algum problema a respeito disso, nesses dezesseis anos.

Meu. Deus.

Olho para minha cama, e um pesadelo está repouso em cima dela.

Agora mamãe foi longe demais.

Um vestido turquesa, cheio de rendas, tomara que caia, com uns — blé — brilhos espalhados por aquela espécie de corpete. E adivinhem só?! Um sapato com saltos do tamanho da torre Eiffel, marfim, cheio de tiras.

Atá, até parece que eu vou usar essas frescuras.


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Notas finais do capítulo

Leitores de MDQVI, não me matem :O Vou tentar atualizar ambas sem demoras ;-)



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