A Ordem Das Sombras escrita por Ryuuakane


Capítulo 1
O Reinício


Notas iniciais do capítulo

Gente, essa é minha primeira fic sobre algum jogo, por isso não sei se saiu legal porque sou acostumada a fazer unicamente originais >.< embora não as tenho postado aqui ainda kkk mas depois posto, enfim, espero que curtem tá?
Boa Leitura o/



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            "Não demorou muito para que a história do andarilho destemido que cavalgou até as Terras Proibidas com o intuito de ressuscitar sua amada se espalhasse por toda a vila, ou até mesmo cidades."

          Era noite em rastros nebulosa quando Lord Emon e seus soldados retornaram a vila após sua longa viagem até as Terras Proibidas. Ele tomou a espada de um de seus soldados e a ergueu chamando a atenção de todos e, assim, uma multidão em alvoroço se reuniu a eles. Muitos receosos e outros apenas curiosos.

           - Aldeões da Vila de Basaram! - anunciou em voz alta - Como podem ver, eu e meus soldados retornamos são e salvos das terras as quais chamamos de Proibidas. Devo confessar que não foi fácil chegar lá, muito menos voltar, mas com a graça de Deus conseguimos - ele deu uma pausa e puxou a rédea do cavalo, levemente agitado - No entanto, o andarilho que roubou a Espada Sagrada e levou o corpo de nossa profeta para uma possível ressurreição, não teve a mesma sorte.

          De imediato, uma onda de exclamações e interrogações aflitas tomou conta da multidão. Eu estava agachada atrás de uns caixotes de madeira em um beco que ficava entre minha casa e outra, espiando tudo o que estava acontecendo com o coração aflito, assim como de muitos outros ali.

          - O que aconteceu com o rapaz e a profeta Lord? - indagou uma mulher em um grito em meio a multidão, para que pudesse ser ouvida.

          - Bem... - Lord Emon assumiu uma feição triste, e na mesma hora, comecei a soar frio. Ele levou uma mão a cabeça e falou em tom de luto - Não conseguimos ressuscitar a garota, e quanto a ele...ficou aprisionado lá...

          Uma nova onda aflita tomou conta da multidão, porém eu, senti um fio de esperança.

          - Para sempre... - complementou.

          Nessa hora, o que havia de esperança em mim por alguns segundos havia desaparecido. Meus olhos arregalaram-se ao ouvir aquilo.

          - Não... - murmurei incrédula.

          - A ponte que liga a Fenda dos Ventos até o castelo já nas Terras Proibidas, foi quebrada por alguma força maligna. Não há mais como entrar naquele lugar, e do mesmo modo, não há como sair.

          Minha respiração parou por um minuto, só de imaginar um lugar amaldiçoado aprisionar um ser humano. E não era um mero ser humano...

          - Hey, Éven! O que está fazendo?

          A voz do garotinho em um sussurro repreendedor bem atrás de mim me arrancou de meus pensamentos em um susto.

          - Ai, Silver, não me assusta assim! - disse também tentando o repreender pelo susto - O que está fazendo aqui?

          - Eu que te pergunto, sabe que não pode sair. - disse ele ainda com o mesmo tom.

          - Ah é? E quem você pensa que é pra dizer o que eu devo ou não fazer? - assumi um sorriso de deboche.

          - Sou o braço direito do seu pai, o segundo par de olhos dele. Ele disse que o que estiver acontecendo de errado que desrespeito a ele e ele não estiver vendo, eu tenho a ordem.

          Tenho que admitir que era muito engraçado ver um pirralho daquele tamanho querer ter autoridade de gente grande. Ergui-me com um sorriso risonho no rosto e caminhei até ele.

          - E você realmente acha que eu iria te obedecer? - passei por ele assanhando seus cabelos negros naturalmente bagunçados.

          - Se não obedeceria, por que saiu do seu esconderijo quando te chamei a atenção?

          - Em primeiro lugar nanico, você não chamou minha atenção, apenas me achou, e segundo, eu já escutei tudo que tinha que escutar mesmo. Não tenho mais porque ficar ali.

          - Hm, sei - disse Silver me seguindo, com uma feição levemente emburrada.

          Ri do seu jeitinho.

          - Mas de qualquer forma, Éven, você não deveria ter escutado nada que aquele Lord Memon ou sei lá o que disse.

          Virei-me para ele, parando em sua frente.

          - É Lord Emon, Silver. E por que não deveria escutar? Desrespeita a mim sabia? - sem perceber, havia assumido um tom levemente irritado com ele.

          - Seu pai pediu pra você não saber de nada que esse Lord Memon diga. Ele mesmo iria contar tudo a você.

          - É Lord Emon! E vem cá, pro meu pai me contar algo, ele teria que saber da boca do Emon, óbvio, então, só fiz o trabalho por ele.

          - Você vai ficar de castigo duplo por ter saído essa noite, Éven. - ameaçou o garoto, sem saber o que mais argumentar.

          - Não, eu não vou, sabe por quê?  - fui inclinando meu corpo para baixo até ficar na altura de Silver - Porque você não vai contar nada pro papai, caso contrário, você também vai ser castigado por mim. - um sorriso esperto no canto de minha boca derrubava todo o tom ameaçador que estava usando, mas para uma criança que nem Silver, isso era quase imperceptível.

          - Mas...

          - Nada de mas - o interrompi pousando meu indicador sobre seus lábios - Agora, você vai voltar pra sua casa e eu pra minha e nada do que você viveu há cinco minutos aconteceu, certo?

          Tentei ser o mais persuasiva possível, e percebi que consegui ao ver Silver indicar que sim com um movimento de cabeça enquanto me fitava nos olhos sem piscar. Tenho certeza que aquela resposta foi automática.

          Pus me ereta novamente e sorri simpática para ele.

          - Bom menino, Silver. Agora vai pra sua casa porque já ta tarde pra criança perambular por ai, ok? - assanhei-lhe o cabelo mais uma vez.

          Silver indicou que sim com a cabeça mais uma vez e sem dizer mais nada, saiu em passos quase rápidos rumo à sua casa. Ou pelo menos creio eu que era mesmo rumo a sua casa.

          Após ele sumir de vista, dei a volta naquela casa e rumei para o próximo beco. Não gosto de ser mal com crianças, mas havia mentindo para Silver, eu não iria embora. Iria ver o que Lord Emon ainda pudesse ter para dizer sobre sua viagem. Porém, quando cheguei ao próximo beco, vi que Lord Emon e seus soldados já estavam realmente indo embora. Dei um estalo com a língua e bati o pé no chão decepcionada. Em seguida, olhei em volta e vi que a multidão se concentrava no mesmo lugar, ninguém seguia Emon e os soldados. Sendo assim, arrisquei pela possibilidade de não ser vista por ninguém e corri pelas periferias das ruas até alcançar Lord Emon, quando o mesmo já estava bem mais afastado de todos.

          - Lord Emon! Espere! - gritei, fazendo-lhe parar o cavalo e procurar pela voz imperativa. Corri mais um pouco e fiquei em frente à ele e os soldados.

          - Hm? Quem é você? - indagou ele desentendido, porém, com um leve brilho curioso nos olhos.    

          Respirei fundo e me apresentei.

          - Me chamo Éven. Sou a irmã mais nova do andarilho ao qual você mencionou antes...

          - Desculpe. O que tinha para falar sobre seu irmão já falei... e para todos - interrompeu-me, e o brilho curioso em seus olhos se tornou um assustado e surpreso  - Não me pergunte mais nada. - ele baixou o olhar e tentou avançar com o cavalo, mas o impedi abrindo o braços.

          - Não, espere. Preciso que o senhor seja mais claro. Como assim meu irmão está aprisionado naquele lugar? O que ao certo aconteceu com ele?

          Ele me fitava com um olhar perdido, como se não soubesse - ou pudesse - responder.

          - Quando o senhor encontrou com ele? Como ele estava? E a profeta? Sei que ela não ressuscitou, mas ao certo, o que aconteceu?

          Com a intensidade de minhas perguntas, Lord Emon ficou agitado, não sabia dizer se era por irritação ou medo...medo de algo que não pudesse revelar.

          - Lord Emon! - chamei mais alto, como que para ter certeza que ele realmente estava me escutando.         

          Ele não respondeu de primeira, era como se as palavras estivessem presas em sua garganta e ele não conseguisse as por para fora.

          - Lord...

          - Já chega, garota! - um dos soldados empunhou a espada para mim, me interrompendo - Será que ainda não entendeu que o Lord não tem mais nada para falar sobre esse assunto?!

          - Tudo bem, pare com isso, Til - Emon afastou o punho de seu soldado, me tirando da mira da espada.

          Sem entender aquele reação do Lord, o soldado apenas ascentiu e guardou a espada novamente.

          Fitei Emon, o mesmo ainda olhava baixo e seu olhar agora era triste. Como se estivesse escondendo algo de muito ruim. E estava.

          - Escute... Éven, não é? - indagou ele com a voz arrastada.

          Ascenti com a cabeça.

          - O que tenho para lhe revelar, não é algo bom...você tem certeza que quer escutar?

          - Com toda certeza, senhor. - disse isso já temendo pelo pior.

          - Pois bem... - ele respirou fundo, se preparando para o que viria - A verdade, Éven, é que...quando cheguei lá, naquele lugar amaldiçoado, eu encontrei seu irmão. Ele não estava em uma situação agradável - uma pausa - Suas vestes estavam sujas e rasgadas, mas pior que isso estava ele. O cabelo havia assumido um outro tom, um tom arroxeado. Sua pele estava levemente azulada e pálida. Um par de chifres estava em sua cabeça e seus olhos haviam mudado, estavam mais...demoníacos.

          "Hã?", pensei assustada.

          Ele respirou fundo e continuou.

          - Seu irmão havia sido possuído pela morte, e logo em seguida, várias almas negras se apossaram do corpo dele e assumiram um tamanho colossal. Uma besta negra de longos chifres e completamente maléfica.

            Meus olhos arregalaram-se ao ouvir aquilo. Era como se parte de mim não acreditasse, mas outra parte...sim.

          - Ele havia ressuscitado um espírito o qual estava adormecido a muito tempo, e aquilo não era boa coisa. - continuou - Fugimos dali enquanto havia tempo. Um de meus soldados havia recuperado a espada sagrada que seu irmão roubou para ir aquele lugar. Isso aconteceu no hall de um castelo, onde várias estatuas, que na verdade eram imagens de bestas, haviam sido destruídas, sabe-se lá como. Fugimos até o topo daquele castelo, e lá de cima, joguei a espada para um rasa piscina que havia logo embaixo. A espada atingiu a água e uma forte luz emergiu de dentro dela, junto com uma energia a qual parecia sugar algo. Depois disso, voltamos a cavalo pela ponte que nos ligou ao castelo, e a mesma veio se destruindo atrás de nós. Com a ponte quebrada, não há mais como chegar lá, e assim...não há mais como sair.

          Após ouvir aquela história, pisquei algumas vezes como que para absorver melhor o que havia escutado.

          - Mas é só isso. Não tenho mais nada o que contar. Não me pergunte mais nada. - ainda com o mesmo olhar, Emon apressou-se em avançar com o cavalo mais uma vez, e mais um vez o impedi.

          - Então, espera, você não viu o que aconteceu com o Wander? Então...quer dizer que ele pode estar vivo?! - um novo fio de esperança surgiu em mim.

          - Não, eu não vi o que aconteceu com ele. E não sei lhe dizer se ele está vivo. - uma pausa avaliativa - Agora me deixe ir. - ele tentou mais uma vez.

          - O único impedimento é a ponte?

          - Escute, garota. Aquele ponte deveria ter cinquenta ou até mais metros de altura para o chão. E agora ela está quebrada. Não há mais saída!

          - E porque o senhor não trouxe a profeta de volta? Se ela realmente estava morta, poderia pelo menos ser enterrada em um lugar mais receptivo.

          - Não deu para trazê-la em tamanha confusão. Eu ainda rezei por ela, mas não pude fazer mais nada. E além do mais, o que restou dela foi apensa o corpo, a alma, o espírito, a essência, já a abandonou há um tempo. A carne não significa nada.

          - Mas, senhor...

          - Por favor, deixe-me ir, garota. Ainda tenho mais sete vilas pela frente até chegar ao castelo. Não é um caminho curto. E não tenho mais nada que possa fazer por aquele dois. A vida os castigou de maneira cruel, mas agora já acabou.

          - Já acabou? O senhor não sabe do estado do meu irmão...

          - Garota! - o mesmo soldado voltou a apontar a espada para mim - Agora já chega. Acabou, entendeu? Precisamos ir. Lord Emon precisa descansar - sem saber o que dizer, olhei para ele, e o mesmo, olhava para o chão, entristecido.

          Sem me interver mais, Emon e os soldos deram partida nos cavalos. Olhei para o chão, com um mistura de preocupação e tristeza dentro de mim. E, antes que eles se afastassem demais, chamei apenas mais um vez.

          - Só me responda mais uma coisa, senhor, e por favor, seja sincero. Você acha que há possibilidade mais alta de meu irmão estar vivo ou morto?

          Não o vi responder, pois estava de costas para eles, mas, pelo tom em sua voz, senti-me mal com sua sinceridade.

          - Ele estava amaldiçoada pela morte...o que acha? - isso foi a última coisa que Emon disse a mim antes de partir.

          Fiquei ali por mais um tempo, olhando baixo e sentindo-me mal, por tudo que havia acontecido. O som dos cascos dos cavalos ao longe era a única coisa mais nítida que me vinha a cabeça aquele momento. Sentindo-me desesperada por dentro, pensei em muitas coisas sobre o que Emon havia dito. E depois de alguns minutos de reflexão, ergui a cabeça decidida e rumei para casa.

          Quando pisei dentro de casa, a primeira coisa que escutei foi a interrogação bastante "receptiva" de meu pai.

          - Onde estava? - sem tom era duro e preocupado.

          - Ah, er... estava limpando o estábulo do Mimnos e da Agro... - quis parecer convincente, mas fraquejei no final da frase ao ver a expressão preocupada de meu pai - O... que houve? - tentei não parecer preocupada também.

          - Você só limpa os estábulos à noite por obrigação. Por que faria isso justo hoje?

          - Er... o que o senhor que dizer com "justo hoje"? - indaguei com cautela, enquanto me inseria melhor para dentro de casa.

          - Justo hoje que... - eu tinha certeza que ele iria dizer "que o Lord Emon retornou com as notícias", mas quando percebeu que iria dizer isso, ele parou, e então disse outra coisa - Enfim, não importa. - ele olhou baixo e preocupado, mas um preocupado mais para desesperado que para preocupado.

          Meu pai, Lemos, ganhava a vida como ferreiro. Ele é um homem bom e bastante dedicado a família. Mas desde que Wander, seu filho primogênito e meu irmão mais velho, resolveu carregar o corpo da profeta sacrificada na cidade acusada de maldição até as Terras Proibidas para uma possível ressuscitação - e sem sucesso - ele tem estado mal. Come e dorme pouco, tenta ocupar a maior parte do tempo trabalhando, mas como seu corpo já está fraco pela má alimentação e dormida, ele vem se desgastando cada vez mais, ao ponto que suas olheiras não são mais disfarçáveis. Minha mãe é a mais equilibrada no quesito preocupação e desespero. Bem, não é que ela se preocupe menos, apenas sabe lhe dar melhor com isso que meu pai, e assim, ela vem assumindo as maiores responsabilidades nos últimos tempos, desde que Wander partiu.

          Não querendo puxar assunto para evitar possíveis discórdias, tentei falar o menos possível.

          - Er...então, pai, eu...to indo dormir tá? Amanhã...a gente se fala. - dei um sorrisinho simpático o mais convincente possível, e sem esperar ele dizer algo mais, me direcionei ao meu quarto.

          - Éven - chamou ele, fazendo-me parar contra minha vontade, já de costas para ele - Quero você de pé às cinco. Irá me ajudar com as ferragens.

          Abri a boca pra questionar, mas desisti instantaneamente. Com meu pai naquelas condições, nunca diria que não. Mas a verdade, é que não pretendia amanhecer ali. Porém, fingindo concordar, respondi, ainda de costas.

          - Tudo bem, pai. Às cinco estarei de pé. - sem dizer mais nada retirei-me.

          Por volta da meia noite, estava deitada em minha cama, coberta até o pescoço. Mas na verdade, estava apenas esperando meus pais irem dormir. Cerca de uma hora depois de escutar a porta do quarto deles bater, retirei as cobertas de mim, que me encontrava com roupas de viagem, caminhei até a porta do meu quarto e a abri devagar, até uma fresta com largura o suficiente para mim passar por ela surgir. Em passos lentos e silenciosos, caminhei até a porta do quarto dos meus pais e encostei o ouvido na mesma. Ao escutar o ronco do meu pai, tive certeza que estava dormindo e profundamente. Então, sem esperar mais, retornei até meu quarto e fechei a porta silenciosamente. Peguei uma mochila com um pouco de comida, água e roupas e coloquei nas costas. Havia escrito em um pedaço de papel pequeno minhas desculpas por fugir aquela noite e mais algumas coisas básicas. Deixei o papelzinho sobre uma mesa velha ao lado da minha cama e então sai do quarto pela janela, a fechando por fora.

          Ainda em passos silenciosos por motivos de precaução, caminhei apressada até o estábulo. Mimnos, meu cavalo bege de crinas brancas me olhou de imediato ao chegar lá.

          - Ei, Mimnos - disse caminhando até sua porteira e a abrindo - Hoje iremos fazer uma viagem. Uma viagem beeem longa, seja meu companheiro esse caminho todo tá? Aposto que você vai gostar. - sorri enquanto alisava seu focinho.

          Sem demorar muito, o pus a rédea e o selei. Em menos de cinco minutos, já havíamos saído dali.

          Cavalgamos a noite inteira, porém o contive de correr para não acordar as pessoas. Chegamos a segunda vila quando os primeiros raios de sol já se exibiam no céu. Era naquele horário que provavelmente estaria acordando. Naquele horário que meu pai estaria acordando, e em breve ele perceberia que eu havia fugido. Mas também era naquele horário que várias pessoas já estariam de pé, então, vendo que não teria problema em acordar as pessoas, acelerei Mimnos e saímos dali o mais rápido possível, queria estar bem longe quando descobrissem que havia desparecido e mandassem me encontrar. O mais longe possível.

          E foi assim por mais três dias. Cavalgadas, cavalgadas e cavalgadas. Parava em algumas vilas pequenas e distantes, já em outras cidades, para beber ou comer algo. Banho tomava nos lagos e rios que encontrava. Não havia ninguém ali comigo com exceção de Mimnos, então não me importava em ficar sem roupa.

            Na madrugada da terceira noite, embora escuridão, a famosa Fenda dos Ventos já era visível. Um sorriso ansioso e ao mesmo tempo aliviado desenhou-se em meu rosto ao avistar a estrutura ao longe.

          - Olha Mimnos, estamos mais perto que longe. Talvez não demore nem mais um dia.

          Ele caminhava devagar enquanto eu continuava a observar a estrutura. Estávamos cercados por morros de rochas de um lado e um penhasco pequeno do outro, onde se encontrava alguns rastros de plantas em sua extensão e um imenso lago lá embaixo.

          Enquanto caminhávamos, escutei um barulho de passos e pedras deslizando no pequeno penhasco embaixo de nós.

          - Hm? - indaguei, ao virar-me para trás para ver quem estava ali. Porém, não vi nada - Quem está ai? - indaguei temendo que fossem ladrões.

          Foi ai então que vi uma silhueta, parecia de um homem. Mas o mais estranho, ele estava escalando o penhasco, se arrastando. Parei o cavalo e o virei noventa graus para ficar em uma melhor posição para identificar a pessoa. Pelo jeito como ele se arrastava, parecia estar machucado, então deduzi não ser um ladrão.

          - Er...o senhor está bem? - indaguei preocupada. A silhueta não respondeu, apenas terminou de escalar o penhasco e em seguida assumiu uma posição meio abaixada, corcunda, de frente para mim. Não entendi.

          - Er...o que está fazendo aqui uma hora dessas? - tentei outra vez - E por que estava escalando o penhasco?     

          Ele continuava sem responder. Então, uma coisa me chamou a atenção, os contornos de seu corpo pareciam de dissolver se misturando a paisagem. Não conseguia identificar detalhes, a não ser a silhueta negra, mesmo estranhando, achei que ele deveria estar na sombra, por isso não o via.

          - Bem, o senhor poderia vim para a luz? Não consigo o ver... - logo em seguida, arrependi-me de ter dito aquilo.

          A figura estranha caminhou até onde a luz da lua pudesse o alcançar, mas para minha surpresa e medo, sua forma não modificou. Ele continuava uma silhueta preta, corcunda e com contornos falhos. Não havia roupas, cabelo...rosto. Era apenas uma imagem negra e sombria do que parecia ser um ser humano. Ao ver aquilo, meu coração disparou e senti calafrios correr todo meu corpo eriçando os pelos dos braços e nuca.

          - O...o...que...? - meus olhos estavam arregalados.

          A figura começou a caminhar até mim em passos desajeitados e assustadores, e a cada passo eu puxava Mimnos para trás.

          - O que é você? O que quer aqui? O que quer comigo?! - assustada, acelerei Mimnos em marcha ré enquanto o mesmo começava a protestar, também assustado.

         A figura então começou a correr da forma mais bizarra que já vi, e em impulso de medo, virei Mimnos para frente bruscamente e bati o calcanhar em sua barriga o fazendo correr, enquanto o mesmo relinchava em protesto.

          - Vamos, Mimnos vai, vai!! - bati mais algumas vezes para acelerá-lo mais.

          Enquanto ele corria, o som de seus cascos em alta velocidade ecoavam pelo lugar. Virei-me para trás e vi que a figura sinistra estava se distanciando de nós. Quando achei que já podia me sentir aliviada, entrei em pânico instantâneo, ao ver mais figuras iguais aquelas subirem pelo resto do penhasco nas laterais e a minha frente.

          - Que porcarias são essas???!! - gritei em pânico acelerando mais o cavalo - Rápido, Mimnos, eles estão seguindo a gente.

          O cavalo relinchou mais uma vez e continuou correndo em disparada. Quando me dei conta, outras figuras iguais aquelas desciam sem jeito dos morros de rocha à minha esquerda, e pior, outras surgiam do chão e das próprias rochas. Minha respiração acelerou, assim como meus batimentos cardíacos. O suor já descia sem controle enquanto eu olhava para os lados desesperada, com a impressão de estar cercada em um beco sem saída.

          Embora as figuras se distanciassem aos poucos, elas ainda me seguiam, e quando as via, apenas acelerava vai Mimnos. Corremos por toda aquele extensão do penhasco por mais uns dois ou três minutos, e tudo já estava ficando bem até ter outra surpresa. Quando estava preparando Mimnos para dar uma curva um tanto fechada mais a frente, uma das figuras negras emergiu de uma das rochas à minha esquerda e saltou sobre mim.

          - Ahh!!! - gritei no desespero, sem querer puxando a rédea de Mimnos em um movimento fechado à esquerda.

          Com o susto e pressão do puxão, Mimnos se enganchou em seus próprios passos e ergue-se assustado, e foi ai que soltei a rédea sem querer e então senti meu corpo ser atirado penhasco abaixo, em uma região mais alta e rochosa que a outra. Um verdadeiro abismo.

          - Mimnos!! - gritei enquanto caia e ele relinchava, e de repente, o som se  cessou e tudo ficou preto.

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          Abri os olhos devagar e pisquei algumas vezes como que parar limpar a visão embaçada. Estava caída sobre um chão frio e completamente plano. O que estranhei.  O pouco que me veio a cabeça aquela hora foi a horrível sensação de cair em um abismo, e até onde  eu saiba, nenhum abismo naquela região rochosa tem o final completamente plano. Ainda atordoada, franzi o cenho e mexi a cabeça enquanto vasculhava o lugar com os olhos.

          Era como se o chão estivesse muito abaixo do teto, e tudo que conseguia ver parecessem completamente baixo. Quando me dei conta, pedaços de pedra estavam alojadas no chão, como se um dia constituíssem algo que agora estaria quebrado. Sem entender nada, reuni o pouco de força que ainda havia no corpo e fui me erguendo devagar, e com dificuldade consegui me por de pé.      

          Sentindo várias dores no corpo respirei fundo enquanto olhava em volta e, finalmente, me dei conta que estava em um imenso hall. Nas laterais haviam divisões paralelas onde aos pés das mesmas se exibiam as pedras em um pequeno monte de destruição e areia. Pisquei desentendida e girei meu corpo devagar para tentar decifrar onde poderia estar.

          O lugar era imensamente alto e era iluminado por uma luz que não sabia de onde vinha. Era como se estivesse sob a luz de velas, mas não havia quaisquer fonte de luz ali. Todo o corredor era moldado em tijolos antigos e esculturais, dando uma impressão grandiosa e belíssima ao lugar. Só me faltava saber em que parte daquelas terras teria um lugar tão lindo quanto aquele, e principalmente, por que estaria ali.

          Querendo decifrar mais, caminhei por aquele imenso corredor em passos lentos e um pouco arrastados devido as dores, mas sempre olhando em volta. Cheguei a uma região mas a frente onde um enorme buraco se encontrava no teto. Fitei o buraco sem saber se ele era apenas estético ou tinha alguma função, mas sabendo que não obteria respostas, resolvi caminhar mais a frente, onde se encontrava uma pequena escadaria que servia de suporte a uma cama de pedra.

          Subi a escadaria e toquei a estrutura, notei que estava gelada. Não entendi por que teria uma cama ali, com certeza ninguém dormiria ali, não tão exposta, pois logo a frente se encontravam grandes naves semelhantes a de igrejas góticas que davam acesso ao lado de fora, que não pude identificar o que tinha por lá devido a uma imensa escuridão. Ainda deveria ser de madrugada. No entanto, tinha certeza que ali não era uma igreja.

          Voltei me para trás e o imenso corredor se apresentava grandioso e curioso a minha frente. Mas sentindo uma pitada de medo por estar em um lugar completamente desconhecido e aparentemente sozinha, apenas me perguntei:

          - Onde...estou?


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Notas finais do capítulo

Pra quem realmente leu espero que tenham gostado >.< e quanto aos erros de português - que provavelmente tem - peço desculpas >.< de qualquer forma obrigada por lerem :3 bjs e até a próxima o/



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