Lá estava ele... Deitado no sofá, fazendo absolutamente… Nada. Eu não aguentava mais isso, Ren somente queria saber de tomar sorvete de creme e assistir televisão.

― Levanta! – gritei e bati em sua perna para assustá-lo.

― Kelsey, amor, pensei que ia voltaria mais tarde – disse com tom de desculpa esfarrapada.

― Dhiren, você sabe que nesse dia da semana eu volto mais cedo. Por que o senhor não está se exercitando ou, sei lá, ajudando o senhor Kadam a descobrir alguma coisa sobre essa maldição?

― Pensei que fosse você a espertalhona – murmurou e soltou uma gargalhada baixa.

― Olha, fique sabendo que eu não me transformo em gato ou coisa assim, mas tenho ótima audição. Trate de levantar, vai marcar o sofá de tanto ficar em uma só posição. Vai arrumar alguma coisa para fazer! Já não aguento mais! – Terminei a frase e percebi que gritava escandalosamente, tal como a vizinho do andar de baixo.

― Kishan não é tão mal comigo nessa fanfic, então ainda não tenho motivos para quebrar algum braço dele. O Sr. Kadam não quer que eu ajude, ele diz que um tigre incomoda mais do que um elefante. Então…

― Não são desculpas – interrompi-o e escorei na parede, pois estava cansada de tanta mentira e preguiça alheia.

―Não? – Levantou-se em um pulo e bocejou.

― Não.

Afirmei e bati o pé, reafirmando meu território. Havia aprendido isso com o Sr. Kadam. De acordo com ele, nos zoológicos usam essa técnica com os tigres quando se aproximam da grande.

— Você não passa de um gato vira-lata. E, quer saber de uma coisa? Acabei de tirar essa conclusão agora, justamente depois desse bocejo.

―Um gato?

Eu sabia que conseguia estressá-lo chamando-o dessa forma. Mesmo Ren sendo um gato na forma humano, a palavra gato era seu ponto fraco. Grandes felinos têm orgulho e o único jeito de feri-lo é comparando com algum ser com capacidades inferiores.

― Sim, um gato. – falei e no momento, observei que Ren estava se aproximando e, infelizmente, eu conhecia o seu olhar, um misto de raiva e fome.

― Você… Kelsey… Acha que eu… Dhiren… Sou somente um gato vira-lata? Isso é...

Enquanto pausou para respirar, esperei terminar sua frase com alguma palavra como: inaceitável, lúgubre, indiscutível, pesaroso, incabível, cruciante, intolerável. Enfim, alguma palavra do vocabulário extra, hiper, mega formal que usou por todos os anos de sua vida. Mas não, a única coisa que escutei foi:

― Estranho – disse e mordeu os lábios, encarando-me tensamente. - Você sabe muito bem quem sou, senhorita Hayes.

― Sei – minha voz ficou falha ao responder o monossílabo e eu sabia o porquê. Mesmo se batesse o pé, gritasse, chutasse a calcanhar do rapaz ou fizesse xixi nos móveis… Não conseguiria tomar o território de Dhiren, não conseguiria domar o que sinto por ele.

―Então, deve saber o que faço quando me chamam de gato.

―O que você faz? – Perguntei ludibriada pelo seu cheiro que domou meu olfato ao se aproximar.

―Eu … Mordo.

Seus olhos estavam sérios e ao me encarar, senti um choque passar por todo o meu corpo. A adrenalina acelerou meus batimentos cardíacos e todos os meus músculos petrificaram. Era esse o efeito que Ren tinha sobre mim, deixava-me totalmente incapaz de pensar ou agir por conta própria. Indiscutivelmente, sempre fui sua presa.

―Por quê? – A pergunta soou calma, porém eu sabia que Dhiren já havia sentido o cheiro de caça ganha.

―Porque, minha querida, sou um tigre .

Olhou novamente para meu rosto, percebi o quanto estava extasiado ao ver minha expressão de pavor. Quando, visivelmente, se cansou de admirar sua caça, passou a língua nos meus lábios e afastou sorrindo de forma sarcástica.