―Ren! Cadê você? Não pode se esconder a vida inteira! Eu...

Parei de gritar quando escutei um ronronar, ele estava perto e ia achá-lo, mesmo que demorasse a vida inteira. Dhiren havia destruído minha sandália preferida com os seus dentes afiados. Eu não sabia o porquê disso, mas era como se ele quisesse me irritar.

―Ren, querido, não vou gritar com você, basta aparecer e tudo se resolve!

Escutei outro barulho, parecia que um copo tinha se quebrado. Corri até a cozinha e vi o tigre branco olhando para o filtro como se quisesse beber água. Ele estava cansado isso era um fato, já estávamos nessa brincadeira de “esconde-esconde” há horas.

―Te achei! – exclamei – O que significa isso?

Levantei a sandália no rumo do meu rosto para ele analisar e sentir que tinha feito algo muito, muito errado.

―Você sabe que essa sandália é a minha preferida!Foi você quem me deu de presente quando nos conhecemos, por que a destruiu? Não é justo, eu não saiu por ai destruindo seus sapatos, roupas ou os potes de sorvete que tem no frízer.

A única coisa que eu ouvia como resposta era ronronar, Ren além de saber me irritar também tinha o segredo para me acalmar. O que mais me deixava fora do sério é que a sandália significava muito para mim, era como ela fosse uma parte dele, só que nos meus pés.

―Trate de concerta isso, não quero ser mau ou chata, mas...

Ren tinha se transformado em homem, novamente e me olhava com a expressão de quem não fez nada de errado. Ele virou de costa e se abaixou para pegar o copo quebrado, depois se levantou colocou os cacos no lixo e pegou outro para beber.

―Desculpa. – ele disse quando terminou o último gole d’água – Não foi por querer.

―Ah, não? Você mastiga uma sandália sem querer? Tipo: “AH! Vou cheirar. Ops! Mastiguei”

―Sim. Como você sabia?

―Essa é uma desculpa sem graça que não tem sentido. Trate de arrumar outra sandália, não, melhor, concerte essa. Não quero outra, quero essa!

―Kells, você parece uma criança desse jeito – Ren estava andando na minha direção, dessa vez eu não cairia nos seus truques.

―Fica longe – estiquei o braço encostando a palma de minha mão em seu peito o impedindo de chegar mais perto.

―Vai ser assim agora? – perguntou com o olhar triste.

―Vai.

―Tudo bem, então.

Ele se transformou em tigre em milésimos de segundo e passou o pêlo macio em minhas pernas ainda ronronando. Ren era cheiroso e acho que seu eu fosse um tigre também ia querer morder seus sapatos se eles tivessem o mesmo cheiro.

Agachei para fazer cafuné em sua cabeça, ele estava gostando, pois chegou a fechar os olhos. Ficamos mais tempo abraçados ali no chão do que brincando de “esconde-esconde” por causa da sandália, a sensação de tê-lo em meus braços era de proteção e aquilo acalmava meu coração.

―Tá, eu te amo também, agora para de ronronar se não vou derreter de fofura e amor que tenho por você.