Shady Love escrita por Larissa S


Capítulo 2
Chapter 2 - Violet




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O despertador acordou-me cedo de manhã. Pulei da cama e segui para o banheiro, lavei o rosto e olhei para a parede riscada. Minha mãe disse que eu não deveria me preocupar com aquelas palavras, a casa passara um bom tempo sem moradores, alguma criança das redondezas deve ter resolvido fazer uma brincadeira.

Voltei para o quarto com uma estranha sensação de estar sendo vigiada. O copo d'agua que deixei na mesinha de cabeceira caiu no chão, causando um grande barulho e me fazendo dar um pulo de susto. Ao virar-me na direção do copo, juro como vi uma sombra passar correndo. Algo preto.

Sacodi a cabeça em um gesto de negação. Talvez eu tenha dormido pouco e o cansaço tenha me feito ver coisas. Ri da ideia.

Desci as escadas ainda de pijamas, e surpreendi-me ao ver minha mãe já na cozinha, preparando um café da manhã.

- Mãe? - Chamei, estranhando.

- Oi querida! Estou preparando nosso café da manhã...a noite foi boa?

Revirei os olhos, irritada com a pessima atuação de doce mãe.

- Chega dessa de fingir a vida perfeita, mãe. Você não é assim,e eu não quero que seja. Pode agir normalmente, por favor?

Ela se afastou do fogão, onde fritava ovos, olhou para mim e sorriu.

- Prometo que não tentarei mais ser boazinha, então.

- Obrigada - Respondi, sorrindo sinicamente - Você está cansada de saber que odeio pessoas boazinhas.

- Vá rezar! - Ela disse, brincando e jogando um pano de prato em mim.

- Nem no inferno! - Respondi, pegando um bolinho da bancada e saindo da cozinha.

Era o meu dia de exploração! Vamos ver se a casa é tão incrível quanto parece.

Estava indo para a sala de visitas quando ouvi a campainha tocar. Achei estranho, mas fui abrir a porta.

Era uma senhora loira, junto a um garotinho de aproximadamente 10 anos. Antes que eu pudesse observa-los mais ou dizer algo, a senhora falou.

- Nova vizinha? - Sem me deixar responder, falou - Constance, prazer. Moro na casa ao lado.

- Ah! Hm...Clarissa. Acabamos de nos mudar, a senhora quer entrar?

- Não, não! Já tenho que ir, vim apenas dar as boas vindas!

- Ok, obrigada então...Até breve, aposto como ainda vamos nos ver algumas vezes! - Falei, simpática.

- Ah, poucas vezes mais, querida... Poucas vezes.. - Disse.

Percebi uma piada escondida naquele "poucas vezes", mas não entendi o que poderia ser. A vizinha provavelmente era um pouco maluca, mas parecia ser uma boa pessoa. Continuei na porta, vendo ela e o garoto (seu filho, acho) se distanciarem. O menininho era bonito,com bochechas fofas e cabelos loiros,usava uma blusa cor de rosa o que me fez compara-lo a um pequeno cupido. Mas algo me dizia que de anjo ele não tinha nada. Essa ideia se duplicou quando o vi virar-se para mim, levando a mão na boca em um pedido de silêncio e logo depois um sorrisinho desafiador, nada parecido com um sorriso infantil. Antes de virar-se novamente e seguir seu caminho, tenho a pequena impressão de ter visto uma luz vermelha por seus olhos.

***

Minha imaginação estava incrivelmente fértil esses dias, era a unica explicação pra isso.

Tranquei a porta e voltei para o meu momento "exploradora de 16 anos" , andando por cada cômodo da casa. As pinturas nas paredes eram um pouco assustadoras, para o meu gosto. Descobri uma sala com uma poltrona e um pequeno sofá posicionados frente a frente e uma lareira. Sentei-me no sofá, alisando o estofado escuro.

- Essa sala é legal, não acha? - Era Freddie, que apareceu do nada, querendo me causar um susto.

- A casa não parece mais tão ruim. - Respondi.

- Era aqui que ele atendia seus pacientes.

Olhei para meu irmão, que devia estar delirando.

- Ele quem? - Perguntei, zoando.

- O ultimo verdadeiro dono da casa, Dr. Harmon. Ele era um psiquiatra e atendia os...

- Ei, - Cortei-o - Como assim ultimo "verdadeiro" dono?

- Os outros moradores não passaram mais de três dias aqui. - Respondeu, indiferente.

- Explica isso direito, menino!

- Você que gosta dessas histórias bizarras, não eu!Pesquisa na internet!

Olhei para ele com cara de tédio e sai da sala.

(...) Meu pai fumava na sacada do lado de fora, sentei ao seu lado e comecei a puxar assunto, pronta para descobrir sobre a história dos ex-moradores.

- Você conheceu os antigos moradores, pai? - Perguntei.

- Não, tudo foi tratado com a corretora.- Ele parecia querer mudar de assunto.

- O seu salário deve ter aumentado bastante mesmo, papai... essa casa não pode ter sido barata. - Comentei.

Era verdade, nunca fomos ricos e a casa, apesar de antiga, era enorme e sua localização não era ruim. Deveria custar no mínimo o dobro do nosso antigo apartamento.

- O preço da casa estava baixo...- Ele comentou, querendo livrar-se logo da conversa.

- Motivo? - Insisti.

- Nada demais, querida, passou a noite bem?

- Pai. Não me trate como se eu ainda fosse uma criancinha. Se tem algo para dizer, diz logo!

Depois de muito enrolar, acabou por me contar que os últimos moradores a passarem um bom tempo na casa não tiveram um final feliz. A mulher morreu de parto e o marido suicidou-se de luto. A filha mais velha fugiu carregando o bebê consigo e nunca mais foi vista.

Era uma história triste e macabra, mas não me assustou. Sempre fui do tipo que teme fantasmas, que teme o desconhecido. Mas não agora. Já tem um tempo desde que comecei a me interessar sobre tudo isso. A imaginar o que aconteceria depois do fim da vida...

Fiquei curiosa sobre o caso e resolvi seguir o conselho de Freddie e pesquisar mais na internet.

***

- Quem é você? - Gritei, ao ver uma menina deitada na minha cama lendo um dos meus livros.

- Oi, eu me chamo Violet. - Ela disse, sorrindo e se sentando.

Cheguei perto dela e arranquei meu livro de suas mãos.

- Como você entrou aqui?

- Calma, eu não queria te assustar!

- Não assustou. O que diabos você está fazendo no meu quarto?

- Te esperando, claro.

- Me esperando? Fale algo com sentido antes que eu grite!

- Ei, eu sou sua vizinha, não precisa gritar, se quiser que eu vá embora, eu vou!

- Filha de Constance? - Perguntei, lembrando da mulher com que falei pouco tempo antes.

A ideia pareceu enojar Violet, que fez uma careta :

- Ah, não, não! Qual seu nome? - Perguntou, mudando de assunto.

- Clary. - Respondi

- Você quer que eu vá embora agora, Clary?

Pensei logo em dizer que sim. Mas seria incrível fazer uma amiga logo no primeiro dia ali, não seria? Aliás, que mal poderia fazer conversar com outra garota da minha idade?

- Anh..não, pode ficar. - Continuei em pé, observando cada movimento da estranha.

- É bom ter uma nova amiga! - Ela disse, feliz. - Costumo ficar meio sozinha boa parte do tempo.

Olhei para o notebook na mesinha e lembrei o que estava indo fazer. Talvez Violet morasse por perto tempo o suficiente para saber tudo o que aconteceu nessa casa...e uma história contada é muito melhor do que lida por uma tela de computador!

- Hm..ei, Violet, por quanto tempo você mora por aqui?

- Ah, já faz um bom tempo! - Ela disse, e pude ver sua expressão de felicidade diminuir um pouco.

- Você...conheceu o pessoal que morava aqui antes de mim? Quero dizer... a família Harmon?

O sorriso de Violet sumiu no mesmo instante, dando um ar triste e melancólico para a menina, que me fez arrepender de ter perguntado. Talvez ela fosse amiga daquele pessoal... Talvez ainda sentisse falta deles, era insensível perguntar. Ia pedir desculpas quando ela respondeu :

- Sim, eu...conheci. Eram boas pessoas.

- Lamento pelo que aconteceu. - Falei, notando que era isso que ela esperava ouvir.

- Eu também. Mas não foi o pior caso que aconteceu aqui. - Completou, falando com um tom de voz mais baixo.

- Como assim?

- Vocês deviam ir embora, Clary.

A simpatia que senti por aquela menina logo pareceu ir embora. A primeira pessoa que eu conheço quer que eu vá embora, nossa, obrigada!

- Obrigada pela sua hospitalidade, mas acho que quem precisa ir embora é você. - Respondi, ríspida.

- Não foi isso que eu quis dizer! É só que...essa casa, não acho que seja um bom lugar para pessoas como vocês.

- Você é maluca? - Perguntei. - Sobre o que está tentando falar?

Ela não respondeu, então continuei :

- Olha Violet, não quero ser chata nem nada, mas acho que não preciso de "amigos" que mal me conhecem e já me querem longe!

- Espero que você não fique tempo o suficiente para pensar o quanto eu estou certa em pedir para que vá embora!

- Você é maluca. - Afirmei. - Vai embora!

Senti algo se mexer em minhas costas e olhei para trás, dando de cara com o espelho do banheiro.  Como não tinha nada, olhei para frente de novo, Violet estava me encarando.

Ei, espera. No espelho... Olhei para o espelho novamente, e vi um garoto sorrindo perto de mim, onde Violet estava meio segundo antes. Virei meu rosto e dei de cara com meu quarto. Completamente vazio.

Nada de Violet. E muito menos de nenhum garoto misterioso.


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