Sonhos de criança. Todo mundo já teve. Os meus eram dois: Ser uma fada e ser popular.

Hoje eu percebo que garotas populares são apenas vadias fúteis que usam minissaias para chamar a atenção de qualquer um que passa. Minha prima Miranda diz que esse é apenas um estereótipo idiota e que na verdade nem todas são assim. Mas ela só diz isso porque também é popular.

Agora que eu tenho 16 anos, meus sonhos mudaram. Na verdade, eles apenas se aperfeiçoaram e viraram uma prolongação de meus sonhos de criança. Por exemplo, eu ainda sonho em voar de asa-delta e fingir que sou uma fada planando livremente. E eu ainda quero desvendar o mistério da popularidade.

Você deve estar se perguntando “mas que mistérios?”. Bom, eu nunca entendi porque todas as garotas populares são ricas e bonitas. Elas simplesmente nasceram no berço de ouro? Por que quase todas são burras? Elas se esforçam pra isso ou o que? Elas gostam de parecerem vadias? E de realmente agirem como uma? Esse tipo de coisa.

E agora que estou numa escola nova eu vou dar um jeito de descobrir.

- Mãe, eu preciso mesmo ir? – Fiz minha melhor carinha de cachorrinho, tentando convencê-la.

- Precisa – respondeu ela simplesmente.

Bufei e voltei a comer meu cereal.

- Querida, não é tão ruim. Lembre-se, Will e Miranda estarão lá com você. E você não será a única aluna nova!

Olhei cética para ela.

-Você me traz pra menor cidade do mundo e realmente acha que eu não serei a única aluna nova? Sem contar Will e Miranda, claro.

- Essa não é a menor cidade do mundo! – Protestou.

- Mas ninguém conhece este lugar! Fala serio mãe, onde é que isso fica? Em Nárnia?

- Que bobagem! Várias pessoas conhecem esse lugar! E posso saber que roupa é essa, mocinha? Por um acaso esses sapatos são meus?

- Ah mãe, eu só queria mudar um pouco. Já que nos mudamos talvez eu também deva mudar. Deixar de ser invisível quem sabe...

- Você não é invisível, querida. Só é mais reservada que as outras pessoas.

- Mas agora eu não sou mais. Você não vive dizendo pra eu tentar coisas novas? É isso que eu estou fazendo! E eu tenho que ir, não quero me atrasar no primeiro dia de aula.

Peguei minha bolsa e saí porta afora.

Ah, eu nem me apresentei. Sou Katie Gardner, a menina mais desastrada do mundo. Acabei de mudar pra um inferno de apenas 1.200 mil habitantes. 1.200 mil habitantes! Em pensar que eu morava em Nova York... Mas pelo menos meus melhores amigos também se mudaram, já que nossos pais trabalham juntos e todos foram transferidos pra cá...

Bom, sabe o que isso significa? Cidade nova, escola nova, gente nova. Mas com certeza, a mesma coisa de sempre. Grupinhos escolares. Populares só andam com populares, geeks só andam com geeks e por aí vai.

Mas também significa um novo começo. Uma outra eu iria tomar o lugar da minha antiga eu e iria se dar bem com todos. Seria uma nova fase da minha vida.

Cheguei à escola, que ficava a apenas 3 quarteirões da minha nova casa e observei. Eu já havia visitado o lugar com minha mãe, quando fui me matricular, mas só agora que parei para olhar mesmo.

O terreno era enorme e a escola era uma construção bem no meio. Era um prédio todo branco com várias janelas e o terreno a sua frente era um enorme gramado com bancos espalhados por ele. Em frente, havia espaço para os carros estacionarem.

Quando eu cheguei já tinham várias pessoas no lugar. Observei algumas delas. Uma loura alta e bonita estava abraçando um cara alto e musculoso de cabelos pretos e olhos verdes. Mais adiante uma garota com estilo punk e olhos azuis ouvia musica em seu Iphone. Bem no meio do lugar um bando de garotas com saias minúsculas e bolsinhas prateadas onde caberiam apenas celulares conversava e ria falsamente. A que parecia ser a “líder” delas estava passando brilho labial grudento e rosado apoiada apenas em uma das pernas. Tinha cabelos cacheados e usava o maior salto agulha que eu já vira na vida.

Finalmente avistei Will conversando com uma garota aproximadamente da minha idade com cabelos trançados escondidos debaixo de um gorro verde. Ele me viu, despediu-se da garota e veio em minha direção. A garota seguiu na direção oposta, para perto daquele casal que ainda estava se abraçando. Agora havia várias pessoas com eles.

- E aí, fadinha? - Will me abraçou e se afastou em seguida. Sim, ele sabia sobre meus sonhos de criança.

- Primeiro dia de aula e você já está dando em cima da menina? Vai com calma, garanhão.

- Não é nada disso, Kat. Aparentemente os amigos dela mandaram-na vir falar comigo para descobrir quem é o garoto novo. Sabe como é, nesse fim de mundo é muito raro aparecer alguém novo.

- Ou seja, daqui a pouco eu também serei interrogada?

- É bem possível. Olha a Miranda ali. – Ele apontou com a cabeça um ponto atrás de mim.

Virei e a vi conversando com uma garota. A garota se vestia bem e tinha cabelos bem cuidados, porém não se parecia com uma vadia. Miranda acenou para nós, despediu-se da garota, correndo em nossa direção logo em seguida.

- Oi gente.

- Oi. Também foi interrogada? – Perguntou Will.

- Gente nova em cidade pequena é uma coisa extraordinária. Sorte que temos um ao outro, assim não somos os únicos brinquedos novos.

Suspirei e todos nos viramos em direção à escola.

- Chegou a hora. – Falei.

Juntos, entramos no prédio e fomos cada um para um lado. Vamos lá, a biologia me espera...