O barulho do vento era insuportável. E ainda assim Will se aproximava cada vez mais de mim e daquela árvore velha e é claro daquele penhasco que me dava pesadelos desde o acidente em que ele morreu.

Resolvi não gritar, eu estava cansada, muito cansada. Simplesmente me sentei com as pernas viradas para o buraco sem fim a minha frente, no momento que ele fosse pular, eu pularia junto.

– Você nunca consegue ver sua própria morte, digo o instante em que você morre. O seu cérebro não consegue processar essa informação... Bom pelo menos é o que falam.

– Esse é o discurso que você me faz depois de constantemente se matar na minha frente Will, qual é o seu problema. - Eu estava rindo de forma quase histérica. E ao mesmo tempo eu queria muito chorar, era o tipo de informação que ele me contava quando conversávamos. Era tão ele e ao mesmo tempo eu sabia que era somente a minha cabeça.

–Isso mesmo, o grande problema, sua cabeça. Você está tão preocupada em se culpar, em sofrer pela minha morte que se fecha pra qualquer chance de felicidade que apareça.

Will tirou uma mecha do meu cabelo que estava voando pelo meu rosto com o vento, ao mesmo tempo que virava meu rosto para o dele. Mas dessa vez eu não hesitei, simplesmente o encarei de volta. Ele suspirou e colou a testa dele na minha. E eu desabei, as lágrimas simplesmente corriam pelo meu rosto.

– Eu...eu queria ter ficado com você, não era nada demais, depois do efeito do álcool a gente poderia ter conversado, eu te explicaria. Você não ia me fazer mal... você não ia...

– Mas eu te assustei não é? E mesmo se não tivesse, não foi você que me matou, eu estava na hora errada, no lugar errado...Talvez seríamos nós dois envolvidos no acidente, talvez um outro carro de alguém que decidiu voltar mais cedo para casa quem sabe...

– Mas...eu...

– Mas nada, você sofreu o que deveria sofrer Celine. - Ele agora estava com o meio sorriso que eu gostava tanto, e com o polegar tentava secar as lágrimas da minha bochecha. - Chega, é a sua vida em jogo agora, esse pesadelo já foi longe demais. Você tem alguém que você se importa e olha só! Por um milagre do destino ela é louca o suficiente para gostar de você também...

–Hey, isso magoa ok? Posso ser meio imatura mas tenho minhas qualidades...

Ele riu e eu ri também, de um momento para outro, não era mas um abismo. Somente uma vista incrível e que pela ultima vez, eu estaria aproveitando com meu melhor amigo.

– Sabe, não se trata de seguir seu coração, de jogar tudo pro alto, isso é bonito em poemas e em peças mas não quando se está vivendo. A questão é: não deixar o mundo passar pelo seus olhos, se machuque, se esforce, e viva! Enterre o passado, todos esses problemas imaginários não vão te levar a lugar algum.

Dei um sorriso e coloquei minha mão sobre as dele, eu senti algo diferente, como se alguém me chamasse. Eu deveria estar quase acordando, era como se alguém sacudisse meus ombros...

– Uma ultima coisa Celine du Mas, continue cabeça dura, Romeu não tem mais chances...só que sua Julieta só vai tomar um frasco com suco de uva e fingir que está dormindo.

Fechei os olhos, Will na minha cabeça era um completo idiota. Mas isso quer dizer que eu era?! Mas ele estava certo. Conseguia ver Victoria a alguns centímetros do meu rosto, meus dedos roçavam nas suas bochechas.

– Nenhum veneno vai tocar nessa boca linda...

– du Mas, que história é essa? - Abri meus olhos de novo, não era só uma impressão. E agora eu estava vivendo um pesadelo. - Vamos que cara é essa, você não ia na peça senhorita?!

Madre Suh estava me segurando pelos ombros e eu estava com a mão logo em cima do nariz dela. Aquela velha tava pirando?? Isso era estresse demais pra uma alma frágil como a minha. Fiz o que qualquer pessoa normal faria ao acordar quase beijando uma freira. Gritei o mais alto que meus pulmões aguentavam.