Uma garota nos meus sonhos escrita por Saber


Capítulo 14
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Poxa como eu sou enrolada!
Boa leitura!



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Victoria

Celine saiu apressada sem nem olhar para trás. E a culpa era toda minha.

Mas como eu começaria a me explicar? Eu não tinha o direito de jogá-la na confusão em que minha mente estava agora.

– Vi, você está tão pálida! Não acha melhor descansar um pouco? - A voz do Bruno me acordou da minha discussão interna, mas ainda não conseguia processar direito nada do que acontecia a minha volta. Depois que ela saiu, nada tinha importância.

– Sim, é melhor. Não se preocupe comigo, vou pegar uma carona com uma amiga minha.

Eu menti, mas não conseguiria tê-lo por perto, o toque dele estava errado. Estava tudo tão errado.

Bruno só consentiu com a cabeça. Ele sabia que eu não estava bem, desde sempre ele fora meu melhor amigo. Mas hoje eu vejo, sempre foi só isso para mim. Agora eu percebo como nada se compara a presença dela, nem nunca se compararia.

Não sei quanto tempo demorei para chegar em casa, e a primeira coisa que fiz foi me jogar na cama. Ao passar a mão por baixo do travesseiro percebi que o ipod dela ainda estava comigo. O que me fez pensar que ela devia estar tão fora de área quanto eu, por ter esquecido completamente que ele estava comigo.

Abri uma das pastas, a única que não era um nome de banda de rock, se chamava apenas “V”. E uma parte de mim queria que fosse para mim, a outra agora entendia que era.

Comecei a escutar Open Your Eyes, Snow Patrol e minha cabeça se encheu de memórias com ela. Celine estava em toda parte.

Me levantei e peguei o notebook, eu precisa entender isso, eu precisava explicar tudo, em todos os detalhes que minha voz não atingiria. Já que sempre que eu estava com Celine era como se minha boca não me obedecesse, ela me impedia de pensar direito.

Foi ai que comecei a escrever para ela.

“ Celine,

Por favor, não me odeie. Jeito estranho de começar não é? Lembra de quando disse que não foi sua culpa eu ter chorado? Bem, eu menti.

Só que era porque eu não conseguia explicar o turbilhão de sentimentos que estavam me sufocando naquele momento. Borbotas no estômago enquanto eu descia uma montanha-russa, era isso que seus lábios faziam comigo. E isso é tão novo pra mim.

Entenda Celine que quanto eu falo seu nome um sorriso me vem tão fácil, e no começo tudo era tão leve. Só que eu tinha um antes. O meu eu de antes tinha uma vida contente. Eu conseguia ver o jardim de uma janela e sorrir com sua beleza. Eu tinha um namorado, que é meu melhor amigo, e eu nunca precisei dizer sim ou não, eu só seguia o fluxo do que parecia certo. E quando vi estava noiva.

Só que ai eu conheci uma garota. Um cordeiro que pensava ser um leão. E por isso quando vi você descontando toda sua raiva em uma almofada, não pude deixar de ver graça na situação. Era tão diferente do certo, você não percebe? Naquela hora eu ainda não tinha entendido.

Você me encantou, pela primeira vez eu notei realmente alguém. Notei seu corpo magro, escondido pela jaqueta surrada. Os traços finos do seu rosto que combinavam perfeitamente com seu cabelo castanho repicado até os ombros, bagunçados de propósito. E quando eu vi seus olhos, eu percebi o quanto meus dias eram nublados, e aquele verde aqueceu meu coração como se eu respirasse pela primeira vez.

E ai você era minha amiga, e mesmo depois de todas as histórias que ouvi sobre você, percebi não importava. Celine, nada importava.

E depois de citar Julieta eu vi em seus olhos, desejo. Você era Romeu, e o texto demandava isso, só que eu senti ciúmes, de uma garota, de um personagem que nem existia.

Mas no fim era eu quem estava em seus braços. E foi como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo, e quando seus lábios tocaram os meus. Por mais doce que tenha sido, eu senti urgência. E quando você me puxou para mais perto, selando sua boca na minha. Eu esqueci do mundo.

Eu me apaixonei? Sim eu amava uma garota. E então o desespero tomou conta de mim.

E por isso eu chorei. Tentei tocar no seu rosto, eu queria mais, eu queria sentir sua pele na minha. Só que as lágrimas já tinham começado a rolar, e seu rosto agora era de pânico. E eu não consegui explicar e me arrependo, cada dia mais de ter deixado você sair daquele jeito.

Mas o que eu diria? Que eu estava noiva e por algum motivo nunca tive a coragem de dizer isso, mesmo depois de todas as nossas conversas. Eu era lésbica? Para amar alguém eu precisava ter um rótulo? E Bruno, como eu contaria, ele precisava de uma explicação já que eu fugia de qualquer tentativa dele de ficar comigo. Que eu sentia culpa por não me sentir arrependida? Eu jogaria tudo

pro alto sem nem pensar duas vezes.

Sabia que eu volto sempre naquele lago, e enquanto eu arremesso alguma pedra eu lembro de você me abraçando e percebo o vazio que me acompanha agora. Queria contar para você que melhorei meu arremesso, acertaria a cabeça de um turista passeando numa das barcas do Rony facilmente.

Meu Deus, o que meus pais diriam? Eu partiria o coração do meu melhor amigo. Eles me amariam do mesmo jeito, minha mãe choraria, ela ficaria decepcionada. Mas eu não mudei, não teria porque, eu sou a mesma de antes, não sou?

Desculpe-me por não ter coragem para te amar, eu...”

Fechei o notebook, eu era covarde. No final eu era só uma menina mimada, brincando com sentimento dos outros. E eu senti ódio de mim. Eu precisava resolver isso.

– Por que eu me apaixonei por ela? - Minha voz saiu como um grito, meio desafinada.

E me olhando no espelho decidi por um fim naquilo. Eu tinha obrigações, eu tinha uma realidade e tinha que dançar conforme a música. Eu mataria esse sentimento dentro de mim.

Demorei um pouco para voltar ao Centro, e corri até a biblioteca. Eu sabia onde ela estava. E eu a vi deitada no sofá da estufa no último piso, com os olhos fechados. Por um segundo eu fraquejei, eu queria abraçá-la e fugir, só que não foi isso que eu tinha decidido.

Celine percebeu que eu estava lá, mas continuou em silencio e simplesmente se levantou, nivelando seus olhos com os meus. Nada facilitava aquele momento.

– Vick, o que...

– Não interessa!- eu a cortei, todas as palavras saiam da minha boca, mas não era eu. Não era o que eu queria. - Eu vou me casar, Bruno é um homem bom, ele não merece isso, ele é meu melhor amigo. Desde sempre ele cuidou de mim, e é assim que eu retribuo? Não!

Perdi um pouco do fôlego, ela podia ter me interrompido, mas não, Celine só continuou me olhando, sem expressão.

E eu continuei interpretando meu papel. Quem sabe se ela me desprezasse seria mais facil. Quem sabe não era tudo da minha cabeça.

– E isso acaba aqui, eu vou voltar para a peça e na apresentação de amanhã eu serei a Victória de antes, e junto com Bruno. Junto com o garoto que eu....

Minha voz falhou, eu não conseguia dizer “ amo” porque não era verdade.

Eu precisava me afastar dela, e por isso sai correndo de lá abrindo a porta da estufa com tudo. Apesar de lembrar da expectativa dos meus pais, da traição que seria para o Bruno, do olhar de todos, dei meia volta e  minha mão voltou para a maçaneta...


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