Demônios Também Sonham escrita por AmaiMaboroshi


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Tava com saudade de vocês >w
Chorem. qq
Antes disso, cliquem no link dos asteriscos. Uma versão editada de Vermillion, Slipknot. ♥



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***

“Bocchan...”

O humano fecha os olhos, e sonha. Sonha como jamais sonhou antes; penetra em suas quimeras, todas elas paradoxos. Um mundo onde o eterno é efêmero, e o efêmero é infinito. Um mundo onde o céu é um inferno e inferno é paraíso. Um mundo onde um garoto ama um demônio e o demônio ama o garoto.

Amor... Sentimento inerente aos humanos, (provavelmente) incompreensível a um ser sobrenatural.

Aqueles lábios curvados em um sorriso voraz se aproximavam cada vez mais... Um beijo.

‘Um mundo onde o eterno é efêmero e o efêmero é infinito.’

Um beijo cálido. Um simples toque de lábios que fê-lo estremecer. Sentiria-se envergonhado de simplesmente olhá-lo se amanhã... Não, não existe o amanhã. Não para ele, Ciel Phantomhive. Resta-lhe somente o agora; vamos, pequeno, desfrute da sensação de vazio do momento, do prazer desse beijo, dessa dor no peito que o faz um humano que ama, que fere, que erra, mas que também chora e se arrepende.

Ciel levou os braços ao tronco do demônio, abraçando-o firmemente. O outro sorriu, os lábios ainda roçando nos dele. Ah! Humanos, tão volúveis e impulsivos, tão tolos! Mas, ao mesmo tempo, tão... Imprevisíveis. E é isso o que os tornam interessantes, por vezes muito atraentes. Ah sim, pois demônios também sonham. Um puro deleite de sensações visuais, voluptuosas e ousadas, um futuro nem sempre tão concreto mas que são capazes de fazê-lo verdade.

E ele envolve o garoto em suas fantasias, sem perceber que o fere. Desconhece os limites de um coração humano, não sabe que o pode sangrar. Sem hesitar, impõe seu domínio, deixando o pequeno submisso a ele, e ri satisfeito quando se entrega tão facilmente, como se suplicasse pelos seus toques.

A doçura de sua voz e gestos eram consternantes. Uma poção que, ao passo que lentamente aflora os sentidos da pele provoca uma espécie de vertigem, uma embriaguez. Como uma droga viciante que consome o corpo por inteiro. Mas aquele demônio, sempre tão audaz e inexorável, também sentia dentro de si uma conturbação, algo que nunca lhe passara antes. Uma espécie de revolta, de conflito consigo mesmo, que coexistia enquanto se preparava para tomar aquela alma. Era como se parte de sua consciência lhe ordenasse a não fazê-lo, enquanto seu instinto lhe dizia exatamente o contrário. O que fazer? Poderia passar a eternidade a decidir, porém tinha ciência de que a imortalidade não era uma dádiva – ou maldição – compartilhada com humanos. Deveria fazê-lo agora. Deveria absorver sua almejada alma. Aquela, desenvolvida a seu gosto por três breves anos, até chegar a esse estado de perfeição extrema... De tão perfeita que era, seria capaz até de apaixonar-se por ela.

Apaixonar-se...? Não, impossível... Oras. Sentimentos são nulos para eles, os demônios. Sebastian sabia disso, não sabia? Amor é um empecilho que leva os humanos a realizarem atos impensados. Demônios se deixam levar pelo instinto – mas é por isso que podem muito bem fazer o mesmo: alcançar atos equivocados. Equivocos são erros, erros levam a arrependimentos...

Recomponha-se, demônio.

Lentamente, detinha-se em silenciar a dor desconhecida do outro, sua paixão intrínseca, seus devaneios súbitos e desejos contidos. Estava tudo bem, pensou o garoto. Estava tudo bem.

Sua vida relampejou em sua mente, passando por si em um segundo. Ergueu o braço para alcançá-lo, mas... Ah.

O humano em vão agitou-se, agarrando-se ao outro num frêmito amargurante, como quisesse ao mesmo tempo resistir e ceder a única coisa que lhe restara... Não, sua alma já não lhe pertencia mais, tampouco a dignidade e o orgulho que permanecia intacto, rígido, até então. Aos poucos, deixava de ser Ciel Phantomhive. Aos poucos, tornava-se nada, e via-se a si mesmo retornar ao vazio. Alguns segundos mais e toda sua dor se dissiparia. No entanto, ainda tinha medo... Sua consciência desvanecia, e o sofrimento físico também. Deixou escapar um gemido de agonia, um  murmúrio arrastado que parecia chamá-lo:

“Se... (bas)... Tian...”

O demônio arregalou os olhos, mas nada podia fazer para impedir o que iniciara. Se parasse, aquela alma se quebraria, e partiria para o infinito, para o sofrimento eterno. Era essa a punição divina que caía sobre ambos, sobre aquele que seduziu uma alma pura, e a alma imaculada que deixou-se ser seduzida.

“Bocchan! Bocchan, bocc...”

Ciel já não o ouvia mais. Também não o via mais, não conseguia abrir as pálpebras, sentia-se cansado. Como se nunca houvesse dormido na vida, e seu corpo agora vinha-lhe cobrar o descanso. Não havia mais calor, somente exaustão. Por fim, não foi mais capaz de sentir as mãos do outro, envolvendo-o em um último abraço, o abraço de sua morte.

Não se tem certeza, às vezes ouve-se lamúrias de um demônio que sonha, e que eternamente clama por algo - ou alguém - que jamais retornará.

“Bocchan....”


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Notas finais do capítulo

Eu gosto de drama, e por isso já escrevi a morte de Ciel várias vezes x3 Fica cada vez pior ._.
Enfim, postei isso às pressas. Espero que tenham gostado :3