Humanidade escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 4
O Lento Bocejo




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No dia em que ela me beijou, a criatura dentro de mim quase foi vencida pelo ser humano, embora a maldição que me tornara Dark One tivesse começado a me abandonar. Eu chorei e quebrei muitas coisas valiosas, mas não consegui quebrar a xícara lascada de Belle, porque seria como se eu estivesse destruindo tudo junto.

Tudo o quê? – A criatura dentro de mim teimava em perguntar, enquanto eu segurava com força aquele objeto insignificante.

Tudo! – Dizia o ser humano muito confiante, enquanto eu encarava aquela xícara de valor inestimável para mim. Embora a ausência de detalhes em seus argumentos indicasse que ele não sabia exatamente como responder, fazia sentido.

As trevas e a luz, a criatura e o ser humano, a adaga e Belle. Eu sabia que ambos não podiam estar lado a lado, eu deveria escolher apenas um.

Talvez, ela possa entender. Para Belle, o amor é algo íntimo, porque não compreenderá que devo manter o meu poder porque ele seria a chave para eu me encontrar com o meu filho amado.

Confiante, eu caminhei até as masmorras para libertá-la, para ter o que deveria ser a minha primeira conversa realmente franca desde que Baelfire partira. Então, eu encarei a porta e me lembrei de meu filho, e me lembrei de que ela poderia não compreender e talvez eu o perdesse para sempre por não ter coragem de olhar nos olhos da garota – porque eu sabia que Belle ainda não passava disso – que eu amo.

Não posso arriscar! Não devo arriscar! Ela é encantadora e bonita, mas também é muito jovem, pura e ingênua: poderá compreender meus objetivos, mas jamais entenderá os meios que usarei para alcançá-lo.

Rumpelstiltskin, deixe-me ajudá-lo.

Achei que havia ouvido aquilo dentro da minha cabeça, e já começara a me afastar quando ouvi a voz de novo, gritando o meu nome, e percebi que Belle me ouvira chegar. Como que para justificar a minha presença ali, transportei um pouco de chá para dentro da sala usando minha mágica e, em seguida, me afastei.

(Mais tarde, eu vi que mandara para ela a xícara lascada. Não sei o que dentro de mim fez com que eu lhe desse exatamente aquela xícara, talvez fosse o fato que eu estava pensando demais nela, talvez fosse o destino brincando conosco – eu e Belle).

Uma das razões pelas quais eu não conseguia chegar a uma conclusão a respeito do que fazer sobre Belle era que eu não era capaz de passar meia hora sem pensar a respeito do beijo dela. Tenho certeza que não foi longo, mas me atingiu de modo muito peculiar – aquele era um beijo de amor verdadeiro, aqueles eram os sentimentos de Belle por mim. Algo mudou naquele momento, mas eu não senti o poder ser esvaindo, senti-o transbordando de dentro de mim, preenchendo-me e se transformando lentamente.

Quando meus pensamentos chegavam a esse ponto, o ser humano dentro de mim, exultante, afirmava que os meus poderes não desapareceriam por causa de um beijo de amor verdadeiro, eles cresceriam, ao que a criatura respondia que eu não deveria arriscar. Bons argumentos.

Eu a expulsei do meu castelo no dia seguinte. A criatura possuía os argumentos mais fortes, e era relativamente fácil desistir. A verdade é que amar Belle, estar apto a atingir as expectativas que ela possuía, transformar-me por ela: tudo isso me amedrontava, eu ainda era um covarde.

Eu não disse nada a ela, não falei sobre a necessidade de eu manter o meu poder para a minha busca por Baelfire, não mencionei que estava apavorado diante das expectativas que ela poderia possuir, diante da inocência e do amor dela. Deixei que pensasse que eu apenas não acreditava que ela me amava: era mais fácil!

Você é um covarde, Rumpelstiltskin, e não importa o quão grossa você faça a sua pele, isso não muda!

Olhando nos olhos dela, eu soube o quanto a havia decepcionado. Talvez mesmo ela ainda não tivesse certeza do que esperava de mim, mas eu sabia que, independentemente de quais fossem suas expectativas, eu sempre decepcionaria uma pessoa tão bondosa e pura.

Por isso, eu a deixei ir e, mesmo tendo-se passado três semanas, ainda não tenho certeza se fiz certo ou errado.


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Notas finais do capítulo

Olá a todos.

Eu realmente achei que não conseguiria escrever esse capítulo rápido. Passei algumas horas olhando para o documento em branco, com medo de começar, pensando estar sem inspiração. Então, eu pensei: "que se dane a inspiração", e comecei a escrever. Resultado: não parei antes que tivesse acabado. Foi até fácil!

Espero que gostem de ler esse capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. Gostaria de agradecer ao Mateus, que betou o último capítulo para mim e me deu a dica de adicionar novas cenas. Aí está, Mateus, a cena em que o Rumple envia a xícara, embora tenha sido filmada, não foi colocada e eu achei interessante adicioná-la.

Obrigada a todos que ainda estão acompanhando e comentando. O próximo capítulo é um epílogo, mas esse não é o fim: uma sequência se aproxima rapidamente.



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