– Tch...Então esse é meu limite,hã?

As grandes asas negras começaram a se dissipar diante de meus olhos que permaneciam imóveis, senti minhas mãos começarem a tremer, mas ainda não sabia o porque.

– Mate-me.

Um calafrio percorreu minha espinha e agora não eram só minhas mãos que tremiam, porque?
 
–Rápido.Eu não tenho mais forças se quer para andar. Se não me matar agora, essa luta não terá mais um fim.

Ao mesmo tempo que eu não ouvia mais nada, ouvia tudo muito bem. Estava em um estado de torpor estranho, talvez por todas as milhares de coisas que haviam acontecido naqueles intermináveis minutos, ou pelo embrulho que começava a se formar em meu estômago. Porque, droga, aquilo estava acontecendo?

– Não.

– o quê?

– Não vou fazer isso.

Meus olhos iam de um ao outro involuntariamente, tentando encontrar a resposta do que estava acontecendo comigo nos olhos de um deles.

– Você...Você acha que eu quero vencer assim?!

O aumento repentino de tom fez meu corpo estremecer, e agora só conseguia focar as asas escuras que continuavam a desaparecer numa velocidade ainda maior. Meu peito estava apertando.

– Tch...Até mesmo no fim...Você continua imprevisível.

Senti aqueles olhos tão melancólicos fixarem-se nos meus e o embrulho no estômago piorou. Fim...?

–Logo agora...Que eu estava começando a me interessar por vocês, Humanos.

Ele esticou sua mão em direção a mim, e meus músculos se tencionaram mais uma vez.

– Você tem medo de mim...Mulher?

Meus lábios se separaram, mas no primeiro minuto nenhum som saiu deles. Era como se eu tivesse esquecido tudo o que tinha acontecido ali, a alguns minutos atrás. Toda a destruição, o ódio, o sangue e o desespero. Não existia mais nada nem ninguém, só conseguia enxergar aqueles olhos melancólicos que só agora percebia terem se tornando tão familiares.

– Eu não tenho medo.

Pronunciei essas palavras sem nem mesmo ter consciência disso. O embrulho no estômago havia desaparecido.

– Entendo.

Derrepente, fui tomada por uma vontade insana de tocá-lo. Não me contive. Estiquei minha mão trêmula em direção a ele, querendo sentir sua pele pelo menos uma vez. Só mais alguns centímetros, pensei, sentindo meu coração bater tão forte que quase doía. Já havia desistido de entender, só queria tocá-lo. Não havia mais distância, movi meus dedos para alcançá-lo e o senti seus dedos virarem poeira diante de meu toque.

Não consegui abaixar minha mão, mesmo vendo agora seu braço começar a se desfazer continuava com minha mão erguida em sua direção, numa tentativa inútil de alcançá-lo. Sentia as lágrimas que eu não iria derramar queimarem meus olhos quando procurei os dele pela última vez, notando uma mudança sutil. Será que ele podia sentir? Será que notaria o sofrimento em meus olhos?

Será que ele podia sentir...O meu coração?