– Voe... – o empático, de olhos fechados, começa a recitar. – Voe e atenda ao meu clamor. A graça da luz ultrapassa todas as barreiras do tempo e do espaço. Eu te chamo, Andrômeda!

A belíssima e pura pluma branca em sua mão começa a levitar, indo para trás do grupo. Tsubaki e Reiko passam a dar atenção para esse fato enquanto Senshi agacha e toma Amaya, ainda sem consciência, para si.

– Uma pena branca... – pensa Tsubaki, surpresa. – O que Yujo-kun fez?

Senshi – com Amaya Ome em seus braços –, Tsubaki e Reiko: os três viram seus corpos para trás. A pluma, então, torna-se estática a certa distância deles e começa a ser envolvida por uma densa camada de luz. Tal camada de luz, inicialmente esférica, vai, pouco a pouco, tomando forma humana até deixar de arder, materializando Andrômeda.

Tanto Reiko quanto Tsubaki ficam surpresas enquanto Senshi, sereno, permanece como está.

– Um anjo... – imagina a espadachim do futuro.

Andrômeda surge de olhos fechados, com os pés um pouco acima do chão. Suas belas asas, abertas e grandiosas, enchem ainda mais de plenitude e beleza a sua imagem. Contudo, logo desaparecem, humanizando-a e afastando-a do ideal angelical. A beldade abre seus olhos, lançando-os diretamente para Senshi.

– Ela é belíssima... – pensa Reiko, ainda mais perplexa e impactada que Tsubaki.

Vindo à direção deles: Andrômeda, vestida com trajes de aluna da instituição de ensino. Por isso, ao dar-se conta de tal fato, Tsubaki somente fala:

– Você... Você...

– Sua missão está chegando ao clímax, Senshi. – articula a figura angelical, ainda se aproximando com passos suaves, mas imponentes. – Esteja preparado, pois é por isso que estou aqui. É sabendo disso que me invocou, não é verdade?

– Sim. – responde o garoto, sério e calmo.

– Algumas coisas mudaram e, por isso, não estou me apresentado na minha forma celestial. E em todas as minhas aparições até agora, apenas projetei a minha aura neste mundo enquanto eu permanecia nos céus. – explica, cada vez mais perto dos estudantes. – Contudo, agora que me invocou, estou me apresentando na minha forma temporariamente humana.

Andrômeda cessa seus passos, pois coloca-se perante eles, suficientemente próxima. Exibindo um sorriso doce e gentil, a bela articula:

– Vamos nos posicionar como se deve.

– Como assim? – indaga Tsubaki.

A donzela dos céus redireciona sua face para a garota das plantas. Ainda sorridente, fala:

– Isto é uma guerra. Se não tiveram a consciência disso, serão derrotados.

Tsubaki e Reiko ficam perplexas. Porém, Andrômeda não para por aí. Pelo contrário, prossegue:

– Entendam: estamos aqui para vencer.

/--/--/

Em outra área de Kyodai...

– Você está mesmo bem, não está? – questiona Daniel, correndo ao lado da sua “loira preferida”.

– Sim, não se preocupe comigo. – corresponde Sherry, séria, seguindo o caminho. – O importante é que, agora, estamos chegando bem perto do meu alvo.

– Qual o seu alvo? – questiona Gingamaru, bem próximo dela.

Além de Gingamaru, Daniel e Sherry, também, Yukino, Sayuri e Sugaku estão indo por este corredor. Assim que Sugaku quebrou para sempre o lacre que selava parte dos poderes da Fontaine, a professora definiu um plano. Com o dizer de que precisava de certo tempo para recuperar suas forças, Sugaku disse que todos eles deveriam ir até um ponto estratégico de Kyodai: no caso, exatamente, o centro do território do colégio. Seria, então, o momento em que Sherry entraria em ação.

– O meu alvo? – rebate a loira, parando de correr de uma hora para a outra, permitindo que seus belos cabelos se lancem para frente do seu corpo por alguns momentos. – O meu alvo são todos!

Seus acompanhantes também param aqui. Ao longe, na direção dos seis, vem vindo uma projeção astral da loira. É uma pequena parte de sua alma que a jovem, pouco depois de adquirir controle sobre seus poderes totais, formou para que pudesse encontrar a região central do colégio. E agora, se aproximando o suficiente, tal projeção avança para Sherry, se conecta a ela e volta para seu interior.

– Este é o centro exato de Kyodai? – pergunta Yukino.

– Sim. – garante a Fontaine, olhando por alguns instantes para a flautista. – Minha projeção fez a busca completa e identificou a exata posição em que estou como o centro da escola.

Sherry suspira e fecha seus olhos. Enquanto isso, ela explica:

– Nosso plano precisará da Sugaku também, como já sabem. Com o meu sinal, ela tentará rastrear todos os agentes e humanos avançados em Kyodai e eu projetarei frações da minha aura para todos esses grupos. Com isso, todos os nossos amigos serão informados da situação com riqueza de detalhes. E mais: eu mesma me responsabilizarei por jogar ao chão todos os invasores e arrancar deles tudo o que sabem.

– Você vai mesmo conseguir fazer tudo isso? – pergunta Daniel, preocupado. – Não é perigoso tentar?

– É mesmo. – concorda Sayuri. – Você sempre foi capaz de projetar sua alma completa sem retirar frações dela e perdia a consciência. É óbvio que, agora, você está mais forte, mas se esforçar tanto pode ser o mesmo que ultrapassar limites que devem ser respeitados.

– Estão enganados. – determina a loira, ainda de pálpebras seladas. – Eu sei muito bem o que estou fazendo.

A garota suspira outra vez, se concentrando. Vendo que ela está fazendo isso, Sugaku, pouco atrás, articula:

– Mesmo sendo telepata, meu dom não é o mesmo que a supercomunicação de Amaya Ome. É por isso que não poderei formar uma conexão com tanta eficácia como ela poderia fazer. E, no estado em que estou, após me desgastar tanto com a liberação das suas habilidades, não poderei fazer muita coisa...

– Não faz mal. – pontua Sherry. – O pouco que fizer será suficiente.

Sugaku suspira fundo, se concentrando como ela. Fechando os olhos, coloca cada palma em um lado de sua cabeça, ativando suas habilidades telepáticas com tudo o que tem.

“De agora em diante, você poderá ser quem quiser... E pintar o seu futuro com a cor que pedir o seu coração”: a loira se lembra das palavras, anteriormente, ditas pela professora de matemática. Isso eleva ainda mais a força de vontade da jovem que, por um breve instante, sorri.

– Este será o caminho que irei abrir! – exclama, em seus pensamentos.

– Agora, Sherry! – proclama Sugaku, reabrindo seus olhos.

Nesse exato momento, a telepata estipula uma conexão mental com todos os humanos avançados e todos os agentes do governo que estão nos territórios de Kyodai. É quando turbilhões de ar envolvem Sherry e seus olhos se reabrem.

– Avante, Sherry Fontaine! – mentalmente, diz a loira para si mesma.

– Sim, avante! – pensa Sugaku, sorrindo, captando o pensamento dela.

Os olhos de Sherry adquirem uma belíssima coloração vermelha, algo que somente Daniel percebe, pois é o único perto da mesma o suficiente para tal. Na sequência, várias projeções astrais da filha de Pierre Fontaine, todas no mesmo tom que seus olhos, surgem ao redor dela.

– Impressionante mesmo! – fala Gingamaru, pasmo.

Sugaku, com alguns passos, se coloca perante Sherry. E, sorrindo, fala:

– Então você também é uma Flamming. – com suas pernas fraquejando, a professora cai de bruços ao chão, mas antes de cair de fato e desmaiar, pede: – Cumpra o seu dever com excelência, Sherry Fontaine...

– Sugaku-sensei?! – Gingamaru, surpreso, corre em direção à mulher e a ajuda.

Enquanto o filho de Yukino tira a desacordada professora do chão, as projeções astrais de Sherry se espalham para todos os locais que Sugaku identificara.

– É realmente bem difícil controlar tantas projeções em tão variadas distâncias, alvos e posições. – pensa ela, com dois passos para trás, com seus olhos ainda vermelhos e madeixas ao ar. – Mas eu sou capaz!!

/--/--/

Em outro corredor, não muito distante dali, correm Nagashi – com Ai em seus braços –, Lucy e Alaska. Sérias, elas seguem seu rumo quando, contrários a elas, surgem agentes do governo – três ao todo. De imediato, as três garotas cessam. E a loira, irritada, fala:

– Vocês não param de aparecer! Isso me enfurece!

– Nagashi Swords, você é nosso alvo principal! – declama um dos sujeitos, posicionando sua arma contra ela assim como os outros dois. – Capturar você renderá muito lucro para nós!

– Então veremos se são capazes. – pontua ela, sorrindo forçosamente.

A Swords cerra seu punho esquerdo e se prepara para golpeá-los sem clemência, mas algo interrompe sua ambição: a visão de uma das várias projeções astrais de cor escarlate que Sherry Fontaine espalhou por Kyodai. Tal projeção surge bem atrás dos três agentes e, elevando-se um pouco, se divide em três.

– O que é aquilo? – se pergunta Alaska, assustada. – São fantasmas?!

– Não, é a artimanha de uma aliada, uma amiga. – fala Nagashi, sorrindo para a Snow. E pensa: – Só não imaginei que ela era capaz de fracionar a projeção da própria alma...

A Swords volta sua atenção para as projeções de Sherry. E, em seguida, cada ataca um respectivo agente por trás. Eles, em desespero, começam a gritar.

– É como a possessão de Fênix... – pensa Lucy, surpresa. – Desde quando Sherry consegue fazer esse tipo de coisa?

Os três sujeitos caem no chão, largando suas armas, mas não param de gritar. O sofrimento deles parece inquestionável.

– O que está acontecendo?! – grita um deles. – É obra desses monstros malditos?!

Eles gritam por mais alguns instantes, mas então caem sem consciência ao chão. As auras escarlates da ausente Fontaine saem dos corpos e se reúnem no ar, formando uma só outra vez.

– Os matou? – pergunta Alaska, aterrorizada.

– Não. – nega a projeção de Sherry, mantendo a distância do trio. – Eu não sou uma assassina. Demorei no processo porque estava coletando algumas informações. Porém, parece que eles não sabiam de muita coisa...

– Você ficou mais poderosa ou é impressão minha? – pergunta Nagashi, sorrindo.

– Não é impressão, é fato. – confirma, séria. – Sugaku libertou os poderes que estavam selados em minha mente e corpo e agora sou uma humana avançada completa.

– Admirável... – pensa Lucy, bem surpresa.

– Suponho que já sabem que o governo está contra todos nós, ligados a Kyodai. – comenta a projeção.

– Sim, sabemos. – fala a “garota regenerativa”. – Inclusive, estamos tentando impedir que um terrível futuro previsto pela Nagashi ocorra.

– Compreendo. – articula a projeção, se aproximando. – Bem, desde que esta projeção entre em contato direto com vocês, nossas informações sobre tudo o que está acontecendo serão compartilhadas sem a utilização de nenhuma palavra sequer.

– Nossa. – pensa Nagashi. – Que grande evolução, Sherry...

A projeção se aproxima o suficiente, levitando. Com sua mão direita extensa – a respectiva mão de Nagashi também é estendida –, a fração de alma presente toca a Swords. Nesse momento, informações em massa são trocadas por elas. O contato dura menos de cinco segundos.

– O suficiente. – diz a projeção, afastando-se um pouco. – Creio que vocês três não precisarão de nenhuma ajuda. Portanto, retornarei.

– Certo. – aceita Nagashi.

A projeção astral, imóvel, começa a desaparecer até se dissipar, em poucos momentos, por totalidade. No ponto em que o corpo original de Sherry Fontaine está, a própria cancelara tal fração de sua alma e, com isso, a fez retornar para si com menos esforço.

– Ela me disse onde Senshi, Tsubaki e Reiko estão. – garante a loira, alternando seu olhar entre Lucy e Alaska. – Vamos até eles.

– Sim! – aceita a “cientista maluca”.

– Por alguma razão, eu não estava conseguindo identificar a presença do Senshi... – vai pensando enquanto começa a correr de novo, sendo acompanhada pelas outras duas. – Mas Sherry acabou de me ajudar! Me espere, Senshi, estou chegando!!

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Em paralelo, na ala feminina dos quartos do colégio...

A água escorre pelo corpo de Julie Gray. Com seus olhos fechados, usando sua mão direita para ensaboar seu corpo, a jovem aproveita, sorrindo, o agradável banho que está tomando – e sem fazer ideia alguma do que está acontecendo nas demais dependências do colégio. Sem maldade alguma, continua se banhando, o que vem fazendo há bons minutos.

– Que banho relaxante... – diz para si mesma, com o rosto levemente erguido, abrindo seus olhos de modo parcial. – Eu estava mesmo precisando de algo assim. E como estava...

De repente, uma das projeções de Sherry Fontaine atravessa uma das quatro paredes, adentrando o banheiro, qual se localiza no quarto de Julie. Enquanto continua ensaboando-se, Julie fecha seus olhos de novo e não percebe tal fato.

– Julie. – recita a projeção da Fontaine, assustando-a.

De uma só vez, a garota se vira para trás. E, dando de cara com a projeção astral, grita aterrorizada, afastando-se e colando suas costas na parede. É quando a figura escarlate, pairando a alguns centímetros do chão e à boa distância da outra, se manifesta outra vez:

– Não precisa ter medo, sou eu, Sherry Fontaine.

– F-Fontaine-san... É você mesma? – Julie, pasma, usando sua mão direita para pegar a toalha sobre o suporte metálico da parede, manuseando-a e envolvendo seu corpo com a mesma: ainda tremula, o susto foi grande demais.

– Sim, sou eu. Aliás, uma pequena porção da minha alma. – explica. – Vim aqui para lhe dizer que Kyodai está sendo atacada.

– Atacada?! – questiona, pasma. – Como assim?

– Invasores enviados do governo estão aqui para capturar todos os humanos avançados. – revela. – Luka, Lygis e Kenny estão na sala da direção. São as pessoas mais próximas de você, no momento. Recomendo que reúna-se com eles e refugie-se lá.

– T-tudo bem, farei isso. – fala, acalmando-se. – M-mas...

– Não se preocupe, nós venceremos esse dilema também. – afirma, sorrindo. – Eu mesma estou fazendo o que está ao meu alcance para ultrapassar mais esse obstáculo.

– Ainda bem. – diz Julie, suspirando aliviada. – É sempre bom contar com a força que todos têm por aqui. Isso me incentiva a ter a minha própria força também.

A projeção astral de Sherry mantem seu sorriso, tal como o silêncio. Contudo, decide falar mais, instantes em seguida:

– Vista-se. Não podemos perder muito tempo.

– C-certo. – fala a garota.

Fechando o chuveiro, Julie se apressa e, secando-se, veste seu uniforme, qual está suspenso no mesmo suporte metálico em que estava sua toalha. Ao vestir-se, volta-se para a projeção outra vez, falando:

– Estou pronta.

Desse modo, sendo guiada pela fração da aura de Sherry, Julie vai sendo levada para a sala da direção. Saindo do quarto, porém, a jovem Gray se depara com um grupo de agentes do governo passando pelo corredor. É nesse instante que eles a percebem.

– Olhem lá! É uma! – exclama um dos seis sujeitos armados.

De imediato, a projeção de Sherry voa, com agilidade, contra eles. Em instantes, se divide em seis e entra no corpo de todos eles. Sem ação, os homens largam suas armas e caem aos berros no chão. Julie, por sua vez, assiste tudo bastante impressionada, mas sem nada para fazer.

Logo depois, as seis porções saem dos homens, agora inconscientes, e se reúnem, formando uma única, como era antes. A projeção se reaproxima de Julie com uma expressão natural. Contudo, ao chegar perto o suficiente, demonstra perplexidade por algo.

– O que foi? – questiona Julie.

– Eu acabei de adquirir uma informação assustadora! – exclama a figura escarlate. – Uma das outras projeções possuiu um dos líderes dos esquadrões que invadiram Kyodai e conseguiu ficar ciente de algo terrível!

– Do que você está falando? – a Gray, ficando assustada de novo, tenta entender. – Que tipo de informação adquiriu para ficar assim tão amedrontada?

E ela corresponde:

– Agora sei qual é o verdadeiro plano de Dark e Grade: nos exterminar!

/--/--/

Enquanto isso, na sala da direção...

– Nos exterminar? – repete Luka, pasmo.

No local, estão presentes, além dele, Lygis, o desacordado Kenny e uma projeção astral de Sherry Fontaine. No momento, esta está passando para eles as mesmas informações que as outras projeções estão passando para os humanos avançados que estão espalhados pela escola.

– Exato! – confirma a projeção vermelha. – São poucos os agentes que invadiram e estão cientes, mas parece que, por debaixo dos panos, Edward Strauss e Grade Lark estão preparando uma bomba para destruir Konton.

– Isso é mesmo verdade?! – Lygis, sem palavras.

– Então a bomba daquela visão da Sayuri... – raciocina Luka, em alto e bom som. – Era isso?

– Creio que sim. – corresponde a figura escarlate, alternando seu olhar entre os dois. – É possível que esta bomba já esteja a caminho do colégio enquanto nós perdemos tempo enfrentando os agentes do governo, que não passam de isca para tirar nosso foco do verdadeiro problema. Quando chegar a hora, Grade virá para cá e, através da sua umbracinese, irá retirar todos os aliados dela da cidade. Os que restarem serão exterminados.

– Mas isso não pode acontecer! – exclama Luka. – Precisamos impedir isso de alguma maneira!

– Estou aqui! – exclama Yuong, abrindo a porta do local repentinamente, entrando junto com outra projeção de Sherry.

As duas projeções se aproximam e, então, se combinam, formando uma só. Yuong chega mais perto de Luka e Lygis, um pouco ofegante, dizendo:

– É provável, pelo que parece, que não tenhamos muito mais tempo. Não está mais ao nosso alcance impedir esta bomba, que já deve estar a caminho.

– Mas algo precisa ser feito! – exclama Luka.

– Não se preocupem. – alega a projeção da Fontaine, virando-se para os três.

O trio, aflito, volta sua atenção para a figura vermelha. Séria, ela determina:

– Eu já sei o que deve ser feito!