Kyodai - The Awakening Of Chaos (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 73
63 - Graceful charity




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– Anh? Como foi que eu vim parar aqui? – se pergunta Tsubaki Seijitsu.

Ela já se deu conta de que está em outro lugar: o jardim de Kyodai. Contudo, não percebera que está em outro tempo. Por outro lado, ao observar mais esse aconchegante lugar, sorri, pensando:

– Faz tempo que não fico por aqui...

– Tsubakiii! – alguém a chama.

A garota se vira para trás. E fica espantada quando vê quem a chamara: Gingamaru Pride.

– Gingamaru-kun!?

– Mas que cara de surpresa é essa? – indaga ele, se aproximando e se colocando perante ela. – Até parece que viu um fantasma...

Finalmente, a ficha de Tsubaki cai. Ao se lembrar dos últimos acontecimentos que viveu, se dá conta de que está em algum ponto no passado. Não saberia dizer como, mas tem ciência de que viajou no tempo. Que outra explicação, afinal, isso poderia ter?

– Olha para cima. – pede Gingamaru, sorrindo.

Ela olha. E vê que o céu está começando a escurecer, pois a noite está caindo. É aí que Tsubaki se lembra de quando ele lhe chamara uma vez para apreciar o céu noturno, dois dias antes da sua morte. Se lembra também que, naquela ocasião, teve que estudar as matérias de Física e Química com Daisuke por ter dificuldades nas mesmas. Contudo, o mais importante para ela é lembrar que todos os seus amigos que faleceram, e não apenas Gingamaru, estavam vivos: Sophia, Saito, Samasha, Jayden, Yuko e até mesmo a Sugaku, quem não pode ser considerada amiga, mas alguém por quem nunca nutriu um sentimento ruim – de certa forma, sentia até compaixão pela matemática.

– Vamos? – pergunta ele, fitando-a.

– S-sim. – aceita ela.

Os dois passam a caminhar pelo local enquanto a noite se anuncia como cada vez mais próxima. E, sem conseguir segurar seus pensamentos, Tsubaki reflete sobre o que ouvira referente ao assunto de interferir na linha do espaço-tempo. Nesse momento, poderia estar cometendo um grave erro. Contudo, se for mesmo assim, como voltar para seu tempo e evitar alterações indesejadas no fluxo natural da realidade?

– Sua caridade é graciosa. – afirma Gingamaru, retirando-a dos próprios pensamentos, fazendo ela voltar sua atenção para ele enquanto caminham juntos pelo jardim.

– Como assim?

– O Daisuke me contou sobre aquilo. – afirma ele, parando.

O coração de Tsubaki dispara, sendo que ela também para por aqui. Jamais pensaria que aquela noite que ele o chamara tinha, como objetivo, tratar sobre um assunto tão “delicado”. Muito menos pensou que Daisuke teria coragem de falar daquilo com alguém.

– Não precisa ficar tão assustada com isso. – recomenda o garoto, voltando sua face sorridente para ela. – É uma história impressionante e que me fez repensar sobre muitas coisas.

– S-sério!? – questiona ela, perplexa. – M-mas... Porque o Saruma-kun te contou isso?

O filho de Yukino Arima e Raiabaru Yamagato – que sequer sabe disso – se vira para a melhor amiga de Daisuke. Mantendo seu sorriso, decide explicar tudo para ela:

– Sim, seríssimo. Não há razões para que eu viesse a pensar de outra maneira, Tsubaki-chan. Além disso, meio que Daisuke e eu estávamos em uma briga. No desenrolar dela, ele acabou soltando isso e teve que me explicar.

– Vocês se machucaram!? – indaga, preocupada, não dando a mínima se está no passado, presente ou futuro.

– Não, foi apenas uma discussão mesmo. – afirma ela. – Só que acabou que, no fim das contas, teve bons resultados.

Aqui mesmo ele se assenta, ao lado direito de uma grande árvore. Tsubaki toma alguns passos, se posicionando do outro lado do garoto e se assenta desse modo. Ele, por sua vez, mantendo suas mãos para trás das suas costas, prossegue:

– Eu não tenho passado e nem sei se já tive algo de importante na minha vida.

Tsubaki olha com suavidade para a expressão de Gingamaru. Apesar das palavras dele, o rosto do garoto mantem o sorriso – um sorriso de feição triste e silhueta angustiada.

– Quando Daisuke me contou a história que uniu vocês dois, percebi que ele era como eu sou hoje em dia: uma pessoa sem metas e sem sonhos, que mal entende a razão da sua própria existência.

– Gingamaru-kun... – recita ela, comovida.

– Eu sempre apronto todas e causo tantas por tentar encontrar um sentido para minha vida, procurando uma maneira de me destacar, de chamar atenção. Mas eu sempre me frustro e essa é a verdade. – admite ele, elevando sua face para observar o belo céu do momento. – Tudo que procuro fazer parece perder mais do sentido a cada dia.

– Gingamaru-kun, você pode encontrar uma razão para ser feliz. – alega ela, sem pensar muito.

Quando a garota se dá conta do que acabara de dizer, se sente um pouco culpada. Não quer causar nenhuma alteração indevida no espaço-tempo, mas também não quer ver seu amigo sofrer. Pois... Sim, para ela, Gingamaru é sim um amigo importante.

– Como? – indaga ele, voltando sua face para a garota. – Eu já estou me cansando de tentar encontrar um caminho para mim. Talvez o que preciso seja não encontrar caminho algum.

Os dois estudantes não percebem, mas há alguém à espreita observando-os. Uma pessoa escondida atrás de uma árvore, ouvindo a conversa que um tanto quanto lhe é interessante: Sugaku Megumi.

– Então ele está tentando redescobrir o seu passado? – pensa a matemática, observando a dupla por certa distância. – Ou melhor: está tentando reconstruir sua vida para que possa ter um futuro?

– Não desista. – pede Tsubaki, olhando-o nos olhos. – A amizade de todos me ensinou o quanto a vida pode ser preciosa.

A garota desvia sua face, reunindo suas duas mãos a frente dos seus seios. Abaixando seu rosto, passa a observar a grama verdinha, continuando:

– Antes de conhecer o Saruma-kun, eu também não tinha nenhuma perspectiva de vida. Eu era rejeitada e indesejada. A verdade é que minhas habilidades não se manifestaram há pouco tempo. Desde que eu era bem pequena, vez ou outra elas se manifestavam. E eu era temida por isso.

– Com dons tão maravilhosos como os seus, como podiam te temer e te rejeitar? – ele tenta entender.

– As pessoas geralmente temem e confrontam aquilo que não entendem. E elas só deixam essa postura radical de lado quando passam a ver as coisas por outros ângulos. Porém, isso nunca aconteceu no meu caso. – articula.

Tsubaki retorna sua face para Gingamaru. E exibe um sorriso extremamente doce, sorriso com o qual nenhuma pessoa que ele já conheceu – ao menos que se lembra de ter conhecido – pode competir. Dessa maneira, a jovem determina:

– Ainda assim, estou feliz e satisfeita. Conheci pessoas tão maravilhosas, que foram capazes de me ensinar muito. Inclusive você.

– Eu!? – ele se surpreende, arqueando sua sobrancelha direita.

– Sim, você. – confirma ela, fechando seus olhos por alguns segundos, apenas. – Sempre teve ousadia, coragem, valentia... Mesmo quando sabe pelo que pode passar, você se joga de cara no que quer. Sua personalidade destemida é admirável! Claro que comete erros, mas os comete por ter sofrido e por buscar a sua cura.

– Sempre vendo o lado bom das pessoas, não é? – comenta entre risos leves. – É a sua essência tão gentil que te faz ver todos dessa forma.

Ela eleva seu sorriso, sem dizer nada. Porém, pensa:

– Mas, infelizmente, por mais que minhas habilidades venham para ajudar as pessoas e por mais que eu tenha amado fazer tantos amigos, não consegui fazer muito quando eles se foram. Se eu pudesse ter protegido eles. Ou, pelo menos, me sacrificado por todos eles. Será mesmo que sou incapaz de corrigir os meus erros?

Ainda como observadora, Sugaku capta o pensamento de Tsubaki. E, de certo modo, fica um pouco surpresa.

– Por quê? Por que essa garota se preocupa tanto com os outros de forma tão sincera e pura? Por que ela sempre coloca as pessoas acima dos seus próprios anseios?

A professora, movida pela sua intensa curiosidade, decide entrar mais a fundo na mente de Tsubaki. E, com segundos, consegue fazer um rastreamento generalizado na mesma: e fica perplexa após o processo.

– Inacreditável!! – imagina a mãe biológica de Jayden. – Essa menina... Ela...

– Você é única! – declama Gingamaru. – Única, sem dúvida alguma, Tsubaki-chan!

Sugaku decide interferir. Cansada de ver tudo de longe, vem andando na direção dos dois. Quando ambos percebem a aproximação nada disfarçada da professora, se levantam e se voltam para ela.

– Megumi-sensei? – Tsubaki se surpreende.

Agora um medo ainda maior se instala nela. Ciente de que Sugaku é uma poderosa telepata, a garota tem a consciência de que ela poderá ler seus pensamentos se assim desejar. E isso levará à ciência da professora sua viajem no tempo, o que poderá alterar gravemente o curso das coisas.

– Gingamaru, Tsubaki... – a mulher fala com uma voz erótica. – Estão de casinho, é?

– Ahn? – a garota fica corada, não acreditando no que acabara de ouvir.

– Você está louca!? Somos apenas amigos! – exclama Gingamaru.

– Não acho que é normal a amizade entre uma garotinha ingênua e um tarado, safado, pervertido e mulherengo garoto metido a gostoso. – opina ela, cruzando seus braços, mas mantendo um sorriso erótico em sua face.

– Não precisa dizer tudo isso. – pede Tsubaki, defendendo-o. – Fala como se Gingamaru-kun só tivesse defeitos, o que não é verdade.

– Que seja... – a professora dá de ombros ao descruzar seus braços, acertando seus óculos com o indicador direito. – Ouvi a conversa de vocês dois e decidi intervir.

– Intervir como? Me chamando de tudo quanto é coisa? – indaga ele. – Se for desse jeito mesmo, meus parabéns! Conseguiu!

– Não era exatamente isso não, soberano-kun... – brinca ela, se lembrando da profecia que levou Raiabaru a aprisionar Yukino. – O tema com qual venho é bem mais importante do que criticá-lo com as verdades que já conhece de cor e salteado.

– E... – ele a confronta. – Seria o que, afinal?

Sugaku direciona sua mão direita para ele, tocando a testa do mesmo. E, ao fechar os olhos, diz:

– Quando o momento certo chegar, Gingamaru, você se lembrará do seu passado. Poderá ter a vida que sempre quis ter. Contudo, mais sofrimento virá como brinde. – e abre seus olhos, retirando sua mão da pele dele, encarando-o. – Esteja preparado para as responsabilidades com quais deverá arcar. E lembre-se: conhecer suas próprias memórias não é sinônimo de felicidade.

A mulher dá as costas para ambos. Tsubaki sente um forte desejo de dizer algo para ela, mas se freia quando abre sua boca, da qual nada sai. A professora toma alguns passos e começa a se afastar daqui, sendo observada pela dupla.

– O que ela quis dizer com todas aquelas coisas? – ele se pergunta mentalmente.

O garoto suspira, sem a intenção de tentar entender a professora.

– Já anoiteceu... – afirma Gingamaru, cruzando seus braços e olhando de novo para o céu. – Já imaginou como seria ser uma estrela?

– Anh... ? – a garota dirige sua face para ele, confusa. – Bem... Não que eu me lembre agora.

– Pois deveria perceber que você já é uma.

– Já sou?

– Claro. – afirma Gingamaru, voltando a fitá-la. – Você já brilha entre todos. É especial e por isso merece muito a felicidade.

Ela permanece em silêncio, dando atenção para o suave perfume de flores que invade suas narinas: pura serenidade para a sua alma.

Tsubaki jamais se viu como uma pessoa melhor que outras ou que merece a felicidade mais do que outras. Pelo contrário, várias foram as vezes em que se achou inferior a todos e que sua única missão era se dedicar àqueles que a cercam. Entretanto, mesmo nesses momentos, a garota foi rejeitada pelo temor de quem não a compreendia. Se sentiu sozinha e sem rumo até conhecer Daisuke, com quem fez seu primeiro e verdadeiro laço de amizade. É por isso que ela entende bem a dor de Gingamaru e se esforça para ajudar não apenas ele como todas as pessoas que clamam desesperadamente por alguém que as retire da dor.

– Gingamaru... – fala alguém.

Os dois se viram para trás e se deparam com a filha do diretor.

– Preciso falar com você em particular.

– Sobre?

– Em particular. – enfatiza ela.

– Não precisa ter segredos com a Tsubaki. – recomenda ele, encarando-a sério. – Pode falar o que você quiser. Estou te ouvindo.

– Estou grávida e o filho é seu. – lança suas palavras.

Tanto Gingamaru quanto Tsubaki ficam perplexos. Porém, ela decide não se intrometer e apenas escutar.

– Tá falando sério? – indaga ele.

– Não, eu vim aqui zoar com sua cara... Mas é óbvio que isso é sério!! – declama ela, nervosa. – Por que eu iria brincar com uma coisa dessas!?

– Mas você fez o exame pra saber e tudo mais? – ele pergunta. – Tem certeza de que é meu também?

– Sim e sim. – confirma ela. – Fiz o exame porque estava sentindo enjoos e mal estar. E somente você pode ser o pai. Não mantive relações sexuais com ninguém além de você no período em que a criança começou a ser gerada. E se pensa que irá fugir com o rabinho entre as pernas sem assumir a sua responsabilidade, está enganado! Eu te caço onde quer que vá, imbecil!

– Isso é mesmo verdade? – pensa Tsubaki, com dificuldade para acreditar no que é, de fato, realidade. – Se sim, quer dizer que a Arima-san está grávida no meu tempo sem saber de quem, pois suas memórias sobre o Gingamaru-kun foram apagadas!

– Fale alguma coisa, moleque idiota! – declama Juli, se irritando com a expressão apática de Gingamaru.

O garoto, então, sorri: e isso deixa Juli tão confusa que ela se cala. Tsubaki percebe isso, mas como antes, opta por não interferir e deixar tudo correr como, teoricamente, deveria correr.

– Obrigado. – responde ele.

– Como é que é!? – a filha de Yuki Arima tenta compreender o que acabou de ouvir.

– Você acabou de me dar um significado para a minha vida, Juli. E foi por isso que vivi até hoje. – o pai da tal criança começa a explicar. – Sei que cometi muitos erros e que fiz muita coisa que não deveria ter feito, mas eu... Eu, mesmo sabendo que não justifica grande parte dos meus atos, queria apenas encontrar um motivo para existir. Foi o que acabou de me dar.

Juli não sabe como reagir agora, muito menos Tsubaki. É aí que Gingamaru se vira para a curandeira e fala:

– Obrigado por esse tempo. Foi ótimo conversar com você.

Dessa forma, ele anda até Juli e se coloca perante ela, encarando-a. E então declara:

– Eu não fugirei das minhas responsabilidades. Arcarei com elas.

Com isso, os dois, juntos, vão embora. Vendo isso, Tsubaki respira profundamente, na mista sensação de culpa e felicidade. Culpa por ter feito alterações no espaço-tempo e felicidade por ter ajudado um amigo.

– Será que é errado desejar a vida do Gingamaru-kun ignorando a manutenção do fluxo de todas as coisas? – pensa ela, engolindo seco.

Ela desvia seu olhar para outro ponto do local. E, ao longe, vê duas pessoas: uma é ela mesma e a outra é Samasha Seiya.

– Seiya-kun! – pensa, comovida por poder estar revendo sua amiga, mesmo que de longe.

– A caridade é a mais nobre forma do amor. – afirma alguém, que faz Tsubaki dar meia volta depressa.

É Andrômeda em forma humana, sem asas e sem o belo brilho de anjo. A curandeira a encara um pouco assustada, não entendendo por qual razão alguém que jamais viu em sua vida interage consigo como se a conhecesse. Chega a pensar que se trata de alguma inimiga que surgira devido as alterações que acabou causando no espaço-tempo.

– E seu coração é pura caridade. – a anja completa.

– Quem é você? – questiona sua ouvinte.

– Andrômeda. – responde ela. – Vim te levar de volta para o seu tempo. Porém, preciso ter a certeza de que sua tarefa aqui foi concluída. É por isso que estou lhe falando do que é feita a sua essência: amor.

– Nos conhecemos?

– Não, mas nos reencontraremos em um momento não muito distante do seu futuro. – afirma a beldade celestial. – Todavia, não deve se preocupar com nada, nem se deixar abalar com nada. Por mais pura e singela que uma alma caridosa seja, não é certo perder o próprio foco. Tenha sempre em mente os seus objetivos e os realize.

– Você parece ser... Tão sábia e tão... Gentil. – comenta Tsubaki.

– São seus bons olhos que veem apenas o lado bom das pessoas. À primeiro momento, isso pode ser visto como um defeito. – admite ela. – Entretanto, você vai ir descobrindo que sua verdadeira força é sua personalidade gentil, doce e meiga. Uma mulher não precisa agir com dureza para que seja forte. Basta apenas ser ela mesma e ter força de vontade para lutar por seus ideais que suas capacidades não terão precedentes.

– O-obrigada. – agradece.

– Nunca deixe de lado o que você é pelo outros, uma medida que jamais deverá tomar. – recomenda. – Seja simplesmente o que é.

Com isso, todo o local começa a mudar e quando Tsubaki se dá conta, está no seu quarto no interior do prédio central de Kyodai: em seu tempo, para maior precisão.

– Será que estou no meu tempo mesmo? – se pergunta, curiosa. – Só vou descobrir se for lá fora...

Ela decide sair daqui, mas algo a interrompe: uma felicidade sem limites. Mal entende porque a sente, mas por outro lado, não teme senti-la: é a sensação de poder ser ela mesma e de acreditar que o melhor poderá ser feito por suas mãos. Suspirando sorridente, entrelaça suas mãos, falando:

– Do que eu sou jamais desistirei!


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