Kyodai - The Awakening Of Chaos (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 59
Gaiden: Yuko - Flavors


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora, pessoal, eu tive problemas com meu modem e por isso me atrasei, mas o cap ta ai finalmente! rsrs... Espero q gostem!!



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“Cada sentimento que nutrimos em nossa essência tem um sabor único. Alguns têm o sabor azedo como a solidão, outros amargos como o rancor e ainda os salgados como a raiva. Porém, mesmo com a pluralidade de sentimentos e sabores que o ser humano pode reconhecer, sendo que podemos até interligá-los, não há nenhum sabor melhor ou sentimento mais poderoso do que aquele que faz todo coração sorrir ao desfrutá-lo: o amor...”.

– Yuko Kurama

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Dois anos atrás, em alguma região da cidade de Konton...

– Os testes acabaram. – fala uma mulher encarando um homem e um garoto menor. – Foi comprovada a existência de habilidades especiais neste garoto, mas estão tão inatas que sequer podemos classificá-las no momento.

– Obrigado, Sugaku-san. – agradece o homem, tendo ao seu lado esquerdo Yuko Kurama. – Voltaremos daqui a seis meses para encontrarmos a raiz do verdadeiro potencial deste menino.

Desta forma, a professora de Kyodai dirige seu olhar para Yuko. Colocando sua mão direita sobre a cabeça dele, fecha suas pálpebras, suspirando por alguns instantes. Ao terminar, volta seu rosto para o pai dele, abaixa seu braço e fala de olhos bem abertos:

– O serviço está completo. – afirma após apagar a memória do menino. – Garanto que ele não se lembrará de nada.

– Obrigado novamente. – diz, dando as costas para ela.

Este local é a entrada de Kyodai. Há pouco, foram feitos testes tendo Yuko Kurama como cobaia. O objetivo era identificar a raiz das habilidades especiais que ele possui, isso a pedido do próprio pai do garoto. Não são procedimentos nocivos ou agressivos, mas pelo contrário, bem tranquilos. O motivo de Sugaku fazer Yuko se esquecer de tudo é para não levar ao mundo o conhecimento sobre humanos avançados, missão que a Carmesim tomara para si.

– Tudo bem com você, pequeno? – pergunta o pai, sorrindo e olhando para o filho enquanto os dois se afastam, juntos, cada vez mais do colégio.

– Sim. – corresponde o menor, sério. – Mas estou com uma baita vontade de comer algum doce!!

A dupla vai se afastando. Sugaku, por sua vez, permanece de pé no mesmo ponto observando o afastar deles. É quando, com passos suaves e quase imperceptíveis, Yuki Arima se posiciona ao lado esquerdo da professora – de braços cruzados.

– Aquele garoto tem potencial, mas algo restringe o que ele tem de diferente. – garante ela, usando seu indicador esquerdo para acertar seus óculos. – Infelizmente, não consegui descobrir o que o bloqueia, muito menos retirar essa barreira...

– Muitas pessoas, por sofrerem grandes traumas, criam limites mentais para preservar algo que guardam. – opina Yuki, olhando para os dois Kuramas cada vez mais distantes, assim como a mulher. – Quem sabe seja esse o caso dele?

– Não é. – nega ela. – Vasculhei toda a mente daquele jovem, mas não há nada de anormal ou diferente além da habilidade especial em si. O fato é que Yuko Kurama tem uma essência bem bipolar e possui um vício incontrolável por doces. Além disso, é um jovem de família rica que raramente tinha a atenção dos pais. Fora essas questões, nada que mereça destaque.

– Curioso isso. Em geral, os humanos avançados desenvolvem suas habilidades devido a sofrimentos ou traumas do passado. – articula Yuki. – Pode ser justamente a falta disso que não estimulou os poderes dele... A questão é: será que vale a pena sofrer somente para ter um poder fora do comum ou melhor é viver feliz tendo uma vida normal como a de qualquer outra pessoa?

Sugaku permanece em silêncio por alguns instantes, pensando em uma possível resposta.

– Não sei responder esta pergunta. – corresponde a professora, voltando sua face para Yuki, após finalmente articular suas palavras.

Ao longe, Yuko e seu pai dobram a esquina. O pequeno logo vê uma loja de doces e se anima, soltando a mão do mais velho e correndo para lá. Quando chega ao interior do pequeno comércio, fica maravilhado e com os olhos cintilantes de alegria: há doces para todo lado.

– Eu quero todos!! – grita, saltitando de emoção, vendo tanta coisa nas vitrines.

Quando Yuko se dá conta, ao direcionar sua face para o atendente atrás de um balcão, ele está completamente paralisado. De certo modo, Yuko se assusta com isso e, por instinto, decide se virar para trás, já que o homem responsável pelo atendimento dos clientes da loja está imóvel com o olhar fixo para tal ponto. Assim que o faz, o garoto dá de cara com uma bela jovem de longos cabelos rosados.

– Vale a pena sofrer somente para ter um poder fora do comum ou melhor é viver feliz tendo uma vida normal como a de qualquer outra pessoa? – questiona ela, encarando-o firmemente.

É Andrômeda, aquela que um dia também se encontrara com Senshi Yujo. No momento, ela se deparara com Yuko Kurama, quem está bem impressionado com a aparência singular da garota.

– Sabe a resposta para este questionamento, Yuko Kurama? – pergunta a angelical garota.

– Na verdade, nem sei do que você está falando. – alega ele, fazendo bico. – Eu só quero doces e por isso vim para cá.

– Sua inocência, um dia, trará sua queda. – alega ela. – Ao menos, tente entender a realidade de um humano avançado. O poder ou a felicidade? É preciso mesmo escolher entre eles ou há como conciliar ambos?

– Moça, por acaso você é doida ou é um cosplay de um anime maluco? Ou os dois? – indaga Yuko, arqueando sua sobrancelha direita.

– Não. – nega ela. – O que sei é que sua vida é feliz e agradável como a de qualquer pessoa normal. Porém, você não é normal. Isso significa que sua felicidade é momentânea e tem prazo de validade.

– Não sou? E... Felicidade com prazo de validade? – repete, sem entender o que ela quis dizer.

– Não novamente. – articula Andrômeda. – Meu nome é Andrômeda e insisto contigo para que pense na minha pergunta: vale a pena sofrer somente para ter um poder fora do comum ou melhor é viver feliz tendo uma vida normal como a de qualquer outra pessoa?

– Esse poder seria o de ter doces para toda a vida na quantidade que eu desejar? – indaga ele, de modo suave e inocente, como era o esperado por ela. – Porque, se for, isso sim será a felicidade.

– Não pela terceira vez. – declama.

Yuko exibe um largo sorriso. Fechando seus olhos, começa a falar:

– O único poder que o ser humano deveria buscar é o poder de amar. Nenhum outro vale a pena tanto esforço ou dedicação que, muitas vezes, damos para tantas coisas. Porém, é justamente o amor que traz a felicidade, logo é possível sim ter o poder e a felicidade juntos. E, claro, vale a pena sofrer pelo amor: faz parte daquilo que significa viver.

Ela sorri. E abre sua boca:

– Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

– Eu já ouvi isso. – fala ele, revirando seus olhos, pensativo.

– De fato, não há poder maior do que o amor. – concorda ela. – É esse o único poder que os homens deveriam buscar, mas infelizmente não é assim que ocorre. Você verá, ao longo da sua vida, que as pessoas, muitas vezes, buscam outros poderes, outros interesses. São essas buscas egoístas que arruínam este mundo.

– Buscas egoístas... – repete Yuko, voltando a fitar os olhos profundos de Andrômeda.

– Sim. – diz ela. – Nem todos compartilham da visão de que o amor é o que há de mais poderoso ao alcance do homem, ao mesmo tempo em que é o que há de mais forte e supremo neste universo. O ponto de vista humano agrega um conjunto tão pequeno de coisas que algo tão sublime e elevado como o amor é visto por poucos.

– Mas por qual motivo está falando tudo isso para mim? – indaga ele. – E logo para mim?

– Mesmo sendo sua inocência o que lhe permite ver coisas tão plenas como o amor, ela é também o que pode te derrubar. – o adverte. – Yuko, você pode parecer alguém despreocupado com as questões do mundo, mas nós sabemos que não é. A verdade é que, se vendo incapaz de fazer algo para solucionar tantos problemas, tenta viver apenas a sua vida, mas não está ignorando o que o cerca.

– Tem razão. Só não entendo como pode saber tanto de mim sendo que nem te conheço. – articula ele, rindo.

– Isso é o que menos importa, pode ter certeza. – determina. – Preocupe-se apenas com o que estou dizendo para você.

– Mas, afinal de contas, o que quer comigo? – pergunta, dando de ombros, ainda bem confuso. – O que posso fazer nessa situação toda?

– Viver. – responde ela. – O que tem que fazer é simplesmente viver, mas com sabedoria. De acordo com suas atitudes, a existência do nome Yuko Kurama pode ou não fazer a diferença neste mundo.

– Por quê? O que tenho de especial, de diferente das outras pessoas? – o garoto tenta compreender a intenção da desconhecida.

– Cada pessoa neste mundo é única e tem um potencial singular. Entretanto, nem todos conseguem aproveitar o que podem oferecer de melhor. – opina, fitando-o com firmeza. – É uma lástima ver que tanta coisa boa vem se perdendo na humanidade ao longo dos anos.

– Essa tal Andrômeda... – pensa Yuko, observando-a com atenção. – Quem é ela, afinal de contas? Como me conhece e como sabe falar tão bem dessas coisas?

Olhando para todos os lados, o garoto percebe que o tempo parece ter parado. Tanto o movimento da rua quanto o atendente da loja congelaram quase que literalmente. Ainda assim, Andrômeda prossegue:

– Ninguém é especial por possuir dons, mas possui dons por ser especial. Se você conseguir ser capaz de entender isso e de aplicar tal verdade na sua vida, refletirá nas vidas de quem lhe cerca de modo que poderá mudar o que os humanos chamam de destino.

– Do jeito que fala, nem parece ser deste mundo... – expressa seu pensamento.

– E não sou, pelo menos não do mundo que você conhece. – alega ela, ainda séria. – Espero um dia ainda poder te reencontrar com sua existência ainda em carne.

– Como assim? – questiona, confuso.

– Assim como tantas outras coisas, é uma preocupação a qual não deve se atentar por ora. E espero também que suas atitudes sejam as mais corretas a partir daqui. – articula ela.

– Seja lá quem você for no fim das contas, acho que pretendo sim seguir os seus conselhos. – diz ele, dando de ombros.

– Certo. – confirma a garota. – Estarei aguardando pelos resultados desta conversa.

Andrômeda dá as costas para Yuko, começando a se afastar. Enquanto o faz, ele a observa com atenção e ela fala:

– Adeus...

Quando ela desaparece do campo de visão do garoto por sair da loja e dobrar a esquina, o pai do menino entra às pressas no estabelecimento. Desse modo, Yuko entende que tudo voltou ao normal.

– Não sai assim de perto de mim, Yuko! – seu pai o repreende, sério, se aproximando do garoto com os braços cruzados. – Estávamos vindo mesmo para cá, não poderia ter esperado ao menos um pouco?

– Perdão. – pede o garoto, com meio sorriso estampado em sua face.

Em poucos minutos, Yuko escolhe vários doces da loja e seu pai compra todos. Desde pequeno, o garoto tem esse vício – financiado por seus próprios pais, pois no passado, entupiam o filho de tudo quanto é coisa para que não precisassem dedicar tempo a ele. Apesar disso, o Kurama mais jovem nunca teve problemas de saúde ou coisa do tipo. Por alguma razão, o menino parece ter “imunidade” aos prejuízos de uma dieta rica em açúcares – ou a outras coisas do tipo, quem sabe...

– Pai... – cita ele, chamando para si o olhar do maior enquanto os dois caminham pelo passeio da rua. – Você acha que o amor existe?

Acabaram de sair da loja. No momento, Yuko e seu pai carregam quatro sacolas – cada – cheias de guloseimas escolhidas pelo menor.

– Claro. – afirma ele, encarando o filho com um sorriso largo. – Sua mãe e eu erramos muito com você, mas estamos tentando corrigir isso e mudar nossa postura com você. Sempre amamos você com todas as nossas forças, mas não sabíamos lidar com as obrigações que vêm junto com um filho.

Os pais do garoto o tiveram muito jovens e, na época, sem nenhuma estrutura para lidar com a paternidade. Por isso, se esforçaram ao máximo no trabalho pelo melhor da criança. Em dois anos, o casal enriqueceu consideravelmente e passou a dar tudo do bom e do melhor para Yuko. Porém, nem sempre é tudo do bom e do melhor que uma criança precisa. Hoje eles sabem bem disso e tentam corrigir os erros que cometeram. Por outro lado, o garoto não tem mágoa nem nada, pois sabe que isso não ocorreu somente no caso dele. Afinal de contas, quantas pessoas passam pela mesma situação?

– Eu sei, pai. – diz Yuko. – Não quero, nem nunca quis me fazer de vítima por isso. É muito fácil falar que a vida é dura e se esconder por trás de pequenos sofrimentos. Basta olhar ao nosso redor e ver quantas pessoas sofrem tanto e não desistem para perceber que seria mesquinho da minha parte crucificar vocês dois pela ausência na minha infância.

O pai do garoto fica ainda mais alegre ao ouvir isso. E, suspirando, pensa:

– Como você cresceu, Yuko... Não só por fora, mas por dentro também... E me sinto culpado por ter perdido boa parte desse processo...

– Mas eu estava falando de algo mais amplo. – fala Yuko, cortando os pensamentos do pai. – Eu estava falando sobre o amor em geral e não só o laço que existe entre pais e filhos, ou entre mim e vocês dois.

– Entendo. – articula o mais velho, ficando mais sério. – O que exatamente quer saber?

– Sua opinião sobre o amor. Ele é mesmo tão doce quanto esses doces? – pergunta, erguendo um pouco as sacolas que carrega para deixar bem claro ao que está se referindo.

O pai de Yuko ri. Em seguida, suspira e determina:

– Antes de conhecer sua mãe, eu realmente pensava que amor de verdade era só coisa de filme ou novela clichê. Só que isso mudou. O fato é que só conhecemos a verdadeira essência do amor quando encontramos alguém que não compartilha laços de sangue conosco, mas que consegue despertar em nosso coração uma sensação única. E isso não é válido apenas para o amor entre homem e mulher, entende?

– Acho que sim.

– Ao se adotar, com toda a certeza, a pessoa que o faz escolhe a criança que lhe traz algo diferente, uma sensação especial. O amor é assim: único, singular e insuperável.

– É assim mesmo que você pensa? – pergunta o garoto, pasmo.

Os dois já estão bem próximos de casa. Apesar disso, parecem nem perceber devido ao bom clima que foi criado pela conversa entre pai e filho. E prosseguem sem nenhum empecilho.

– Obviamente, meu pequeno! – determina o pai.

Sem se dar conta, Yuko esbarra em alguém. Suas sacolas vão ao chão, assim como o próprio, caindo de traseiro ao chão. Ao olhar para sua frente, nota que esbarara em uma garota enquanto falava e andava junto de seu pai.

– Me desculpe... – pede Yuko, se levantando depressa e ajudando ela a se levantar também.

É Samasha Seiya. Sorrindo, ela estende sua mão direita para ele, sendo erguida pelo garoto. Corada, a garota olha para baixo, agradecendo:

– Obrigada. Desculpe o incômodo.

– A culpa foi minha porque estava desatento. Eu quem lhe devo desculpas. – afirma o garoto.

O pai dele, por sua vez, observa toda a situação achando graça do momento. Decide não interferir e deixar a solução nas mãos do seu filho. E, com um sorriso estampado no rosto, Yuko consegue deixar Samasha cada vez mais envergonhada.

– Obrigada de qualquer forma. – agradece ela, começando a correr para se afastar o quanto antes dele. – Até mais!

– Por acaso, será que meu filhote já tá sentindo palpitações no bombeador de sangue? – indaga o Kurama mais velho, percebendo o olhar fixo de Yuko para o afastar da desconhecida garota.

– Ah, para de falar essas coisas estranhas! – exclama o menor, virando sua face séria para o pai. – Ou vou fazer você comer rocambole!

– Não faz isso, sabe bem que até o nome dessa coisa me dá arrepios. – determina o pai, sentindo, de fato, arrepios por detestar rocambole.

– Então vamos, né? Estou louco para chegar em casa e comer meus doces enquanto vou assistindo Fairy Tail!

Yuko se agacha e pega suas sacolas de volta. Desse modo, os dois vão indo rumo a casa em que vivem. E na mente do garoto, permanece a mesma ideia: não importa o que for vir pela frente, o mais importante é ser feliz aproveitando os doces sabores que a vida pode oferecer...


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