Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 8
Capítulo 8




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- Toc-toc. Posso entrar?

- Se você tiver acordada, pode.

- Engraçadinho. Eu que devia dizer isso, porque toda vez que apareço você está dormindo... E eu estava cuidando do meu irmão, viu, ele tá dodói.

Fico na porta do quarto de Vini com um sorriso estampado, muito bem humorada. Não tenho plano algum e quero deixar as coisas bem ao natural. Conversei com a professora essa manhã, e como todas as vezes eu o visitei em horários inapropriados, pensei em pegar um horário certo dessa vez: domingo, fim de tarde.

Deixei claro que posso não ser toda a esperança dela, uma conversa minha não deve ter todo esse poder. Ela não se importou, está se segurando ao mínimo que tem, me disse. Foi aí que me lembrei do meu momento bem zumbi de sono quando ela conversava baixinho com Murilo antes de receber alta. Nem eu queria confiar muito nessas visitas, só que... algo me dizia que precisavam de mim, mesmo que fosse pouco.

- Sério ou você está de brincadeira?

- É sério. Você não ouviu alguma fofoca de um marmanjo que tem medo de agulha esses dias não? Se ouvir, já sabe quem é.

Bom era ouvir sua risada, melhor ainda era ver Djane feliz ao meu lado, apoiada na parede do lado de fora do quarto. Era essa força que eu esperava ver faz dias quando o Vini tinha acordado. Pena que isso tinha ocasionado mais briga entre eles.

- Quem está aí com você? É seu irmão?

Sem saída, só com a professora Djane ao meu lado, tento pensar rápido em uma resposta, pois não está no momento de eles se verem ainda. Vejo então o enfermeiro bonito no corredor um pouco próximo de nós saindo de um quarto, saio das vistas do Vini e avanço o corredor para chamar atenção do enfermeiro. Djane acena dizendo que vai estar na cantina, que “guardará umas gelatinas”. Puxo o enfermeiro e lhe falo resumidamente da situação, assim ele me acompanha ao quarto de volta. Fico na porta novamente, para fazer um pouco de graça mesmo.

- Meu irmão não pôde vir, ainda está de cama. Ontem ficou internado tomando soro, mas já foi liberado.

- Pensei que era você que não estivesse bem... você falou algo sobre calmantes.

- Hum... foi. Mas esquece isso.

- Então me diz, quem está aí com você?

- É o... o... o... Sabe que até hoje eu não sei o nome dele?

Puxo o enfermeiro bonito para aparecer na porta também, querendo me aproveitar da situação e saber o nome desse cidadão que tanto conversei e nem sei como se chama. Acho que fiquei sem jeito de perguntar quando o reencontrei naquela noite, e com Murilo no meu pé também ficou difícil.

- Prazer, sou Diogo.

- Prazer, Milena. E aquele é o Vini. Vini de Vanderley.

- MENTIRA!

- Eu sei, eu lembro quando você entrou no hospital. Sabia que tinha um bolão pra saber quem ia acordar primeiro, você ou a dona Amarilene?

- Sério?

Soltei bestificada, devo ter arregalado bem os olhos em plena surpresa, pois... que descaramento de se apostar numa coisa séria dessas! Se bem que a maioria das apostas feitas por aí não são justas. Diogo vira-se pra mim com ar divertido para esclarecer.

- Claro que não.

- Ah tá, já ia dizer “que horror!”. Mas... a dona Amarilene existe?

- Também não.

- Vocês combinaram de me sacanear ou o quê? Ainda estou abalada, gente.

Ponho a mão na cintura teatralmente. Dentro do quarto Vini permanece calado, sem mais um pio depois de sua negação após minha inferência sobre seu nome. Será que ele se ofendeu ou alguma coisa assim? Diogo corta meu pensamento quando começa a se retirar:

- Opa, sou inocente aqui. Tenho que ir. Vejo você depois, Milena.

- Aham, agora quer sair de fininho, né. Tá bom, tá me devendo duas gelatinas.

- Você pegou um vício, hein. Te preocupa não, não és a única. Tenho que ir mesmo se não a minha chefe me tira o couro.

- Ah, aí nesse caso pode ficar por aqui mesmo. Eu mesmo a chamo.

- Não, obrigado. Já vi que tenho uma amiga-da-onça por aqui... Tchau.

Vini de começo conversou bem, porém com o Diogo aqui – mil anos depois eu finalmente descobri o nome do enfermeiro bonito – ele permaneceu mais calado. Essa família Garra, hein. Adentro o quarto, deixo minha bolsa na poltrona e me apoio da grade de proteção. Perto dele tinha uma mesinha móvel com bandeja e copo sujo, ele terminava de limpar as mãos no guardanapo. Devia ser o lanche da tarde.

- Impressão minha ou tem alguém muito calado por aqui?

- Num sei...

- Tá, o que foi?

- Nada, eu só... não queria segurar vela.

- Eu e o enfermeiro bun... (?)

- “Você e o enfermeiro bunito” você diria?

- Eu ia dizer... ia dizer Bruno! Isso.

- Aham, acredito. O nome dele é Diogo. Ele acabou de dizer.

- Eu sei, eu tenho uma mania estranha de confundir nomes. Mas nada a ver, eu e ele só nos vimos poucas vezes...

- E essa gelatina que você combinou?

- Foi daquele dia que você acordou do coma. Foi ele que me trouxe a este quarto por engano. Aí depois daquele... “contratempo”... ele me ofereceu gelatina pra compensar o erro dele.

Parecia o Murilo com ciúmes, só que meu irmão é bem mais enérgico. Deve ser só brincadeira do Vini, ele mal me conhece mesmo, quase não me viu... Não teria porque ter esse tipo de reação. Teria? Nam...

- Então me conta aí, que história é essa de quarto errado. Como você veio parar aqui?

- Bom, de versão bem resumida, eu estava com sua mãe quando o hospital ligou, então a professora fez o desvio, pois íamos a casa dela pegar uns materiais pro evento do departamento. Aí Diogo quando me viu pensou que eu era alguma parente, então me guiou até aqui.

- Fico feliz que ele tenha feito isso. Põe uma gelatina no meu nome pra ele... Então quer dizer que você é aluna da minha mãe?

- Sim.

- E que você tá do lado dela também?

- Aí a história desvia. Não estou do lado de ninguém, sou de fora, ainda estou me atualizando nisso.

- Ou seja, logo você vai a apoiar também. Deve achar ela o máximo.

- Assim você me ofende, sabia? E não, não é pra tanto, ela é como qualquer outra pessoa... apesar de na faculdade ser uma... ah, deixa pra lá. Você não vai querer saber disso...

- De quê? Me diz.

- Acho melhor não. Vou indo...

- Mas já? Fica mais um pouco. Eu não gosto de ficar sozinho.

- Então por que você se esforça tanto em se deixar sozinho?

Me afasto da cama, pego minha bolsa e saio sem nem o olhar. Fui dura, mas ele que pediu. Ele estava merecendo, ora. Me encosto na porta de seu quarto após a fechar e me deixo respirar melhor. Diogo, que vinha com um senhor numa cadeira de rodas, pergunta se estou bem. Estar bem estou, só não sei se essa dura no Vini foi uma boa defesa.

~;~

- O que você fazia no hospital?

- Como você sabe que estive lá?

- Gelatina. Você disse enquanto almoçávamos hoje que tinha adorado a gelatina que tinha na lanchonete de lá... e você acaba de tirar três da bolsa. Precisa de mais evidências?

- Eu poderia ter comprado em outro lugar. Mas sim, comprei por lá. Elas são viciantes. Tira o olho.

Eu organizava as coisas que tinha tirado da bolsa em cima da mesa da sala. Ele, ao me ver, que puxou conversa. Porém, conhecendo-o como conheço, devia estar olhando para minha sobremesa, principalmente se ele as citou. Com um chega-pra-lá, ele se afasta da mesa com as mãos rendidas como se não estivesse pensando em atacar.

- Eita, nem perguntei. E o motivo de ter ido ao hospital, mesmo? Não me diz que foi ver aquele enfermeiro, o que segurou meu soro?

- Ai, Murilo, tanta referência pra usar e você cita justamente a do banheiro. Não, não fui por ele, mas o vi por lá. Estou acompanhando um caso de... de administração hospitalar, sabe? Em hospital não tem essa de ser domingo ou não, tem que atender todo mundo.

- E desde quando você está interessada em direção hospitalar? Pensei que você tivesse mais interessada em empresas... lembra que você dizia que não queria assumir o trabalho do papai porque você queria trabalhar em empresa mesmo? Mudou rápido, né?

- Não, eu só... estou abrindo meus horizontes. A gente não precisa se jogar logo de cara no que quer, tem que explorar outras coisas antes para conhecer. De tudo um pouco temos que saber. Além do mais, tenho muito o que considerar pra resolver meu destino.

Sim, estava divagando com essa, apesar de fazer todo um sentido. Murilo senta-se no braço do sofá na sala de frente para mim, ainda de pé perto da mesa. Sabia pela sua cara que dali viria um resmungo.

- Só não vire revolucionária, isso dá muito trabalho. Mulher só sustento se for minha mulher mesmo, irmãzinhas não valem.

- Há! Quem disse que eu ia querer ser sustentada por você?

- Num sei, mas digo logo pra você achar teu rumo.

- Tá me expulsando de casa, é isso? Depois de ter cuidado de você TODO ESSE TEMPO?

- Sabia que você ia dizer isso. Claro que não e claro que te sustentaria, menina! Mulher não é pra dar confiança fácil, não.

- Não se fico ofendida e te bato ou se fico lisonjeada e te dou um abraço. De qualquer forma, não vai tocar nas minhas gelatinas.

- Mas Milena!

Eu sabia! Nem demorou e ele se entregou.

- Não. Agora vai preparar o jantar que eu só vou tomar banho.

- A gente dá a mão e já querem o pé...

Ainda bem que ele esqueceu a história do hospital. Não quero ter que contar pra ele agora... Tenho que tomar cuidado quando vir do hospital. Chego ao meu quarto, me jogo na cama para pensar um pouco. Só que pensar às vezes toma bastante tempo. Quando sinto o cheiro do jantar, pulo pro banheiro percebendo que demorei muito deitada e ainda nem cheguei a uma resposta, muito menos plano de ação. Chegando à copa ainda tenho que ouvir isso:

- Nem pense que esqueci nosso acordo sobre o banheiro. Vai lavar por dois meses.

- Epa! Você disse um mês. Melhor, você disse que se eu te encontrasse na emergência naquela hora você limparia por dois meses. Então já sabe.

- Hum.

Pego meu prato e talheres vendo uma carranca de arrependimento o acometer da promessa que ele fez. Reviro os olhos por saber que não dava mais pra enrolá-lo quanto a isso:

- Ok, não precisa fazer essa cara. Ia te fazer surpresa. Contratei uma empregada para alguns dias da semana, porque não aguento mais ter que ficar limpando casa e ver você fugindo da raia.

- E como você sabe que ela é boa?

- Sabendo. Tenho meus métodos, viu. Peguei referências e tudo, ela deve começar amanhã e não, ela não é uma jovem para você dar em cima. Você fala de mim, mas foi pra você que a enfermeira deu o número de telefone. De qualquer forma, falei com nossos pais para cobrir esse gasto e eles já concordaram.

Sentamos à mesa ainda distraídos com a conversa. Ele não perde a chance de ser irmão, aquele ser que vive só para pentelhar:

- Parece que você tem tudo sobre controle mesmo. Já dá pra ser gerente.

- Que gerente o quê! Vou ser diretora.

- Depois eu que me acho.

- Ai, Murilo, você não se acha... se perde mesmo.

- Pelo menos você para de fazer suborno, chantagem... o que seja, com a desculpa do banheiro.

E tem gente que me fala que ele é protetor. Tá mais pra explorador mesmo. Solto aquele “aiai” da vida e avançamos no jantar.


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