Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 46
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Pra quem shipa/torce por Milena & Vinícius



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Só mais cinco minutinhos... Só mais cinco minutinhos. Só mais cinco minutinhos... Hum.

– Milena?

Algo geladinho passeia por meu pescoço soprando um ar morno. Era bom, fazia cócegas. Um arrepio perpassa na orelha por uma voz que insiste em me chamar. Será que estou sonhando de novo? Devagar abro os olhos, encontro a claridade amena de mais um dia nublado incidindo fraco a janela, o abajur no canto da cômoda ligado... o abajur ligado? Eu não uso abajur no meu quarto.

Oh. Não é meu quarto.

– Acordou?

A voz me pega de novo. Não era sonho nada. O arrepio aumenta ao perceber que quem me chamava no pé do ouvido era o Vini, que o geladinho no meu pescoço segundos atrás era seu nariz. Seria uma ótima forma de acordar se não fosse o fato de ele estar me acordando quando eu deveria estar esperando pelo celular me chamar. Estava claro. Devia estar escuro. Amanheceu... isso não é bom. Num pulo levanto mais desorientada possível, afastando o lençol que nos cobria, procurando pelo maldito aparelho debaixo do meu travesseiro.

– Não me diz que eu desliguei o alarme e dormi de novo...

– Acho que você se esqueceu de colocar o alarme.

Ele ri. Eu me desespero. Ele não vê que não era para eu estar ali? Por que ele estava tão tranquilo? Eu tinha que sair o mais rápido possível. Cadê a merda do meu celular? Eu botei ele aqui debaixo do travesseiro... não coloquei?

– Que horas são?

Ele se remexe na cama com preguiça, risonho. Verifica seu celular na cômoda ao lado. Onde eu coloquei o meu? Eu lembro de ter o trazido antes de sair do meu quarto, eu lembro. Checo mais uma vez debaixo do meu travesseiro e imagino por onde ele poderia estar...

– Seis e trinca e cinco.

Avisto-o no chão. Ufa. Como ele chegou ali não tinha tempo para questionar. Espera... SEIS E TRINCA E CINCO? Ferrou de vez. O horário de meu irmão era 6h pra acordar. Quer dizer que ele pode estar perambulando pela casa agora...

– Por que só me acordou agora?

– Porque eu acordei agora também. Normalmente meu horário é 7h, não sei como acordei agora. Calma, Lena, foram só alguns minutinhos a mais...

– Segura esse argumento caso meu irmão apareça. Quem sabe você consiga convencê-lo...

Levanto depressa dispensando a vertigem rápida que me dá, chego à porta, abro uma fresta para ver como tá o território. Silêncio... Saio rapidamente a passos leves. Quando alcanço a maçaneta do meu quarto...

– Milena? Essa hora acordada? De pé, já?

– Hãã..

– A menina Milena pediu por um copo d’água. Contava sobre um sonho maluco que teve...

Dona Bia, minha salvação. Apareceu no exato momento.

– É... i-isssso mesmo. Sabe que eu nem lembro mais. Freud falou alguma coisa sobre isso. Ou foi Salvador Dali?

Poderia abraçá-la se meu irmão não estivesse ali de pé no corredor. Era minha hora de atuar. Por isso começo com uns bocejos, faço cara de lerda-estou-acordando-agora-não-sei-onde-estou, desorientada. Meu irmão parece comprar um pouco dessa ideia, apesar de eu ter percebido uma linha desconfiada em sua sobrancelha.

Volto para meu quarto e suspiro aliviada. Ou devia dizer travessa? Porque foi só eu cair na cama que tudo o que minutos atrás aconteceu fez aquele efeito de “cair a ficha”. Um sorriso me cobre os lábios enquanto abraço o travesseiro pelo risco que passei. Risco muito bom esse...


~;~



– Hoje você fica para o horário de Carvalho?


– Não. Fui dispensada, lembra? Por causa do evento.

Estava no balcão da biblioteca entregando uns livros que fiquei de devolver, era fim do intervalo. Estava esperando meu “guardião” para poder ir pra casa. Ele mandou mensagem dizendo que ia se atrasar um pouco por causa de um acidente que congestionou a avenida em que ele estava. Praticamente perdi minha liberdade de ir e vir, porém, não era no todo tão mal... algumas coisas dava pra curtir.

– Aff. A Flávia não quer perturbar no horário dele... hoje parece tudo tão chato.

– Gui, essa inquietação toda não é de TPM, é?

– Eu falo sério, Milena. Tô a fim de assistir aula hoje não.

Gui faz uma cara de coragem daquelas que é capaz de dizer bom dia quando o professor cumprimentar com boa noite, sem vontade alguma de ter mais dois horários. Isso se ele respondesse... Acho que saquei qual era o plano dele. Discreta, falo baixinho para que a moça atendente não ouvisse o que estávamos conversando:

– Por que eu tô achando que isso é um plano para eu te puxar pra matar aula?

– Tá funcionando?

– Um pouco.

Ele merecia. Flávia tinha feito invejinha com ele por ela ter ganhado uma festa de aniversário e ele nem pro pagode tinha ido. Isso porque ele também não gosta de pagode. Além do mais, se ele fosse para a aula, só ganharia a presença, porque do jeito que ele estava hoje, só o corpo dele ficaria ali. Ele precisava extravasar um pouquinho... todos tivemos alguns estresses esses dias.

– Vou ver quem eu posso arrastar. Procura a Flávia. Temos que sair antes do intervalo acabar pra não dar muito na cara.

De sorriso de orelha a orelha, ele vai afobado pegar suas coisas, ir atrás de Flávia. Por sorte encontro Dani e Bruno conversando com tio Chico. Ele estava doido para terminar o ano letivo para poder visitar sua filha no interior. Parece que era o mesmo interior da tia da Dani, então dá pra imaginar o quanto eles conversavam. Deram bons amigos no final das contas.

– Pergunte a sua tia se ela tem dessas folhas. Agora deixa eu cuidar senão hoje num termino. Tchau, crianças.

Crianças! Tio Chico só nos chama assim, não tem jeito. Até que acostumamos rápido com isso. Pego meus amigos pelos ombros, uma cara de traquina:

– Tenho uma proposta pra vocês. O que vocês acham de... matar aula hoje?

Bruno faz graça:

– Quem tá morrendo?

– Credo, e precisa alguém ficar mal pra poder matar aula?

– Pensei que precisasse.

Ele dá de ombros, brincando. De repente a ideia parece bem melhor do que de primeira instância. Além de matar aula, animar meus amigos, eu poderia bancar a cupido com esses dois. Um plano parecia se formar na minha cabeça.

– Que sorrisinho maldoso é esse, dona Milena?

– Nada, Dani, nada. Só... peguem suas coisas. Nos encontramos no estacionamento da entrada.


~;~



– Quem estamos esperando mesmo?


Deixamos nossos materiais todos no carro de Bruno, que tirou do estacionamento de trás para o da frente, a fim de facilitar quando fôssemos voltar. O plano primeiro consistia no básico, sair pelas redondezas e encontrar algum entretenimento legal, a pé – eu dizia que era o toque de criatividade. Esperava Vini que estava para chegar. Ficamos na calçada encostados em alguns carros.

– O namorado dela.

Bruno responde a Gui com aquela cara de “oh, yeah, baby” que só ele tem. Depois cai na gargalhada com todo mundo e eu... eu fico envergonhada. Abaixo minha cabeça num facepalm, porque era o que conseguia reagir. Cada vez fica mais na cara, sério? Flávia ri e depois vem ao meu socorro:

– Ô gente, vocês deixam a menina desconcertada.

Bruno tenta se redimir:

– Tá, desculpa. Mas diz aí, ele tá melhor? Sábado foi... sinistro.

E Gui é sempre o perdido.

– Por que que eu sempre fico por fora das histórias?

Era minha chance de virar o jogo. Bruno perde o riso pedindo desculpas e abordando o que aconteceu no sábado... o que faz lembrar que ele estava na casa de Dani. Ela ainda não me falou o que tanto aconteceu ali. Não seria mal se eu perguntasse com uma carinha inocente, né? Mas tinha que ser de um jeito que não necessariamente também pegasse minha amiga, só o bastante para que Gui, perdido nos assuntos, também perguntasse.

– É, gente, Vini teve uns problemas de família que... realmente o atingiram. Ele está melhorando aos poucos. As coisas andam meio difíceis. Nada melhor que uma saída improvisada pra descontrair, né? Bruno que o diga, anda estressado com tudo. Até teve que sair de casa no fim de semana...

Há! Ele ficou desconcertado! Dani riu meio nervosa... – tem coisa aí! – Mais ideias pipocam na cabeça. Pipocam mais ainda com a cara confusa de Gui nessa enxurrada de informações. Acho melhor fazer um teste... ver se Bruno sabe e valoriza o que tem. Ele que me espere, pois o que vai... Volta, baby, volta.

Conversa vai, conversa vem, a gente atualizou Gui do geral. Também tive que explicar para meus amigos o porquê de ter guarda... Não dava pra falar os maiores detalhes, apenas algo que explicasse minha situação:

– É que... ontem eu fui atacada perto de casa.

– O QUÊ? COMO ASSIM?

Pareceu um coro combinado. Flávia me abraça de lado e todo mundo fica de cara preocupada. Acho que acabei assustando meus amigos. Pior que eles não sabendo a história toda, vai parecer que o meu irmão vai estar certo quanto a marcação de proteção dele. Como eu ia falar que Filipe não ia me machucar – afinal, ele precisava de mim e me ferir só o afastaria mais do filho – sem ter que mencionar quem ele era? Num dava.

– Foi. Eu consegui me defender... não cheguei a quebrar o nariz do cara, mas se chegou a sangrar, isso quer dizer alguma coisa. Além de minha mão ainda estar meio doída com isso.

Não adiantou eu me gabar, porque espantados como estavam pelo fato de eu ter sido atacada, eles também me deram sermão, de que não era para eu revidar. Deixei que acreditassem que foi tentativa de assalto, que eu consegui socorro – consegui mesmo, depois do meu grito apareceu tanta gente que, na hora, não sabia de onde eles tinham saído – revidar era algo muito perigoso nos dias de hoje, pois os ladrões quando não andam com arma de fogo, levam sempre algo cortante. Minha desculpa foi dizer que eu não tinha pensado nisso... na hora nem tem quem nos faça lembrar isso bem.

Quando Vinícius apareceu, pedi que descesse do carro. Estava ainda de roupas formais de trabalho. Ultimamente estou primando pela distração dele. Claro que não dá pra ficar assim para sempre, ele tem que digerir bem tudo o que anda acontecendo para poder reagir de forma coerente. Pensar no que fazer, como fazer e por que fazer... Exaltações impulsivas só pioraria as coisas. Tempo, era isso que ele precisava para não sufocar. Ao se juntar a nós, perdidinho quanto ao que acontecia, comecei meu discurso de esclarecimento:

– Bom, amigos, estamos aqui reunidos nessa noite... para conceder a um desejo solicitado pelo companheiro Gui por uma noite de folga improvisada. Para começar, peço que o nosso amigo diga uma ordem qualquer bem aleatória de direção direita-esquerda, o que vier à cabeça.

– Hum... direita-direita-esquerda-direita-esquerda?

– Seu desejo é uma ordem.

Seguimos andando o caminho que o “destino” nos guiava, noite quente, sem muito vento, estrelada. A lua crescente nos acompanhava.


~;~



Não, não foi funk, pagode, sertanejo, reggae, mpb ou algo do tipo que poderia ser “previsível” de se encontrar. Direita-direita-esquerda-direita-esquerda nos levou para perto do Center, virando aqui, quebrando acolá, paramos numa rua com uns barzinhos bem animados na noite. Porém, o que mais chamou nossa atenção foi uma danceteria bem incomum num casarão que parecia antigo.


Parados na frente dele, dava pra ouvir a música alta, daquelas que tinha saxofone, tuba e outros instrumentos que eu não saberia descrever por não conhecer bem os nomes. Era coisa de dança de salão, estava na cara.

– Num é por nada não, eu posso até cantar, mas dançar não é comigo, não, pessoal. Vocês têm certeza de que querem ficar aqui?

Daniela aponta para a entrada animada, incerta de ir para lá. Mas se foi o “destino”, que preconceito com dança de salão nós poderíamos ter? Dou uma olhada geral nos meus amigos, sabendo que nenhum ali, dado às suas caras também incertas, que saberiam seguir o ritmo. De fim, dou de ombros. Era pra se divertir, se arriscar um pouco, então por que não?

Consegui puxá-los para lá. Subimos uma escadaria central, admirando os detalhes meio “antiques” do ambiente bem iluminado que dava para um salão principal. Parecia cena de filme, as pessoas dançando, seguindo o ritmo ditado pela banda, com uma cantora dominando o microfone com um vozeirão. Tinha pessoas a caráter assim como outras tantas não, o que meio que nos camuflava ali. Mais para trás tinha umas mesas, um barzinho atendendo. Pra lá que nos dirigimos.

– Dessa vez vamos beber alguma coisa?

Esperava a espevitada da Dani perguntar logo que encontramos uma mesa. Não demorou muito mesmo ela vir com suas esperanças de “batizar” as bebidas. O lugar parecia começar a contagiá-la. Mas o que não anima essa menina mesmo? Cutuco-a do meu lado:

– Bom, eu não bebo, vocês sabem. E quem está dirigindo não pode beber também. Só se a gente pedir uns coquetéis sem álcool.

– Ah, qual a graça de coquetel sem álcool? Vai ser só uma batida de frutas.

– Então pede uma pra você, Dani, com álcool. Você não vai dirigir mesmo...

– Só peço se alguém me acompanhar. Beber sozinha é sem graça.

Acho que o “universo” hoje queria brincar. Primeiro armou nossa roda na mesa, numa ordem que seguiria bem algo que eu traçava para meu plano cupido, com Dani a minha esquerda, seguida de Gui, Bruno, Flávia e então Vinícius fechando; segundo fazendo com que Dani se aproximasse de Gui, deixando seu Bruno de lado um pouco. Como se Gui tivesse me ouvido, ele responde o resmungo de Dani:

– Ah, eu bebo com você. Tô sem carro mesmo hoje... se eu der trabalho, amigos, tem um cartão com meu endereço no meu bolso da calça se vocês tiverem que pedir um táxi.

Claro que ele estava brincando. Quanto a dar trabalho, digo. Gui é o tipo do cara muito responsável para se deixar levar por drinks demais, apesar de não dispensar “molhar o bico”. Antes mesmo de o garçom chegar a nossa mesa, os dois levantam para ir ao bar fazer nossos pedidos. Engraçado que Bruno não resmungou dessa vez.

Vinícius levanta também, procura um lugar para atender uma ligação. Me mostra antes de sair da mesa o celular piscando o nome de Murilo no seu visor, me fazendo revirar os olhos. Ele não mais me liga, agora liga para meu “guardião”. Não sei se é algo bom ou ruim. Eu queria era me divertir, assim puxo Flávia e Bruno para dar um passeio pelo salão que logo os nossos pedidos chegariam.

Por incrível que pareça – eu demorei a perceber – todas nós nessa noite estávamos de vestidos, como se tivéssemos combinado. Seria mais um sinal do universo? Hoje ele não estava de sacanagem comigo... o dia tinha esquentado mais, diferente dos dias passados marcados pelo tempo frio.

Tentei arriscar alguns passos com Flávia no canto do salão acompanhando uma mulher que parecia estar dando aulas. De acordo com as dicas que ela falava para alguns casais mais a nossa frente, a gente improvisava. Bruno ficava só de olho, não adiantava o quanto nós o puxávamos.

De graça pra cá, graça pra lá, a tal mulher nos avistou – talvez pelo mico que prestávamos dançando totalmente errado; eu não ligava mais, ninguém me conhecia ou vice-versa, estava só com meus amigos – e se aproximou. Já disse que às vezes o “universo” me responde? Isso, quando não, sacaneia comigo? Por que eu insisto em falar dele? Eu devia parar de falar dele. Parei. Não adiantou...

– Ora, ora, se não é a Leninha.

– Oi?

– Não se lembra de mim, Leninha? A mãe do Eric.

Oh.


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Notas finais do capítulo

Quem é Eric?????
Hummmmm... alguém do passado e 'importante'.
Agora me diga, quem não vai gostar nadinha disso? Hahaha maldade.



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