Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 41
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Qnd se anda em campo minado, uma hora alguém pisa errado e... bom, uma bomba sempre aciona outra e outra. Enjoy.



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Aula de sexta-feira era só Marketing. Foi uma das disciplinas que não fui dispensada, então tive que ir pra aula mesmo.... Semana passada foi prova, mas ainda tinha algumas atividades pendentes para fechar uma nota. Flávia tinha se saído melhor que eu e ela que falava que estava na pior. Às vezes isso se tratava muito de sorte, e o meu histórico de sorte nem preciso mencionar.

Era justamente essa bendita que tinha me deixado de mal humor. Flávia notou e logo que saímos da sala para o intervalo, me puxou para uma mesa afastada para conversarmos. Afinal, não tínhamos muito tempo, pois logo teria que sair com Bruno para buscar seu Caio no hotel e levá-lo para o aeroporto.

– O que foi, hein? Um dia você tá faladeira, no outro, emburrada.

– Ai, Flávia, se eu te contar...

– Pois conte, porque eu não vou deixar você fazer suspense com isso.

– Ontem depois que eu saí daqui, saí com o Vini. Foi... muito bom. O namoro dele acabou, me disse. Você sabe que eu não queria me envolver com isso, então não falei muita coisa. O problema veio depois, quando fomos interrompidos, e por causa disso, o “clima” – se é que tinha “clima” ali – acabou. Por culpa de um traste de pessoa. Tô pensando em fazer uma visitinha pra esse ser só pra tirar logo as coisas a limpo.

– Okay, acho que não entendi bem. Faz parte daquela complicação que você mencionou algumas vezes?

– Mais ou menos. É um outro... paralelo.

– Que confusão.

– Imagina pra mim...

– É, melhor você resolver logo isso aí.

Suspiro forte pela minha zanga. Não é sou só eu chateada, Vinícius também ficou um pouco zangado ontem. Depois do que o doutor falou do Diogo, chamaram-no na mesa e ele foi embora – pode-se dizer que ele só foi lá deixar a bomba e fugiu. Vini continuou de pé, de costas para avenida, ao meu lado, e eu sentei:

– Pendências... você sabe do que se trata?

Eu sabia que ele ia falar. Ou tentar adivinhar. Abaixei a cabeça e só mirei minhas mãos na esperança de que ele não insistisse. Eu só poderia falar por alto mesmo.

– Tenho algumas ideias possíveis...

– Que são...?

– Eu não posso dizer.

– Por que não?

– Já falei uma vez, Vini. Ou é uma coisa pela qual eu me envergonharia, o que eu não ache que seja, mas nunca se sabe... ou é uma coisa que... me deixa chateada, que tem uma probabilidade maior de ser.

– Você está me deixando confuso. É algo ruim?

– Um pouco.

Ele tirou as mãos do bolso e meio alterado sentou-se ao meu lado. Encostei-me mais no banco e, com um ar de desgosto, eu só queria parar de falar disso.

– Poxa, Milena, só... me diz.

– Não dá, Vini. Desculpa, mas não dá.

Neguei com a cabeça mostrando que aquilo ele não iria arrancar de mim. Não tinha chances nenhuma e ele insistia. Se eu falasse sobre o vídeo que Diogo conseguiu pra mim, ele iria querer mais afundo, e isso pegaria mal tanto pra mim, quanto para o hospital... e eu não queria prejudicar ninguém. Se eu falasse sobre aquela história ridícula dos “créditos”, sabe-se lá o que ele faria. Como meu irmão, ele iria querer me defender e arrumar confusão.

– Dá. Eu não falo ou faço nada, prometo.

– Aí que está, se você souber... vai querer fazer alguma coisa, eu sei. Porque eu também quero. É frustrante, eu sei. Mas não vale a pena.

– Você não vai falar, vai?

– Não.

– Tudo bem. Não vou insistir. Vamos.

Ele me deixou em casa e no pouco caminho que tinha, ele não falou muita coisa. Se deixasse, ele comentaria sobre o tempo, como aquelas pessoas que não tem muito o que falar e não querem deixar o silêncio desconfortável dominar o carro. Eu não queria deixá-lo preocupado ou algo assim, queria que deixasse pra lá. Era muito pra pedir?

Despeço de minha amiga depois de um lanche rápido e vou com Bruno para o carro. Estava confiando no bom humor da Dani, que entrou no meio, para não descontar minha zanga em ninguém. Eu só queria que o dia acabasse logo. Bruno também, só que era só ele que resmungava. Depois que o voo de Caio decolou que ele pôde falar mais abertamente.

– Cara, ficar na casa do meu primo vai me fazer cometer homicídio. Ou eu mato o cara ou o cachorro dele, que fica latindo pro vento. Que bicho irritante, vocês não tem noção. Meu primo também não, ele é curioso pra tudo que eu faço ou deixo de fazer...

– Então fica em outro lugar.

Daniela que fala, sentada no banco do passageiro, dando de ombros. Eu estava atrás, no meio do banco, tendo a visão dos dois, distraída. Vez e outra eu os respondia, mas era mais Dani que retrucava. A iluminação da avenida me puxava para a noite passada e minha frustração se mesclava com a ira. Só tinha um jeito...

– Não dá pra achar um lugar assim, em cima hora. Lá em casa só vai ficar habitável lá pra segunda-feira.

– Fica na minha. Contei pra minha tia ontem e ela disse que estaria bem se você quisesse ficar lá. Meus pais viajaram pra checar a fazenda, parece que teve um problema na chácara, algo assim. E meu primo está lá em casa também, então você não seria o único entre mulheres.

Estaquei com essa. Bruno na casa de Dani o fim de semana todo? Hummm. Boa jogada, amiga. Acho que foi a única hora do dia que pude rir um pouquinho. Passei o dia largada, revisando algumas coisas da prova de Economia. Murilo não quis me atrapalhar ao me ver concentrada... Engano o dele, pois tinha um martelo batendo na minha cabeça que toda hora me tirava a atenção. Estava tentando me ocupar e acho que o Vini fazia o mesmo... ele mandou uma mensagem dizendo que o trabalho estava pesado. Não sei se acreditei muito, pois ele poderia muito bem estar me evitando...

– Não sei, Dani, não quero incomodar ninguém.

– Nada, bobagem, aproveita e faz companhia pro meu primo. Ele passa o dia jogando ou assistindo filmes, numa preguiça só.

E eu ajudo:

– Eu acho uma boa, Bruno. Vai estar entre conhecidos, vai relaxar e se livrar do cachorro do seu primo.

Consigo arrancar uma risada do meu amigo com meu trocadilho falando do primo dele. Ele balança a cabeça em concordância e Dani se anima.

Fiz minha boa ação do dia.

– Tudo bem, se vocês insistem...

Eu e Daniela falamos juntas sem combinação:

– Insistimos.

Conforme íamos no caminho, me localizava bem para pedir uma coisa ao meu amigo motorista. Estava na direção certa, afinal.

– Hã, Bruno? Você pode me deixar bem ali no próximo sinal?

– Por quê? Você vai entrar no hospital ou alguma coisa assim?

Ele satiriza brincando comigo. Mas a coisa era séria demais pra mim... Eu tinha que resolver de uma vez por todas essa história que me martelava e era agora. Diogo tinha que me explicar direitinho. Uma vez quase pedi ao meu amigo que me deixasse no hospital, quando estive brigada com Djane, e só não pedi para evitar perguntas, mas agora que se danasse.

– Na verdade, vou. Tenho que falar com... com um conhecido meu. Vocês podem seguir sem problema.

Bruno, no entanto, se ofereceu para mais que uma parada.

– Não, a gente te espera.

– Melhor não, talvez demore um pouco.

– Tudo bem, se você diz... está entregue.

– Boa noite pra vocês.

Desço do carro e sigo para o hospital. Determinada, caminho como se soubesse para onde ir. Quando o elevador se abre no terceiro andar, avisto ao longe um ponto rosa – que era o uniforme de enfermeiros – e sabia que era ele, de costas. Apresso o passo para acabar logo com isso.

– Diogo.


~;~


Pensei que não teria mais que sentar na lanchonete do hospital. Via as pessoas se movendo de um lado pra o outro como uma câmera lenta. Ou era meu pé batendo rápido demais debaixo da mesa. Mesma mesa, mesma cadeira de sempre. É, era algo inconsciente. Estava canalizando minha ansiedade, raiva, ira, bufando aos poucos esperando pelo traste que estava atendendo um senhor na enfermaria. Tudo pelos velhinhos daquela ala...

A gelatina que Diogo comprou pra mim estava intocada na minha frente, minha paciência se esvaindo. E olha que sou uma pessoa muito paciente, só não me tirar do sério. Esperando faz uns 20 minutos, checo no relógio que eram quase 23h, e eu nem sabia como iria pra casa, pois foi uma ideia tão repentina que nem deu pra avisar alguém.

– Oi, Milena. Nós podemos conversar agora.

– Já estava na hora, não? Não gosto de deixar “pendências”.

Friso bem o “pendências” pra ver se ele saca meu humor sério e pegue a dica sobre do que se trata a conversa. Ele senta-se a minha frente, com uma cara de quem tinha entendido bem, e tem a coragem de soltar um sorrisinho... ah, mas eu não gosto nadinha disso.

– Pelo jeito você está sabendo... e não é nada do que você está pensando.

– Você não sabe o que estou pensando.

– Olhando pra essa fumaça saindo do seu ouvido, acho que sei sim. Não se preocupe, eu vou colocar as cartas na mesa.

– É bom que faça logo, porque senão, fumaça vai sair é de sua cremação.

– Tá, não precisa ser agressiva.

Ele mantém seu sorrisinho e eu... eu queria arrancar com as unhas da cara dele. Ainda bem que tinha um espaço da mesa nos separando, apesar de que eu podia muito bem chutá-lo dali debaixo. Aí ele veria o que era ser agressiva.

– Diogo, foco.

– Foco, okay. Bom, você sabe que eu não faria nada de mal a você, certo? Você pode não acreditar, mas eu fui seu amigo enquanto esteve por aqui... Aquela história que te contei sobre os créditos... era mentira.

– Ainda bem, né?! Pelo menos a decência voltou.

Falava em deboche para ele, pois era o que eu não conseguia impedir de sair.

– Pois é... é que eu precisava tirar a atenção do diretor de mim, porque eu sabia que ele estava desconfiado de umas coisas aqui. Não ilegais, caso você esteja pensando isso, não, era outra coisa. Lembra daquela vez que você me repreendeu por ter te chamado de “amor”?

Como iria esquecer?

– Aham.

– Pois é, naquela hora, não sei se você lembra, o diretor estava perto de nós. Eu tive a ideia bem ali e aproveitei que você estava perto... me desculpa por isso, sinceramente. Eu precisava que o diretor pensasse que eu estava com você, porque... porque eu gostava de outra pessoa, que era da minha ala e foi minha chefe uma vez, e pela política do hospital, não poderia haver envolvimentos entre nós. Por coincidência, não sei se você lembra também, ela estava naquele elevador que pegamos. Faz quase 2 anos que escondemos nosso relacionamento. Um ano foi pelo tempo que ela foi minha chefe, e mais esse para assegurar aos outros que não houve nada durante o ano passado. Agora nós podemos assumir.

– Se aquela história de créditos era mentira, como que aquele outro médico parecia se divertir a nossas custas?

– Ele achava que eu estava seguindo em frente, porque no ano passado ele nos pegou num flagra e nos repreendeu por estarmos juntos, eu e a pessoa de que gosto, mas não falou nada.

– Me diz que a pessoa é aquela médica que peguei com você naquele dia no estacionamento, porque se não for...

– É ela. Estamos esperando há tanto tempo por nossa liberdade que tivemos que apelar para algumas coisas, como essa que eu meio que aprontei com você. Está muito chateada?

Ainda tinha vontade de dar-lhe um tapa na cabeça pra ver se isso o endireitava ... mesmo assim eu não podia negar que isso era um tanto romântico. Os sacrifícios que eles estavam fazendo para se manterem juntos. Sabe-se lá o que mais eles fizeram, que loucuras mais inventaram pra se preservarem. Era amor... era fofo. Ele bem que poderia ter me dito logo de primeira instância, só que eu era muito desconhecida para ele confiar esse tamanho segredo. Me sinto aliviada, na verdade. Ele tinha me feito pensar tantas coisas ruins dele... Mas o que era minha opinião ante o amor que ele queria proteger? Isso, nada. Era justamente uma confusão para um bem maior. Seus olhos emitiam um brilho e um sorriso nervoso por minha resposta escapulia no seu rosto.

– Mais calma agora. Nunca pensei que te diria isso, mas é... admirável. Quer dizer, se sacrificar e à sua imagem para proteger a quem ama. Você a ama, não?

Um sorriso ilumina seu rosto, seus olhos ficam meio opacos focando na mesa por talvez estar se lembrando dela e do quanto ela importa para ele. Estava ali o Diogo que conheci, uma boa pessoa. Meu enfermeiro bonito.

Meu AMIGO enfermeiro bonito, fica uma melhor colocação.

– Amo. Amo demais.

– Vejo em você que sim, que dessa vez você está sendo muito verdadeiro. Bem que eu desconfiei de você, só não quis me afundar em descobrir o que era. Por isso me decepcionei com você. Agora estamos de bem.

– Que bom. Tenho mais uma coisa pra falar, que por enquanto é um segredo. Pra você ver como sou bom, vou te contar... E-eu... eu vou pedi-la em casamento.

– MENTIRA! Sério?

– Shiiii. Alguém pode ouvir.

– Ai que lindo.

Mais umas vezes Diogo tenta abafar meus surtos de alegria e fofura. Ele me conta suas dúvidas de como fazer a surpresa para a namorada e das opções de como pedi-la em casamento. Estava tão entretida que comi umas 5 gelatinas com ele.

– Agora você sabe tudo. Estou perdoado?

– Está, mas falta uma coisa.

– O quê?

– O que foi o pagamento que você fez para o guardinha que me deu a cópia daquele vídeo do meu irmão? Ele não quis me dizer.

– Ah. Meu amor tinha salvo a filha dele de uma apendicite. O cara agradeceu tanto, mas tanto, que disse que faria qualquer coisa. Ele já tinha nos pego uma vez no estacionamento também, era quase um amigo. Aí, além de guardar nosso segredo, ele disse que conseguiria o vídeo quando comentei por alto...

– Uau. E eu pensando que vocês eram um bando de tranbiqueiros. Ainda são, claro, mas... não fazem por diversão ou maldade, mas sim por outros propósitos. Muito obrigada por me contar. Não sabe o alívio que me fez sentir agora.

Verdade seja dita, eu respirava melhor, pensava melhor. Meu humor melhorou em 100% se possível. O mesmo para Diogo, ambos tínhamos tirado um peso – o peso dele era maior, claro – e sorriso aberto era o que não saía de nossos rostos. Era hora de rir de toda essa situação que vai ficar pra trás.

– Você que não sabe o alívio que é poder contar aos quatro ventos que se ama alguém, deixar de esconder das pessoas.

– Na verdade, estou meio que descobrindo isso...

– Hummm... você e o Vinícius, né?

A sobrancelha dele levanta numa presunção sem tamanho. Tantos amigos meus faziam o mesmo e eu ficava sem-jeito, nervosa, sem-graça... isso quando não negava. Por que negar mesmo? Meu coração queria ser feliz.

– Er... hã... mais ou menos. Eu gosto dele, tá? Pronto, falei.

– Posso ser o padrinho? Fui o seu guia, não fui? Mereço.

– Oxi, menino exagerado. As coisas ainda não começaram a andar conosco... A missão da mãe dele me ocupou por muito tempo, só fui notar há pouco tempo atrás. Além do mais, as coisas andam meio... delicadas... para que eu tente algo.

– Mexa-se, Milena.

– Eu sei, Diogo. É que às vezes é tão difícil... Ele mesmo não sabe quão difícil é.

– Ainda assim, mexa-se, Milena.

– Tá, seu sabichão-conselheiro. Vou ver o que eu posso fazer...

Era quase meia-noite e meia e nós ainda conversando naquela lanchonete. Quando contei que iria pegar um táxi por estar sem carona, ele se ofereceu pra me levar pra casa, “fechando o pacote” de ele pedir perdão, sabendo que já tinha sido perdoado. Mas claro que eu não ia negar sua carona.


~;~


Como a professora de Legislação Social tinha avisado que não iria dar aula no sábado de manhã, Flávia só teve dois horários com Djane e foi pra casa, onde eu a esperava pra ajudá-la no seu trabalho. Ficamos o resto da manhã concentradas no estudo de caso dela e já na hora do almoço, tudo corria bem. Vinícius tinha mandado uma mensagem durante nossos estudos, convidando-me para um almoço na casa dele, mas eu tinha combinado com minha amiga, então propus chegar pra sobremesa. Dito e feito, ele respondeu que iria ficar mais um tempo no trabalho e logo iria para casa.

Ao deixar a casa de Flávia, ria sozinha no ônibus vazio de sábado, num barulho suave de fim de semana, combinado com meus fones de ouvido. Lembrava da noite esclarecedora, da felicidade que me subia por tudo estar bem de novo... Como essa sensação era boa, viu!

Embalada por essa felicidade, viro na rua do Vini e vejo seu carro do outro lado da rua. É, ele chegou primeiro que eu. Distraída vou caminhando pela calçada de sua casa, o dia nem quente nem frio, nublado num clima perfeito, estava contente que ele tinha me convidado pra ir pra sua casa. Hoje se ele me perguntasse sobre Diogo, eu já poderia falar pra ele.


Trilha indicada: Kris Allen Feat. Pat Monahan – The Truth

http://www.youtube.com/watch?v=t8y4Ajauu-Y


De repente, como uma bala, um Vini passa batido da porta de casa, perto de mim, logo a minha frente, correndo para o carro em desespero e alteração. Não fiquei parada também, corri atrás dele. Ele abriu a porta do carro com dificuldade na hora de colocar a chave na fechadura e não me respondeu quando lhe chamei. O desespero então bateu em mim quando consegui me aproximar do carro dele, do lado do passageiro, ao ver que seus olhos estavam marejados e uma ira o dominava como nunca tinha visto. Era agora. Só podia ser uma coisa.

Ele sabe.


It's the elephant in the room

And we pretend that we don't see it.

It's the avalanche that looms above our heads.

And we don't believe it.

É o elefante dentro do quarto

E nós fingimos que nós não o vemos

É a avalanche que aproxima-se sobre nossas cabeças

E nós não acreditamos nisso


Depressa abro a porta do carro também e sento antes mesmo dele protestar. Pelo menos o cinto ele se importou de colocar, impelindo a mim fazer o mesmo. Eu não ia deixá-lo sair assim, nesse estado, sua agonia era minha agonia. Eu tinha que me controlar para poder conseguir isso dele. Também não podia começar falando que eu sabia, ele ficaria mais chateado talvez... por isso o questiono enquanto ele dirige rápido como um maluco pela sua rua. Saiu quase cantando pneu de lá.


Tryin' to be perfect

Tryin' not to let you down

Honesty is honestly the hardest thing for me right now...yeah

Tentando ser perfeito

Tentando não te decepcionar

Honestidade é honestamente a coisa mais difícil para mim agora mesmo... yeah


– Meu Deus, Vini, o que foi? Você está me deixando assustada.

– Eu não queria que você visse isso, Milena. Eu não queria sentir isso, também.

Sua voz embargada entregava o choro que ali tinha começado, assim como a ira e a cólera se revelava a cada movimento nervoso dele. A própria respiração dele estava perturbada, o peito subindo e descendo rápido. Eu... eu não sabia o que fazer. A velocidade do carro só aumentava e não ajudava.


While the floor underneath our feet are crumbling

The walls we built together tumblin'

I still stand here holdin' up the roof

Cause it's easier than telling the truth.

Enquanto o chão embaixo de nossos pés está se esfacelando

As paredes que nós construímos juntos caindo

Eu ainda continuo aqui segurando firme o telhado

Porque isso é mais fácil do que contar a verdade


– Do que você está falando?

– Que tolo eu fui! Me pegaram pra besta...

– Fala algo com mais sentido. O que foi? PELAMOR, me diz o que te deixou assim, alterado.

– Eu não quero falar sobre isso.

Ele entra na avenida principal e aproveita que um sinal tinha sido aberto, passa direto, sem se importar com algumas buzinas que ficaram para trás. Eu via ele começar a tremer, confuso, negando com a cabeça, olhando diretamente pra pista a nossa frente. Alguma coisa eu tinha que fazer.

– Então para o carro. PARA AGORA! Você não pode dirigir nesse estado, eu não posso deixá-lo fazer isso. Já houve um acidente antes, lembra?

– Como poderia esquecer? Seria mais um acidente pela mesma merda de motivo. Vinte e três anos cego, CEGO POR TODO ESSE TEMPO. Acabou de vez, TUDO.

– Eu não entendo. Que motivo?

Eu sabia. Ou achava que sabia. Não queria que as coisas tivessem tomado essa proporção, estava tudo muito bem pra ser estragado. Merda, por que agora?


It's the elephant in the room

And we pretend that we don't see it.

It's the avalanche that looms above our heads.

And we don't believe it.

É o elefante dentro do quarto

E nós fingimos que nós não o vemos

É a avalanche que aproxima-se sobre nossas cabeças

E nós não acreditamos nisso


– Engraçado que eu... eu me sentia mal por fazer as pessoas caírem numa mentira, que não era nada demais, mas eu me sentia péssimo por enganar.

– Vini, eu não vou desistir. PARA-ESSE-CARRO. AGORA.

Tento, em vão, segurar seu braço, que estava esticado segurando o volante. Ele se desfaz de mim, me magoando, e passa a marcha do carro. Eu também estava chorando a essa altura, porém, não era meu momento de se sentir magoada, eu tinha era que engolir isso se desejasse que ele ficasse bem. Era o que mais desejava, na verdade.


Tryin' to be perfect

Tryin' not to let you down

Honesty is honestly the hardest thing for me right now...yeah

Tentando ser perfeito

Tentando não te decepcionar

Honestidade é honestamente a coisa mais difícil para mim agora mesmo... yeah


– Quer saber a verdade? Eu digo a verdade: eu e a Becca nunca tivemos nada. NA-DA! Tudo não passava de um acordo que fizemos uma vez, no começo do ano, na festa de aniversário de casamento dos pais dela. Eu fui de penetra com o Fael, que a conhecia. Ele tentava fugir dos pais que a empurravam para um cara lá que ela não gostava... e eu, eu só estava na hora certa, no lugar certo, ou hora errada, lugar errado, sei lá... só sei que, sem mesmo nos conhecermos, ela me apresentou como namorado dela, que estávamos juntos, para diminuir a pressão dos pais dela. Dali começou nosso acordo.


While the floor underneath our feet are crumbling

The walls we built together tumblin'

I still stand here holdin' up the roof

Cause it's easier than telling the truth.

Enquanto o chão embaixo de nossos pés está se esfacelando

As paredes que nós construímos juntos caindo

Eu ainda continuo aqui segurando firme o telhado

Porque isso é mais fácil do que contar a verdade

Agora ele alternava sua voz, assegurava-se dela sair controlada ante o próprio choro, era a ira se fazendo presente na fraqueza. Batia algumas vezes no volante, revoltado, culpado, frustrado. Como doía em mim também. Era algo horrível de se ver. Mil vezes pior de se sentir. Os espasmos do meu choro também se mesclam ao dele, era muita adrenalina ao mesmo tempo, ainda mais no trânsito, apesar de não ter muitos carros na passagem. Passo a mão no rosto então trêmula tirando a água que me atrapalhava a visão e tento absorver melhor o que ele me diz.


Stop ignoring that our hearts are mourning

And let the rain come in.

Stop pretending that it's not ending

And let the end begin.

Pare de ignorar que nossos corações estão pesarosos

E deixe a chuva entrar

Pare de fingir que isso não é o fim

E deixe o fim começar


– O q...quê? Mas...? Como...? E...?

– Nosso acordo tinha se quebrado antes do meu acidente. Só que não oficialmente para todos que sabiam de nós... como meu tio. Então ele a chamou no dia da minha alta. Por isso ele teve que ser quebrado de novo, e foi. Eu pensei ter me livrado das mentiras de uma vez por todas da minha vida. Quão enganado fui, quão I-DI-O-TA eu fui. Sempre soube que tinha algo estranho, mas não sabia que era dessa magnitude toda.

As coisas se embaralhavam na minha cabeça ao mesmo tempo que tudo ia começando a se encaixar. Não era a hora para fazer confissões. O que ele queria com isso? Era uma grande mentira sim, mas porque falar disso agora? Eu não tinha nem tempo para me sentir traída, pra esboçar alguma reação àquilo que ele falava. O próximo sinal fecha e, alarmada de estar tão próximo dele, vejo outros carros do outro lado se preparando para fazer uma travessia de avenidas a nossa frente. Não podíamos bater.

– CUIDADO!

Meu grito desesperado ele pareceu ouvir. Ele freia a tempo, em cima de uma faixa de pedestres, por onde, GRAÇAS a Deus ninguém estava ali para passar. O cinto de segurança nos prendeu no banco e ainda assim eu me segurava no painel do carro, com uma força que não sei de onde saía quando eu sabia que estava a perdendo, tão trêmula quanto ele, que insistia em segurar forte o volante, quase como se estivesse sufocando alguém.

– Engraçado, porque “cuidado” foi bem o que eles tiveram por todo esse tempo, pra me fazer de marionetes.

– O que você quer dizer com isso?

Ele tomba para frente e debruça-se sobre o volante. Entre engasgos de seu pranto, ele consegue por pra fora o que eu temia ser a causa de tudo isso:

– O Filipe não é meu tio, é meu pai. Meu pai, Gustavo, não é meu... pai.


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Notas finais do capítulo

De tantas músicas que já passaram (e outras que virão), essa do Kris Allen marcou bem e não tem vez quando essas músicas tocam na rádio, lembro instantaneamente das cenas. E que cena TENSA (em mtos aspectos, na verdade) Espero que estejam gostando e apoiando o Vini nessa hora.
Alexis.



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