Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 30
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ahá, consegui upar a capa!
Enjoy



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/397313/chapter/30





Trilha citada: Backstreet Boys – Larger Than Life

http://www.youtube.com/watch?v=_Qm5wDS2daQ




O sacolejo do transporte público não afeta meu bom humor que nasceu junto com o sol dessa manhã. Dona Bia – a senhora que ajuda nos afazeres de minha casa – mencionou no almoço que, se não fosse por ela estar trabalhando ali, eu estaria provavelmente varrendo a casa sorrindo para as paredes. Quem sabe conversando bobeiras com o concreto. Ela não perguntou o motivo, talvez a visão de eu arrumando a bagunça que estava meu quarto fora o suficiente.



Tudo bem, confesso. Ela me pegou numa cantoria digna de escova de cabelo como microfone enquanto movia as coisas de um lugar para o outro. Arrisquei uns passos que me lembrava da boy-band que tocava de uma playlist aleatória no notebook... Curtia o momento do finalzinho de uma música, agradecendo meu “público”, quando ouço suas palmas vindo da porta. Gelei de onde estava mesmo, quase virando uma estátua com a escova na mão e a agenda na outra... Comentou então que eu poderia me apresentar para as pessoas, não tinha uma voz ruim e a “performance” estava de bom grado. Na hora pareceu um comentário bem discreto que me relaxou por uns segundos e, quando ela foi pra sala terminar seus afazeres, que eu senti o flagra me bater... agora “Larger Than Life” nunca vai ser a mesma na minha cabeça.

Sob esses efeitos ria sozinha no assento perto da cobradora. O trajeto todo imaginei possíveis respostas num diálogo paralelo com ela, creditando aos Backstreet Boys a minha ceninha e embaraço pós-flagra. Antes creditar esses risinhos a boy-band que outra coisa... ou outra pessoa. O tal que me espera de pé, encostado num carro em frente a sua atual residência, de braços e pernas cruzados, que parece distraído com o horizonte até me ver caminhar em sua direção e sorrir iluminado, imagem que bate na minha íris e chega ao meu cérebro sabendo que isso causa um descontrole àquele órgão pulsante ante qualquer emoção. Se antes eu estava de bom humor, agora devo ter ganhado moedinhas naquele game para passar de fase, pois essa simples visão me dá razão pra sorrir mais bobamente possível.

Faço draminha ao parar a sua frente. Vinícius continua na mesma posição, com o mesmo semblante presunçoso e garantido das coisas. Há, ele tá pedindo uma lição, só pode.

– Um simples convite já valeria, então porque me intimar?

– Pra garantir sua presença.

– Sorte a sua me achar com tempo livre... tô sentindo que essa semana ou vou ser explorada ou vou comer livros. E você, que pretende?

– Além de te sequestrar, hã... deixe me ver... acho que amanhã eu volto para meu posto no trabalho. Não dá pra voltar pra faculdade já que perdi o semestre, mas tá dando pra eu me reiterar das coisas... Espera, pra onde você vai?

Comecei com passos pequenos pra trás e depois virei indo embora. De mentira, claro, eu não ia chegar depois de carregar todo o material que tinha nos braços em um transporte público num dia quente para em segundos tomar todo o caminho de volta. Mas ele não sabia disso e eu gosto de me fazer de atriz de vez em quando.

– Vou embora. Quando as pessoas falam em sequestro, é mais seguro ir embora, não?

Mal digo isso e um vulto seu surge em minha frente pegando o material que carrego para voltar ao local onde ele estava quando eu cheguei. Que atrevido! Meu trabalhinho-digno tá lá no meio... não posso me dar o luxo de perder facilmente, mesmo tendo uma cópia do arquivo na bolsa. Giro de braços cruzados pra ele com falsa indignação esperando sua declaração. Só que Vinícius não fala nada, deixa tudo no banco de trás do carro que estava encostado e volta à antiga posição sem um pio, somente com um sorriso traquina instigante.

Ralho com ele:

– Já houve melhores sociopatas.

– Se fossem bons sociopatas, não teriam sido descobertos.

– Alguma hora todos nos provamos humanos, independente de nossa condição. Erramos.

– Posso usar esse argumento caso eu seja preso por sequestro?

– Pode usar com o psicólogo do presidiário para conseguir uma condicional... O que vai fazer com meu material?

– Deixar no carro. Se tenho uma isca da qual você não vai desistir, de perto de mim você não sairá.

– Ok, ok, eu fico, chantagista. Mas você sabe do ditado, né? O que vai, volta...

– Espero ansiosamente por essa volta... Enquanto isso, preciso ir à loja que meu tio comprou o celular. O aparelho anda com uns problemas pra realizar as funções, quase não consegui te ligar. Vamos?

– Se sequestradas têm direito de opinião, eu escol...

– Não, na verdade, não têm. Vem.

Não me deixa terminar de falar, me puxa de vez ao seu encontro no meio de meu grito surpreso sem plateia na rua vazia e me guia na medida de uma gentileza possível de animação ao banco passageiro. Uma vez sentada ele passa o cinto de segurança por mim pra garantir que eu não fuja. Até me sela os lábios com um dedo numa “ordem” silenciosa de “sem comentários”. Foi tudo tão rápido que acho que demorei a processar, pois estar com ele no carro respirando seu perfume, tendo uma boa visão de seu perfil determinado dirigindo pela avenida naquele ar vitorioso começava a me dar palpitações.

Boas palpitações? Más, más! – era difícil eu me convencer.



–----------------------------------







A loja fica bem perto de sua antiga-nova-casa, bem na avenida do hospital. Deixou o carro no estacionamento e de fato me buscou no assento do passageiro, sem me dar chance de alcançar meu material que ele deixou espalhado no banco de trás do carro. O que ele esperava? Que eu ia pegar o material, sair correndo que nem uma louca pela avenida e simplesmente fugir? Ideia furada porque não ia dar tempo pra tudo isso.





Continuando com minha atuação de sequestrada que não pode dar um pio, finjo que não o vejo enquanto andamos até a entrada do estabelecimento. Assoviaria despreocupada se soubesse assoviar, ignorando seu toque nas minhas costas de guia. Ele não aguenta por muito tempo, me para antes mesmo de entrarmos segurando um sorrisinho inseguro:

– Poxa, Milena, fala alguma coisa.

Ele sabe que aqueles olhos não me convencem. Não sabe a vontade que me dá de rir dele... Engulo isso, cruzo os braços presunçosa e dou de ombros para provocá-lo. Ele não me queria silenciosa? Pois então que aguente meu silêncio.

– Não vai dizer nada? Nadinha?

– ...

– Tá, provei meu veneno. Quero que você converse comigo, tenho muita coisa pra falar com você.

Ah! Agora ele quer conversar? Só porque ele quer, né? Me deixa curiosa sim, seu bico que não me convence. Ia segurar mais um tempo quando um cara saindo da loja falando ao celular não nos vê bem na entrada da loja e quebra nossa bolha ao topar em nós. Dei um gritinho com a surpresa e nessa hora o cara me olhou:

– HEY!

– Opa, desculpa... é que, espera, tá já tô com a sacola, tchau. Desculpa, eu tava bem distraído e não vi vocês... e... eu te conheço.

Aponta pra mim. Dou uma olhada rápida de lado em Vinícius que fica todo desconfiado. Sem jeito, olho pro cara de novo, forçando a mente a lembrar dele e nada me vem na cabeça. Nenhum loiro alto desse porte é encontrado na minha memória. Se bem que... é, seria muito bem-vindo ter uma memória dele, viu. Mas, caramba, como assim o cara se lembra de mim e eu nem pra reconhecê-lo? Abri a boca pra falar algo e nada saiu, estava totalmente sem reação.

– Você não me conhece. Quer dizer, já nos vimos várias vezes, mas não fomos apresentados. Me lembro dos seus shows com aquela sua amiga, suas vozes combinam...

Tudo bem, nada demais. Vou só me enfiar no bueiro dali próximo e esquecer que um CARA do nada me RECONHECEU na rua por minhas cantorias dentro do ônibus – e só poderia ser dentro do ônibus porque era o único lugar que eu soltava a voz com a Dani. No modo estátua ativado, não consigo esboçar qualquer reação senão surpresa.

Ao perceber isso, o cara ajeita as sacolas nas mãos e mexe no celular. Eu estava achando que era uma deixa pra isso passar em branco, então ele faz a proposta que nem eu teria imaginado que ele poderia fazer:

– Posso tirar uma foto?

– Hã... hum?

– Uma foto. Só uma... o amigo aqui pode tirar pelo meu celular.

O cara quase jogou o celular nas mãos de Vinícius, quem não gosta nadinha disso, fica bem estampado que acha o cara bem descarado. Quase devolveu, emburrado, pausou quando eu respondi que sim. Também não sei o que deu em mim pra aceitar, só me veio na cabeça “é um fã, fãs pedem essas coisas”.

Daniela não vai acreditar quando eu disser um negócio desses pra ela.

Abracei o cara de lado, rindo boba da situação e um Vinícius impaciente tirou nossa foto. O cara verifica, agradece e sai caminhando em direção ao seu carro. Não diz nome, nem nada a respeito. Quando abre a porta do carro, fala um pouco alto:

– Hey, eu não vi mais vocês...

– Hã... é, a gente deu uma parada.

– Uma pena, vocês têm umas vozes legais.

Parece que ele também parara se arranjara um carro. Mas se sente nossa falta no ônibus é porque ele ainda pega o transporte público... ou esse carro não é dele ou ele não o usa durante a semana. Eu que pensava que todos ficavam em seus mundinhos, distraídos com seus próprios pensamentos amontoados no mesmo espaço do transporte, aí vem esse cara e praticamente diz que eu fazia a viagem dele diferente com uma simples cantoria.

Poderia até estar importunando outras pessoas, não ele, que se lembrou de mim e da Dani... E eu que sempre achei que desafinava. Agora com as caronas que arranjamos, mal temos uma plateia fantasma. No modo estátua pensante que fiquei, Vinícius chama minha atenção:

– Milena?

– Sem comentários, sem um pio sobre isso.

Aponto pra ele e entro na loja. Se eu começar a falar disso pra ele sinto que o embaraço pós-estátua vai me avançar e eu prefiro que isso não aconteça. No fundo sabia que ele não ia ficar satisfeito, talvez estivesse até atiçando-o, mas jogo assim para ver se ele conseguiria não ser previsível. E ele é, pois me segue e passa na minha frente pra me bloquear:

– Então, show, voz, amiga, ônibus... foto... é, eu preciso perguntar.

– Eu desisto do silêncio se não comentar isso até a próxima vida.

– Hum. Proposta difícil...

– Vini...

– Tudo bem, pedindo desse jeito, eu aceito.

Acho que acabo de descobrir minha arma de persuasão com ele.

Disfarço deixando ele me guiar até o departamento de compra de aparelhos celular. Cada um com seu pedaço de vitória.

–----------------------------------------



A conversa fluía bem, ele me contava sobre os planos que estava fazendo enquanto o atendente verificava seu aparelho, parecia bem animado com tudo o que tinha pra arrumar. Poderia dizer que ele estava bem resolvido, de brilho nos olhos e empolgação por todos seus gestos ao descrever como foi conquistar seu antigo trabalho nessa manhã. A simples menção de seu tio presente nem me fazia sentir algo estranho... Verdade que esse homem me deixou bem dividida, ora na vontade de bater nele até a raiva súbita me passar, ora na compaixão que ele me despertava quando fala sinceramente de seu “filho”. No hospital me parecera que ele não queria arredar o pé de ficar ao lado do filho e aí está, sumindo e reaparecendo sem prévias. Vinícius me disse que ele era bem compromissado e bem estranho, eu só não sabia que era tanto.


No seu trabalho, antes do acidente, Vinícius se preparava para uma promoção que o ascenderia à gerente, porém seu sumiço repentino e desaparecimento por longo tempo ofereceu essa promoção ao colega que competia com ele. Quando souberam, através dos colegas que estavam no acidente de carro, que Vinícius passava por uma recuperação mais prolongada e grave, deixaram uma vaga aberta, que era a do colega que havia ganhado a promoção.

Como nesse meio tempo não apareceu ninguém pra cobrir a vaga, o tal novo gerente continuava fazendo o antigo trabalho com a ajuda de outros que tinham a mesma função. Agora Vinícius vai cobrir essa vaga. Não era bem o que ele almejava, mas aceitou com muito contento, pois estava duvidoso quanto ao contratempo que o deixou por fora por muito tempo, e não queria ter que buscar outro trabalho. Só as coisas estarem se estabelecendo novamente ele estava aceitando. Amanhã mesmo ele estaria de volta.

Tão feliz por saber disso, deixei o embaraço de lado e o abracei no meio da loja, pulando nele como se tivesse ganhado na loteria, gritando que ele tinha conseguido. Senti a loja praticamente parar pra nos observar, não estava nem aí para o que pensavam ou deixavam de pensar, a felicidade era minha e eu tinha que aproveitar. Sem falar que era tão tão bom abraçá-lo, senti-lo perto de mim, respirá-lo... até me contrair pela sanidade que voltava ao seu posto e ter que me afastar.

Foi uma boa hora para o atendente voltar e explicar o que estava de errado com o aparelho. Algo a ver com uma peça e a configuração não completa que não tiveram o cuidado de ajeitar antes de vender. O moço se desculpa pelo descuido, que não valia pagamento da consulta por ser culpa do atendimento e entrega o aparelho em boas condições de uso.

– E agora?

– Vamos à locadora devolver os DVDs que meu tio alugou.

– Espera.

De súbito me vem uma coisa na cabeça. Comprar CDs virgens, uns para reserva e outros para ter cópias da minha artimanha, que completaria meu plano. Tinha uma loja de conveniências do lado, melhor aproveitar que estava por aqui mesmo.



–-----------------------------------






Filas de lojas de conveniência sempre são grandes, mesmo tendo uns mil atendentes. O interessante é que, mesmo sendo alongadas pelos clientes, o tempo passa rapidinho. Mais rápido ainda se tiver uma companhia para conversar.




– Pra quê 5 CDs virgens? Já não ouviu falar de pen-drive?

Como lhe dizer que precisava colocar meu arquivo-precioso do Murilo em três CDs e entregar para três amigos de confiança para todo o caso de eu precisar garantir a segurança das evidências? Nos filmes e novelas se faz assim, tendo fortes provas de alguma coisa a pessoa faz umas três cópias e as entrega para três advogados para o caso de alguma coisa ruim acontecer, então essas provas acabam vendo muito mais que a luz do dia quando explodem pra todo mundo ver. Estou sendo muito exagerada?

– Hã... é um caso especial. É mais como uma forma de expressão...

– Hum, mistério. Posso saber do que se trata?

– É apenas uma besteira, nada demais... Você falava do seu avô, que chegou de viagem e tal... o que você disse sobre discussão?

Admito que esse não é melhor lugar pra se conversar sobre isso, tendo umas 12 pessoas a nossa frente, todo mundo conversando ao mesmo tempo e uma rádio do estabelecimento tocando qualquer coisa que de momento não reconheci para lhe dar melhor atenção. O que devo contar é que ele está confortável, logo atrás de mim, falava abertamente sem se importar com o ambiente. Para melhor conversar fiquei de lado, o que deveria me dar uma visão atenciosa do atendimento, mas não dá, pois me centrei nele e na nossa conversa... e isso implicava em ele me avisar de mover-me para frente.

Como ele fazia isso? Ah, ele segurava a minha cintura e me impulsionava para andar pra frente que todos esperavam sua vez. Coisa besta, não? Segurar-me pela cintura como um guia, aproximando nossos corpos, interrompendo por uns segundos o que se falava. Eu? Eu ria... eu RIA! Quando ele fez isso pela terceira vez meu riso foi de “cadê minha sanidade?”.

Só que então, quando ele ia me detalhar o almoço badalado de domingo que eu estava numa curiosidade só, me aguentando para não transparecer alguma ansiedade sobre a presença do tal ilustre avô que deixou Djane nervosa quando ela descobriu por mim a chegada da figura e que ainda me valeu uma mensagem de “sucesso” no celular, tão distraído (ou diria concentrado?) como eu, a fila a nossa frente andou, e como ficamos parados, pessoas atrás de nós começaram a reclamar. “Acordamos” e demos uns passos a frente. Desviei de Vinícius para pedir desculpas por ter segurado a fila e...

Não, só pode ser brincadeira...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem será essa pessoa que aparece na fila? Apostas?
Acompanhem o combo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.