Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Tem mais trilha 'ambiente' nesse post o/



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Trilha Indicada: Avril Lavigne – Mobile

http://www.youtube.com/watch?v=pe_aZhHpNu4

Fiquei o intervalo todo naquela mureta, com o celular em meu colo, esperando inutilmente uma resposta. Boba eu sei, mas o que num é a esperança?! Um tanto frustrada, permaneci por lá mesmo, olhando a avenida, carros indo e vindo, ônibus seguindo seu rumo, ciclistas se metendo entre os carros e pessoas andando pra lá e pra cá, cuidando de suas vidas. Umas tinham caras estranhas, caras engraçadas e tantas outras, eram indecifráveis. A brisa forte permanecia, me encolhi a cada rajada de vento depois de um tempo.

Não conseguia sair do frio, era de certa forma – bem estranha, eu sei – confortável. Me encostei na coluna ao meu lado, esvaziando a cabeça, eu acho. Se isso fosse possível.

Mas aí me peguei pensando em tudo, uma enxurrada de coisa veio na minha mente, de tudo que tem me acontecido nos últimos dias e eu num fiz balanço. Quer dizer, não sou de fazer balanço, só gosto de pensar na vida. Conheci ótimas pessoas, estou indo bem nos estudos, meus pais estão de boa no interior, vivo de cão e gato com meu irmão... Se tudo está nos conformes, se está indo bem, porque eu me sinto assim? Aquela sensação de sei lá que domina a gente de vez em quando, que traz umas dúvidas nada a ver... aquele indefinido que te vira, remexe e puff, nada de novo.

Isso é receio por estar me preocupando demais? Isso existe? Digo, se preocupar por estar preocupada? Bem, eu já estive uma vez preocupada em não estar preocupada, já pirei por não pirar sobre algumas coisas... então, deve ser possível sim. Mas isso, preocupação, isso vem de quê? De quem? Quem plantou isso em mim? Como eu faço pra passar? Quem eu preciso cutucar pra me dar essas respostas? Eu mesma? Mas sou quem pergunta.

Acabo por me lembrar da minha avó. Certa vez ela me disse que se preocupar demais quer dizer que nos importamos realmente com algo, que estamos conectados e concentrados numa coisa. Na verdade ela falava daquele frio na barriga de toda vez que me acometia quando eu tinha algo importante para apresentar em público. Ela escrevia uma coluna semanalmente em um jornal quando jovem, crônicas para todos os gostos, dizia. Sempre quando saía a impressão, ela ficava ansiosa como louca, enérgica e tudo... porque ela se importava com que escrevia, porque era uma parte dela ali descrita todos os domingos.

E que após anos, ela apesar de ter dado um jeito de amenizar os sintomas, ainda os sentia, e com orgulho. Meu avô aguentou muito da minha avó nesses momentos. Quer dizer, ele se divertia com a ansiedade dela. Foi assim que se conheceram, no jornal. Ela, colunista, ele, da gerência de notícias dos classificados. Muito fofo. Saudades dessas duas crianças.

Será que fiz bem? E esse cara num respondendo me deixa nessa expectativa. Será que recebeu mesmo? Fico muito inquieta, imaginando o que vem por aí. Não deixo de lembrar também de como dizia minha avó, quando me encontrava pensativa na varanda de sua casa, “se você não sabe o que está sentindo e muito provavelmente extasiada como está, bata no rosto pra sentir algo verdadeiro, que você conheça. E se possível, espontaneamente, coloque um sorriso nesse rosto... se não eu mesma faço esse trabalho com minha mão pesada”.

Saudades maiores da minha avó agora.

Tenho que ligar pra ela pra saber como deve estar esses tempos...

Quando resolvo descer da mureta, meu celular apita, alerta de mensagem. Putz! Antes mesmo de olhar pro visor do meu celular, meu coração dispara badalando fortemente à espera de uma resposta. Será o senhor Filipe? Quero que seja ele?

Na verdade... sim, quero. Me zango comigo mesma por me comportar dessa maneira, um pouco nervosa de olhar pro meu próprio telefone, procrastinando essa situação. Fuzilo de uma vez por todas o visor...

Não, não é o senhor Filipe. É o Bruno. Estão me procurando.

Passei tanto tempo off assim? Checo o relógio no visor e... é, eu passei muito tempo assim. Pulo da mureta e caminho até onde ele me espera. Agora é sair do ‘pause’ e ver o que esse ‘play’ da vida anda me preparando. O importante agora se arriscar, acho que pra isso estou disposta a aceitar.

~;~

- Lena, onde você se meteu? Ninguém sabia de você, já tava começando a ficar preocupado.

- Tava dando um tempo, não tava no humor pra lidar com a monitoria. Mas não se preocupa, já estou aqui e de prontidão pra atender as mirabolantes ideias do diretor. O que ele disse agora?

- Bom, ele reclamou um pouco do nosso... ‘descompromisso’ com o evento. Ainda tem gente doente e mesmo galera cobrindo esse pessoal, ele meio que reclamou com a professora Garra. E nada de eu te encontrar. Eles foram conversar na sala dele e quando voltou, só me deu uma advertência por aquele caso de sábado e de hoje... Só não entendi porque ele disse “de hoje” porque estou aqui, machucado até, mas tô participando. Também não falei nada. E professora Garra tava doida atrás de ti, não sei pra quê. De qualquer forma, temos umas coisinhas pra fazer hoje. Ainda bem que você disse que está mais disposta agora, só não deixe Fabiano ouvir isso.

- Ah, beleza então. Só vou à lanchonete comprar algo, me deu uma fominha agora.

- Traz pra mim um pacote de biscoito que eu vou adiantando aqui. Temos que falar com a hotelaria, acredita? O último palestrante que Fabiano tinha encaixado naquele dia é de fora. Só falta ele nos pedir pra ficar de babá também. E ainda tem que fazer uns ofícios... muita chatice burocrática.

- Você faz Administração. Tem que aguentar a burocracia. Mas só por isso vou pegar seu biscoito, menino folgado.

- Thanks!

~;~

Putz, eu tava com fome e não sabia. Raspando o prato de uma canja, me encontro mais satisfeita. Nessas horas agradeço por a lanchonete não dispor apenas lanches, mas algumas opções de jantar também. Pego o pacote de biscoito do Bruno e quando me levanto pra ir lá ajudá-lo...

- Sente, Milena.

- Hum?

Não tem ninguém mais por perto a não ser a atendente da lanchonete fazendo seus afazeres na bancada. Djane está de pé diante da minha mesa na lanchonete de postura bem... dura. Seus braços cruzados ante ao peito, semblante apreensivo, imóvel. Parecia ser muito sério e só me veio uma coisa na cabeça:

- Aconteceu algo com o Vini?

- Não.

Coloco uma mão no peito em sinal de alívio. Fecho os olhos e respiro uma tranquilidade, num “ufa” abafado. Minha avó mais uma vez me vem na cabeça, num mínimo segundo, me lembrando da ligação que tenho sentido com essa família. E por ter essa ligação, não deixei de perceber essa resposta monossilábica de Djane, que me fez abrir os olhos logo em seguida.

- Algum problema?

- O que você fez, Milena? O que você fez?

Apenas murmurou, balançando de leve a cabeça, tão baixo que mal pude ouvir com a barulheira da cozinha da lanchonete. Foi num tom como se fosse uma pergunta retórica, eu que não entendi o que ela quis dizer. Que eu fiz?! Mirando-me com olhos cheios d’água, ela tenta segurar o choro com uma mão sobre o rosto, cobrindo parcialmente seus olhos.

CARAMBA, o que foi?

Djane começa andar pra trás sem nada dizer mais e afasto minha cadeira pra alcançá-la.

- O QUÊ? O QUE eu fiz?

- Como assim “o que você fez”? Não precisa disfarçar. Ele me disse que foi você que mandou mensagem pra ele. Me ligou ainda agora pra saber o que tinha acontecido. Você não tinha o direito! Você disse que ia me esperar... Agora eu tenho que lidar com isso. Não tinha esse direito, NÃO TINHA!

Saiu andando rápido pra disfarçar e me deixou totalmente paralisada no pátio da lanchonete. Levo uma mão às têmporas estarrecida com a visão dela quase correndo de mim, indo embora. Me ferrei. Caramba, me ferrei bonito. QUE DROGA!

- Hey, Milena, e esse biscoito que nunca apareceu, hein?

- Hum?

- Você tá legal?

- Tô. É que... que.. lembrei de uma coisa. Mas deixa pra lá, o que você dizia?

- Sei... Você tava demorando, então vim aqui atrás de ti. Minto, aproveitei que Fabiano me pediu uma cópia de uns documentos do departamento e vim aqui ver se você tava vadiando de novo.

- Nada. Foi a fome que me atrasou um pouco...

- Tem certeza que você está bem? Mesmo?

- Tô, tô. Lembrei que tenho que ver umas coisas com minha avó... Mas vamos logo, antes que VOCÊ queira vadiar também. Depois de pagode não duvido nada.

- Foi você que me arrastou, nem vem.

- Isso é o que você diz. Mas sei que me ama.

~;~

Trilha Indicada: Spice Girls – Wanna Be

http://www.youtube.com/watch?v=gJLIiF15wjQ&ob=av2e

Trilha citada: Spice Girls – Viva Forever

http://www.youtube.com/watch?v=_HiMUZbbe6c

- Dança comigo! Canta!

- Eu tô cantando.

Se ela soubesse a minha vontade de cantar “Wanna Be”, em cima do sofá, toda pijamada pra nossa plateia, era capaz do som, por conta própria, começar a tocar “Viva Forever”, reproduzindo o que tento esconder. Nossa plateia era Bruno e a tia Cecília, que depois de trocar os curativos dele, quando ele resolveu ficar, inventou de pegar o karaokê. Ela disse que sabia da minha fama com a Daniela nos ônibus... Se fosse outra situação, acho que ficaria com vergonha.

Yeah, o Bruno quando foi me deixar na casa dela, acabou ficando pra “festinha”. Acho que era pra comemorar o bom estado de Dani, fiquei feliz de encontrar minha amiga bem, nem tinha mais sinal de nervosismo ou traumas. Isso não aplacou minha decepção, só deu um jeito de eu fingir um pouco. Não é algo que eu queira compartilhar no momento, nem ficar sozinha.

Bruno quase não ficava por causa do seu trabalho pela manhã, mas Dani insistiu tanto, e eu, claro, ajudei, que ele acabou por aceitar. Dani também o repaginou. Me emprestou um de seus pijamas após o banho, de camiseta e calça moletom e emprestou uma vestimenta de dormir do pai ao nosso amigo. Sim, ficou estranho, muito estranho – claro que tirei foto. Não poderia me entregar à decepção, então minha firmeza vinha dos amigos.

Me sinto um “Bruno 2” no dia do pagode, mentindo sobre sua desilusão amorosa. Ele dissera que sentia cansaço do trabalho e da faculdade; eu disse ainda pouco que era sobre minha avó. Que minha avó me perdoe por usá-la como desculpa.

Dani me traz de volta me cutucando com o microfone dela:

- IF YOU WANNA BE MY LOVER, YOU GOTTA GET WITH MY FRIENDS, MAKE IT LAST FOREVER…Canta!

Da plateia, Bruno interfere:

- Não vale dizer que tá com vergonha, porque já tô sabendo das artes de vocês no ônibus.

- Ah, mas era no ônibus e NINGUÉM conhecia a gente. Eram pessoas ao acaso, agora com você e a tia Cecília batendo palmas e essa doida aqui me puxando pra cantar... Eu fico com vergonha, pronto falei!

- Ai, Lena, você se envergonha muito fácil.

- Não, Dani, você que não se envergonha das loucuras que faz. Já disse pro Bruno que fez essa arte no carro dele hoje à tarde? Vocês precisam vê-la cantando “Welcome to the Black Parade” do My Chemical Romance. Ela faz teatro e tudo!

- Se você pede com tanto carinho, faço com muito orgulho. Xô procurar a música aqui...

Num é que ela foi mesmo? Depois de três músicas tentando me livrar do microfone, ela se desfez tão fácil de mim. Só tenho que agradecer ao My Chemical Romance agora. Me jogo no outro sofá, onde nossa plateia se esparramava com umas guloseimas. Parece que Dani, inconscientemente, sabia que eu iria precisar de chocolate.

Haja chocolate pra aplacar essa vontade de ver o Vini. Quase pedi ao Bruno pra me deixar lá no hospital, mas teria que arrumar mais desculpas. Quero dar um tempo pra professora também. Ela está bem chateada comigo, então melhor dar umas horas pra ela se acalmar um pouco. Mas que vontade de estar por lá! Acho que nem mais sinto o gosto do chocolate na língua.


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