Maya abriu os olhos, tudo o que viu foi uma parede de terra. Era escuro, tentou se levantar, mas a cada movimento mínimo, seus músculos reclamavam. Uma pata apoiou em seu ombro delicada e a fez deitar novamente. Uma voz suave atravessou seus ouvidos. - Você precisa descansar. Não tente fazer outros movimentos, imagino que seus músculos não colaborariam com isso. Ela andou para um lugar onde Maya pudesse ve-la, uma bonita loba branca pura a olhava gentil. - Como se sente? Maya tentou responder, mas nenhum latido ou ganido saiu, apenas um leve grunhido. - Bem... Me sinto como se tivesse perdido uma rinha de cães. - Você fez mais do que isso. Poupou uma das vidas de Estrela da Manhã. - Ela disse movimentando as orelhas. - Ela esta ansiosa para falar com você. Maya antes que pudesse responder, sentiu que sua mente vagava. Deitada, ela tentava resistir ao tentador sono profundo e negro. Ela estava exausta, quase havia morrido. Afinal, merecia um descanso, não é? Quando acordou, pela iluminação, percebeu que o sol se punha, tentou se mover, mas dessa vez, sentiu mínimas dores, quase suportáveis. Ouviu duas vozes familiares conversando, mas não conseguia se virar para ver quando a loba branca e Estrela da Manhã apareceram dentro da toca. Estrela da Manhã disse com um olhar puro de gratidão. - Eu preciso te agradecer. - Disse ela. - Sem você eu teria perdido uma vida. Maya por um momento gelou. Perdido uma vida? - Você é mais forte do que imaginei, matou um isolado três vezes mais forte, feroz e esperto que você. - Ela a encarou com curiosidade. - Você... Quantas luas você tem? - Seis. - Respondeu surpresa com os elogios. - Interessante. - Ela encarou a loba branca. - Pele de Neve, quando ela estiver suficientemente recuperada, guie ela até minha toca. Pele de Neve acenou em concordância e voltou sua atenção para Maya. - Sente dores? - Suportáveis. - Se as dores piorarem enquanto estiver deitada, me avise, quero que fique de repouso. Até amanhã na lua alta, você poderá andar. Maya suspirou. Ela teria de ficar todo aquele tempo... "Parada". Ouviu passos virem na entrada da toca. Pele de Neve direcionou seus olhos para a entrada. Um lobo negro se aproximou, seus olhos brilhavam preocupados, mas ele casualmente falou: - Como esta a recuperação dela? - Ela vai se recuperar rápido. Tem o corpo jovem. Maya lançou-lhe um olhar questionador, mas não disse nada. - Eu vi você matando aquele isolado. E teria matado o outro se já não estivesse ferida de mais. - Obrigado por salvar minha vida. - Disse ganindo baixo. - Tudo teria acabado ali se não o tivesse espantado. Por um momento seus olhos se tornaram sombrios. - É o que eu faria por um membro da alcatéia. Maya ficou confusa. Membro? - Saia daqui Pata da Noite! Ela precisa descansar. O lobo se levantou lentamente e se dirigiu a entrada da toca. - O que ele quis dizer com isso? - Não se preocupe com isso agora. Olhe, vou buscar alguns Cravos, quero que fique aqui. - Disse ela seria. - Se algum guerreiro vier lhe perturbar, me conte. Chamarei uma rainha para te ajudar, se quiser algo. Ela movimentou as orelhas num sinal positivo, a loba branca saiu da toca, por alguns momentos ficou olhando a parede, pensativa. A raposa teria realmente matado o filhote? Ou um outro "alguém"? Eles achavam que Maya fora a assassina do filhote, isso era obvio nos olhos de todos. Mas Estrela da Manhã acreditava nela... Sentia isso. Algo lhe interrompeu seus pensamentos com um som de patas suaves entrando na toca, uma jovem loba castanho claro entrara. - Pele de Neve me mandou limpar suas feridas hoje. - Disse ela com os olhos amistosos e gentis. - Me chamo Véu da Manhã. Maya balançou a calda num comprimento. - Maya. Ela pegou algumas plantas de cheiro forte e a fez mastigar. Depois de ter limpado as feridas mais profundas com chumaço de teias, Véu da Manhã delicadamente perguntou: - Você se sente culpada? Maya suspirou. - Não. Não matei nenhum filhote. - Eu acredito em você. É provavelmente uma isolada... Acho que não ganharia nada matando um filhote da Alcatéia - Eu nem sabia que existia uma alcatéia por aqui. - Resmungou. - Ouvi boatos de foi você quem trouxe os isolados para nos atacar ontem. Maya estremeceu. Quantas acusações ainda estavam por vir? - Você acha que eu quase morri lutando contra eles por diversão? - Disse sarcástica. - Claro, eu devo ter um espirito aventureiro. - Você mal conhece a alcatéia... Por que salvou Estrela da Manhã? - Murmurou ignorando a resposta sarcástica. - Olha, não sei, ok?! Eu só senti que devia ajudar. Só isso! Ouviu-se um suspiro pesado mas nenhuma palavra a mais. Quando Véu da Manhã saiu da toca, cochilou durante a tarde. Logo após Pele de Neve chegar, ela lhe deu algumas plantas amassadas que a fez ter sono, assim as horas passavam rápido, porém Maya não deixava de ouvir as vozes que a criticavam fora da toca mas passou a ignora-las. Pensava em White toda as vezes que olhava para o céu. Se perguntava se ele estaria a procura dela. Durante a noite, ela ouviu o uivo de Estrela da Manhã e quase sentia que a reunião era sobre ela mesma. Desconfortavelmente sobre ela. Pele de Neve se aproximou logo após a reunião e disse calorosa: - Amanhã de manhã, você estará pronta para andar, quero que descanse põe agora. Maya acenou em concordância e deitou a cabeça nas patas, assim soltando um suspiro longo e silencioso. - Você é uma... Husky? Não houve respostas. - Nunca havia visto um cão como você. Teria confundido com uma loba se não fosse os... Olhos. - Disse num tom educado. - O que quer dizer com isso? - Que os lobos da Colina de Prata ficam inquietos quando olho em seus olhos. Maya ficou confusa, a loba branca como se lesse sua mente logo adicionou: - Colina de Prata é um conjunto de estrelas que se estende no céu todas as noites, é lá onde fica os espíritos dos mais antigos guerreiros. - Curandeiras falam com espíritos? Ela acenou em concordância e calmamente explicou. - Na verdade, podemos nos comunicar com a Alcatéia das Estrelas. É um dom. - Alcatéia das Estrelas? - É a Alcatéia de lobos que olham o caminho de todos os guerreiros. Maya de repente ficou sonolenta, queria fazer mais perguntas, mas seus olhos fechavam-se contra sua vontade e ela se entregou ao sono. No silencio da noite Maya estava abaixada com os pelos de pé. Algum instinto a dizia para sair dali, e rápido, quando virou de costas e reconheceu o local do acampamento ouviu um choro alto e repentino fazendo-a pular de susto. Maya abriu os olhos arregalados e assustados, viu que estava na toca, alguém a observava. Sentia olhos dourados queimando em si, quando se sentou e olhou a volta para ver que era de manhã e um único lobo cinzento estava de pé a observando com um olhar hostil. Tentando esconder o gelo que desceu sua espinha e lhe fez a calda arrepiar, encarou de volta, atrevida , porém Pele de Neve entrou na toca com algumas folhas de cheiro forte. - Esta arrepiada, parece que deu de cara com um urso pardo. - disse ela organizando as ervas e folhas no lugar. - O que aconteceu? - Eu... Apenas um pesadelo, eu acho. - Respondeu voltando a se ajeitar no ninho macio. Ela percebeu que a loba branca estreitou os olhos âmbar. - Geralmente apenas lobos especiais tem sonhos. - Disse com um brilho curioso e gentil nos olhos. - Quer me contar sobre seu pesadelo? Maya sem jeito respondeu: - Hm... Não deu para ver muita coisa... Na verdade ouvi um grito. - Ela se esforçou a lembrar. - De... De um filhote. Maya estremeceu com a coincidência de apenas alguns dias atras, ela ter dado de cara com um filhote quase morto e ela não foi a única a perceber. - Um grito de filhote... - Disse balançando a cabeça olhando para o chão. - Não pode ser noticia boa. - O que você quer dizer com "Noticia"? - Disse assustada. - Foi apenas um sonho. - A Alcatéia das Estrelas devem ter lhe mandado alguma mensagem. - Ela fez uma pausa e a encarou. - É interessante que você tenha estado aqui por pouquíssimos dias e eles já se comunicaram com você. Maya suspirou. Toda aquela idéia de falar com lobos do além, a deixavam assustada. - Acho que pode ir a toca de Estrela da Manhã agora. - Disse ela sem tirar os olhos das ervas. - Sabe onde é? - Hm, sim. - Uma mentira. Maya não conhecia nada no acampamento, além da toca de Pele de Neve e a Pedra Grande. Ao sair da toca, aliviada por finalmente andar depois de dias deitada, fitou suas patas trabalhando bem quando trombou com algo. Abriu os olhos azuis e percebeu com um grande desanimo que era Pata da Noite. - Perdida? - Perguntou num tom debochado. - N-Não! - Bem, onde esta indo? - Na toca de Estrela da Manhã. - Disse defensivamente. - Que coincidência... Eu também vou pra lá. - Disse ele balançando a calda. - Pois bem, vá na frente. Antes que pudesse dizer qual quer coisa, ele se levantou e bufou despreocupado. - É uma pena que você não saiba mentir. Vamos. Com a raiva lhe subindo na cabeça, Maya se levantou raivosa e seguiu o lobo negro pela clareira. Outros lobos a olhavam com um ar questionador e hostil, mas ela desconfortável ignorou a todos. Ao chegar perto da Pedra Grande notou que atras dela havia uma minúscula entrada subterrânea, por dentro a toca se encontrava quente e aconchegante, num canto havia um ninho de galhos e musgo , ao lado Estrela da Manhã estava sentada e parecia ter acabado se comer alguma lebre ou coisa parecida. - Pata da Noite, Maya. - Cumprimentou-os, primeiro olhando para Maya e depois para o lobo negro. - Sinta-se a vontade Maya. Qual seria o propósito da visita, Pata da Noite? O lobo com um brilho respeitoso nos olhos amarelos, disse: - Vim aqui apenas para confirmar a quem dos aprendizes virão a Assembléia esta noite. - Vou dizer a todos numa reunião antes da Lua Alta, não se preocupe diante a isso. - Respondeu num tom educado e se virou para Maya. - Maya, posso falar com você a sós? O lobo negro já se levantara para ir a entrada da toca, porém a loba castanha fez um único e rápido movimento com as orelhas, pedindo-lhe para esperar fora da toca, ele entendeu e acenou com a cabeça peluda e negra após desaparecer na entrada estreita. - Pele de Neve acha que você esta recuperada? - Acredito que sim. - Respondeu calma. - Ótimo. Cabe a você decidir o que quer agora. Disse a loba com um brilho nos olhos. - O que quer dizer com isso? - Quero dizer que pode escolher entre voltar a ser uma isolada ou aprender a viver numa Alcateia. - Esta me convidando para entrar na Alcateia? Ela fechou os olhos por uns instantes e a encarou com profundidade. - Antes que pense em se juntar a nós, preciso que saiba que se for viver conosco, jamais poderá voltar a cidade. Jamais manter contato com os Duas Pernas... - Duas o que? - Interrompeu confusa. - Humanos, e entendo que não seja pura, mas você provou ter coragem e habilidade. Nunca vi um isolado fazer isso... Maya ficou empolgada com a idéia de fazer parte de uma Alcateia. Viver entre lobos, nunca tinha passado por sua cabeça, mas lembrou-se de quando se sentira ótima quando chegou na floresta, do cheio de grama molhada, das arvores e de pequenos animais escondidos no subterrâneo. Viver assim parecia ser perfeito. - Ainda que viva entre nós, não seremos capaz de lhe dar o que quiser... Na estação sem folhas as coisas podem se tornar cruéis e mortais, você terá de lutar contra outros guerreiros, caçar comida para a Alcateia, mas a recompensa é que irá aprender a ser um lobo selvagem. - Disse ela com o olhar penetrante. Maya arregalou os olhos. Mesmo diante daquelas desvantagens, aprender a viver na floresta parecia ser uma vantagem tentadora que parecia superar todas as desvantagens. Ela fitou o chão e pensou em White com grande desanimo. Será que ser parte da Alcateia separariam seus caminhos para sempre? - Eu... Acho que seria uma honra me unir a sua Alcateia. Estrela da Manhã subitamente soltou um leve suspiro de alivio. - Ótimo. Irei convocar uma reunião em breve sobre a Assembléia, e também direi seu nome de aprendiz. - Disse. Balançou a calda dispensando Maya, mas quando ela estava prestes a se enfiar pela abertura ela disse: - Pata da Noite ira te orientar por enquanto. Deixe que ele explique as regras e os nossos costumes. Maya suspirou baixo. dentre tantos lobos na Alcateia... Pata da Noite fora escolhido para ajuda-la